ARTIGO ORIGINAL
Efeito agudo das
correntes Russa e Aussie na força muscular de
flexores de punho e dedos
Acute effect of the use of Russian and Aussie currents on the muscular
strength of fist and finger flexors
Marina Rufino Mariano,
Ft.*, Ivy Veras de Sousa, Ft.*, Priscila Thais Araujo
dos Santos, Ft.*, Paulo Roberto Milanez Oliveira
Junior, Ft.*, Francisco Eliezer Xavier Magalhães, Ft., D.Sc.**,
Dionis de Castro Dutra Machado, Ft., D.Sc.***
*Universidade Federal
do Piauí (UFPI), **Biotecnologia (UFPI), ***Professora adjunta do departamento
de Educação Física do CCS da UFPI
Recebido em 6 de
dezembro de 2019; aceito em 14 de setembro de 2020.
Correspondência: Dionis
de Castro Dutra Machado, Avenida Raul Lopes 1971, 64049560 Teresina PI
Marina Rufino Mariano:
mari.rufi.mr@gmail.com
Ivy Veras de Sousa:
ivyveras@hormail.com
Priscila Thais Araujo dos Santos: araujopry@hotmail.com
Paulo Roberto Milanez Oliveira Junior: paulomilanezjr@hotmail.com
Francisco Eliezer
Xavier Magalhães: fisiofranciscoxavier@gmail.com
Dionis de Castro Dutra
Machado: dionis@ufpi.edu.br
Resumo
Introdução: As alterações motoras
e sensoriais da mão diminuem a força dos músculos que compõe esse segmento e
pode repercutir na qualidade de vida do indivíduo. No campo da Fisioterapia, a
diminuição da força muscular é frequentemente tratada com o emprego de
correntes excitomotoras, dentre aquelas comumente
empregadas, as correntes russas e Aussie destacam-se
por serem de média frequência e promoverem estimulação sensorial confortável. Objetivo:
Identificar os efeitos agudos do uso das correntes Aussie
e russa sobre a força muscular de flexores de punho e dedos. Métodos:
Foi realizado um estudo de caráter experimental, no qual se avaliou a força de
preensão palmar antes e após a aplicação de correntes excitomotoras
(Aussie e russa). Os voluntários foram divididos em
dois grupos, GR, os quais foram submetidos a terapia com corrente russa, e GA,
que recebeu a terapia usando a corrente Aussie. A
estimulação utilizando a corrente russa foi efetuada com frequência portadora
de 2500 Hz com burst de 10 ms,
frequência de estimulação de 50 Hz, tempo On 5 segundos
e tempo Off 15 segundos e modulação de 20%. Já a estimulação com a corrente Aussie foi realizada com frequência portadora de 1000 Hz
com burst de 2 ms,
frequência de modulação a 50 Hz, tempo On em 5
segundos, tempo Off 15 segundos, Rampas de subida e descidas
fixadas em 2 segundos. Em ambas as estimulações, a intensidade da corrente foi
ajustada de acordo com a tolerância do participante, buscando desencadear
contração muscular visível, e o tempo total de aplicação foi de 10 minutos. Resultados:
As alterações na goniometria e dinamometria
foram analisadas por meio de uma ANOVA de dois fatores. Ao analisar os efeitos
principais dos dados da goniometria, não foram
observadas diferenças estatisticamente significativa entre os grupos [F(2,114) = 2,662; p=0,074] e entre os momentos [F(1,114)=
2,893; p=0,092]. Os dados da dinamometria também não
apresentaram efeito principal para os momentos [F(1,114)
= 0,392; p=0,533]. No entanto, observou-se efeito principal para grupos com [F(2,114) = 3,119; p=0,048]. Assim, o presente estudo não
encontrou diferenças estatísticas significativas no ganho de força de preensão
palmar como resultado de uma única aplicação das correntes estudadas. Conclusão:
Sugere-se a realização de estudos adicionais utilizando eletroestimulação,
buscando estabelecer parâmetros mais indicados para promover maiores ganhos de
força muscular e benefícios terapêuticos.
Palavras-chave: Fisioterapia,
eletroestimulação, força muscular.
Abstract
Introduction: The motor and sensorial changes of the strength decrease of the
muscles hand can affect the quality of life. In the field of Physical Therapy,
the decrease of muscle strength is often treated with the use of excitomotor currents. Among those commonly used, the
Russian and Aussie currents stand out because they are of medium frequency and
promote comfortable sensory stimulation. Objective: To identify the
acute effects of the use of Aussie and Russian currents on the muscular
strength of wrist and finger flexors. Methods: An experimental study was
carried out, in which the palmar grip strength was evaluated before and after
the application of excitomotor currents (Aussie and
Russian). The volunteers were divided into two groups, GR, using the Russian
current therapy, and GA, who received the Aussie current. The stimulation using
the Russian current was performed with carrier frequency of 2500 Hz with burst
of 10 ms, stimulation frequency of 50 Hz, time On 5 seconds, time Off 15 seconds and modulation of 20%. The
Aussie current stimulation was performed with a frequency of 1000 Hz with a
burst of 2 ms, modulation frequency at 50 Hz, time On in 5 seconds, time Off 15 seconds, ramps up and down
fixed in 2 seconds. In both stimulations, the intensity of the current was
adjusted according to the tolerance of the participant, seeking to trigger
visible muscle contraction, and the total time of application was 10 minutes. Results:
Changes in goniometry and dynamometry were analyzed using a two-way ANOVA. When
analyzing the main effects of the goniometry data, no statistically significant
differences were observed between the groups [F (2,114) = 2,662; p = 0.074] and
between the moments [F (1.114) = 2.893; p = 0.092]. The dynamometry data also
did not present main effect for the moments [F (1,114) = 0.392; p = 0.533].
However, a major effect was observed for groups with [F (2,114) = 3.119; p =
0.048]. Thus, the present study did not find statistically significant
differences in palmar grip strength gain as a result of a single application of
the currents studied. Conclusion: We suggested to perform additional
studies using electrical stimulation, seeking to establish parameters more
indicated to promote greater muscle strength gains and therapeutic benefits.
Keywords: Physiotherapy, electro-stimulation, muscle strength.
A mão humana é um
segmento complexo, possuindo destreza que permite atender a boa performance
geral do corpo humano e desempenho das atividades de vida diária (AVD). Há quem
diga que se os pés foram feitos para a locomoção, as mãos foram feitas para a
sobrevivência [1]. Como um órgão do sistema locomotor consegue fazer distinções
sobre o meio externo, aliando força e destreza, além de ter grande influência na
eficiência social e criativa do homem. Além disso, por ser um órgão preênsil é
capaz tanto de produzir altos níveis de força para sustentar cargas elevadas,
como forças mínimas para manipular objetos em tarefas de precisão, necessárias
no dia a dia [2]. Sendo assim, as alterações motoras e sensoriais da mão
geradas por traumas, imobilização, doenças neurológicas e outras condições,
diminuem a força dos músculos que compõe esse segmento e pode repercutir na
qualidade de vida do indivíduo [3].
No campo da
Fisioterapia, a diminuição da força muscular é frequentemente tratada com o
emprego de correntes excitomotoras, as quais podem
promover o fortalecimento muscular e repercutir em consequente melhora na
estabilidade das articulações e do desempenho muscular [4]. O princípio da
estimulação elétrica neuromuscular (EENM) baseia-se na propagação de cargas
elétricas pelas fibras musculares, nervosas, sensitivas e motoras que, ao serem
excitadas pelos pulsos aplicados, geram mudanças na atividade metabólica tecidual
e desencadeiam a contração muscular. Por esta razão, têm sido utilizadas de
maneira coadjuvante no treinamento físico e na reabilitação. Dentre as
correntes comumente empregadas, as correntes Russa e Aussie
destacam-se por serem de média frequência e promoverem estimulação sensorial
confortável [5-9].
A corrente russa, no
que lhe concerne, foi relatada na década de 70 por Yakov
Kots, que desenvolveu a frequência ajustada na faixa
de 2,5 kHz + 50 kHz e burst ajustado em 10 ms. Esta
corrente é reconhecida por sua capacidade em produzir níveis mais profundos de
contração e aumento no grau de força muscular [10]. A corrente aussie é de origem australiana, desenvolvida pelo
pesquisador Alex Ward. Trata-se de uma corrente alternada de média frequência
modulada em kHz. Sua principal característica é o ajuste do burst
em curta duração, tornando-se assim, mais confortável sem comprometer a
eficiência eletrofisiológica [11].
Devido a controvérsias
entre a utilização de tais correntes excitomoras e a
escassez de estudos que identifiquem a efetividade no aumento da força
muscular, com apenas uma aplicação desses recursos, este estudo teve como
objetivo identificar os efeitos agudos das correntes Aussie
e russa sobre a força de flexores de punho e dedos.
Esta pesquisa caracterizou-se
por um estudo randomizado, cego e de caráter experimental, no qual foi avaliada
a força de preensão palmar antes e após a aplicação de correntes excitomotoras (Aussie e russa). O
estudo foi conduzido no serviço escola de Fisioterapia, local que dispõe do
espaço físico e recursos necessários ao experimento.
O projeto contou com a
participação de jovens saudáveis, com idade entre 18 e 25 anos, com interesse
em participar do experimento. Foram recrutados aleatoriamente por meio de
mídias nas redes sociais (Instagram e Facebook) e convites informais. Quanto
aos critérios de exclusão foram considerados usuários de substâncias tóxicas,
etilistas, possuidores de história pregressa de lesão muscular, óssea, nervosa
ou articular recente no membro a ser analisado, que apresentassem
comprometimento cognitivo.
A garantia de
confidencialidade, privacidade e proteção à imagem foram descritas e
asseguradas no termo de consentimento livre esclarecido (TCLE), assim como as
informações necessárias quanto aos procedimentos envolvidos na pesquisa. Uma
via desse documento ficou com os pesquisadores e a outra foi entregue ao
voluntário, sendo o mesmo informado do direito de retirar seu consentimento a
qualquer momento da pesquisa, sem que houvesse prejuízo à sua relação com os
pesquisadores e com a instituição. Aqueles indivíduos que concordaram com os
procedimentos, assinaram o TCLE e foram agendados para participação no estudo.
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos da UFPI, sob parecer nº 240057.
A amostra do estudo
totalizou 40 voluntários que foram dispostos em dois grupos de 20
participantes, sendo 10 homens e 10 mulheres em cada. O primeiro grupo
experimental foi submetido à estimulação com a corrente russa (GR) e o seguinte
grupo experimental (GA) recebeu a intervenção com a corrente Aussie. No que concerne à aplicação das correntes, foi
informado aos voluntários todos os procedimentos a serem realizados e as
repercussões no local aplicado, tal como a contração dos músculos, para que não
houvesse estarrecimento ou qualquer desconforto aos participantes.
Os participantes da
pesquisa foram alocados aletoriamente nos dois grupos, por meio de sorteio. Os
voluntários do GR foram submetidos à terapia com corrente russa, em músculos
flexores, extrínsecos, de punho e dedos, sendo eles braquiorradial,
flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo e palmar longo. O GA recebeu a
terapia sobre a mesma musculatura, porém usando a corrente Aussie.
A estimulação utilizando a corrente russa foi efetuada com frequência portadora
de 2500 Hz com burst de 10 ms,
sendo a frequência de estimulação de 50 Hz, tempo On
5 segundos e tempo Off 15 segundos visando evitar a fadiga da musculatura. O
tempo total de aplicação foi de 10 minutos e a corrente encontrava-se a 20% de
modulação. Já a estimulação com a corrente Aussie foi
realizada com frequência portadora de 1000 Hz com burst
de 2 ms, frequência de modulação a 50 Hz, tempo On em 5 segundos, tempo Off 15
segundos, Rampas de subida e descidas fixadas em 2 segundos e tempo total de
aplicação de 10 minutos. Em ambas as estimulações, a intensidade da corrente
foi ajustada de acordo com a tolerância do participante da pesquisa, buscando
desencadear contração muscular visível.
Foi realizada apenas
uma intervenção, dividida em 3 etapas, contendo 2 avaliações para comparação de
dados antes e após a aplicação e 1 período de tratamento, a saber: avaliação
inicial (AI); aplicação de uma das correntes (T1); avaliação final (AF), cada
intervenção durou 20 minutos, dos quais 10 minutos foram reservados para
avaliação inicial e final e 10 minutos para aplicação das correntes. A primeira
etapa, constituída pela AI foi realizada utilizando como instrumento de
pesquisa uma ficha de avaliação. Essa ficha incluía questionamentos como:
idade, sexo, peso, altura e IMC; compunha-se de uma breve anamnese, verificando
presença de histórias pregressas de lesões. Após, foi procedida inspeção e
palpação das partes ósseas, musculares, articulares e cutâneas dos membros
superiores. Igualmente foi avaliada a amplitude de movimento (AM) dos flexores
de punho, para isso os indivíduos estavam sentados em uma cadeira com o tronco
apoiado, joelhos flexioanados a 90º, ombros levemente
abduzidos, cotovelos flexionados a 90º, antebraço em pronação e punho em
posição neutra onde o goniômetro foi fixado, assim realizou-se a mensuração da
flexão de punho. A sensibilidade cutânea foi testada através dos dermatomos na região do antebraço, para que em quaisquer
alterações o voluntário pudesse ser excluído de forma a não haver viés nos
dados coletados, uma pesquisadora realizou o sorteio para alocar o voluntário
no grupo específico de intervenção (GR ou GA) e para garantir o cegamento
quanto à avaliação dos voluntários, outra pesquisadora ficou responsável pelas
avaliações (AI e AF) de todos os participantes e uma terceira pesquisadora foi
responsável por realizar as intervenções com os grupos, desse modo apenas a
avaliadora estava cega.
Para a mensuração da
força de preensão palmar, utilizou-se a dinamometria,
por meio do dinamômetro de preensão palmar, da marca North Coast Medical®,
modelo NC70154, com escala em libras por centímetro ao quadrado (l/cm2).
Este instrumento é recomendado pela American Society of
Hand Therapists (ASHT)
[12] para medir a força de preensão na avaliação de pacientes com diversas
desordens na extremidade superior tais como artrite reumatoide, síndrome do
túnel do carpo, epicondilite lateral, acidente vascular cerebral, lesões
traumáticas e doenças neuromusculares. A mensuração da força de preensão
utilizando o dinamômetro envolve procedimentos simples, de fácil administração,
no entanto, um protocolo deve ser desenvolvido e cuidadosamente seguido. Quando
isto não ocorre, variáveis de difícil controle são introduzidas, podendo
influenciar a consistência e validade dos dados disponibilizados pelo
instrumento, por isso neste trabalho foram utilizados os parâmetros
preconizados pela ASHT.
Cada voluntário foi
orientado a permanecer confortavelmente sentado, posicionado com o ombro em
posição neutra e o cotovelo fletido a 90º, o antebraço em posição de repouso e,
por fim, a posição do punho podendo variar de 0 a 30º de extensão. Cada
participante foi submetido a um período de adaptação ao dinamômetro, com três
repetições, após esse período o voluntário realizou novamente três movimentos
de preensão palmar dos três valores obtidos, e realizou-se a média determinando
a força de preensão do voluntário no membro superior. A dinamometria
foi realizada em dois momentos da pesquisa, na AI e AF [13].
A primeira etapa de
tratamento (T1), constou da aplicação de uma das correntes de acordo com o
grupo no qual o voluntário foi alocado. Foram colocados dois eletrodos de
silicone com carbono, posicionados no ventre muscular dos flexores de punho e
dedo, na região anterior do antebraço. Para posicioná-los foi solicitado que o
voluntário realizasse o movimento de flexão do punho, sendo imposta uma
resistência manual ao movimento, para que fosse possível localizar mais
exatamente o ventre muscular e assim posicionar os eletrodos, deixando um
espaço de dois dedos entre eles. Foi instruído ao voluntário que não realizasse
movimentos bruscos durante a aplicação e que poderia haver incômodo ao início
do estímulo, sendo dada a possibilidade de interromper o procedimento caso
houvesse desconforto exacerbado [14].
Previamente à
eletroestimulação foi realizada esfoliação sobre a pele da região anterior do
antebraço a fim de remover debris, diminuir a
impedância da pele e otimizar o estímulo proporcionado pelas correntes. O creme
esfoliante foi aplicado sobre a área com movimentos circulares suaves e em
seguida retirado totalmente com água. Os eletrodos foram fixados no local, com
o gel condutor e fitas adesivas. Durante a estimulação o voluntário permaneceu
sentado com o braço apoiado sobre uma mesa, sempre auxiliando a contração com
movimento voluntário a partir do momento em que percebia o estímulo elétrico e
cessando simultaneamente a este. Ao final da intervenção foi realizada a AF,
avaliando a força de preensão palmar pela dinamometria
e avaliação da AM seguindo o protocolo da AI. Posteriormente dava-se por
encerrada a participação do voluntário.
Para a análise
estatística foi realizada a verificação de normalidade dos dados, distribuição
de frequência simples das variáveis de interesse do estudo, e, a partir desta
análise, foram avaliados através de boxplot e do
teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados foram
analisados utilizando o pacote estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) 18.0. Para todos os casos foi
considerado valor p ≤ 0,05.
A amostra foi composta
por 40 voluntários, sendo estes 20 homens e 20 mulheres, com média de idade
20,8 anos, 80% sedentários e com IMC em média de 20,9. Observou-se também que
nenhum apresentava lesão no membro a ser avaliado nem histórico familiar de
lesão. Além disso, grande parte da amostra compunha-se de estudantes de
graduação. Os participantes foram alocados de forma equitativa em dois grupos:
um utilizando a corrente Aussie e outro a corrente
russa (n=20 por grupo). Neste contexto, as alterações na goniometria
e dinamometria foram analisadas por meio de uma ANOVA
de dois fatores respectivamente. Portanto, foram realizados dois testes entre
esses dois fatores, a saber: grupos (tipos de correntes) e amplitude de
movimento (goniometria antes e após); grupos (tipos
de correntes) e força muscular (dinamometria antes e
após). Os dados não apresentaram valores extremos e atribuiu-se que eles foram
normalmente distribuídos para cada grupo, tal como avaliado pelo boxplot e teste de Kolmogorov-Smirnov
(p > 0,05) de modo respectivo. A homogeneidade das variâncias não foi
violada, como observado pelo teste de homogeneidade de variância de Levene (p = 0,644) para goniometria
e (p = 0,099) para dinamometria.
Na análise da goniometria por meio de uma ANOVA de duas vias não foi
verificada a ocorrência de interação entre grupos e momento [F(2,114)
= 0,378; p=0,686] para goniometria. Ao analisar os
efeitos principais não foram observadas diferenças estatisticamente
significativa entre os grupos [F(2,114) = 2,662; p =
0,074] e entre os momentos [F(1,114 )= 2,893; p = 0,092] para os dados de goniometria. A figura 1 apresenta como média ± desvio
padrão os resultados.
Figura 1 - Amplitude do
movimento de flexão do punho (goniometria).
Com o intuito de
analisar a dinamometria foi igualmente realizada uma
ANOVA de dois fatores e não foi observada interação entre grupos e momento [F(2,114) = 0,047; p=0,954], além de não apresentar efeito
principal para os momentos [F(1,114) = 0,392; p=0,533]. No entanto, observou-se
efeito principal para grupos com [F(2,114) = 3,119;
p=0,048]. O teste post hoc Bonferroni revelou
diferença estatisticamente significativa entre os grupos que utilizaram a
corrente Russa e Aussie em relação à força muscular
avaliada na dinamometria com a diminuição de – 5,947
kgf [(IC de 95%=-11,798 a -0,095), p=0, 045]. A figura 2 apresenta através das
médias ± desvio padrão os resultados encontrados.
Figura 2 – Avaliação da
força de preensão palmar (dinamometria).
O presente estudo
buscou avaliar o efeito agudo da utilização das correntes Aussie
e russa sobre a força de preensão palmar e a amplitude de movimento de flexão
do punho em jovens saudáveis. As referidas correntes excitomotoras
têm sido amplamente utilizadas como recursos coadjuvantes no tratamento para
hipotrofia, recuperação da força muscular, bem como na prevenção de fatores que
possam vir a acometer o sistema musculoesquelético [15,16].
Os benefícios da
aplicação da EENM, no ganho de força muscular vêm tendo destaque devido a
características da ordem e do padrão de recrutamento das unidades motoras. Na
contração muscular desencadeada pela EENM, as fibras musculares não são
ativadas seletivamente, fornecendo assim vantagens clínicas, pois todas as
fibras, independentemente do tipo, têm o potencial para ser ativado em
intensidades relativamente baixas. Este pode ser o mecanismo responsável por
muitos dos ganhos em performance utilizando o protocolo de treinamento com EENM
[17,18].
A corrente russa foi
escolhida para esse estudo por ser uma modalidade de eletroestimulação de média
frequência (2500 Hz), o que a faz recrutar todas as unidades motoras de forma
sincronizada e assim permitir contrações mais fortes, tendo uma maior eficácia
na produção de força muscular [19-21]. Quanto à corrente Aussie,
ela tem a capacidade de realizar a eletroestimulação com desconforto mínimo,
sendo igualmente uma corrente de média frequência (4000 Hz ou 4 kHz) que possui
modulação do tipo Burst de curta duração, sendo
assim, mais confortável quando comparada a corrente russa [22].
Entretanto, na presente
pesquisa, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos
tratados com a corrente Aussie ou russa (p >
0,05), ou seja, nenhum grupo apresentou-se melhor do que o outro ao comparar o
acréscimo de força de preensão, confirmando assim a hipótese secundária, a qual
previa nenhuma alteração no torque muscular. No entanto, pode-se observar que
os voluntários que receberam a corrente Aussie já
tinham força maior que a russa no momento antes e pereceram com mais força após
a aplicação. Tal achado pode ter ocorrido em razão de alguma característica
relacionada a variáveis específicas da amostra estudada, como sexo, idade,
dominância, características antropométricas e o fato de ter sido uma única
aplicação, tendo assim uma diferença entre os grupos, mas não entre os momentos
de aplicação, antes e depois. Nesse sentido, a generalização dos resultados
torna difícil o estabelecimento de valores normativos universalmente aceitos do
desempenho da força de preensão palmar.
Resultado semelhante
foi encontrado em estudo que avaliou e comparou a força de preensão palmar,
usando o dinamômetro de preensão, e quatro protocolos de eletroestimulação
[15]. A amostra encontrava-se distribuída em 5 grupos, um realizando a terapia
com corrente de média frequência (2500 Hz, modulada em 50 Hz) em músculos
flexores e extensores, de punho e dedos, outro submeteu-se à terapia com
corrente de média frequência, diferenciando-se apenas pela adição da contração
isométrica voluntária, outro submetido à corrente de baixa frequência (54 Hz) e
o quarto grupo além da eletroestimulação com baixa frequência, associava-se a
contração voluntária. Além disso, o estudo contou com um grupo controle, não
submetido a nenhum protocolo de eletroestimulação ou isometria. Os resultados
indicaram que não houve diferença significativa no aumento de força de preensão
na comparação entre os grupos.
Assim como o encontrado
no estudo de Freitas [23], que objetivou analisar os efeitos da EENM na
atividade elétrica e força do músculo bíceps braquial antes e após um protocolo
de correntes de média frequência. A atividade elétrica muscular e a força
isométrica foram avaliadas durante uma contração isométrica voluntária máxima
com resistência, por meio da Eletromiografia (EMG) e realizou-se também o teste
de 1 Repetição Máxima (1RM). Participaram desse estudo 22 indivíduos saudáveis,
randomizados em quatro grupos. Os parâmetros utilizados foram: impulsos de 300
milissegundos; frequência de 50 Hz; tempo on de 9
segundos; tempo off de 9 segundos; duração de pulso: 0,3 ms,
sendo 15 minutos total de aplicação. Os resultados sugerem que o treinamento
muscular voluntário, treinamento isotônico associado à eletroestimulação e
treinamento isométrico associado à eletroestimulação demonstram uma tendência
para o aumento da atividade elétrica, força isométrica e força dinâmica em
jovens saudáveis, porém, sem diferenças estatisticamente significativas.
Contrariamente, uma
pesquisa que buscou analisar o efeito da EENM de baixa e média frequência sobre
a atividade eletromiográfica e força dos músculos
extensores da perna obteve resultado significativo para aumento da força
muscular de quadríceps. Os pesquisadores usaram dois tipos de correntes com
pulso quadrático bifásico sendo uma média de 2500 Hz modulada em 50 Hz e outra
de baixa frequência (50Hz) e obtiveram um aumento significativo em ambos os
grupos, porém sem alterações na atividade eletromiográfica.
O estudo concluiu que os dois protocolos de EENM (baixa e média frequência),
foram capazes de promover o aumento da força do músculo quadríceps [24].
Do mesmo modo, um
estudo conduzido com 28 voluntários de ambos os sexos e utilizando exercício e
EENM encontrou aumento da força dos músculos bíceps e tríceps braquial. Os
autores tiveram como objetivo comparar os efeitos do exercício contra-resistido em diagonal com halter (G1) e da
Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) combinada com exercício isométrico (G2)
ou combinada com exercício contra-resistido em
diagonal com halter (G3) no incremento de força e no aumento de massa nos
músculos bíceps e triceps braquial. A EENM foi
aplicada três vezes por semana, totalizando 24 atendimentos com 50 Hz de
frequência, pulso com duração 150 milissegundos, ciclo ON/OFF 1/1 (10segundos/
10 segundos) e carga fixa de 50% da carga máxima obtida no Teste Incremental de
Membros Superiores (TIMS). Ao final da pesquisa observou-se aumento de força
medida pela comparação de carga conseguida no TIMS pré
e pós-treinamento no grupo que realizou exercícios na diagonal com halter
associados à eletroestimulação (G3) [25]. Em tal estudo o tamanho da amostra
apresenta-se em número reduzido, permitindo considerar os resultados
encontrados apenas para a população em questão.
O presente estudo teve
como objetivo informar sobre as diferenças de aplicabilidade e efeitos das
correntes estudadas. Assim, os resultados apresentados evidenciaram que nenhum
grupo se apresentou melhor do que o outro ao comparar o acréscimo de força de
preensão, ou seja, não houve diferenças significativas entre as correntes
estudadas. Sugere-se, então, a realização de estudos adicionais utilizando
eletroestimulação, buscando estabelecer parâmetros mais indicados para promover
maiores ganhos de força muscular e maiores benefícios terapêuticos. Do mesmo
modo, recomenda-se a utilização de amostras maiores e, ainda, a inclusão de
pacientes em fase de recuperação de lesões específicas que repercutam sobre a
força muscular dos flexores.