ARTIGO
ORIGINAL
Correlações
entre os componentes da aptidão física de idosos participantes de grupos de
convivência
Correlations
between the components of physical fitness of elderly companionship groups
Tamires Terezinha Gallo da Silva*, Hilana Rickli Fiuza Martins, Ft.**, Pablo de Almeida, D.Sc.***, Anna Raquel Silveira Gomes****
*Profissional de Educação Física, Mestranda em Educação Física – Atividade Física
e Saúde no Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), **Docente do Departamento de Fisioterapia da
Universidade
Estadual do Centro-Oeste (Unicentro-PR) e
Departamento de Fisioterapia da Faculdade Guairacá,
Guarapuava/PR, Doutoranda em Educação Física - Atividade Física e Saúde no
Programa de Pós Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Curitiba/PR, ***Profissional de Educação Física, Doutor em
Ciências da educação, Doutorando em Ciências Farmacêuticas pela Universidade
Estadual do Centro Oeste, Guarapuava/PR, Docente no
Departamento de Educação Física da Faculdade Guairacá,
Guarapuava/PR, ****Docente e Pesquisadora do Departamento de
Prevenção e
Reabilitação em Fisioterapia e do Programa de
Pós-Graduação em Educação
Física
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba/PR
Recebido em 30 de
novembro de 2018; aceito em 16 de maio de 2019.
Correspondência: Tamires Terezinha Gallo da Silva, Avenida Presidente Kennedy, 3230/404ª,
Bairro Água Verde, 80610-016 Curitiba PR, E-mail: thamgali@hotmail.com; Hilana Rickli Fiuza Martins:
hilana_@hotmail.com; Pablo de Almeida: prof.pablo@hotmail.com; Anna Raquel
Silveira Gomes: annaraquelsg@gmail.com
Resumo
A avaliação da aptidão
física contribui para prescrição clínica do exercício. O objetivo foi avaliar e
correlacionar componentes da aptidão física. Estudo transversal com 331 idosos
de grupos de convivência (≥ 60 anos), estratificados por sexo, faixa
etária, avaliados pela bateria Testes de Aptidão Física para Idosos (TAFI). Resultados
foram analisados pela ANOVA One Way, correlação de Pearson,
Regressão simples e múltipla. Em idosas a força de membros inferiores (MMII)
apresentou correlação com flexibilidade e explicou agilidade/equilíbrio. Força
de membros superiores (MMSS) associou-se com flexibilidade de MMSS, 12% da
flexibilidade pode explicar a força de MMSS. No sexo masculino, força de MMII
correlacionou-se com resistência aeróbica e explicou 55% da resistência
aeróbica. Conclui-se que no sexo feminino com aumento da idade, a
força/resistência dos MMII associou-se de maneira crescente com
agilidade/equilíbrio dinâmico, já no sexo masculino a força dos MMII
associou-se com a resistência aeróbica.
Palavras-chave: envelhecimento,
aptidão física, força muscular, flexibilidade, equilíbrio postural.
Abstract
The
evaluation of physical fitness contributes to clinical prescription of the
exercise. The objective was to evaluate and correlate components of physical
fitness. Cross-sectional study with 331 elderly (≥ 60 years) stratified
by gender, age groups, evaluated by Senior Fitness Test. Results were analyzed
by One Way ANOVA, Pearson's correlation and multiple and simple regression. In
women, strength/resistance of lower limbs (LL) presented correlation with
flexibility of LL and explained agility/balance. Strength of upper limbs (UL)
was associated with UL flexibility, 12% of flexibility can explain the strength/resistance
of UL. In men, strength/resistance of LL showed correlation with
aerobic resistance and explained 55% of aerobic resistance. We concluded that
older women showed strength/endurance of LL increasingly associated with agility/dynamic
balance, while in male, strength/endurance of the LL was related to aerobic
endurance.
Key-words: aging,
physical fitness, muscle strength, flexibility, postural balance.
No Brasil, a população
com mais de 65 anos de idade corresponde a 7,68% da população total, sendo a
maioria (4,17%) do sexo feminino [1]. O envelhecimento populacional gera
desafios aos sistemas de saúde, por isso a população idosa precisa de atenção
direcionada às peculiaridades advindas do processo de envelhecimento [2].
É observado no processo
de envelhecimento a redução no nível de atividade física e declínio na aptidão
física, afetando negativamente a flexibilidade, força muscular, resistência e
equilíbrio [3]. A magnitude do declínio da aptidão física varia ao longo da
vida e está relacionada à faixa etária e sexo [4,5].
Conceitualmente,
aptidão física funcional é a “capacidade física de realizar as atividades
normais da vida diária de forma segura e independente, sem fadiga
injustificada”, e com energia para desfrutar de atividades de lazer. A aptidão
física é instrumentalizada como um conjunto de características mensuráveis
associadas à saúde, envolvendo força e resistência muscular, flexibilidade,
equilíbrio, agilidade, tempo de reação, potência, aptidão cardiorrespiratória e
composição corporal [6,7].
O declínio da aptidão
física pode ser amenizado com a prática do exercício físico. O idoso aos 65
anos de idade passa a apresentar capacidade aeróbica aproximadamente 30% menor
que o jovem, e a prática regular de atividades como caminhada e corrida podem
prevenir o declínio no consumo máximo de oxigênio em 0,5-1% por ano [3].
Também, a manutenção de níveis de força adequados é indispensável para uma
marcha segura [8] e hipoteticamente para boa capacidade aeróbica.
Caracterizar a aptidão
física funcional do idoso, com intuito de orientar intervenções específicas e
fidedignas é de extrema importância no combate às dependências preveníveis e
na obtenção de uma vida mais saudável [9]. A avaliação da aptidão física por
meio de método objetivo, simples e de baixo custo, como a bateria de Testes de
Aptidão Física para idosos (TAFI) permite detecção precoce de possíveis
reduções físico-funcionais relacionadas ao aumento da idade mesmo em ambiente
de atenção primária. Ainda, pode ser uma ferramenta poderosa para atender às
necessidades específicas de idosos [6,10].
Verificar a aptidão
física do idoso, ainda, aperfeiçoa programas de treinamentos físicos
contribuindo para prescrição do exercício direcionada para a capacidade física
avaliada, com perspectivas à melhoria principalmente no desempenho das
atividades de vida diária [6,9].
Foi relatado que a
prática regular de exercícios físicos realizados por idosos em centros de
convivência, tende a amenizar o declínio funcional decorrente do envelhecimento
[9,11]. Um estudo realizado com 115 idosas praticantes de ginástica funcional
em grupos reportou melhora significativa com a intervenção nas variáveis
força/resistência de membros inferiores (MMII), força/resistência de membros
superiores (MMSS) e flexibilidade de MMII, enquanto, agilidade, flexibilidade
de MMSS e capacidade aeróbia não apresentaram alteração [12].
Tem sido extensamente
investigado [11,13-17] as repercussões de programas de atividades físicas nos
componentes da aptidão física (força/resistência de MMII e MMSS; flexibilidade
de MMII e MMSS; agilidade/equilíbrio dinâmico e resistência aeróbia) de idosos
inseridos em centros de convivência. No entanto, ainda não são conhecidas as
associações existentes entre esses componentes da aptidão física em idosos de
diferentes faixas etárias e sexo, que praticam atividade física regularmente em
grupos de convivência.
Dessa forma, este
estudo teve por objetivo correlacionar os componentes da aptidão física
(força/resistência, flexibilidade, agilidade/equilíbrio dinâmico e resistência
aeróbia) de idosos, estratificados por sexo e faixa etárias, pertencentes a
grupos de convivência de um município do Sul do Brasil. Ainda, objetivou-se
comparar os componentes da aptidão física entre as faixas etárias, caracterizar
o índice de massa corporal e o desempenho funcional desses idosos.
Material
e métodos
Tipo do
estudo
Descritivo com
delineamento transversal e abordagem quantitativa, aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa para Seres Humanos da Universidade Estadual do Centro Oeste
com número de parecer 1.373. 033.
População
e amostra
A amostra total de idosos
participantes do programa “Ativa Idade”, da cidade de Guarapuava no ano de
2014, era composta por 800 idosos, que integravam os 25 grupos de convivência
do programa, que oferecia a modalidade de ginástica funcional e recreativa, sob
supervisão de profissionais da saúde, 2 vezes por semana, com duração
aproximada de 50-60 minutos.
Para cálculo amostral,
considerou-se o intervalo de confiança de 95%, nível de significância de 5% e
margem de erro estimado de 5%, tendo como referência o número total de idosos
no município de Guarapuava, que indicou a necessidade de 353 idosos.
A seleção da amostra
foi realizada por conveniência, consistindo em 331 idosos de ambos os sexos e
com faixa etária ≥ 60 anos, atingindo 94% do cálculo amostral desejado,
os quais foram estratificados em 7 faixas etárias.
Foram incluídos idosos
com idade igual ou superior a 60 anos e que aceitaram participar assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram excluídos idosos
dependentes fisicamente (n=9); portadores de doenças crônicas e descompensadas
(n = 132) que os incapacitavam de realizar os testes; pressão arterial elevada
(n = 95) no dia das avaliações; os que faltaram no dia da realização dos testes
(n = 212) e os que não concordaram em participar da pesquisa e/ou não aceitaram
assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (n = 21).
Índice de Massa Corporal (IMC)
Foi utilizada uma fita
métrica de 152,4 cm fixada na parede, régua e balança (Filizola®).
Para índice de massa corporal (IMC) dividiu-se massa corporal em quilogramas
pela estatura ao quadrado (kg/m²), considerando-se IMC ≤ 23 kg/m² (baixo
peso), 23 < IMC < 28 kg/m² (peso normal), 28 ≤ IMC < 30 kg/m²
(pré-obesidade), IMC ≥ 30 (obesidade) [18].
Os idosos foram
previamente informados sobre a realização dos testes e que deveriam evitar
atividade física vigorosa um dia antes da avaliação, consumir alimentos leves
uma hora antes dos testes e usar roupas adequadas para exercício/avaliação
física. A coleta de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2014, e
foi realizada por profissionais de Educação Física previamente treinados com os
protocolos de testes.
Testes de
aptidão física para idosos
A aptidão física
funcional foi avaliada por meio dos testes de aptidão física para idosos
(TAFI), propostos por Rikli e Jones (2008) [6], sendo
eles: Força/resistência de membros inferiores (MMII) (Teste Levantar da
cadeira) e, superiores (MMSS) (Teste flexão de braço); Flexibilidade de MMII
(Teste de sentar e alcançar os pés) e, Flexibilidade de MMSS (Teste de alcançar
as costas); Agilidade/equilíbrio dinâmico (teste de levantar e caminhar) e;
Resistência aeróbia (Teste de Caminhada de 6 minutos) [6].
As classificações utilizadas
para avaliar o desempenho dos componentes da aptidão física foram: em risco de
perda da mobilidade funcional; mobilidade funcional abaixo da média; mobilidade
funcional normal e mobilidade funcional acima da média, propostos por Rikli e Jones baseados no estudo normativo do TAFI [6].
Análise
estatística
Os resultados estão
apresentados em estatística descritiva (média, desvio-padrão, frequência e
classificação de desempenho). Para avaliar a normalidade dos dados utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov. Para analisar relação entre as
variáveis, utilizou-se teste de Correlação de Pearson, sendo consideradas:
Correlação fraca (r = 0 - 0,3); Correlação moderada (r = 0,31 - 0,6);
Correlação forte (r => 0,6). Quando observada a correlação moderada-alta
(r>0,30) e/ou significativa (p < 0,05) realizou-se regressão linear
simples para verificar a influência de um componente da aptidão sobre outro.
Segundo os critérios estabelecidos, foi verificada o quanto a
flexibilidade dos MMSS (Alcançar as Costas) pode explicar a força dos MMSS (Flexão de
Braço).
A regressão linear
múltipla foi utilizada para verificar o quanto a flexibilidade dos MMII
(Sentar e Alcançar os pés), agilidade/equilíbrio dinâmico (Levantar e
Caminhar) e resistência aeróbica (Caminhada de 6 minutos) podem explicar a
força/resistência dos MMII (Levantar da Cadeira). Portanto, a análise de
regressão foi utilizada para verificar se as variáveis independentes explicavam
variação significante da variável dependente. Para comparações entre grupos
etários foi realizada Anova One Way post hoc de Tukey.
Todas as análises foram
realizadas no programa SPSS 20.0 e adotou-se nível de significância de 5%.
Resultados
e discussão
Na legislação
brasileira, conforme a Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003 do Estatuto do
idoso, as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos são consideradas idosas
[19]. O presente estudo utilizou como amostra, pessoas a partir desta faixa
etária, e observou que, idosos frequentadores dos grupos de convivência são
predominantemente da faixa etária de 60-64 anos de idade, como apresentado na
tabela I. Também estão apresentados na tabela I os dados antropométricos dos
idosos.
Tabela I - Classificação índice de massa corporal.
F = feminino; M =
masculino; Frequência absoluta (n = número) e relativa (% = porcentagem); IMC =
Índice de massa corporal.
No presente estudo
foram incluídos 331 (66,6 ± 6,37 anos) idosos estratificados por sexo (feminino
n = 281; masculino n = 50) e faixa etária (60-64; 65-69; 70-74; 75-79; 80-84;
85-89; 90-94). A maioria dos idosos era do sexo feminino e com idade média de
66,4 ± 6,32 anos corroborando os achados de Vagetti et al. [14], e demonstrando o fenômeno
da feminização nos grupos de convivência, já que 85,9% da amostra do presente
estudo era constituída por mulheres.
Essa
disparidade da
feminização nos centros de convivência é
notória [20], podendo associar esse
fenômeno à transição demográfica sob
a ótica de gênero, isto é, quanto mais a
população envelhece, mais feminina ela se apresenta [21].
Todavia, não deve ser
ignorada a questão do “não cuidado” do homem
em relação à sua saúde, um
resultado de determinados modelos de masculinidade da sociedade,
considerando-se um organismo resistente e dispensável de
suportes que possam
desenvolver hábitos saudáveis [15,22]. A falta de
hábito da prática de
atividade física no tempo livre é uma das causas para o
desencadeamento de
doenças crônicas não transmissíveis em
homens [23].
Foi observado que 66,1%
dos idosos apresentavam IMC normal; 33% pré-obesidade; 0,30% obesidade e 0,60%
baixo peso. Ainda, analisando o IMC, o presente estudo mostra que homens idosos
apresentam classificação normal nas faixas etárias mais baixas, com os valores
aumentando com o avançar da idade (a partir de 80 anos), corroborando com Rocha et al. [13]. Porém, o inverso foi
observado nas mulheres, as quais apresentaram classificação de pré-obesidade
nas faixas etárias mais baixas e com o avançar da idade houve decréscimo dos
valores de IMC, especialmente a partir dos 75 anos. Rocha et al. [13] também
encontraram em seu estudo pré-obesidade nas faixas mais jovens em mulheres
pertencentes ao grupo da Universidade Aberta da Maior Idade (UAMI).
Existe relação estreita
do IMC com a aptidão física funcional (Testes Andar 6 minutos; Sentar e
Levantar; Sentar e alcançar os pés; alcançar atrás das costas e; sentado e
caminhar), pois idosas classificadas com sobrepeso apresentaram menores escores
de aptidão funcional e as eutróficas (peso normal)
apresentaram níveis de aptidão física dentro da normalidade [14]. Esses dados
destacam a importância do controle do IMC no idoso, já que este pode interferir
nas atividades cotidianas que envolvem a aptidão física funcional [14]. As
tabelas II e III apresentam os valores absolutos e a classificação da aptidão
física em idosos do sexo feminino e masculino, respectivamente.
Tabela II
- Classificação do teste de aptidão física
para idosos.
Os valores estão
expressos em média e desvio padrão; Classif. =
Classificação de desempenho nos testes de acordo com a tabela padrão de Rikli; Jones [6]. LC = Levantar da Cadeira; FB = Flexão de
Braço; AS = Sentar e Alcançar os pés; AC = Alcançar as Costas; LeC = Levantar e Caminhar; C6’ = Caminhada de 6 minutos;
Rep. = Repetições; cm = Centímetros; s = Segundos; m= Metros. F. Normal = Faixa
Normal; RPMF = Risco da perda de mobilidade funcional. A) p = 0,01 comparado
com 60-64 anos; B) p = 0,03 comparado com 85 á 89
anos; C) p = 0,01 comparado à 85-89 anos; D) p= 0,01comparado com 85 á89 anos;
E) p = 0,03 comparado com 85-89 anos; F) p= 0,05 comparado com 70-74 anos; G) p
= 0,04 comparado com 60-64 anos; H) p = 0,00 comparado com 60-64 anos; I) p =
0,04 comparado com 75-79 anos; J) p = 0,00 comparado com 65-69 anos; K) p =
0,01 comparado com 75-79 anos; L) p = 0,00 comparado com 60-64 anos; M) p =
0,04 comparado com 60-64 anos; N) p = 0,01comparado com 80-84 anos; O) p = 0,01
comparado com 80-84 anos. Flexão de braço (p = 0,02 ANOVA One
Way); Levantar e Caminhar (p = 0,00 ANOVA One Way); Caminhada de 6’ (p = 0,00 ANOVA One
Way).
No sexo feminino, todas
as faixas etárias apresentaram variáveis de aptidões físicas classificadas como
desempenho normal, exceto a faixa etária de 85-89 anos que apresentou risco de
perda de mobilidade funcional na variável força/resistência de MMSS. Na
comparação dos componentes da aptidão física entre as faixas etárias foi
observado que idosas entre 85-89 anos apresentaram desempenho inferior na
força/resistência dos MMSS comparadas as outras faixas etárias. Idosas entre
70-74 anos, 75-79 anos e 80-84 anos apresentaram menor desempenho na
agilidade/equilíbrio dinâmico comparadas as idosas de 60-64 anos, com as idosas
de 75-79 anos e 80-84 anos apresentando menor desempenho comparadas as idosas
de 65-69 anos. Idosas entre 60-64 anos apresentaram maior resistência aeróbia
em comparação às idosas de 75-79 anos, 80-84 anos e 85-89 anos, e o grupo com
80-84 anos mostrou desempenho inferior em relação a 65-69 anos e 70-74 anos.
Não foi verificada diferença significativa entre faixas etárias no grupo
feminino para força/resistência MMII e flexibilidade MMSS e MMII.
No atual estudo foi
constatado que a força/resistência de MMII assim como a flexibilidade não
diminuíram significativamente com o avançar da idade em idosas ativas
participantes de grupo de convivência, concordando com Milanovic
et al. [3] que constatou a não
redução da flexibilidade em mulheres fisicamente independentes, mas observou
redução da força de MMII com o avançar da idade nessa mesma população.
Entretanto o estudo de Schimitt et al. [24] concorda com os achados do atual estudo, pois também
não reportou redução significativa da força de MMII com o avançar da idade.
Por outro lado, a
força/resistência de MMSS mostrou redução significativa em mulheres mais velhas
fisicamente ativas em centros de convivências, corroborando Rodrigues et al. [25] e indica que idades mais
longevas apresentam maior declínio de força muscular. O declínio funcional dos
MMSS no idoso ocasiona diminuição da capacidade para realizar atividades de
vida diária, como vestir-se, cozinhar, realizar tarefas manuais, entre outras
[10], além do que, a perda de força muscular combinada com baixos níveis de
atividade física representa risco potencial de diminuição da mobilidade [3].
O presente estudo
também detectou declínios da agilidade/equilíbrio dinâmico [3,24] e resistência
aeróbia [24], em mulheres de faixas etárias mais avançadas. Milanovic
et al. [3] não encontraram em seu
estudo redução da resistência aeróbia com o avançar da idade em mulheres,
porém, o método de avaliação foi por meio do teste da marcha estacionaria em 2
minutos.
Tabela
III - Classificação do teste de aptidão física
para idosos.
Os valores estão
expressos em médias e desvio padrão e Classif. =
Classificação de desempenho nos testes de acordo com a tabela padrão de Rikli; Jones [6]. LC = Levantar da Cadeira; FB = Flexão de
Braço; AS = Sentar e Alcançar os pés; AC = Alcançar as Costas; LeC = Levantar e Caminhar; C6’ = Caminhada de 6 minutos;
Rep. = Repetições; cm = Centímetros; s = Segundos; m = Metros. F normal = Faixa
Normal; Abaixo M = Abaixo da Média; Acima M = Acima da Média; RPMF = Risco da
perda de mobilidade funcional; A) p = 0,02 comparado com 70-74 anos; B) p =
0,03 comparado com 70-74 anos; C) p = 0,00 comparado com 70-74 anos; D) p =
0,02 comparado 60-64 anos; E) p = 0,01 comparado com 70-74 anos; f) p = 0,04
comparado com 75-79 anos. Flexão de Braço p = 0,000 (ANOVA One
Way); Caminhada de 6’ p = 0,000 (ANOVA One Way).
Entre os idosos do sexo
masculino, todas as faixas etárias apresentaram variáveis da aptidão física
classificadas como normal e acima da média, exceto a faixa etária de 70-74 anos
que apresentou classificação abaixo da média para força/resistência de MMII e
MMSS. A faixa de 90-94 anos classificou-se como normal para força/resistência
de MMII e MMSS, porém, com risco de perda de mobilidade funcional nas outras
variáveis. Na comparação dos componentes da aptidão física entre as faixas
etárias, idosos de 60-64 anos apresentaram melhor desempenho na
força/resistência de MMSS comparados aos idosos de 70-74 anos, que por sua vez
apresentaram desempenho inferior comparado aos de 75-79 anos.
É relatado que com o
avançar da idade há declínio nos componentes da aptidão física em idosos [3],
mas no presente estudo, idosos que participavam dos grupos de convivência não
mostraram redução significativa das valências físicas força/resistência de
MMII, flexibilidade de MMSS e MMII, agilidade/equilíbrio dinâmico com o avançar
da idade.
Tem sido descrito que
idosos apresentam declínio da força muscular, de aproximadamente 1% ao ano, com
o avançar da idade [26,3] em ambos os sexos [3]. Porém, o sexo masculino
apresenta maior efeito negativo da idade em relação à força muscular do que nas
mulheres [26]. A linearidade do presente estudo na força/resistência de MMII
entre as faixas etárias pode ser atribuída ao fato que idosos ativos apresentam
maiores escores de força [26,3].
Em relação à
resistência aeróbia, idosos entre 60-64 anos apresentaram melhor desempenho
comparados aos de 70-74 anos e 75-79 anos. E, idosos de 65-69 anos indicaram
desempenho superior sobre 70-74 anos e 75-79 anos. Em suma, foram encontrados
declínios na resistência aeróbia de homens mais velhos. Tem sido reportado que
há perda de habilidade aeróbica de quase 10% por década, concordando com os
dados do presente estudo [3].
Idosos de ambos os
sexos participantes de ginástica funcional em centros de convivências
apresentam níveis normais de desempenho de aptidão física funcional [12], como
encontrado no presente estudo, exceto faixa etária de 90-94 anos (masculino) e
85-89 nos (feminino) que apresentaram risco de perda da mobilidade funcional,
fato que pode ser atribuído à idade avançada em que o declínio funcional é
maior, e também pela restrição para avaliar indivíduos nessa faixa etária, pois
a maior parte dos idosos que frequenta grupos de convivência é de faixa etária
menor (24).
No Brasil, a
implementação da prática de atividades física em centros de convivência
beneficia a população idosa com melhores condições de saúde, diminui o
comportamento sedentário e melhora a qualidade de vida [20], além de permitir a
acessibilidade por ser oferecido em locais próximos às residências dos
frequentadores, o que facilita a aderência, pois não dependem de terceiros para
se deslocarem até o local. Os benefícios da prática de exercícios realizados em
centros de convivência foram constatados neste estudo quando analisados os
desempenhos dos idosos nos testes.
Portanto, incentivar a
participação de idosos em grupos de convivência ameniza o impacto do processo
de envelhecimento nos componentes da aptidão física contribuindo para a
manutenção da independência funcional.
Para verificar as
repercussões da prática regular de atividade física em grupos de convivência
este estudo também investigou as associações existentes entre os componentes da
aptidão física, por meio da análise de correlação (tabela IV) e regressão
(tabela V).
Tabela IV - Correlações entre testes por sexo e faixa etária.
LC = Levantar da
Cadeira; AS = Sentar e Alcançar os pés; LeC =
Levantar e Caminhar; C6’ = Caminhada de 6 minutos; FB = Flexão de Braço; AC =
Alcançar as Costas; F = Feminino; M = Masculino; *p < 0,05 correlação de
Pearson; de acordo com Jacques [27]: r = 0 - 0,3 (Baixa), r = 0,31 - 0,6
(moderada), + de 0,6 (Alta/forte).
Tabela V - Influência de outros componentes da aptidão física na força/resistência
dos membros inferiores e superiores em idosos do sexo feminino e masculino.
*Associação
significativa com a variável dependente;. β =
Coeficiente beta. P = valor de p.*significância estatística.
Foi identificada
relação entre força/resistência de MMII e flexibilidade de MMII no presente
estudo e, relação da força/resistência de MMSS e flexibilidade de MMSS na faixa
etária 70 a 74 anos. Ainda foi observado que a flexibilidade dos MMSS
explica 12% da variância da força/resistência no sexo feminino. Tem sido
detectado ganho de força/resistência muscular após treinamento de flexibilidade
em idosos, pois o aumento do comprimento músculo-tendíneo
pode gerar reaproveitamento da energia elástica fazendo que os níveis de força
possam ser incrementados, bem como melhora no torque [28,29].
Também foi identificado que quanto menor o tempo para realizar o teste de levantar e
caminhar maior o número de repetições no teste de levantar da cadeira em 30
segundos. Dessa forma, observa-se que para o sexo feminino agilidade/equilíbrio
dinâmico interferiu e explicou de maneira crescente a variância na
força/resistência dos MMII à medida que aumentou a faixa etária, isto é: 60-64
anos (17%, β = -0,32, p = 0,00); 65-69 anos (20%, β = -0,36, p =
0,00) e 75-79 anos (54%, β = -0,52, p = 0,05). Assim sendo, quanto maior a
força/resistência, melhor agilidade/equilíbrio dinâmico, sendo que com o
avançar da idade maior a contribuição da força muscular dos MMII na
agilidade/equilíbrio de idosas. Este achado é importante para prescrição de
exercícios físicos para idosos, já que a redução da força muscular pode
prejudicar a marcha, o equilíbrio e aumentar o risco de quedas [30].
Ainda, foi possível
constatar que quanto maior o número de repetições alcançadas pelos idosos
homens no teste de levantar da cadeira em 30s (força/resistência de MMII),
maior foi a distância percorrida no teste de andar 6 minutos, com 55% da variância
da resistência aeróbia sendo explicada pela força (55%, β = 063, p = 0,00)
na faixa etária de 60-64 anos. Quando analisadas as variáveis força de MMII e
resistência aeróbia em idosos praticantes de ginástica recreativa oferecidas em
um grupo de convivência, observou-se que os idosos praticantes tiveram melhor
desempenho de força e resistência aeróbia quando comparados com não
praticantes, sugerindo que programas de exercícios físicos oferecidos por
centros de convivências são eficazes na minimização da redução da aptidão
física decorrente do envelhecimento [31].
Um estudo mostrou que
22 sessões de treinamento aeróbio e resistido para MMII em idosos proporcionou
ganho na função cardiorrespiratória a partir da oitava semana de treinamento,
mantendo-se após o destreinamento [32]. Outros
estudos reportaram melhora da capacidade cardiorrespiratória, força de MMII e
flexibilidade, após exercício resistido e de alongamento em idosos [33,34].
Dessa forma, ambos os estudos mostram que o treinamento de
força/resistência MMII pode incrementar tanto a resistência aeróbica quanto a
flexibilidade, em ambos os sexos em idosos.
É
necessária cautela na
interpretação e extrapolação dos
resultados, em relação à linearidade do
desempenho da aptidão física em algumas variáveis
e ao fato do grupo de 75-79
anos apresentar melhor desempenho de força de MMSS em
relação ao grupo de 70-74
anos. O nível de atividade física dos indivíduos
não foi controlado e os mesmos poderiam participar de outros
programas de
exercícios físicos, contribuindo para melhor desempenho.
Diante disso, o
presente estudo apresenta limitações. A primeira relacionada à falta da
avaliação do nível de atividade física dos idosos, e também
a ausência de um grupo controle com idosos não praticantes de exercícios
físicos e não participantes de centros de convivências para comparação. No
sentido metodológico, a utilização do delineamento transversal utilizada neste
estudo impede o estabelecimento da causalidade reversa.
Quanto à aplicabilidade clínica do estudo, indica-se o uso do método Testes de Aptidão Física para Idosos para avaliação da aptidão física, por ser de baixo custo e fácil aplicação, podendo ser realizado em unidades básicas de saúde, centros de convivência para idosos, academias e clínicas. Além disso, o estudo mostrou que a valência física força muscular de MMII apresentou associação com o equilíbrio/agilidade de idosas e com a resistência aeróbica dos idosos, e que magnitude dessas associações aumentou com o avançar da idade. Portanto, recomenda-se que exercícios de força muscular devem ser prescritos para prevenir agravos e comorbidades, como quedas e disfunções cardiorrespiratórias em idosos.
Agradecemos à
Secretaria Municipal de Assistência Social de Guarapuava, sua coordenadoria e a
equipe de educadores físicos que colaboraram na coleta de dados, aos
coordenadores e idosos dos grupos de Convivências do Departamento de
Desenvolvimento e Fortalecimento de Vínculos, e ao apoio financeiro do CNPq a
Anna Raquel Silveira Gomes.
Idosos frequentadores
de grupos de convivência apresentaram aptidão física classificada como normal
em ambos os sexos e, em quase todas as faixas etárias, exceto longevos, que
apresentaram risco de perda de mobilidade funcional. Em idosas a flexibilidade
associou-se com força muscular, favorecendo o equilíbrio, enquanto que em
idosos a força dos membros inferiores contribuiu para resistência aeróbica.
Apesar das limitações
que o estudo apresentou, podem-se recomendar intervenções em grupos de
convivência com ênfase no treinamento de força muscular e agilidade/equilíbrio
dinâmico para as mulheres e, incremento de treinamento aeróbico para os homens,
para minimização dos déficits na aptidão física relacionados ao envelhecimento.
Portanto, é imprescindível a permanência e inclusão da ginástica funcional em
centros de convivência para idosos no constructo de um envelhecimento saudável
e com independência.