ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do tempo de reação simples e do paradigma oddball em estudantes antes e
após participação em atividades acadêmicas: uma análise da neurociência
aplicada a educação
Analysis of simple reaction time and the oddball paradigm in students
before and after participation in academic activities: an analysis of
neuroscience applied to education
Elivia Silva Teles1,
Maria Joaquina do Carmo Neta1, Pollyana
Soares Lustosa1, Kaline Rocha2,
Carla Ayres3, Pedro Ribeiro4, Bruna Velasques4,
Juliana Bittencourt4, Fernando Lopes e Silva Junior5,6,7,8,
Gildário Dias9, Maurício Cagy10,
Silmar Teixeira5,6,8, Rossano
Fiorelli11, Marco Orsini11,12, Eduardo Trajano11,
Janaína de Moraes Silva12,13, Victor Hugo do Vale Bastos5,6,7
1Fisioterapeuta, UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 2Doutoranda do
programa de Biotecnologia da UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 3Mestranda do
programa de Biotecnologia da UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 4Laboratório de
mapeamento cerebral e integração sensório-motora IPUB/UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, 5Docente
do curso de graduação da Universidade Federal do Piauí-UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 6Docente
do programa de mestrado em Ciências Biomédicas da UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 7Laboratório
de Mapeamento Cerebral e Funcionalidade UFPI-CMRV-LAMCEF, Parnaíba-PI, 8Laboratório
de Mapeamento e Plasticidade Cerebral UFPI-CMRV-LAMPLACE, Parnaíba/PI, 9Laboratório
de Neurofísica LANF-UFPI-CMRV, Parnaíba/PI, 10Programa
de Engenharia Biomédica COPPE-UFRJ, 11Programa de Mestrado em Ciências Aplicadas em Saúde- Universidade de Vassouras,Vassouras/RJ, 12Pós-doutorando em Ciências Biomédicas
UFPI, Parnaíba/PI, 13Docente da Universidade Estadual do
Piauí-UESPI/CCS, Teresina-PI, Brasil; Pós-doutoranda em Ciências Biomédicas
UFPI, Parnaíba/PI
Recebido 16 de
outubro de 2018; aceito 9 de janeiro de 2019.
Endereço
para correspondência:
Janaína de Moraes Silva, Avenida São Sebastião, 2819 São Benedito 64202-020
Parnaíba PI, E-mail: fisiojanainams@gmail.com; Elivia
Silva Teles: eliviag3@hotmail.com; Maria Joaquina do Carmo Neta: ftmariajoaquina@outlook.com;
Pollyana Soares Lustosa: pollylustosa7790@gmail.com; Kaline Rocha: kaline_mel@hotmail.com; Carla Ayres:
carlaayres7@gmail.com; Pedro Ribeiro: ribeiropss@yahoo.com.br; Bruna Velasques:
bruna_velasques@yahoo.com.br; Juliana Bittencourt: juju_bitt@yahoo.com.br;
Fernando Lopes e Silva Junior: fernando.lopes@ufpi.edu.br; Gildário
Dias: gildario@ufpi.edu.br; Maurício Cagy:
mauricio.cagy@gmail.com; Silmar Teixeira:
silmar_teixeira@yahoo.com.br; Rossano Fiorelli: fiorellirossano@hotmail.com; Marco Orsini: orsinimarco@hotmail.com; Eduardo Trajano:
eduardolimatrajano@hotmail.com; Victor Hugo do Vale Bastos: victorhugobastos@ufpi.edu.br
Resumo
Introdução: O tempo de reação é
uma medida que indica o tempo que uma pessoa leva para iniciar um movimento. Há
situações em que o tempo de reação encontra-se alterado, comprometendo o
processamento da informação, com diminuição na detecção, transmissão e
processamento dos estímulos. Objetivo:
Investigar o tempo de reação visual em acadêmicos antes e após atividades
avaliativas, nas diversas disciplinas. Metodologia:
50 acadêmicos foram analisados antes e após atividades avaliativas por meio do
tempo de reação simples e paradigma oddball. Resultados:
Com relação ao tempo de reação simples, o tempo de reação visual antes das
atividades avaliativas foi menor que após, em contradição com o paradigma oddball.
Verificou-se que a média geral do tempo de reação simples para prova prática
foi maior comparado às demais, já no paradigma oddball verificou-se que a média
geral para apresentação de seminário foi maior, comparado às demais. Conclusão: Diferenças significativas no
tempo de reação simples e tempo de reação segundo paradigma oddball foram encontrados entre
acadêmicos antes e após atividades avaliativas. Porém no tempo de reação
simples foram encontrados valores menores antes das atividades, quando
comparados com após, e o contrário foi encontrado no paradigma oddball.
Palavras-chave: tempo de reação,
atividades avaliativas, paradigma oddball.
Abstract
Introduction: Reaction time is a measure of how long a person takes to start a
movement. There are situations in which the reaction time is altered,
compromising the information processing, with a decrease in the detection,
transmission and processing of the stimuli. Objective:
To investigate the time of visual reaction in academics before and after
evaluative activities in different disciplines. Methodology: 50 academics were analyzed before and after evaluative
activities through simple reaction time and oddball paradigm. Results: Relative to the time of simple
reaction, the visual reaction time before the evaluative activities was smaller
than after, in contradiction with the oddball paradigm. It was verified that
the general mean of the simple reaction time for practical test was higher
compared to the others, already in the oddball paradigm it was verified that
the general average for seminar presentation was higher, compared to the
others. Conclusion: Significant
differences in the time of simple reaction and reaction time according to the
oddball paradigm were found among academics before and after evaluative
activities. However, in the simple reaction time smaller values were found
before the activities, when compared with after, and the opposite was found in
the oddball paradigm.
Key-words: reaction
time, evaluative activities, oddball paradigm.
O tempo de reação
(TR) é uma medida que traduz a velocidade de processamento de uma informação,
sendo assim considerado uma das medidas mais relevantes do desempenho humano
[1]. O TR possui três classificações que se diferenciam, sobretudo, quanto à natureza
do estímulo que pode ser visual, auditivo ou tátil; e o número de
possibilidades ou alternativas do estímulo-resposta [2]. O TR simples é o
intervalo de tempo referente à reação de um único sinal, já o TR de
discriminação consiste no tempo decorrido entre a percepção de mais de um
estímulo e o início de uma única resposta, enquanto que o TR de escolha define
o intervalo de tempo entre a percepção de vários estímulos e o início de uma
resposta específica para cada estímulo [3].
O TR simples representa
o nível de coordenação neuromuscular nos quais os estímulos são decodificados
pelo corpo por meio de diferentes processos físico-químicos e mecânicos [4]. O
paradigma oddball
é tradicionalmente usado, por ser uma forma de avaliação ideal de como o
cérebro discrimina estímulos e probabilidade de processos. Nesse paradigma dois
estímulos são apresentados aleatoriamente, com um ocorrendo em pouca
frequência. Os participantes são solicitados a discriminar um estímulo alvo
pré-definido (infrequente) de um não-alvo (frequente)
[5]. A capacidade de memória pode assumir um papel de destaque neste processo,
uma vez que é responsável pela aquisição, codificação, armazenamento e
recuperação da informação, dando-nos a possibilidade de separar e organizar a
informação contida nos estímulos recebidos [6]. O TR aumenta em função do
número de itens da memória, havendo assim uma relação direta entre estas duas
variáveis. Este pressuposto estabelece o aumento do TR, numa proporção
constante, cada vez que o número de alternativas do estímulo-resposta é
duplicado [7].
No final da década de
1960, uma análise por meio do eletroencefalograma (EEG) revelou que a
apresentação de um estímulo produz mudanças específicas no cérebro [8]. Durante
a apresentação de um estímulo, há um aumento significativo da atividade
sináptica. Mudanças nos potenciais das membranas ocorrem numa fração de um
segundo após o estímulo ser apresentado, em distintas regiões do cérebro [6].
Uma vez que estes potenciais sinápticos são evocados por um estímulo, elas
ocorrem em um caminho sincronizado. As respostas elétricas combinadas desta
população neuronal são conhecidas como potencial evocado. O potencial evocado
consiste de uma série de resultados positivos e ondas negativas que podem ser
nomeados numericamente ou de acordo com a sua latência. As principais ondas
são: N1, P2, N2 e P3 [8].
O TR simples, além de
ser um indicador de concentração e atenção é influenciável por fatores
relacionados ao condicionamento físico, coordenação motora e também fatores
genéticos e psicológicos [4]. Em situações em que os indivíduos são submetidos
à ansiedade ou em condições de estresse, o TR pode aumentar, pois os reflexos
ficam bem mais lentos e até mesmo a acuidade visual pode diminuir [9]. Nas
exigências acadêmicas os alunos são submetidos constantemente a diferentes
avaliações, podendo produzir um nível elevado de ansiedade. Dessa maneira, o TR
desses indivíduos pode ficar alterado, causando um efeito debilitante sobre o
desempenho acadêmico [7,10].
Nas situações em que
o TR pode se encontrar alterado, como no caso de acadêmicos que são submetidos
a meios diferentes de avaliação, poderá ocorrer um comprometimento do
processamento da informação, com diminuição considerável na detecção,
transmissão e processamento dos estímulos. O aumento dessa variável frente às
atividades avaliativas não está bem determinado na literatura e nesse sentido,
a investigação do TR visual antes e após as atividades avaliativas poderá
proporcionar um incentivo para que novos estudos sejam realizados. Nesse
sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar o TR visual em
acadêmicos antes e após atividades avaliativas nas diversas disciplinas.
O estudo realizou-se
por meio de uma pesquisa do tipo descritiva e inferencial com abordagem
quantitativa e de caráter observacional. A pesquisa realizou-se na Universidade
Federal do Piauí, Campus de Parnaíba. O projeto foi enviado e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Parecer 735.130)
Participantes
Participaram
deste
estudo 50 acadêmicos, que se disponibilizaram de maneira
aleatória, e que
estavam regularmente matriculados. Estes foram avaliados antes e
após exame
teórico, prático ou apresentação de
seminário. A seleção dos voluntários foi
feita na própria instituição, por meio de convites
realizados nas salas de
aula, em todos os períodos. Os participantes foram informados
sobre os
procedimentos do estudo e em relação ao sigilo, e todos
assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. Após a assinatura, os participantes foram
convidados a
acompanharem um pesquisador, individualmente para a sala da pesquisa.
Instrumentos
Para mensurar o TR
simples e o paradigma oddball
foram utilizados dois notebooks de marcas LG e Philco, Windows7 em ambos, com
instalação do software Matlab e do programa Average, que calculava a amplitude em milissegundos que o
participante levava para responder ao estímulo. Os computadores possuíam uma
tecla de sensibilidade, que era acionada por uma carga mínima de 0,8N, e um
monitor que projetava um estímulo visual, com distância de 50 cm do
participante.
Coleta
de dados
Os equipamentos foram
posicionados em salas isoladas, às quais somente os acadêmicos e responsáveis pela
pesquisa tiveram acesso, permitindo que a concentração e a atenção dos
participantes ficassem focalizadas nos testes. Os sujeitos foram orientados a
posicionarem-se sentados, com o antebraço apoiado sobre uma mesa e o dedo
indicador sobre a tecla do computador. Além disso, foi explicado aos
voluntários que dois estímulos seriam apresentados no computador de forma
aleatória e que os mesmos deveriam discriminar o alvo (pouco frequente) de
estímulos não alvo (frequente). Primeiramente o estimulo alvo foi representado
pelo aparecimento de um círculo no meio da tela do monitor, logo após esse
estimulo alvo foi representado pelo aparecimento de um quadrado e o círculo
passou a ser o estímulo não alvo. Os indivíduos foram instruídos para responder
o estímulo alvo pressionando o botão. Cada estudante foi submetido a um bloco
de 50 estímulos para o TR simples e dois blocos de 20 estímulos com intervalo
de 2 minutos entre os blocos para o paradigma oddball, em que esse estímulo
apareceu na tela com duração de 0,75 segundos. Um pré-teste foi aplicado dez
minutos antes objetivando a familiarização dos indivíduos com os instrumentos
de medida.
Análise
de dados
Os dados oriundos dos
procedimentos descritos acima foram analisados no programa SPSS - Statistical Package for the Social Sciences, na versão
20.0, utilizando-se as ferramentas descritivas médias e desvio padrão. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para homocedasticidade
e homogeneidade da amostra e o teste Mann-Whitney foi usado para verificar as diferenças
existentes entre os grupos de atividades avaliativas, e a comparação
estatística antes e após estas avaliações, sendo utilizados 50 estímulos para o
TR simples e 40 para o paradigma oddball. O nível de significância considerado foi de p ≤
0.05.
Como resultados, diferenças estatisticamente significativas foram verificadas
na comparação entre antes e após as atividades avaliativas do TR simples
[F(1,2447) = 8,958; p=0,003, η2 = 0,004] e entre os diferentes
tipos de atividades avaliativas do TR simples [F(1,2447) = 18,378; p=0,0001, η2
= 0,15]. Na comparação entre antes e após a realização das atividades
avaliativas do paradigma oddball
[F(1,1957) = 0,050; p=0,823, η2 = 0,0001] também foi encontrado
diferenças, assim como na comparação entre os diferentes tipos de atividades
avaliativas do paradigma oddball
[F(4239,000) = 9,571; p=0,002, η2 = 0,002], havendo interações
para condição do paradigma oddball e não havendo para o grupo do paradigma oddball.
Figura
1 - Comparação estatística da média, antes (A) e
após (B) a aplicação dos diferentes tipos de atividades avaliativas do tempo de
reação simples.
O
Figura
1A apresenta a comparação estatística da média, do tempo de TR simples antes e
após das atividades avaliativas, que correspondem à média obtida dos 50
estímulos apresentados. A média geral do TR simples para prova prática (453,87 ms) foi maior quando comparado com
a média de apresentação de seminário (393,84 ms) e
prova teórica (369,41 ms), sem diferenças significativas.
O Figura 1B apresenta a comparação estatística da
média do TR simples após as atividades avaliativas, que correspondem à média
obtida dos 50 estímulos apresentados. A média geral do TR simples para prova
prática (465,92 ms) foi
maior quando comparado com a média da prova teórica (428,27 ms)
e apresentação de seminário (406,64 ms), sem
diferenças significativas.
Figura
2 - Comparação estatística da média antes (A) e
após (B) da aplicação dos diferentes tipos de atividades avaliativas do paradigma
oddball.
A Figura 2A apresenta
a comparação estatística da média do paradigma oddball antes das atividades
avaliativas, que correspondem à média obtida dos 40 estímulos apresentados. A
média geral do paradigma oddball
para apresentação de seminário (533,35 ms)
foi maior quando comparado com a média da prova prática (516,95ms) e prova
teórica (491,99 ms), sem diferenças significativas. O Figura 2B apresenta a comparação estatística da média,
erro padrão da média e valor de N do paradigma oddball após as atividades
avaliativas, que correspondem à média obtida dos 40 estímulos apresentados. A
média geral do paradigma oddball
para prova teórica (557,85 ms)
foi maior quando comparado com a média da prova prática (512,14 ms) e apresentação de seminário (480,13 ms),
sem diferenças significativas.
Figura
3 - Tempo de reação simples antes e após prova
teórica.
A Figura 3 apresenta
o TR simples antes e após a atividade avaliativa do tipo teórica, que
correspondem aos valores do erro padrão. O TR simples antes da prova teórica
foi menor (15,718) quando comparado após a realização da mesma (16,453), com
diferenças significativas.
Figura
4 - Tempo de reação simples antes e após prova
prática.
O
Figura
4 apresenta o TR simples antes e após a atividade avaliativa do tipo prática,
que correspondem aos valores de erro padrão. O TR simples antes da prova
prática foi menor (9,075) quando comparado após a realização da mesma (9,499),
com diferenças significativas.
Figura
5 - Tempo de reação simples antes e após
apresentação de seminário.
O
Figura
5 apresenta o TR simples antes e após a atividade avaliativa do tipo seminário,
que correspondem aos valores de erro padrão. O TR simples antes da apresentação
de seminário foi menor (10,782) quando comparado após a realização da mesma
(11,287), com diferenças significativas.
Figura
6 - Paradigma oddball
antes e após prova teórica.
A Figura 6 apresenta
a comparação estatística do paradigma oddball antes e após a atividade avaliativa do tipo teórica,
que correspondem aos valores de erro padrão. O TR segundo o paradigma oddball antes da
prova teórica foi maior (19,378) quando comparado após a realização da mesma
(17,133), com diferenças significativas.
Figura
7 - Paradigma oddball
antes e após prova prática.
A Figura 7 apresenta
a comparação do paradigma oddball antes e após a atividade avaliativa do tipo prática,
que correspondem aos valores de erro padrão. O TR segundo o paradigma oddball antes da
prova prática foi maior (12,122) quando comparado após a realização da mesma
(10,718), com diferenças significativas.
Figura
8 - Paradigma oddball
antes e após apresentação de seminário.
A Figura 8 apresenta
a comparação estatística do paradigma oddball antes e após a atividade avaliativa do tipo
seminário, que correspondem aos valores de erro padrão. O TR segundo o
paradigma oddball
antes da apresentação de seminário foi maior (14,1) quando comparado após a
realização da mesma (12,466), com diferenças significativas.
O TR pode ser
definido como o intervalo de tempo decorrido desde um estímulo - que pode ser
auditivo ou visual - até o início de uma resposta, sendo utilizado por
pesquisadores como uma medida do desempenho sensório-motor [11-13]. Atrasos na
reação ao estímulo podem ser de significância crítica na determinação do
sucesso em habilidades que requerem respostas rápidas, sendo crucial para
acadêmicos, que são constantemente submetidos a meios avaliativos, onde
precisam associar as questões os quais são interrogados com suas referidas
respostas em um curto e determinado tempo [14].
O TR varia de acordo
com alguns fatores, dentre os principais, a modalidade sensorial do estímulo e
a complexidade da resposta a ser executada. Responder a estímulos acústicos,
óticos e táteis implica em TRs diferentes [15]. A
amplitude em milissegundos para o TR é de 130 a 170 (acústico – sinal sonoro),
200 a 250 (visual – luz), 150 a 160 (tátil simples – toque) e 510 a 530 (tátil
complexo – rotação do corpo) [16], sendo que esses valores do TR é um dos
principais indicadores da limitação neuromotora para
processar um estímulo do ambiente externo [15].
Em situações nas
quais dois estímulos são apresentados inesperadamente muito próximos, o
encéfalo capta o primeiro estímulo e começa a selecionar e gerar uma resposta
para ele. O segundo estímulo é então apresentado, e ocorre uma interferência
com o segundo par de estímulo e resposta. Esse atraso
do TR é mais longo quando o estímulo e resposta é muito curto (aproximadamente
50 a 60 ms), mas se o
estímulo for menos de 40 ms, o encéfalo responde aos
dois estímulos simultaneamente, como se eles fossem um. Isso é denominado
período psicológico refratário [12]. O TR de escolha é mais demorado porque a
latência do processamento mental é mais longa, ocorrendo a Lei de Hick [17]. A Lei de Hick o TR
aumenta logaritmicamente à medida que aumenta a quantidade
de estímulo e resposta. Portanto, dois ou três estímulos de ataque quase ao
mesmo tempo retardam o TR do defensor por causa do número de opções de escolha
para esse atleta efetuar a resposta. Durante a comparação entre os dois meios
em que foi avaliado o TR neste estudo, encontraram-se valores diferentes para o
TR simples – em que se utilizou apenas um estímulo e para o paradigma oddball – em que foi utilizado dois estímulos diferentes, tanto antes como
após as atividades avaliativas.
Uma resposta rápida
está dependente do modo como a informação possa estar
armazenada e organizada no sistema de memória, uma vez que facilita o processo
de recuperação [18]. Esta situação pressupõe que a memória poderá ser relevante
apenas em tarefas que impliquem escolhas - como é o caso das provas de TR de
escolha utilizadas no presente estudo - em que é necessário evocar/recuperar a
informação armazenada na memória a um curto e longo prazo [19]. Assim como
mostrou os resultados deste estudo, onde o TR foi maior antes das atividades
avaliativas quando comparado após, apenas quando foi necessário distinguir dois
estímulos - paradigma oddball.
Este fato pode constituir a explicação para as diferenças encontradas em termos
médios, à medida que a complexidade da tarefa aumenta. No entanto, é
necessário, em estudos futuros, aumentar a complexidade da tarefa para que se
possa clarificar esta questão [16].
A resposta
antecipatória significa uma disponibilidade do sistema nervoso em termos de
processamento, portanto ela é adquirida com a prática, enquanto que a resposta
adiantada é característica do iniciante, ou seja, resposta errada. Em um estudo
foi analisado que o efeito do TR curto (TRC) ou o TR longo (TRL) no resultado
de performance numa tarefa de timing antecipatório foi
diluído durante o processo de aprendizagem, ou seja, após um período de
prática, o grupo TRL, que tinha um desempenho inferior, se equiparou ao
desempenho do grupo TRC [20].
Atrasos na reação
podem ser de relevância na determinação do sucesso em habilidades rápidas, no
caso de jogadores de futebol em situações como antecipar-se ao adversário em
uma roubada de bola ou interceptar um chute a gol, assim como no caso de
estudantes, onde precisam dar uma resposta rápida a situações onde são constantemente
submetidos, como avaliações orais [12]. No presente estudo, foram encontrados
valores maiores no TR em atividades que exigiam exposições orais (prova prática
e apresentação de seminário) quando comparado a exposições não orais (prova
teórica) quando comparado a relação entre os grupos.
Em um estudo foi comparado o TR visual de estudantes universitários com
estudantes de segundo grau, nos quais não foram encontradas diferenças, pois
indivíduos com níveis de habilidade similares tendem a possuir valores para TR
dentro de intervalos de tempo específicos [21]. No presente estudo, ao ser
avaliado o TR simples, observou-se valores maiores do TR após as atividades
avaliativas quando comparado antes destas. Isso pode ser pelo fato que os
acadêmicos teriam pressa para o término da pesquisa, pelo medo de perderem o
horário de suas avaliações.
Apesar dessa
diferença entre os valores encontrados do TR simples com o paradigma oddball, esse
resultado não deixa de ser relevante, uma vez que, em condições normais, quando
a quantidade de informação aumenta e o sujeito tenta manter uma resposta
rápida, o número de erros também aumenta [22,23]. Esta situação está associada
ao compromisso velocidade-exatidão assumida pelo sujeito em tarefas desta
natureza, existindo duas razões principais para que tal aconteça: a primeira
relaciona-se com a antecipação da resposta e a segunda com uma resposta sem
preparação [24].
O ambiente acadêmico
tem um impacto diferente em cada estudante, variando de acordo com as vivências
de cada um deles [25-27]. No entanto, e independentemente da constituição de
cada aluno, algumas variáveis do contexto acadêmico são suficientemente
importantes por si próprias, já que, além das mudanças próprias de ensino, os
alunos se deparam com as incertezas naturais da escolha profissional [28].
Alguns alunos sentem ansiedade e passam por situações de estresse apenas em
disciplinas que consideram relativamente difíceis, como as voltadas para a
clínica, não dando relevância as disciplinas básicas. Este fato também pode
explicar o porquê dos resultados encontrados neste estudo.
Estudos com equipes
adultas apontam uma tendência de um maior desenvolvimento da velocidade de
resposta em atletas que executam múltiplas funções dentro da equipe, indicando
assim que o TR pode ser considerado um dos principais parâmetros que indique a
velocidade de processamento de informações de um indivíduo [29]. No esporte, o
TR representa o tempo que o atleta necessita para tomar decisões e iniciar as
ações pertinentes a situação apresentada. O TR comumente é utilizado como um
dos referenciais para análise do desempenho dos atletas que praticam o desporto
[30-32]. Assim como no esporte, o TR também pode ser utilizado para analisar o
desempenho dos acadêmicos que são submetidos constantemente a situações que
necessitam de uma resposta rápida, como nos casos da realização das atividades
avaliativas, principalmente aquelas que precisam de exposição oral.
O tempo que um
indivíduo leva para responder a um estímulo visual é de 250 ms [11,33]. No presente estudo, os valores do TR
foram consideravelmente maiores do que aqueles sugeridos pelo autor, tanto
antes como após às atividades avaliativas. Em outros
estudos conduzidos com atletas de diferentes modalidades, os valores do TR são
menores do que aqueles propostos por esse autor, diferentes dos valores
encontrados neste estudo, o que pode ser explicado pelo fato dos sujeitos serem
diferentes. Em outro estudo, foram encontrados médias de 192 ms para atletas de atletismo, 201 ms para jogadores de basquetebol, 200 ms
para atletas de ginástica artística, 221 ms para
nadadores e 225 ms para pugilistas, todos do sexo
masculino [34]. Neste estudo, foram encontrados valores diferentes. Deste modo,
ainda persiste o debate questionando se o TR visual é influenciado ou não nos
meios avaliativos em ambiente acadêmico.
Os valores
encontrados para o TR simples foram mais altos do que para o TR segundo o
paradigma oddball,
o que parece coerente com as solicitações impostas pelos dois testes. O teste
para o TR simples tem um maior número de estímulos-alvo a serem processados
pelo acadêmico, tendendo ultrapassar o limiar de capacidade de memória de
trabalho, elevando o TR Visual [35]. Além disso, observou-se que a média geral
do TR simples para prova prática (465,92 ms)
foi maior comparado às demais, já no paradigma oddball verificou-se que a média
geral para apresentação de seminário (533,35 ms) foi
maior comparado às demais. O que mostra que o TR se torna maior em atividades
que exigem uma apresentação oral por parte do aluno.
Em um estudo feito
com 53 jovens jogadores de futebol com idade entre 8 a 13 anos, foi analisado o
TR utilizando uma televisão, que iniciava com tela escura e depois ficava
escuro um círculo e imediatamente o atleta chutava a bola. Um sensor detectava
o momento da movimentação da bola que era transferido os dados para um
computador. Os jogadores de 12 e 13 anos tiveram melhor TR (0,387±0,034 ms) do que os atletas de 10 e 11
anos (0,406±0,046 ms) e foram superiores do que os
futebolistas com 8 e 9 anos (0,412±0,062 ms) [36].
Neste estudo, não foram questionados a idade dos acadêmicos e o período em que
estavam cursando, porém, alunos dos primeiros períodos foram os que mais
participaram deste estudo. Tal dado exemplifica a necessidade de um controle
mais acurado sobre a variável idade, procurando maiores evidências em estudos
futuros.
Sendo pesquisada a
relação entre idade e atenção foi realizada uma pesquisa com a participação de
três grupos com 14 sujeitos cada, cujas idades variaram de 12 a 15 anos, de 24
a 38 anos e de 60 a 75 anos, respectivamente, onde a tarefa consistiu em
localizar um alvo previamente definido após uma dica visual e nos seus
resultados foram verificados que os idosos apresentaram, sistematicamente, um
desempenho pior do que os adultos jovens e os adolescentes, porém não houve
diferenças entre esses dois últimos grupos sugerindo assim que o pior
desempenho verificado nos idosos poderia ser resultado de deficiências
orgânicas decorrentes do envelhecimento [37]. O estudo anterior assemelha-se
com este quanto a diferença de idade, demonstrando que
indivíduos com menor idade possuem TR maior que os com maior idade. No presente
estudo, participaram mais acadêmicos dos primeiros períodos, o que pode haver
relação com os resultados encontrados, visto que estes alunos ainda estão em
processo inicial de formação acadêmica, e a transição na vida acadêmica dos
estudantes no início de seus estudos universitários pode gerar um aumento de responsabilidade,
ansiedade e competitividade [25].
De acordo com os
resultados encontrados no presente estudo, pode-se concluir que houve uma
diferença significativa no TR simples e paradigma oddball entre acadêmicos antes e
após atividades avaliativas. Porém houve uma controvérsia com relação aos dois
meios utilizados para avaliar o TR, no simples foram encontrados valores
menores antes das atividades quando comparados com após e o contrário foi
encontrado no paradigma oddball.
Já com relação à comparação entre os grupos, destacou-se
valores maiores no TR em atividades que exigiam exposições orais (prova prática
e apresentação de seminário) quando comparado a exposições não orais (prova
teórica).