ARTIGO
ORIGINAL
A atuação
do fisioterapeuta no time de resposta rápida em um hospital de alta e média
complexidade na Amazônia
The
performance of the physiotherapist in the team of rapid response in a hospital
of high and medium complexity in the Amazon
Laura Beatriz Martins
Sá*, Dener Lopes dos Santos*, Erllem Batista Lopes*,
Milena Sousa Vasconcelos, Ft.**, Luís Afonso Ramos Leite, Ft. M.Sc.***
*Graduando
em fisioterapia pela Universidade do Estado do Pará, **Mestranda em biociências
pela Universidade Federal do Oeste do Pará, ***Docente na Universidade do
Estado do Pará
Recebido em 16 de
novembro de 2018; aceito em 31 de janeiro de 2019.
Endereço
para correspondência:
Laura Beatriz Martins Sá, Trav. Natal, 292 Aeroporto Velho, Santarém PA,
E-mail: laurabms293@gmail.com; Dener Lopes dos Santos:
dennerlopess@hotmail.com; Erllem Batista Lopes:
herllem-monteiro@hotmail.com; Milena Sousa Vasconcelos:
milenavasconcelos34@gmail.com; Luís Afonso Ramos Leite: afonso-ld3@hotmail.com
Resumo
Objetivos: Verificar a percepção
e o conhecimento que os fisioterapeutas do Time de Resposta Rápida possuem a
respeito da parada cardiorrespiratória, ressuscitação cardiopulmonar, suas
atribuições e competências junto à equipe multiprofissional. Métodos: Estudo quantitativo-qualitativo,
desenvolvido no Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna, em
Santarém no oeste do Pará. Fizeram parte do estudo 17 profissionais. Foi
aplicado aos voluntários um questionário baseado nas diretrizes da American Heart Association
e protocolos de atendimento à PCR. Resultados:
Sobre as competências do fisioterapeuta 86,27% dos participantes assinalaram as
assertivas corretas; em relação ao conhecimento sobre ventilação 82,35%
responderam adequadamente. Quanto aos sinais clínicos da PCR, 54,90 % mostram
possuir conhecimento e 51,47% souberam responder os procedimentos adotados
nesse caso. Conclusão: Os
participantes possuem conhecimento sobre suas atribuições e sabem lidar com
pacientes em via área avançada, entretanto, existe uma lacuna de conhecimento
no que diz respeito a questões relacionadas ao suporte básico de vida.
Palavras-chave: time de resposta
rápida, fisioterapia, parada cardíaca.
Abstract
Objectives:
To verify the perception and knowledge of the physiotherapists working in the
Rapid Response Team regarding cardiopulmonary arrest and cardiopulmonary
resuscitation, their attributions and competences with the multiprofessional
team. Methods:
Quantitative-qualitative study, developed at the Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna, in Santarém,
west of Pará. A questionnaire was administered to the volunteers based on the
American Heart Association guidelines and PCR protocols. Results: On the competences of the physiotherapist 86.27% of the
participants pointed out the correct assertions; regarding the knowledge about
mechanical ventilation 82.35% responded adequately. Regarding the clinical
signs of cardiopulmonary arrest, 54.90% showed knowledge and 51.47% knew how to
respond to the procedures adopted in this case. Conclusion: Participants are knowledgeable about their roles and
know how to deal with advanced patients, however, there is a knowledge gap
regarding basic life support issues.
Key-words: rapid response
team, physiotherapy, cardiac arrest.
A parada
cardiorrespiratória (PCR) é considerada um problema de saúde de ordem mundial.
Estimativas apontam que ocorram cerca de 200.000 PCR durante internações
hospitalares por ano no Brasil, enquanto fora do ambiente hospitalar há uma
redução para 100.000 casos por ano [1,2].
Com o intuito de
minimizar a incidência de casos de parada nos hospitais e reduzir as taxas de
mortalidade, criou-se o Time de Resposta Rápida (TRR), recomendado pelo Institute for
Healthcare Improvement
(IHI). Essa recomendação fazia parte da campanha The 100.000 lives Camping: Setting a goal and a dealine
for improving health care quality que ocorreu
entre os anos de 2004 e 2006 [3].
O
TRR é composto por
uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, equipe de
enfermagem e
fisioterapeutas, responsáveis pela avaliação,
triagem e tratamento de pacientes
em deterioração clínica, não internados em
unidades de terapia intensiva [4].
Neste âmbito, o fisioterapeuta tem papel primordial dentro da
equipe multiprofissional
no cuidado ao paciente. O principal objetivo da
intervenção fisioterapêutica é
oferecer cuidados iniciais para que se possam evitar agravos,
contribuir com a
diminuição dos índices de intubação
orotraqueal, ventilação invasiva e não
invasiva, além de auxiliar nas demais complicações
e menores intervalos de
estadia hospitalar [5,6].
Devido a deficiência de
publicações a respeito da atuação do fisioterapeuta no Time de Resposta Rápida
e atualizações frequentes em RCP (ressuscitação cardiopulmonar), objetivou-se
verificar a percepção e o conhecimento que estes profissionais possuem a
respeito da PCR, ressuscitação cardiopulmonar (RCP), suas atribuições e
competências junto à equipe multiprofissional nesses casos. A aplicação do
questionário teve como intuito incentivar atualizações em Suporte Básico de
Vida (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV).
O estudo apresentou
paradigma quantitativo-qualitativo, descritivo e transversal, realizado no
Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna, em Santarém no oeste do
Pará, no período de abril a maio de 2018 após sua aprovação pelo Comitê de
Ética em pesquisa da Universidade do Estado do Pará, CAAE 80081417.1.0000.5168,
parecer n° 2.549.019. A pesquisa atendeu aos critérios éticos da resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde e o caráter voluntário do participante foi
garantido por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) em duas vias.
A coleta de dados
deu-se através de um questionário semiestruturado elaborado após a leitura e
análise bibliográfica das diretrizes da American
Heart Association para RCP e ACE 2015, protocolos
de atendimento à PCR do Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna,
Sírio Libanês e Albert Einstein. O questionário conteve 14 questões objetivas e
1 questão subjetiva relacionadas a atuação do profissional do fisioterapeuta em
equipes de emergência, SBV e SAV.
Foram incluídos na
pesquisa em sua totalidade os dezessete fisioterapeutas em serviço no hospital
atuantes no Time de Resposta Rápida, ou que passaram por essa equipe em algum
momento e ainda possuíam vínculo empregatício com o hospital. A aplicação do
instrumento de pesquisa ocorreu em três turnos distintos, conforme a escala de
trabalho dos fisioterapeutas, no Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr.
Waldemar Penna, respeitando o tempo livre dos profissionais.
Os questionários foram
respondidos individualmente, sem consulta bibliográfica e sob supervisão do
pesquisador. Os participantes receberam orientações em relação ao seu
preenchimento e o pesquisador manteve-se presente durante todo o período para
sanar as possíveis dúvidas a respeito do processo. Após a coleta de dados, as
informações foram repassadas para o software Microsoft Excel 2010 para
tabulação das variáveis obtidas no estudo e realização de cálculos estatísticos
de medidas de tendência central e dispersão, no qual se verificou a porcentagem
de acertos entre voluntários a respeito da atuação fisioterapêutica e
conhecimentos em SBV e SAV.
Fizeram parte da
pesquisa 17 indivíduos, seguindo os critérios de inclusão já descritos
anteriormente. As respostas foram agrupadas em grandes áreas específicas de
conhecimento: competências do fisioterapeuta nas equipes de emergência,
conhecimento sobre ventilação mecânica e Suporte Avançado de Vida, sinais
clínicos da PCR e procedimentos adotados mediante essa circunstância, como mostra
a tabela I.
Em relação ao
conhecimento sobre as competências do fisioterapeuta quando inserido em um Time
de Resposta Rápida, que correspondem em solicitar junto ao médico exames de
imagem, indicar terapias não medicamentosas, auxiliar nas manobras de RCP e
garantir suporte ventilatórios, 86,27% dos voluntários assinalaram as
assertivas apropriadas.
Quando questionados
sobre ventilação mecânica, observou-se que a maioria (82,35%) respondeu de
maneira correta sobre a ventilação de indivíduos em via área avançada por meio
do modo ventilatório mais indicado para admissão do paciente, pressão de pico
capaz de gerar barotrauma e valor ideal para
insuflação do cuff.
Quanto aos sinais que
precedem à PCR, o período em que começam a surgir os primeiros sinais de
instabilidade fisiológica e o seu diagnóstico, 54,90% souberam identificar as
questões corretas. Referente aos procedimentos iniciais que devem ser adotados
quando deparados com uma situação de parada cardiorrespiratória, sendo eles a
sequência inicial de atendimento, relação compressão/ventilação em SBV,
frequências de compressões e ventilação em SAV, 51,47% dos voluntários
responderam corretamente.
Tabela I - Distribuição das respostas por área de conhecimento.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Quando analisadas fora
das grandes áreas específicas, houve questões que apresentaram maiores
percentuais de acerto pelos voluntários, como demonstra a tabela II. A questão
com maior índice de acerto (100%) foi pertinente ao modo ventilatório
recomendado para admissão de um paciente que foi vítima de PCR, seguida do
diagnóstico inicial da parada cardiorrespiratória que corresponde em avaliar a
consciência, respiração e o pulso do indivíduo com 94,12% de acertos pelos
voluntários. Logo, em relação à pressão de pico capaz de gerar barotrauma em um paciente com via aérea avançada instalada
82,35% dos voluntários responderam adequadamente e 76,47% mostraram possuir
conhecimento a respeito da relação compressão/ventilação em Suporte Básico de
Vida.
Tabela II - Questões com maiores porcentagens de acerto.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Todavia, outras
questões apresentaram baixa porcentagem de acerto como mostra a tabela III.
Observou-se que 29, 41% dos voluntários souberam identificar o período de tempo em que começam a surgir os primeiros sinais
de deterioração fisiológica que precedem à PCR, assim como a sequência inicial
de atendimento, o “CABD” primário. Na questão relacionada à frequência de
compressões torácicas, durante as manobras de RCP, a porcentagem de acerto foi
de 23,53% e apenas 11,76% souberam responder o tempo máximo para chegada do TRR
após o seu acionamento.
Tabela
III - Questões com menores porcentagens de acerto.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Outro aspecto abordado
foram as opiniões dos voluntários quanto à importância da presença do
profissional fisioterapeuta no Time de Resposta Rápida. Nesta conjuntura,
notou-se a concordância voluntários em relação a sua participação no TRR e em
atendimentos de urgência e emergência, revelando-a indispensável em casos de
acionamento da equipe.
Bellan, Araújo e Araújo [7]
afirmam que as habilidades e os conhecimentos de como agir frente a um quadro
de PCR por profissionais da área da saúde ainda são insuficientes. O sucesso no
atendimento e a reversão do quadro irão depender do conhecimento dos membros da
equipe quanto a suas funções e seus reais objetivos, sendo eles, compressões na
caixa torácica, manter ventilação pulmonar, tratar as causas etiológicas de
cada modalidade de PCR, entre outros [8,9].
Neste aspecto, quando
questionados sobre as atribuições e competências do fisioterapeuta no TRR
perante a equipe multiprofissional, 86,27% dos voluntários mostraram
conhecê-las. Este dado evidenciou que os fisioterapeutas que fazem parte do TRR
estão aptos a exercer seus papéis dentro do seu limite profissional, sem
interferir nas competências dos demais membros da equipe.
Observou-se que 82,35%
dos voluntários mostraram possuir conhecimento quanto as condutas em ventilação
mecânica, destacando o alto índice de acerto na questão indicativa ao modo
ventilatório, em que todos os voluntários identificaram a assertiva apropriada.
Estes achados confrontam os resultados de Moura et al. [10], em seu estudo descritivo para avaliar o conhecimento
em relação ao reconhecimento da parada e manobras de reanimação, com 33
profissionais de enfermagem em uma unidade de terapia intensiva, apenas 15,2%
dos participantes acertaram as manobras de ventilação.
Tão importante quanto
conhecer suas funções e estar apto em conduzir um paciente em via área
avançada, é necessário que o fisioterapeuta e todos os membros da equipe saibam
identificar as alterações fisiológicas que predispõem um episódio de PCR, e
desta maneira conhecer as condutas necessárias a serem tomadas, a fim de
proporcionar maiores índices de sobrevida.
Horas antes da parada
cardiorrespiratória acontecer, o paciente começa a apresentar sinais e sintomas
de piora em seu estado clínico, sendo estes indicativos de instabilidade
fisiológica, deste modo, seu rápido reconhecimento é capaz de prevenir novos
eventos de PCRs e diminuir as taxas de mortalidade
[11,12]. Durante o curto período de tempo entre
identificação de indivíduos que necessitam de intervenção através da primeira
avaliação, checar o nível de consciência, respiração e pulso da vítima, chamar
por ajuda e iniciar as manobras de ressuscitação cardiopulmonar é considerado
um preditor para o sucesso da terapia e melhora clínica [13,14].
Analisando apenas a
subárea específica de conhecimento referente aos sinais clínicos da PCR, 54,90%
dos voluntários reconheceram prioritariamente. Este dado justifica-se através
da média entre a assertiva de diagnóstico da PCR (94,12%), sinais de
deterioração fisiológica que antecedem este episódio (41,18%) e o período no
qual começam a se instalar antes do agravo clínico (29,41%). Estes dados
assemelham-se com os expostos por Bertoglio et al. [15] e Zanini,
Nascimento e Barra [16] em suas pesquisas.
Neste estudo, nota-se
que os profissionais são capazes de avaliar uma parada cardiorrespiratória,
porém a identificação dos sinais de deterioração hemodinâmica que gera este
quadro ainda é ineficiente. Tal fato pode implicar no aumento do número de
casos de parada e menores taxas de sobrevida, devido ao tempo prolongado para o
início da intervenção quando o paciente já exibe os primeiros sinais dos quais
evoluem para PCR se não tratados.
Verificando somente a
subárea arrolada aos procedimentos adotados em casos de PCR, 51,47% dos
voluntários assinalaram as alternativas apropriadas. Este dado deve-se a média
de acertos pertinentes à relação compressão-ventilação de um paciente em SBV
(76,47%), relação tempo/ventilação em via área avançada (76,47%), sequência
correta de atendimento inicial à PCR (29,41%), frequência de compressões torácicas
(23,53%).
Veiga et al. [17], em
sua pesquisa transversal, avaliaram o conhecimento de enfermeiros e
fisioterapeutas sobre reconhecimento e tratamento da parada
cardiorrespiratória. A questão com maior índice de acertos pelos
fisioterapeutas foi alusiva a relação compressão-ventilação em SBV, coincidindo
com as informações alcançadas neste estudo.
No entanto, a minoria
dos participantes (29,41%) souberam identificar o “CABD” primário, que
corresponde em comprimir o tórax (30 compressões), abrir as vias aéreas,
ventilar o paciente (2 ventilações após 30 compressões) e desfibrilar [18],
concordando com Almeida et al. [19] e
Neves et al. [20]. No estudo de
Almeida et al. [19], para avaliar o
conhecimento de enfermeiros sobre parada cardiorrespiratória e ressuscitação
cardiopulmonar, 67,1% dos sujeitos desconheciam as recomendações em Suporte
Básico de Vida, enquanto no de Neves et
al. [20], com fisioterapeutas e graduandos em fisioterapia para avaliar o
conhecimento sobre diagnóstico e atendimento de urgência à parada
cardiorrespiratória, quase metade não foi capaz de responder a sequência
primária de atendimento.
Quando iniciada as
manobras de RCP, é indispensável que as compressões torácicas sejam efetivadas
em local apropriado, com profundidade e frequências correspondentes, variando
entre 100 e 120 compressões por minuto para que o fluxo sanguíneo seja ofertado
aos órgãos vitais e a ressuscitação cardiopulmonar torne-se eficaz [21]. Neste
domínio, quando indagados sobre a frequência de compressões torácicas durante a
massagem cardíaca, somente 23,53% dos fisioterapeutas indicaram a alternativa
apropriada, acordando com os achados de Di Credo, Boostel
e Felix [22] em estudo com a equipe multiprofissional, realizado em
Curitiba/PR, 28,72% dos voluntários acertaram a assertiva referente a
frequência de compressões torácicas.
Este resultado
preocupa, pois sabe-se que para reversão da PCR é imprescindível que os
profissionais responsáveis pela massagem cardíaca estejam capacitados em realizá-la
de maneira adequada, respeitando as recomendações das diretrizes da American Heart Association.
Devido a isso, nota-se a necessidade da implementação de treinamentos
frequentes para a equipe do TRR, visto que todos os profissionais da equipe
devem possuir competência para realizar uma RPC de boa qualidade e garantir
melhores prognósticos.
Outro dado que chamou
atenção no estudo foi o baixo percentual de acerto referente ao tempo máximo
para chegada do time de resposta rápida após seu acionamento, em que 11,76% dos
fisioterapeutas responderam corretamente. Um intervalo de tempo inferior a 4
minutos do início da PCR e as primeiras manobras de RCP acrescem taxa de
sobrevida em até 75%, enquanto entre 4 e 12 minutos a taxa de sobrevida é de 15%
e após 15 minutos, 5% [23]. Por esse motivo, é de suma importância identificar
os primeiros sinais de instabilidade fisiológica e conscientizar os
profissionais atuantes nas equipes de emergência que o atendimento deva ser
prestado logo nos primeiros minutos aumentando as chances de recuperação.
Os achados encontrados
revelaram que os fisioterapeutas atuantes no TRR possuem conhecimento sobre
suas atribuições e competências na equipe, assim como sabem lidar com pacientes
em via área avançada, porém ainda existe uma lacuna de conhecimento no que diz
respeito a algumas questões referentes ao Suporte Básico de Vida. Por esse
motivo, é crucial a implementação de treinamentos frequentes para capacitações
dos profissionais, levando em consideração as recomendações da American Heart Association de 2015 em RCP e ACE.