ARTIGO
ORIGINAL
Impacto
dos sintomas osteomusculares nas práticas de ensino de docentes
Impact of musculoskeletal symptoms in teachers
Mariana Bomfim
Ribeiro*, Carla Pequeno da Silva, Ft. M.Sc.**,
Juliana Braga Facchinetti, Ft.***, Adna Gorette Ferreira Andrade,
Ft.****
*Acadêmica
de Fisioterapia pela Faculdade Independente do Nordeste, **Docente na Uninassau - Mauricio de Nassau, Vitória da Conquista/BA,
***Especialista em Fisioterapia Dermato Funcional,
****Especialista em Saúde Pública com ênfase em saúde da Família, Coordenadora
do Curso de Fisioterapia da Faculdade Independente do Nordeste
Recebido em 29 de
novembro de 2018; aceito em 21 de janeiro de 2019.
Endereço
de correspondência:
Mariana Bomfim Ribeiro, Rua Tiradentes, 67 Bairro Centro, 45000-650 Vitória da
Conquista BA, E-mail: mariana__mari@hotmail.com, Carla Pequeno da Silva:
carla_rivka@hotmail.com; Juliana Braga Facchinetti:
julianafacchinetti@fainor.com.br; Adna Gorette Ferreira Andrade: goretteandrade@gmail.com
Resumo
Introdução: Os sintomas
osteomusculares têm gerado preocupações à saúde laboral dos professores. Esses
incluem variadas doenças articulares, patologias na coluna e em tecidos moles. Objetivo: Avaliar o impacto dos sintomas
osteomusculares no exercício da atividade docente em ensino fundamental. Métodos: Esta pesquisa caracteriza-se
como quantitativa de natureza descritiva. A amostra foi composta por 24
mulheres (72,72%) e nove homens (27,27%), com média de idade de 46,18 anos. Resultados: Observou-se que 28 (84,84%)
dos docentes já foram acometidos por sintomas osteomusculares. Nos últimos 12
meses, os professores apresentaram maiores sintomas osteomusculares
principalmente nas regiões parte superior das costas 20 (60,60%), parte
inferior das costas 18 (54,54%) e tornozelos e pés 18 (54,54%). Conclusão: Uma vez que os sintomas
osteomusculares impactam diretamente na qualidade de vida e rendimento profissional
de docentes, sugere-se a necessidade da criação e implementação
de políticas preventivas nas escolas com o intuito de cuidar da saúde dos
docentes.
Palavras-chave: docentes,
osteomusculares, sintomas afetivos.
Abstract
Introduction: Musculoskeletal symptoms have generated concerns for teachers occupational health, these include various joint
diseases, spine and soft tissue disorders. Objective:
To evaluate the impact of musculoskeletal symptoms in the exercise of teaching
activity in elementary school. Methods: In this quantitative and descriptive
study, the sample consisted of 24 women (72.72%) and 9 men (27.27%), with a
mean age of 46.18 years. Results: It
was observed that 28 (84.84%) of the teachers were already affected by
musculoskeletal symptoms. In the last 12 months, the teachers presented
musculoskeletal symptoms mainly in the upper back 20 (60.60%), lower back 18
(54.54%) and ankles and feet 18 (54.54%). Conclusion:
Since musculoskeletal symptoms have a direct impact on the quality of life and
professional performance of teachers, it is suggested the need to create and
implement preventive policies in schools in order to take care of teachers'
health.
Key-words: faculty,
musculoskeletal, affective symptoms.
Lesões por esforços
repetitivos (LER) e distúrbios relacionados ao trabalho (DORT) são exemplos de
doenças relacionadas ao trabalho. Possuem características similares em vários
sintomas, como: dor, sensação de peso repetitivo, posturas inadequadas, formigamento
nas extremidades, desconforto físico ao esforço [1]. O não comparecimento às
atividades laborais resultantes dessas doenças levantadas causa um custo para
os recursos socioeconômicos [2].
Os professores estão
dentro das classes de profissionais que mais estão expostos a disfunções
causadas pelo ambiente de trabalho, seja pelas altas cargas de estresse ou pela
elevada cobrança, que geram prejuízos ao bem-estar físico e emocional [3]. Eles
podem apresentar desgaste e tristeza diante de casos de incompetência,
demonstrando dificuldades para comprovar cada habilidade, presença de
indisposição, além da presença de existência da dor na realização de atividades
do dia a dia [4].
Alguns estudos
apontam que os docentes têm uma elevada prevalência de sintomas osteomusculares
gerados pelo ambiente de trabalho, chegando a 93% dos casos, muitas vezes esses
acometimentos levam a afastamentos das suas atividades laborais, devido a
níveis elevados de dor e surgimento de LER/DORT [5].
Os sintomas osteomusculares
têm gerado preocupações à saúde laboral dos professores, causando prejuízos à
qualidade de vida dessa classe. Esses incluem variadas doenças articulares,
patologias na coluna e em tecidos moles, bem como traumas em tendões e
ligamentos [6].
Entende-se que os
sintomas são condições ímpares que variam entre a população; ainda que
compartilhem da mesma doença e mesma localização, são capazes de desenvolver
diferentes níveis de dor, considerando cada indivíduo [7].
Tulder, Malmivaara
e Koes apontam que as repetições de movimentos e
posturas incorretas estão relacionadas para os aparecimentos destes sintomas.
Desta forma, os alongamentos e exercícios ergonômicos são uma forma de
prevenção, assim como a atividade física regular tem grande eficácia na redução
do estresse [8].
Os sintomas
osteomusculares apresentam um elevado índice de incapacitação, dessa forma,
levam a grandes dificuldades na realização das atividades de vida diária e
laborais representando um grande risco ocupacional para os professores
acometidos [9]. Nessa ótica, Yeng et al. [10] exploraram impedimentos na efetuação de atividades
normais do cotidiano, sugerindo que os sintomas osteomusculares tornam-se um
risco em professores, dificultando a execução do trabalho com excelência.
Este estudo possuiu
como objetivo geral avaliar o impacto dos sintomas osteomusculares no exercício
da atividade docente em ensino fundamental e como objetivo específico
identificar a presença dos sintomas osteomusculares em docentes e traçar o
perfil sociodemográfico e ocupacional dos docentes.
É fundamental
elaborar programas de promoções à saúde, que estimule a pesquisa sobre a dor
musculoesquelética com os professores, fazendo com que examinem os mecanismos
ergonômicos e psicossociais no trabalho do docente, para que, assim, tal classe
recupere o estilo de vida necessário para que suas atividades, no cotidiano,
sejam executadas com conforto e alívio na dor [11].
Esta pesquisa
caracteriza-se como quantitativa de natureza descritiva, que por sua vez, têm
por objetivo descrever criteriosamente os fatos e fenômenos de determinada
realidade, de forma a obter informações a respeito daquilo que já se definiu
como problema a ser investigado [12]. Foi realizada no colégio municipal,
localizado no interior da Bahia na cidade de Itapetinga. A escolha do local
obedeceu ao critério de conveniência pela facilidade de acesso para coleta de
dados, a amostra pesquisada foi composta por todos os docentes que lecionam no
referido colégio com tempo de serviço superior a um ano e que aceitarem
participar do estudo, não participaram desta pesquisa aqueles que na época da
coleta estavam afastados de suas funções e os que apresentaram lesões com menos
de um ano.
Para a coleta de
dados foi submetido um projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
– CEP da Faculdade Independente do Nordeste-FAINOR e foi solicitada da
instituição estudada uma permissão documental. Esta pesquisa está em
conformidade com as exigências da Resolução nº 466/2012 (Conselho Nacional de
Saúde), sob o Número do Parecer: 2.769.976 e CAAE: 92738818.7.0000.5578. Para a
realização da entrevista e autorização dos dados divulgados foi firmado um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e todos os participantes
assinaram em duas vias, mantendo uma e a outra ficando com o pesquisador.
As informações foram
obtidas através da realização de uma entrevista, na qual foram aplicados dois
questionários. O primeiro elaborado pela pesquisadora deste trabalho, composto
por questões que abordaram aspectos sociodemográficos
(sexo, idade, estado civil, duração e realização de pausas na jornada de
trabalho, tabagismo e etilismo) e em seguida foi aplicado o Questionário
Nórdico de Sintomas Osteomusculares (dor nos últimos 7
dias, sintomas, impedimento de realizar atividades normais por conta dos
sintomas, consulta a algum profissional da área de saúde por conta dessa
condição nos últimos 12 meses. Estas questões foram direcionadas por região –
pescoço, ombros, parte superior das costas, cotovelos, punhos/mãos,
quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés).
Os dados coletados
sofreram uma análise descritiva com cálculo de porcentagem, das frequências
simples, em todas as análises o nível de significância adotado será de 5% (a
= 0,05), a tabulação será feita através do software Microsoft Office Excel –
Versão 2015.
Dos 64 professores
que lecionam no colégio avaliado, 36 participaram do estudo, correspondendo a
56,25%. Destes houve três perdas, todas eram do sexo feminino e estavam
distribuídas igualitariamente entre as diversas escolas participantes, não
havendo justificativa da não participação.
A amostra foi
composta por 24 mulheres (72,72%) e nove homens (27,27%), com média de idade de
46,18 ± 9,23 anos (IC a 95,0% = 41,96-47,52). Com relação ao estado civil, a
maioria dos docentes era casada 16 (48,48%), seguido pelo grupo de solteiros
oito (24,24%).
Com relação à
escolaridade, a maioria com pós-graduação 17 (51,51%) e destes apenas três
(9,09%) com mestrado, o tempo médio de exercício da atividade de docência foi
de 20 ± 9,69 anos (IC95% = 16,5-20,2), a carga horária semanal de trabalho
apresentou média de 38, 70 ± 5,82 horas (IC 95% = 29,4-40,9).
A maioria dos
professores 19 (57,27%) realizava uma pausa no trabalho além do horário
previsto para o almoço. A principal postura durante o trabalho era em pé 29
(87,87%). A média de horas que os professores ficavam na mesma postura foi de
10,03 ± 4,82 horas (IC a 95% = 6, 78-10,4). A maioria
dos professores não praticava atividade física 21 (63,63%), bem como não era
tabagista 30 (90,90%) ou etilista 28 (84,84).
Na análise dos
resultados obtidos pelo questionário nórdico de sintomas osteomusculares,
observou-se que 28 (84,84%) dos docentes já foram acometidos por sintomas
osteomusculares. Nos últimos 12 meses, os professores apresentaram maiores
sintomas osteomusculares principalmente nas regiões parte superior das costas
20 (60,60%), parte inferior das costas 18 (54,54%) e tornozelos e pés 18
(54,54%). Todos os docentes tiveram impedimento de realizar atividades normais
por causa de sintomas osteomusculares nos últimos 12 meses, a região mais
acometida foi a parte superior das costas com
21(63,63%). Com relação à prevalência nos últimos sete dias, as regiões
corporais mais acometidas foram tornozelo e pé 10 (30,30%), seguida
do pescoço, ombro e cotovelo com oito (24,24%) cada (Figura 1).
Fonte: Dados da
própria pesquisa.
Figura
1 – Distribuição por região dos sintomas osteomusculares
sentidos pelos docentes do Ensino Fundamental, Itapetinga, 2018.
Junior e Silva ao
analisar a sintomatologia de distúrbios osteomusculares em docentes encontrou
em sua amostra uma distribuição de gênero contendo 71,4% de mulheres, dado
similar ao encontrado nesta pesquisa na qual as mulheres figuram sendo 72,72%
da população estudada [3].
Silva e Silva [13] em
sua pesquisa encontrou uma distribuição de 63,9% da sua amostra sendo
casada/vivendo com companheiro, dado superior ao quantificado no estudo no qual
48,48% dos docentes estudados eram casados.
A docência já não é
mais compreendida como uma transmissão e repetição de conteúdo, atualmente são
tidas como uma atividade de alta complexidade que requer diversas competências
e saberes que necessitam de uma maior compreensão e apropriação das suas
relações, fazendo com que o perfil dos docentes se altere, demandando cada vez
mais pessoa capacitadas, qualificadas, flexíveis e com
uma visão crítica do mundo e da sociedade. Destaca-se dentre essa qualificação
os cursos de pós-graduação e mestrado nos quais os docentes se capacitam e se
atualizam em uma gama de áreas que compõe e forma seu conhecimento [14]. Dentro
da amostra 51,51% possuíam cursos de pós-graduação e apenas 9,09% apresentavam
mestrado.
Quanto ao tempo de
serviço, Souza, ao estudar o perfil dos educadores que atuam na atuação básica
no Brasil, mostra que o volume de profissionais com experiência diminuiu de
acordo com o Censo dos Profissionais do Magistério. A quantidade de docentes
com mais de 20 anos de serviço ocupam atualmente 24,9% do mercado [15], a
amostra estudada possui tempo de experiência médio de 20 anos.
O exercício da
docência, segundo Silva e Silva, é uma atividade repetitiva, motivo gerador de
LER/DORT, sendo de suma importância a realização de
intervalos durante a atividade laboral [13]. Costa complementa esse fato quando
diz em sua obra que tais intervalos são extremamente necessários para que
ocorra o relaxamento da musculatura [16], 57,27% da amostra pesquisada realiza
pausa no trabalho além do período disponibilizado para o almoço.
No que tange à
docência, os profissionais que atuam nesse ramo desenvolvem suas atividades no
decorrer da jornada de trabalho em sala de aula, principalmente em pé,
realidade difícil de ser alterada, pois essa posição é inerente ao trabalho
[17]. 87,87% dos entrevistados indicaram que atuam nessa posição, Silva e Silva
trazem em seu estudo que se manter em pé durante períodos prolongados leva a
uma sobrecarga ao corpo, sobretudo aos membros inferiores, costas, quadris,
joelhos e pés, propiciando o advento de quadros patológicos como sintomas
osteomusculares, problemas circulatórios dentre outros [13].
Patologias de origem
osteomuscular possuem associação direta com a qualidade de vida dos docentes. O
desenvolvimento delas depende de forma direta da intensidade, duração e
frequência da atividade laborativa, que podem ser amenizadas ao se criar e
adotar ajustes preventivos na ergonomia inapropriada gerada no trabalho,
visando o bem-estar do material humano e tendo a ideia que um ambiente adequado
de trabalho pode gerar um aumento na produtividade [18].
Junior e Silva
inferiram em sua pesquisa uma prevalência global de 85,7% do fenômeno em estudo
acometendo os docentes nos últimos doze meses [3], dado que corrobora o encontrado
neste estudo no qual 84,84% dos entrevistados referem sentir alguns sintomas
osteomusculares. Os mesmos autores ainda relatam que os docentes relacionam um
agravo do quadro sintomatológico ao lecionarem.
A coluna vertebral é
apontada como o maior alvo das queixas, 54,1% referem
à parte superior das costas como o local mais acometido [18]. Nos últimos 12
meses, 60,60% da amostra em estudo relatou maiores
sintomas osteomusculares nessa região.
Ferreira et al. [17] em uma revisão sistemática
sobre os sintomas osteomusculares em professores traz que a indicação da região
inferior das costas como local de prevalência de sintomas nos últimos 12 meses
varia de 49,1% a 64%, dado que condiz com o achado na amostra em que 54,54%
relatam sintomatologia nesse local.
Ao se manterem com a
postura em pé por períodos prolongados, no exercício da função laboral, uma
grande incidência de sintomas osteomusculares tem sido referida nos tornozelos
e pés, chegando a 59,52% da amostra [3]. Em nosso estudo, 54,54% dos docentes
indicaram que nos últimos 12 meses sentiram dor ou desconforto nos membros
inferiores – MMII e 30,30% relataram esse ocorrido nos últimos sete dias.
Baseado nos dados
discutidos, a presente pesquisa revelou alta incidência de sintomas
osteomusculares em docentes da rede pública de Itapetinga/BA, destacando a
coluna vertebral como segmento corporal com maior relato de dor e desconforto, seguida dos tornozelos e pés.
Os professores
permanecem por um período prolongado em posições estáticas devido a sua
atividade laboral. Associa-se este fato a fatores geradores de sintomas
osteomusculares e que levam a fadiga muscular acarretando sintomatologia
característica de processos patológicos relacionados ao trabalho.
Uma vez que os
sintomas osteomusculares impactam diretamente na qualidade de vida e rendimento
profissional de docentes, sugere-se a necessidade da criação e implementação de políticas preventivas nas escolas com o
intuito de se cuidar da saúde dos docentes, como a inserção do profissional
fisioterapeuta nesses ambientes, pausas nas atividades laborais, recursos para
que os mesmos não fiquem períodos prolongados em pé com o objetivo de promover
o bem-estar físico de docentes e escolares.