ARTIGO
ORIGINAL
Prevalência
de incontinência urinária em idosas de instituição de longa permanência
Prevalence
of urinary incontinence in elderly in long stay health institution
Celly Lima Ferreira*, Karina
Tamy Kawasara, D.Sc.**, Patrícia Andrade Batista***
*Graduanda
de Fisioterapia da Universidade Ibirapuera (UNIB), São Paulo, **Doutora pelo
Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, ***Professora de
Fisioterapia da Universidade Ibirapuera (UNIB), São Paulo
Recebido em 8 de
janeiro de 2019; aceito em 10 de setembro de 2019.
Correspondência: Patrícia Andrade
Batista, Rua Darabi, 130/5 Bloco 1, 04653-140 São
Paulo SP
Patrícia Andrade
Batista: pab.fisio@gmail.com
Karina Tamy Kasawara:
karina.tamy@gmail.com
Celly Ferreira: E-mail:
celly.ferreira@hotmail.com
Resumo
Introdução: A Sociedade
Internacional de Continência (ICS) define incontinência urinária (IU) como
perda indesejada de urina. A disfunção afeta cerca de 50% das mulheres, mas o
índice pode aumentar com a senescência. O objetivo deste estudo foi identificar
a prevalência de IU e o impacto na qualidade de vida dessas idosas. Métodos: Estudo de corte transversal
descritivo, no qual foram selecionadas mulheres, de 65 a 90 anos,
institucionalizadas. Como critério de exclusão, mulheres que apresentavam
alterações cognitivas e que faziam uso de sonda vesical de demora. As idosas
responderam o questionário com informações pessoais, sociodemográficas e sobre
sua condição urinária e, em seguida, responderam o questionário de qualidade de
vida, King’s Health Questionnaire
(KHQ). Resultados: A amostra foi
composta de 33 voluntárias, residentes em casas de repouso de São Paulo. A
média dos escores dos oito domínios do KHQ: percepção da saúde geral 46,21; impacto
da incontinência 32,32; limitações das atividades diárias 21,50; limitações
físicas 18,18; limitações sociais 14,14 e medidas de gravidade 45,20. Conclusão: Em idosas institucionalizadas
em São Paulo, apesar da IU não ser considerada principal queixa, o King’s Health Questionnaire
pontuou pela escala de medidas de gravidade, que a IU afeta significativamente
em sua qualidade de vida.
Palavras-chave: idoso, incontinência
urinária, saúde do idoso institucionalizado, qualidade de vida.
Abstract
Introduction:
According to the International Continence Society (ICS), urinary incontinence
(UI) is defined as an involuntary loss of urine. The disease affects about 50%
of women and when associated with the aging process. This study aimed to
identify, through a cross-sectional study, the prevalence of UI and the impact
on their quality of life. Methods:
Female patients institutionalized with age between 65 and 90 years old were
selected. Exclusion criteria were: women with cognitive impairment or with any
visual impairment and urinary catheter users. Participants answered the
questionnaire about personal, sociodemographic, urinary condition and then
answered the King's Health Questionnaire (KHQ) for quality of life evaluation. Results: In the total 33 participants
were included, living in health institutions in São Paulo. The mean scores of
the eight KHQ domains: Perception of general health was 46.21; Impact of
incontinence was 32.32; Limitations of daily activities was 21,50; Physical
limitations 18.18; Social limitations 14.14; Personal relationships 3.03,
Emotions 25.53; Sleep/disposition 23.23 and Gravity measures 45.20. Conclusion: In long-stay health
institution, despite the UI was not considered their main complaint, the UI
significantly affects the quality of life of elderly women.
Key-words: aged, urinary
incontinence, health of institutionalized elderly, quality of life.
Acometendo mulheres de
várias faixas etárias, com incidência maior em idosas, a Incontinência Urinária
(IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência (International Continence Society - ICS), como a perda indesejada
de urina, podendo ser decorrente da multiparidade,
cirurgias ginecológicas, predisposição genética, problemas neurológicos e
infecções urinárias. A IU representa um grande desafio na busca de formas
alternativas de abordagem e tratamento, pois são notórias as implicações
negativas desta disfunção na vida das pessoas no que diz respeito aos aspectos
físicos, emocionais, sexuais e econômicos e quanto ao convívio familiar e
social [1].
Em sua etiologia, os
principais tipos de IU são: Incontinência Urinária de Esforço (IUE) ocorrem
pela deficiência da contração da musculatura detrusora associado ao aumento da
pressão vesical e uretral, em decorrência de qualquer esforço físico como
tossir e espirrar [2].
Incontinência Urinária
de Urgência (IUU) associada com a hiperatividade detrusora, ou seja, causa
irritação na bexiga levando à vontade incontrolável de ir ao banheiro [3].
Segundo Dedicação et al. [4], a
Incontinência Urinária Mista (IUM) caracteriza-se pela combinação da urgência
miccional com o aumento da compressão intra-abdominal.
Quanto à
fisiopatologia, diversos fatores podem desenvolver a IU. Entre esses fatores, o
tipo de parto, em especial o parto vaginal onde há relação direta com a IU
quando comparado ao cesáreo, porém, não deve ser interpretado como o fator
precursor, mas sim como fator associado, visto que existem outros fatores que
levam à perda de força do músculo pélvico, como sedentarismo, maus hábitos
alimentares, índice de massa corpórea (IMC), múltiplas cirurgias [5].
Acredita-se que
mulheres em idade avançada apresentem maior incidência por déficit funcional,
redução da força na musculatura do assoalho pélvico, diminuição das atividades
do sistema nervoso e circulatório, elasticidade e contratilidade da bexiga e
deficiência esfincteriana [6].
Segundo Carvalho et al. [6], a prevalência internacional
de IU é de 42% nas mulheres jovens; com 65 anos ou mais chega a 44%.
Entretanto, em idosas institucionalizadas esta prevalência pode chegar a 50%,
ou seja, acima das que vivem em sociedade.
Desta forma, é possível
afirmar que o aumento da prevalência em idosas, inclusive as do Instituto de
Longa Permanência para Idosos (ILPI), deve-se a diversos fatores como uso de
medicamentos, doenças neurológicas, hipoestrogenismo,
tumores cancerígenos, infecções urinárias, traumas, obesidade, sendo a
etiologia multifatorial [6,7].
Os tipos de tratamento
para IU são: medicamentoso, o conservador - realizado por meio da fisioterapia,
e como última opção, o cirúrgico. O mais indicado é o tratamento conservador,
recomendado na fase inicial da moléstia [8]. Na fisioterapia, com o avanço das
pesquisas e técnicas de tratamento, podemos citar vários recursos, entre eles,
o biofeedback,
a eletroestimulação neuromuscular, os cones vaginais e a cinesioterapia [2]. Kumari et al. [9]
destacaram a terapia comportamental como um recurso bastante utilizado e com
resultado satisfatório em mulheres da 3ª idade.
Após levantamento
bibliográfico, observou-se que a IU acomete aproximadamente 50% da população
idosa institucionalizada. Sabe-se que mulheres acometidas pela IU apresentam
uma piora na qualidade de vida, impactando, principalmente, o seu convívio
social.
Sendo assim é de suma
importância ter-se conhecimento sobre a prevalência de IU na população idosa em
instituição de longa permanência, para guiar a conduta de tratamento e acompanhamento
clínico destas mulheres.
Portanto, o presente
estudo teve como objetivo quantificar a prevalência de IU e o impacto da IU na
qualidade de vida em idosas em instituição de longa permanência.
Este estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Ibirapuera sob o
COEPE 15.03.040 e todas as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, conforme resolução na versão atualizada nº 466/12 do Conselho Nacional
de Saúde.
Trata-se de um estudo
observacional transversal descritivo no qual foram selecionadas pacientes do
sexo feminino, de 65 a 90 anos, institucionalizadas. As instituições escolhidas
foram: Casa Meire´s Haus,
Rosa de Saron, Lar Alcina, Residencial Vida Nova,
Casa Rig, Cidade Vargas, Idosos Alexandre Darhuj. Todas as instituições autorizaram a pesquisa e
assinaram a carta aceite. Como critério de exclusão foram consideradas mulheres
que apresentavam alterações cognitivas para compreender o conteúdo do
questionário, que apresentavam algum deficit visual e
faziam uso de sonda vesical de demora. As idosas responderam ao questionário
com informações pessoais, sociodemográficas e sobre sua condição urinária e, em
seguida, responderam ao questionário de qualidade de vida, King’s Health Questionnaire (KHQ), validado em
português por Fonseca et al. [10].
Os escores do KHQ
variam de 0 a 100 e quanto maior a pontuação atingida pior é a qualidade de
vida relacionada ao domínio. Para cada domínio, quanto maior a pontuação, maior
será o impacto negativo na qualidade de vida.
O questionário contém
20 questões e é composto de oito domínios: percepção de saúde geral, impacto da
IU, limitação das atividades de vida diária (AVD), limitação física e social,
emoção, sono e energia. Há também uma escala de sintomas, composta pelos itens:
aumento da frequência urinária, noctúria, urgência,
IUE, enurese noturna, incontinência no intercurso sexual, infecções urinárias e
dor.
A todas as respostas
foram atribuídos valores numéricos, somados e avaliados por domínios. As
respostas foram baseadas numa escala numérica crescente proporcional à
intensidade da queixa (0 = não/não se aplica; 1 = um pouco/às vezes; 2 = mais
ou menos/ várias vezes; 3 = muito/sempre), com exceção do domínio percepção de
saúde geral, que possui cinco opções de resposta: muito boa, boa, regular,
ruim, muito ruim.
Foi utilizado o
Programa Microsoft Excel 2010, para descrever os valores por meio da média,
desvio padrão em percentuais.
Foram selecionadas sete
casas de repouso, sendo seis localizadas em São Paulo e uma em Diadema,
totalizando 130 idosas com idade entre 65 anos e 90 anos. Nesse estudo, apenas
33 idosas foram capazes de responder à entrevista e aos questionários:
sociodemográfico e King´s Health Questionnarie.
Do total da amostra
foram excluídas 78 idosas que apresentaram alguma incapacidade por déficit
cognitivo, em responder às perguntas. Houve uma perda de 19, sendo 6 por terem
idade acima de 90 anos; 5 por não estarem institucionalizadas, apenas
permaneciam durante o dia na instituição e à noite retornavam a suas
residências; 5 por desistência; 2 porque tinham idade inferior a 65 anos e 1
por possuir déficit visual.
De acordo com dados
sociodemográficos, identificou-se que a idade média das participantes foi de 80
anos com desvio padrão ± 6,27 anos. Quanto ao estado civil, 26 (79%) informaram
ser viúvas, 3 (9%) divorciadas, 2 (6%) solteiras e 2 (6%) casadas. Em relação
ao nível de escolaridade, 16 (49%) com ensino médio; 11 (33%) curso técnico; 4
(12%) nível superior completo e 2 (6%) declararam não ser alfabetizadas. Quanto
à etnia, 24 (73%) são brancas, 4 (12%) negras, 3 (9%) amarelas e 2 (6 %)
pardas.
Quanto à ocupação, 13
(40%) se declararam aposentadas; 7 (22%) não informaram profissão anterior; 6
(19%) informaram ser do lar; 4 (12%) eram funcionárias públicas; 2 (6%) eram
professoras; 1 (%) era empregada doméstica. Em relação à religião, 19 (58%)
eram católicas; 7 (21%) evangélicas; 4 (12%) espíritas; 3 (9%) declararam não
ter religião.
Calculado o índice de
massa corporal (IMC), de acordo com os parâmetros da Organização Mundial de
Saúde, a obesidade acima de 30 kg/m2 foi encontrada em 3 (9%) idosas e 30 (90%)
estão com peso normal. Quanto à prática de atividade física, 10 (30%) relataram
fazer alguma atividade, entre elas, destacam-se a fisioterapia, ginástica e
caminhada.
Em relação aos
antecedentes pessoais, 5 (15%) eram ex-fumantes e fumavam no mínimo um maço de
cigarro por dia; atualmente, todas as entrevistadas alegaram não ter vício.
Quanto ao uso de medicamentos, 19 (58%) faziam uso de anti-hipertensivo; 7
(21%) faziam uso de algum anti-inflamatório ou analgésico em caso de dor; 3
(9%) faziam uso de laxantes quando apresentavam dificuldade para evacuar; 3
(9%) faziam uso de reposição de cálcio; 1 (3%) usavam antidepressivos.
Tabela I - Descrição geral da amostra numérica e percentual em relação às
variáveis sociodemográficas.
Em relação aos tipos de
parto, 22 (67%) idosas relataram partos vaginais com média de 2,12 partos;
seguido de 5 (16%) idosas que tiveram partos com fórceps sendo a média de 0,30
partos e 3 (10%) relataram ter realizado a cesariana com média de 0,21 partos.
Dentre as 33 idosas, apenas 2 (7%) relataram abortos. Considerado o peso do
recém-nascido, o menor foi de 2,800 kg e o maior de 4,05 kg, com média de 2,78
kg.
As comorbidades
prevalentes foram: hipertensão, presente em 24 pacientes (72%); seguida do
acidente vascular encefálico (AVE) relatado por 9 (27,7%) pacientes, destas só
1 não teve sequelas motoras, apenas tremor na face e mão esquerda.
Quando questionadas
sobre as demais comorbidades, 2 (6%) participantes relataram câncer, sendo
realizado tratamento cirúrgico. As que tiveram antecedentes pessoais foram 8
(24%), porém não especificaram qual tipo de câncer. Das voluntárias
entrevistadas, 5 (15%) relataram problemas circulatórios, 4 (12%) referiram
problemas respiratórios, sendo maior a prevalência de pneumonia. Dentre outras
doenças, 13 (39%) apresentavam disfunções metabólicas, 3 (9%) apresentavam
disfunções neurológicas, 4 (12%) tinham osteoporose e 4 (12%) osteoartrose.
Já em relação ao
sistema intestinal, 11 (33%) mulheres relataram alguma dificuldade para
evacuar, porém conseguiam ir ao banheiro no mínimo duas vezes por semana e sem
queixa de dor, quanto as 22 (67%) sem queixas intestinais.
Quanto à mobilidade, 11
(33%) eram cadeirantes; 7 (22%) utilizavam o andador; 4 (12%) usavam bengala;
11 (3%) deambulavam independentes com passos curtos e diminuídos decorrentes do
envelhecimento.
No
exame físico, foi
identificado que 20 (60%) apresentavam hiperlordose lombar, 9 (22%)
retificação
lombar, 4 (12%) inclinação pélvica à
direita e 2 (6%) inclinação pélvica à
esquerda. Quanto à sensibilidade de membros inferiores (MMII):
21 (63%)
relataram dormência nos pés e sensibilidade alterada,
sendo 12 (37%) sem
alterações.
Quanto a cirurgias
ginecológicas, 11 (33%) mulheres relataram ter realizado, 8 (2%) fizeram perineoplastia e 3 (9%) histerectomia. As complicações
ginecológicas encontradas nesta amostra foram infecção urinária - 9 (28%)
mulheres relataram queixa; 2 (6%) tiveram sangramento e 1 (3%) mencionou
corrimento, fez tratamento e atualmente não tem queixas.
Sinais e sintomas
referentes à IU: 21 (64%) idosas referiram alguma perda urinária; 9 (28%)
perdiam urina em gotas; 9 (28%) referiram em jato; 3 (8%) perdiam todo o
conteúdo da bexiga e 12 (37%) não tinham queixa de perda. Considerando a
frequência urinária durante o dia, a média foi de 5,72 idas ao banheiro, com
desvio padrão de ± 3,76, 11 (33%) foram no mínimo 3 vezes ao banheiro e 1 (3%)
relatou ir até 16 vezes. Relacionado ao tempo do problema de IU, entre todas as
que tiveram queixa havia muito tempo, apenas uma relatou perda num período de
três meses.
Questionadas referente
ao primeiro desejo miccional, com relato de 1 hora após ter urinado, a média
foi de 126,96 minutos; algumas não sabiam quando perdiam urina, considerando
isto como hábito, e perdiam todo o conteúdo da bexiga de forma imperceptível,
mostrando estarem habituadas a essa condição.
Quanto ao uso de forro
ou fraldas, 20 (60%) relataram uso, 11 (33%) usavam fraldas, 6 (18%) faziam uso
apenas de absorvente e 3 (9%) faziam uso de fralda e absorvente; entre elas,
algumas relataram fazer uso de 2 fraldas por vez, mas, ainda assim, molhavam a
roupa. Em geral, foi considerado pelas idosas que o número mínimo de troca é de
3 vezes e o máximo de 10 vezes, nos períodos diurno e noturno.
Referente ao consumo de
líquido, 17 (51%) relataram evitar o consumo, porém as cuidadoras e equipe de
enfermagem incentivam a ingestão de líquidos: água, chá ou suco. Algumas
disseram gostar de café, mas em todas as casas oferecem apenas café com leite,
chá e água; refrigerante só em festas.
Com relação ao gráfico
2, relacionado ao domínio 2 do KHG, referente ao problema da bexiga que afeta a
vida das voluntárias atualmente, inerente à frequência, o percentual encontrado
foi de 19 (57,7%) para a alternativa não afeta e 3 (9%) para a alternativa mais
ou menos.
No gráfico 3, consta o
impacto da incontinência urinária no desempenho das tarefas. Encontra-se o
percentual de 23 (69,9%) para alternativa nenhuma e 3 (9%) para alternativa
mais ou menos.
Gráfico 1 - Descrição do impacto da IU no desempenho de tarefas.
A tabela IV abaixo, na
análise dos domínios observados quanto ao domínio Percepção Geral de Saúde, 31
(93,93%) das pacientes apresentaram escore variando de 75 a 25 pontos, já que
essa proporção foi utilizada em outros domínios: Impacto da incontinência
(33,33 e 100 pts), Limitação de atividades diária
(entre 33,33 e 100 pts), Limitações físicas (entre
16,60 e 50 pts), Limitações sociais (entre 11,11 e
66,67 pts), Relações pessoais (entre 0 e 100 pts), Emoção (entre 11,11 e 100 pts),
Sono/ disposição (entre 16,67 e 66,67 pts) e Medidas
de gravidade (entre 16,67 e 91,67 pts).
Tabela II - Valores dos scores obtidos (Média, Mediana, Desvio-padrão, Q75 – Q25
Mínimo Máximo) entre os domínios do KHG.
King’s Health Questionnaire (KHQ)
De acordo tabela de
resultados do KHG, domínio Percepção Geral de Saúde com média de 46,21 pontos,
foi o domínio que demonstrou maior impacto na qualidade de vida das idosas
participantes deste estudo, entretanto a IU apresentou pouca interferência nas
relações pessoais, uma vez que a média deste domínio foi de 3,03 pontos neste
estudo.
Pesquisas demonstram
que o aumento da população brasileira acima de 60 anos ocorre de forma
significativa. Em 1996, esta faixa etária correspondia a 7% da população, hoje
a média é de 10% e em 2025 será em torno de 16%. Espera-se em 2050 o alcance da
sexta posição quanto ao contingente de idosos; e que as mulheres representem
62% desse índice.
O aumento de doenças
crônicas que acarretam limitações físicas, perda da cognição - como as
demências, depressão, doenças cardiovasculares, IU e fecal, causa dependência e
isolamento. Deste modo, este estudo teve como objetivo identificar a
prevalência da IU e o impacto na qualidade de vida dessas pacientes que são
institucionalizadas porque os problemas afetam diretamente os familiares, que
têm dificuldade em mantê-las em seu lar em virtude das necessidades tanto de
ordem financeira, como de cuidados específicos que elas requerem [11,12].
Segundo Virtuoso et al.
[3], o sobrepeso leva ao aumento do IMC e, no envelhecimento, leva à alteração
nas dimensões corporais das mulheres, ocasionando distúrbios no metabolismo e
resistência à insulina que, por sua vez, pode danificar o sistema vascular do
assoalho pélvico e causar disfunção do músculo detrusor e do esfíncter uretral.
Neste estudo,
observaram-se outros fatores que podem desenvolver a IU, como infecção urinária
por repetição. Segundo Pedro et al.
[13], as infecções urinárias provocam a urge-incontinência, associada à hipertensão
arterial (HA) presente na maioria das mulheres incontinentes, combinado ao uso
de diuréticos, entre outros medicamentos. Os fármacos aumentam o metabolismo
hepático e torna-se deficitário para eliminar a quantidade exacerbada de
substâncias tóxicas, causando o mau funcionamento do trato urinário [1].
A principal queixa
encontrada neste estudo foi de IUU, considerado um tipo comum na população
idosa. Este achado corrobora o estudo de Busato e
Mendes [14] em idosas acima de 70 anos, que demonstrou que o índice de IUU
nesta população é elevado. Estes índices elevados podem estar associados a
problemas com a locomoção e diminuição da função cognitiva, que leva ao
prejuízo e descontentamento oferecido por essa conjunção. Faz-se necessário o
acompanhamento dessa população de risco no momento da institucionalização.
Conforme Virtuoso et al. [3], com o processo de
envelhecimento e suas consequências: as alterações estruturais na bexiga, o
desenvolvimento de fibrose, hipersensibilidade neurotransmissor noradrenalina,
há diminuição da capacidade vesical e desenvolvimento de contrações
involuntárias, provocando desequilíbrio em todo o sistema urinário que leva a
sintomas de urgência miccional e/ou IUU.
Em decorrência da
diminuição da mobilidade e dificuldade para ir ao banheiro, ocorrem perdas de
urina [13], e em poucas idosas ocorrem perdas ao espirrar ou tossir. Há idosas
que convivem com perda miccional há mais de cinco anos e não procuram
tratamento. Verificam Langoni et al. [15] que idosas
convivem com o problema há mais de 7,7 anos e não procuram ajuda, acredita-se
que há falta de políticas públicas que ofereçam acesso à informação e
tratamento. É preciso que os profissionais de saúde disponibilizem esse acesso
para melhor qualidade de vida dessas mulheres.
A IU é um problema de
saúde pública, pois demanda altos valores. O problema afeta idosas
principalmente em ILPI, e há alto consumo de fraldas, de medicamentos, entre
outros gastos. Neste estudo, encontramos mulheres que usam até duas fraldas por
vez e ainda molham a roupa. No Brasil não foram encontrados estudos que
determinam esses valores. Porém, nos Estados Unidos os gastos são em torno de
16 bilhões de dólares anuais, sugerindo que seja elaborado um plano de
tratamento para diminuir os gastos, assim como melhorar a qualidade de vida das
pacientes [4,8].
Diante dessa realidade,
este estudo identificou que a população idosa institucionalizada enfrenta
problemas psicossociais, como a perda da autoestima e isolamento social. Corroboram
este resultado Melo et al. [16] e Rett et al. [17].
A diminuição da autoestima está relacionada à falta de controle sobre seu
corpo, preocupação com a higiene pessoal, problemas psicológicos que as
distanciam da família e dos amigos, impedem-nas de frequentar igreja e festas,
causando isolamento social, depressão, insatisfação, estresse e,
consequentemente, impacto negativo na qualidade de vida.
Desse modo, é de
extrema importância a intervenção dos profissionais de saúde com ênfase no
tratamento fisioterapêutico. A fisioterapia uroginecológica,
em 2005, foi indicada pela ISC como primeira opção de tratamento para IU, pelo
baixo custo e eficácia comprovada e tratamento menos invasivo. Entretanto,
existe uma deficiência nos serviços públicos no Brasil. Sugere-se que o sistema
de saúde promova ações e forneça serviço e orientações a essas mulheres com
incontinência [18].
O tratamento
fisioterapêutico assume um importante papel na reabilitação dessas mulheres,
tendo o objetivo de aumentar a resistência dos músculos do assoalho pélvico
(MAP), prevenir a evolução da IU, contribuir na redução da frequência ou
gravidade da doença ou retardar a necessidade de cirurgia [8]. Entre os
principais recursos utilizados, cinesioterapia, os exercícios de fortalecimento
da musculatura do assoalho pélvico, cones vaginais, que são dispositivos com
tamanho, forma e pesos diferentes, o biofeedback, o qual tem como objetivo melhorar os processos
fisiológicos pela conscientização corporal da musculatura perineal e a
eletroestimulação, que reestabelece as conexões entre as fibras musculares
promovendo aumento do tônus e melhora na sua função. Com a idosa, associa-se
terapia comportamental que envolve: diário miccional e educação do paciente
(ingestão hídrica, alimentação e informação anatômica do trato uroginecológico) [19,20].
Neste estudo,
encontramos limitações na amostragem em consequência de alterações cognitivas.
Não foi possível um número maior para a amostra, pois 78 voluntárias não foram
capazes de responder à entrevista. Ainda assim, foi possível identificar o problema
da IU em 21 mulheres entrevistadas, apesar de apresentarem outras queixas, já
que o envelhecimento envolve outras patologias. Contudo, a literatura acerca da
prevalência da IU ainda é incerta, sendo encontrada discrepância nos
percentuais divulgados sobre o número de afetadas pela moléstia. Desta forma,
fazem-se necessários outros estudos que abordem essa temática.
Em instituição de longa
permanência, apesar de a incontinência urinária não ser a queixa principal das
idosas, o King’s Health Questionnaire,
pelo domínio percepção geral e pela escala de sintomas, a IU afeta
significativamente a qualidade de vida das idosas. Visto que não é possível
modificar o uso de medicamentos necessários para cada idosa, nos demais fatores
modificáveis, deve-se evitar o sedentarismo, considerando que ingestão hídrica
e alimentação adequada, controle do peso corporal e exercícios específicos de
fortalecimento dos músculos pélvicos são considerados como medidas preventivas
e eficazes para evitar progressão e maiores comprometimentos da IU. Mediante o
exposto, são cabíveis medidas de prevenção, orientação e tratamento para que se
amenize o impacto da IU na qualidade de vida das idosas institucionalizadas,
visando a melhor atenção na saúde da mulher.