ARTIGO ORIGINAL
Aspectos
epidemiológicos do acidente vascular encefálico na Paraíba em 2016
Epidemiological aspects of brain strokes in the state of Paraiba in 2016
Géssyca Vânia de Oliveira Azevedo*;
Ana Helena Vale de Araújo*, Talita Araujo de Souza**
*Graduanda
em Fisioterapia pelas Faculdades Integradas de Patos FIP Patos PB, **Enfermeira
pelas Faculdades Integradas de Patos. Mestranda em Saúde Coletiva pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Pós-graduanda em Urgência, Emergência e UTI pelas
Faculdades Integradas de Patos
Endereço
para correspondência:
Géssyca Vânia de Oliveira Azevedo, Rua Honorato Chermont de Oliveira 1060 Boqueirão Parelha RN, E-mail: gessycavaniarn@gmail.com.
Resumo
O
Acidente Vascular Encefálico
(AVE) é considerado um déficit neurológico
decorrente da oclusão vascular, atingindo
em sua maioria a população idosa e apresentando como
fatores de risco idade, sexo,
hipertensão arterial e tabagismo. O presente estudo objetivou
traçar o perfil epidemiológico
das internações e óbitos por AVE no estado da
Paraíba no ano de 2016, levando em
consideração as variáveis de mês, faixa
etária, sexo e tempo de internação. Trata-se
de estudo epidemiológico, retrospectivo, observacional do tipo
ecológico, de delineamento
transversal. Foram utilizados dados retirados do DATASUS e analisados
através de
estatística descritiva utilizando o programa Excel 2013.
Observou-se no estudo um
maior índice de internação no mês de abril
(10%) e óbitos em maio (13,71%); com
relação a faixa
etária constatou-se que indivíduos maiores
de 80 anos foram mais acometidos (29,14%), tendo o sexo feminino
apresentado mais
internações (51%) e óbitos (54%) que o masculino;
já o mês de janeiro possui o maior
tempo de internação (8,6 dias). As
informações epidemiológicas sobre
internações
e óbitos por AVE são essenciais para o planejamento da
oferta de serviços de saúde,
acompanhamento, cuidados específicos e redução
deste tipo de agravo, visto seus
altos índices no estado da Paraíba.
Palavras-chave: AVE, fatores de risco,
internação, perfil epidemiológico.
Abstract
The Vascular Brain Accident (Stroke) is considered a neurological deficit
due to vascular rupture, reaching the elderly population and presenting as risk
factors age, sex, arterial hypertension and smoking. The present study aimed to
trace the epidemiological profile of hospitalizations and deaths by stroke in the
state of Paraíba in the year 2016, taking into account
the variation of month, age, sex and period of hospitalization. This is an epidemiological,
retrospective, observational, ecological type and cross-sectional study. Data were
taken from Datasus and analyzed using descriptive statistics
using the program Excel 2013. In the study was observed a higher hospitalization
rate in April (10%) and deaths in May (13.71%); regarding to the age group, it was
verified that individuals > 80 years were more affected (29.14%), with female
patients presenting more hospitalizations (51%) and deaths (54%) than men; however
the month of January has the longest period of hospitalization (8.6 days). Epidemiological
information on hospitalizations and deaths due to stroke are essential for the planning
the supplying of health services, monitoring, specific care and reduction of this
type of injury, given its high rates in the state of Paraíba.
Key-words: stroke, risk
factors, hospitalization, epidemiological profile.
A Organização mundial
de Saúde (OMS) estabeleceu o acidente vascular encefálico (AVE) como um déficit
neurológico, geralmente focal, de instalação repentina e acelerada evolução, tem
origem nos vasos e pode levar o indivíduo ao óbito [1]. A causa do AVE pode ser pela obstrução ou por uma ruptura de um vaso.
Quando acontece a oclusão do vaso há uma isquemia e infarto naquele local o que
faz com que não ocorra o recebimento de nutrientes essenciais paras células. Quando
o cérebro deixa de ser nutrido com sangue arterial as células
entram em sofrimento e de acordo com a sua intensidade poderá ocorrer o surgimento
de uma desordem na função. Já quando apresenta a ruptura vascular provoca uma hemorragia
subaracnóidea ou intraparenquimatosa, tendo como principal
razão à hipertensão arterial sistêmica [2].
O AVE apresenta diversos fatores
de riscos os quais são divididos em não modificáveis, que são aqueles os quais não
temos como interferir e os modificáveis que podem ser alterados e assim deixar de
ser um fator de risco. Os principais fatores de risco não modificáveis são: Idade,
Sexo, Raça/Etnia e a Genética. Em relação ao fator da idade, o
AVE se expressa mais em idoso, mas pode incidir em qualquer idade, independentemente
do tipo o risco aumenta progressivamente com a idade, dobrando a cada década após
os 55 anos de idade. O mesmo também acomete ambos os sexos, sendo na média mais
prevalente em homens, exceto na faixa etária dos 35 aos 44 anos e acima dos 85.
Os negros têm maior risco de todos os tipos de AVE, comparativamente aos brancos
[3]. Já quando se fala em hereditariedade acontece em aproximadamente 30% dos casos
e as mulheres são mais sensíveis do que os homens [4].
Os principais fatores
de risco modificáveis são: Hipertensão Arterial (HA), Tabagismo, Diabetes, Obesidade
e o Alcoolismo. A Hipertensão Arterial é o principal fator de risco para o AVE, tanto isquêmico como hemorrágico. O risco é alto, etiologicamente
significante, independente, contínuo, tem relação direta com a veemência e ocorre
em qualquer pessoa sem descriminação. Quando se fala no hábito do tabagismo o risco
de isquemia cerebral e hemorragia subaracnóidea aumentam. O Diabetes é um fator
de risco independente para o AVE, o risco de AVE isquêmico
aumenta mais que o dobro. Estima-se que 20% dos diabéticos venham a óbito devido
ao Acidente Vascular Encefálico, assim como o AVE isquêmico,
o aumento da quantidade de açúcar no sangue também eleva o risco de AVE hemorrágico.
Os pré-diabéticos e as pessoas que apresentam a resistência à insulina também estão
associados ao AVE. A Obesidade também é um fator que pode
contribuir para a ocorrência do AVE, onde pessoas com sobrepeso
com índice de massa corpórea (IMC) de 25 kg/m2 a 29 kg/m2
e indivíduos obesos com IMC > 30 kg/m2, devem ter maior controle da
Pressão Arterial (PA) assim como estabelecer a perda de peso [5]. O alcoolismo pode
ser um fator de risco para todos os tipos de AVE e deve ser levado em consideração
[6].
Os principais déficits
apresentados são deficiências na motricidade, na percepção sensitivas,
nos distúrbios mentais e da linguagem [7]. A hemiplegia é o nome dado ao
acometimento de um dos lados do corpo e é considerada uma deficiência motora que
ocorre mais comumente e determina a incapacidade ou o esforço necessários na realização das atividades de vida diária [8].
O acidente vascular encefálico
(AVE) é considerado a terceira maior causa de morte e o maior problema de saúde
pública no mundo. No Brasil, dos indivíduos que sofreram AVE, 30% necessitam de
auxílio para caminhar e 20% ficam com sequelas graves e incapacitantes [9]. Dada
as principais características desta patologia e a alta incidência de acometimento,
este estudo se propõe a caracterizar os aspectos epidemiológicos dos AVE ocorridos na Paraíba (estado brasileiro) no ano de 2016,
logo, os resultados deste estudo irão colaborar para comunidade cientifica trazendo
reflexões acerca do tema abordado, bem como poderá subsidiar novas estratégias para
o estado a fim de diminuir os riscos deste tipo de agravo.
Trata-se de um estudo
epidemiológico, retrospectivo, observacional do tipo ecológico, realizado no estado
da Paraíba – Brasil. Relacionado ao enquadramento situacional, caracteriza-se por
um estudo de delineamento transversal. Os estudos ecológicos incluem-se nos estudos
epidemiológicos, podendo avaliar como os contextos sociais e ambientais afetam a
saúde de grupos populacionais [10].
A pesquisa foi realizada
a partir de dados secundários retirados da base pública e nacional, intitulada Datasus. Esse sistema pertence ao departamento
de informática do Sistema Único de Saúde (SUS), que armazena e processa as informações das atividades desenvolvidas no SUS,
necessárias para a organização, planejamento e avaliação do sistema. Além disso,
o DATASUS também tem o propósito de disseminar informações para o desenvolvimento
de pesquisas na saúde, definir programas de cooperação tecnológica e outros [11].
Este estudo teve como
objeto de estudo o estado da Paraíba, tendo como ponto de partida o interesse estadual
na redução deste tipo de agravo que é elevado no estado.
Como objetos para essa
pesquisa, foram escolhidas as seguintes variáveis independentes
para internações e óbitos: mês, faixa etária, sexo e foi quantificado a média de
dias de internação dos acometidos. A partir das bases públicas do Datasus, foram consultadas o Sistema
de Internação Hospitalar (SIH) das bases de morbidade do Datasus,
referente a todo o ano de 2016.
Para análise dos dados,
as informações foram preparadas, corrigidas e inseridas no Excel 2013 para análise
estatística, onde foram descritos e valores brutos, porcentagem e média. Após a
análise estatística, os dados foram fundamentados a luz da literatura pertinente.
O mês de abril evidenciou
o maior índice de internação (10%) com o total de 139 internações por AVE no estado
da Paraíba no ano de 2016, se aproximando destes dados, o mês de março também obteve
um alto índice (9,9%) e apresentando 136 internações, em terceiro lugar ficou o
mês de maio (9,6%) com o total de 132 internações, em contrapartida os meses que
obtiveram os menores índices de internação foram os meses de dezembro (4%) e julho
(6,5) com 54 e 89 internações respectivamente (TABELA I).
Tabela I - Distribuição por meses das internações e óbitos
por AVE na Paraíba, 2016.
Fonte: SIH/Datasus, 2017.
Na análise dos óbitos
o maior índice ocorreu no mês de maio (13,71%) com o total de 48 óbitos e o mês
de menor prevalência foi dezembro (2,57%) com 9 óbitos
registrados por AVE na Paraíba, em 2016 (Tabela I).
Tabela II - Distribuição por faixa etária das internações
e óbitos por AVE na Paraíba, 2016.
Fonte: SIH/Datasus, 2017.
A Tabela II apresenta
a análise da distribuição por faixa etária das internações onde demonstrou que o
número de internações cresce de acordo com o avanço da idade, onde na faixa etária
de 5 a 9 (0,07%) apresentou apenas 1
internação e <80
(29,14%) presentou 398 internações. Em
relação ao número de óbitos não
houve nenhum
registro na faixa etária de 5 a 9 anos, entre 15 a 19 anos
(0,29%) obteve 1 registro de óbito e as faixas etárias que evidenciaram os maiores
índices de óbito foi de 70 a 79 (30,2%) com 106 óbitos e <80 (37%) com 129 óbitos.
Tabela III - Distribuição por sexo das internações e óbitos
por AVC na Paraíba, 2016.
Fonte: SIH/DATASUS, 2017.
A análise das internações
de AVC na Paraíba por sexo revelou que o maior índice pertence ao sexo feminino
(51%) com o total de 697 internações quando comparado ao sexo masculino (48%) com
669 registros. O número de óbitos também prevaleceu o sexo feminino (54%) com o
total de 189 registros (Tabela III).
Tabela IV - Média da quantidade de dias de internações por
AVC na Paraíba, 2016.
Fonte: SIH/DATASUS, 2017.
Na análise da média de
dias que ocorreram internações por AVC na Paraíba em cada mês do ano de 2016, evidenciou
o mês de janeiro (8,6) como obtendo a maior média e dezembro (4,8) representando
a menor média e consequentemente menor índice de internações (Tabela IV).
O presente estudo analisou
os aspectos epidemiológicos do Acidente Vascular Encefálico na Paraíba, em 2016
na rede pública de saúde com os dados do Datasus.
Em relação aos meses de
internação e óbito não foram encontrados na literatura dados que justifiquem essas
maiores ou menores incidências de internações ou óbitos nos meses citados acima.
Em um estudo feito para traçar morbidade hospitalar
por acidente vascular encefálico e cobertura fonoaudiológica
no estado da Paraíba no Brasil, obteve nos seus resultados o número de internações
maior em indivíduos com 60 anos ou mais, com proporção semelhante [12]. Com base
na tabela II de distribuição por faixa etária, tais resultados concordam com os
dados desta pesquisa onde se obteve índices semelhantes nas respectivas faixas etárias.
Justifica-se a prevalência dos AVE
em pessoas mais idosas
como sendo o grupo com maior índice de hipertensão
arterial, que caracteriza-se
como um fator de risco para o desenvolvimento deste episódio.
Desta forma, identifica-se
a necessidade das estratégias voltadas à
prevenção das doenças e promoção da
saúde
para poder obter um controle mais efetivo [13]
Relacionado ao acometimento
por sexo, obteve-se um valor maior no sexo feminino, outros estudos mostraram em
seus resultados que em relação a este fator de risco não modificável, existe um
predomínio maior nas mulheres [12,14] semelhante às evidências encontradas na tabela
III. Já em outra pesquisa ecológica desenvolvida em nível de Brasil [15] não foi
observado diferenças discrepantes em relação ao sexo feminino ou masculino. Os autores
mencionam que tal fator, colabora para confirmação de que não existe uma necessidade
de elaborar políticas públicas que sejam diretamente direcionadas a subpopulação
especificamente de homens e mulheres no que direciona às terapêuticas e mudanças
de comportamento. No entanto, ainda é necessário investigar de forma mais aprofundada
as diferenças e similitudes inerentes à relação entre AVE e sexo, considerando as
particularidades dos diferentes territórios nacionais.
Com relação ao tempo de
internação, a média geral de dias foi de 6,9, encontrou-se literatura um estudo
que traçou o perfil clínico epidemiológico dos pacientes internados com acidente
vascular encefálico em um hospital de grande porte na região sul da Amazônia legal,
onde o tempo médio de permanência de internação hospitalar foi de 8,2 dias [16],
a média de dias de internação é justificada pela quantidade de dias necessários
ao tratamento. Por vezes, é necessário internação em Unidades de Terapias Intensivas
ou internação em áreas próprias para o tratamento no hospital. Mas para que seja
efetivo, é preciso que o paciente se submeta a todas as fases do tratamento, contemplando
suas necessidades para que a chance de sequelas seja diminuída.
Ao
final desta pesquisa,
pode-se identificar que o Acidente Vascular Encefálico ainda
constitui-se um grave
problema de saúde pública. Apesar de ser um agravo
inesperado, existem estratégias
de prevenção e promoção à
saúde que é possível diminuir estas taxas,
todavia, tais
estratégias não são contempladas em sua
integralidade. Mesmo com a alta propagação
de informações, observou-se que as taxas referentes
às internações e óbitos ainda
são elevadas no estado abordado por esta pesquisa. Desta forma,
sugere-se que sejam
realizadas ações de políticas públicas
voltadas a este cenário, com o objetivo de
diminuir essas taxas, garantindo uma diminuição dos
riscos e consequentemente dos
agravos.