ARTIGO ORIGINAL
Déficits vestibulares e vertigem posicional
paroxística benigna em adultos jovens assintomáticos: um estudo transversal
Vestibular deficits
and benign paroxysmal positional vertigo in young asymptomatic adults: a
transversal study
Nádia de Sousa Sales1, Maria de
Fátima Passos Sérvulo2, Diandra Martins e Silva3, Kaline
Rocha4, Silmar Teixeira4, Marco Orsini3,5,9,
Bruna Velasques6, Pedro Ribeiro6, Sergio Nader7,
Adalgiza Mafra Moreno9, Janaína de Moraes Silva3,8,
Victor Hugo do Vale Bastos3
1Bacharel em Fisioterapia, Especialista em Saúde da Mulher,
Hospital Regional Norte de Sobral (HRN), Programa de Mestrado em Ciências da
Saúde pela Universidade Federal do Ceará, Sobral/CE, 2Bacharel
em Fisioterapia, Especialista em Traumatologia e Fisioterapia Manipulativa
Ortopédica, Centro de Fisioterapia Edson Moita, Lagoa Alegre, Piauí/PI, 3Laboratório
de Mapeamento Cerebral e Funcionalidade (LAMCEF/UFPI), Universidade Federal do
Piauí, Parnaíba/PI, 4Laboratório de Mapeamento e Plasticidade
Cerebral (LAMPLACE/UFPI), Universidade Federal do Piauí, Parnaíba/PI, 5Professor
do mestrado em Ciências Aplicadas a Saúde na Universidade de Vassouras/RJ,
Pós-doutorando em Ciências Biomédicas UFPI-PI, 6Professor
responsável pelo laboratório de Mapeamento Cerebral e integração sensório
motora – IPUB/UFRJ, 7Professor de Anatomia Humana da
UNIG/RJ, 8Professora da Universidade Estadual do Piauí
UESPI-PI, Pós-doutoranda em Ciências Biomédicas UFPI-PI, 9Universidade
Iguaçu, UNIG/RJ
Recebido 9 de janeiro de 2019; aceito 15 de
março de 2019
Correspondência: Janaína de Moraes Silva, Avenida São
Sebastião, 2819 São Benedito 64202-020 Parnaíba PI, e-mail:
fisiojanainams@gmail.com; Nádia de Sousa Sales: nadiasousasales@hotmail.com;
Maria de Fátima Passos Sérvulo: fatimaservulo12@hotmail.com; Diandra Martins e
Silva: diandra_martins@yahoo.com.br; Kaline Rocha: kalinemrocha@outlook.com;
Silmar Teixeira: silmar_teixeira@yahoo.com.br; Marco Orsini:
orsinimarco@hotmail.com; Bruna Velasques: bruna_velasques@yahoo.com.br; Pedro
Ribeiro: ribeiropss@yahoo.com.br; Sergio Nader: sergionader@yahoo.com.br;
Adalgiza Mafra Moreno: dalgizamafra@gmail.com; Victor Hugo do Vale Bastos:
victorhugobastos@ufpi.edu.br
Resumo
Introdução: O equilíbrio corporal
pode ser afetado por déficits visuais, proprioceptivos e/ou vestibulares
centrais ou periféricas. Dentre as afecções vestibulares periféricos, a
Vertigem Postural Paroxística Benigna apresenta grande interesse em pesquisas
que buscam responder suas apresentações clínicas em adultos e sua associação
com a integralidade dos demais sistemas corporais. Objetivo: Analisar as respostas de adultos jovens assintomáticos
submetidos à semiologia do sistema vestibular. Metodologia: Estudo quantitativo, transversal analítico e
descritivo, onde foram utilizados os testes de equilíbrio estático, dinâmico e
a manobra de Dix-Hallpike, com amostra de 30
voluntários assintomáticos recrutados em uma instituição de ensino superior do
município de Parnaíba/PI. Resultados:
O teste de apoio unipodal (1,87 ± 0,346) foi negativo
(p < 0,001) e no teste de Fukuda (1,20 ± 0,407) grande parte tiveram
resultados positivos (p < 0,001). Os testes de Romberg
(2,00 ± 0,000), Romberg-Barré (1,50 ± 0,509) e Babinski-Weil (1,37 ± 0,490) não foram significantes (p =
0,001). Para a Manobra de Dix-Hallpike observamos que
os movimentos de sedestação para decúbito dorsal
esquerdo e de decúbito dorsal para sedestação direito
e esquerdo foram significativos (p < 0,001). Conclusão: Os adultos jovens assintomáticos podem apresentar
resultados positivos em teste de equilíbrio e sintomas na manobra de Dix-Hallpike, confirmando a Vertigem Postural Paroxística
Benigna.
Palavras-chave: doenças vestibulares,
equilíbrio postural, testes de função vestibular.
Abstract
Introduction:
Body balance can be affected by visual deficits, proprioceptive and/or central
or peripheral vestibular. Among the peripheral vestibular disorders, the Benign
Paroxysmal Positional Vertigo presents great interest in research seeking to
answer clinical presentations in adults and its association with the completion
of other body systems. Objective: To
analyze the responses of asymptomatic young adults with symptoms of the
vestibular system. Methods: This was
a quantitative, descriptive analytical cross-sectional, where we used the tests
of static balance, dynamic and Dix-Hallpike, with a sample of 30 asymptomatic
volunteers recruited in a higher education institution in the city of Parnaíba/PI, Brazil. Results: The one-leg supporting roll
1.87 ± 0.346) was negative (p < 0.001) and the test Fukuda (1.20 ± 0.407)
were largely positive (p < 0.001). The Romberg test (2.00 ± 0.000)
Romberg-Barré (1.50 ± 0.509) and Babinski-Weil (1,37 ± 0.490) were not
significant (p = 0.001). For the Maneuver Dix-Hallpike we observed that the
movements of the sitting position to the left supine and supine to right and
left sedestation were significant (p < 0.001). Conclusion: Asymptomatic young adults
may have positive results on balancing test and symptoms in the Dix-Hallpike,
confirming the Benign Paroxysmal Positional Vertigo.
Key-words: vestibular
diseases, postural balance, vestibular function tests.
O Equilíbrio Corporal
(EC) é a capacidade do indivíduo em manter a postura ereta ou realizar
movimentos de aceleração e rotação sem oscilações excessivas ou quedas. Isso
ocorre com a interação entre os sistemas vestibular, visual e proprioceptivo
[1]. A alteração de um ou mais desses sistemas, promove um conjunto de
sintomas, tais como tonturas e desequilíbrios [2,3]. Em especial, as alterações
denominadas de vestibulopatias, que são decorrentes de distúrbios no sistema
vestibular periférico e/ou central [4]. As vestibulopatias periféricas são as
mais comuns, e, em geral, ocorrem devido ao comprometimento do ramo vestibular
do nervo vestíbulo-coclear ou na porção vestibular do labirinto [5,6].
Especificamente, a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é a causa
mais comum de vertigem, acomete 64 em cada 100.000 pessoas, com uma prevalência
de 2,4%, de forma mais descrita em mulheres [7-9]. Ocorre em qualquer faixa
etária, porém a prevalência aumenta com a idade e está associada a um aumento
do risco de cair [10-12]. O impacto social da doença e os seus custos diretos e
indiretos para os sistemas de saúde são significativas devido ao
comprometimento das atividades diárias e aumento do risco de quedas [13].
O quadro é relatado
quando o indivíduo assume determinadas posições da cabeça como deitar, mudar de
decúbito, inclinação à frente do tronco ou olhar para cima. Caracteriza-se por
episódios breves, mas intensos de vertigem [14,15]. Em 50-70% a VPPB é
idiopática ou primária e têm como fator secundário os traumatismos
crânio-encefálico comuns em 7-17% dos casos [16,17]. A VPPB ocorre devido ao
deslocamento dos cristais de carbonato de cálcio do utrículo e/ou do sáculo,
para um ou mais canais semicirculares [8,17]. Com evolução benigna, os
episódios da VPPB tendem a desaparecer em pouco tempo, havendo relatos de
recorrência ou persistência, mais comum em idosos. O diagnóstico é clínico,
sendo a manobra de Dix-Hallpike, o principal meio diagnóstico [6,16,18,19].
A VPPB tem fácil
diagnóstico e tratamento, porém apresenta sintomas muito desagradáveis e de
difícil caracterização do ponto de vista epidemiológico [20]. Representa uma
entidade clínica comum que é encontrada não só por especialistas em distúrbios
neurológicos e de equilíbrio, mas também por otorrinolaringologistas não
especializados, neurologistas, ou geriatras e clínicos gerais em cuidados primários
ou serviços de emergência, entre muitas outras configurações, na prática
clínica de rotina [21]. A VPPB leva a um conjunto de perturbações físicas e
emocionais com prejuízos funcionais intensos, comprometendo as atividades
profissionais, sociais e domésticas do indivíduo [2,16].
A literatura é clara
quanto aos mecanismos que determinam o equilíbrio corporal bem como a anatomia
e funcionamento do sistema vestibular [4,5,22,23]. No entanto a ocorrência e
características das vestibulopatias periféricas, principalmente da VPPB na
população adulta, são raramente estabelecidas. Além disso, alguns estudos vêm
discutindo sobre as causas do atraso no diagnóstico e tratamento da VPPB mesmo
com a disponibilidade de testes simples para realização, o que demostra
desconhecimento da aplicação dos testes por parte dos profissionais de saúde
que não são especialistas na área [24]. Dada as informações acima, por meio da
aplicação dos testes de equilíbrio dinâmico e estático espera-se encontrar
sintomas de VPPB diante das diversas situações sensoriais que os participantes
foram expostos, e a confirmação ou não do diagnóstico de VPPB através da
aplicação da manobra de Dix-Hallpike. Neste contexto, o objetivo deste estudo
foi analisar as respostas vestibulares de adultos jovens assintomáticos
submetidos à semiologia do sistema vestibular. Para esta proposição, foram
realizados testes do equilíbrio estático e dinâmico e a Manobra de
Dix-Hallpike.
Estudo quantitativo,
transversal analítico e descritivo com amostra de 30 acadêmicos da Universidade
Federal do Piauí - Campus Parnaíba/PI, assintomáticos às disfunções
vestibulares. Foram incluídos os voluntários com idade entre 18 e 28 anos, do
gênero masculino e feminino, não relatando sintomas como vertigem, nistagmo,
cefaleia, zumbido, perda auditiva e queixas de déficit de equilíbrio.
Os critérios de
exclusão foram as limitações em compreender e atender a algum comando verbal,
impossibilidade de permanecer de forma independente na posição ortostática,
comprometimento visual grave, distúrbios ortopédicos que resultam em limitação
de movimento ou utilização de próteses em membros inferiores, pacientes com
distúrbio neurológico ou com relato de ingestão alcoólica 24 horas antes da avaliação
[17]. Além disto, só participaram aqueles com Escala de Confiança no Equilíbrio
Específica para Atividade (CEA) acima de 90% sem relato de sintomas
vestibulares. Considerando tais critérios participaram do estudo, voluntários
cuja média de idade foi de 21,8 ± 1,43 anos, sendo 12 do gênero masculino e 18
do feminino.
Todos os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participação
e divulgação das informações. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) com parecer nº. 514.064. No primeiro momento, foram coletados
dados pessoais, história de quedas, oscilações, cefaleia, condição neurológica
e/ou musculoesqueléticas limitantes, déficits visuais severos, medicamentos e
ingestão recente de álcool.
Os participantes também
responderam a Escala de Confiança no Equilíbrio Específica para a Atividade
(CEA), para avaliar o nível de confiabilidade em realizar atividades sem perder
o equilíbrio ou tornar-se instável, escolhendo um dos pontos de percentagem na
escala, de 0% a 100%. A soma de todos os resultados foi dividida por 16 para
obter a avaliação CEA de cada indivíduo. A escala foi aplicada na forma de
entrevista e o voluntário foi orientado a responder qual a confiança na
realização daquela atividade. Em casos que o paciente não realizasse atualmente
a atividade solicitou-se que o mesmo imaginasse qual a sua confiança quando
fosse realizar a mesma [28,29]. Os testes foram aplicados com os participantes
trajando roupas que não limitasse os movimentos de membros inferiores.
Iniciaram-se os
procedimentos pelo teste de Romberg, no qual o indivíduo foi orientado em
ortostatismo bipodal, com os pés juntos, os braços estendidos ao longo do
corpo, e os olhos fechados. Durante 2 minutos os participantes foram observados
quanto à presença de desequilíbrios em lateropulsão, retropulsão e/ou
antepulsão, caracterizado pelo afastamento dos pés, alteração do posicionamento
ou abdução dos membros superiores na tentativa de manter ou recuperar o equilíbrio.
Em tais situações, a prova é considerada positiva. Partindo da mesma premissa a
prova de Romberg-Barré, foi aplicada diferenciando-se, pela colocação dos pés
que será um adiante do outro, em linha reta, diminuindo a base de sustentação.
Também foi realizado o teste de Apoio Unipodal, demarcando-se um ponto em um
quadro, aproximadamente, 2 metros de distância do voluntário e na altura de
seus olhos. Foram solicitados aos pacientes que eles olhassem para esse ponto,
colocasse as mãos na região lateral de tronco e que elevasse um dos membros
inferiores flexionando o joelho. O tempo de realização de tal movimento foi
marcado, até trinta segundos ou até que o indivíduo se desequilibrasse [30,31].
Para testar o
equilíbrio dinâmico, foram realizados o teste Babinski-Weil e Fukuda. No
primeiro, o voluntário caminhou de olhos fechados, para frente e para trás, com
um pé a frente do outro, num percurso de 1,5m previamente demarcados. Foram
observados desvios da marcha para lateral, configurando o lado da disfunção
vestibular. O segundo foi realizado sobre três círculos concêntricos marcados
no chão com fita adesiva, cujos raios têm 0,5 m de diferença entre si. Estes
círculos são divididos em 12 partes iguais, por retas que cruzam o centro,
formando um ângulo de 30°. O paciente foi orientado a marchar, elevando os
joelhos aproximadamente 45° sem deslocar-se, executando um passo por segundo
com os braços estendidos a 90° a frente do corpo e os olhos fechados. Indica
alterações se houver deslocamento maior do que 1 m e/ou rotação superior a 30°
[31,32].
Para o diagnóstico de
VPPB, a manobra de Dix-Hallpike foi realizada. Os avaliadores explicaram todos
os procedimentos ao voluntário e pediram que sentasse na maca e de forma rápida
com a extensão cefálica com rotação de 45º para o lado que foi realizado o
teste, até a posição supina. Foi orientado ao participante que mantivesse os
olhos abertos, permitindo a observação do nistagmo, que se configura com um
período de latência habitualmente de 5-20 segundos até ao início do nistagmo,
que dura raramente até 1 minuto [18,19]. Sintomas vertiginosos que
frequentemente ocorrem associadas ao movimento ocular rítmico também foram
questionados no momento da realização da manobra [13,14]. As características do
nistagmo permitiu diferenciar entre cupulolitíase, onde se tem nistagmo com
mais de um minuto de duração, da ductolitíase, mais freqüente, causando
nistagmo com menos de um minuto de duração [33].
Análise
estatística
O teste de Qui-quadrado
foi utilizado para testar a hipótese do estudo. Baseia-se em comparar
proporções, isto é, as possíveis divergências entre as frequências observadas e
esperadas para certo evento, em nosso estudo, para a ocorrência de resultados
positivos e negativos na realização de testes de Romberg, Romberg-Barré, Apoio
Unipodal, Babinski-Weil, Fukuda e manobra de Dix-Hallpike. Foi considerado
significante p < 0,001. As frequências observadas na coleta de dados foram
analisadas com o auxílio do programa IBM SPSS Statistics 2.0.
Dos 45 voluntários, 15
foram eliminados pelo critério de exclusão, e destes, 12 tiveram pontuação
abaixo de 90% na CEA. Dentre os testes para equilíbrio estático, apenas o de
apoio unipodal apresentou resultado significante (p < 0,001) uma vez que a maioria
dos voluntários não respondeu a sua aplicação com alterações do equilíbrio.
Quanto à realização dos testes para equilíbrio dinâmico, somente o teste de
Fukuda demonstrou resultados significantes (p < 0,001) (Figura 1).
A manobra de
Dix-Hallpike de sedestação para decúbito dorsal esquerdo e de decúbito dorsal
direito e esquerdo para sedestação foi significativa para a ausência de
sintomas tais como vertigem e nistagmo, não caracterizando o quadro de VPPB
(Tabela I).
Figura 1 - Resultado do teste de equilíbrio estático e dinâmico e da Manobra de Hallpik-Dix de Sedestação para
Decúbito Dorsal Esquerda e Direita (Dix S p/ DDEsq) (Dix S p/ DDDir).Manobra de Hallpik-Dix de
Decúbito Dorsal para Sedestação Esquerda e Direita (Dix DD p/ S Esq) (Dix DD p/ S Dir). Em destaque os
valores estatisticamente significantes (p<0,001).
Tabela I - Testes clínicos para
Vertigem Postural Paroxística Benigna.
Valores de Média (M),
Desvio Padrão (DP), Qui-Quadrado (c2)
e Nível de Significância (p) para cada teste. Manobra de Hallpik-Dix
de Sedestação para Decúbito Dorsal Esquerda e Direita
(Dix S p/ DDEsq) (Dix S p/ DDDir). Manobra de Hallpik-Dix de Decúbito Dorsal para Sedestação
Esquerda e Direita (Dix DD p/ S Esq)
(Dix DD p/ S Dir).
Significantes (p<0,001) os resultados referentes ao teste de apoio unipodal, Fukuda, Manobra de Hallpik-Dix
de sedestação para decúbito dorsal direito e esquerdo
e de decúbito dorsal direito e esquerdo para sedestação.
No presente estudo, a
proposta foi verificar as respostas de adultos jovens assintomáticos as provas
vestibulares e a ocorrência de VPPB, visto que há ausência de estudos que
utilizam este tipo de população. Os resultados do mesmo demonstraram que o
teste de apoio unipodal foi significante para a ausência de desequilíbrios.
Shigaki et al. [34] ao utilizar o
mesmo teste destaca que quando o peso corporal é suportado por um dos membros
inferiores, o corpo é estabilizado sobre o mesmo membro pela ação dos músculos
abdutores do quadril, com estabilização da pelve, recebendo influencias do
nível de atividade e força muscular [34]. Fato, que corrobora os resultados nos
testes de equilíbrio da amostra do presente estudo que foi de adultos jovens
com bom desempenho funcional.
No teste de Romberg nenhum
voluntário apresentou disfunção de equilíbrio. Já no de Fukuda os resultados
foram significativos para a presença de déficits de equilíbrio, uma vez que
requer movimentos mais complexos, repetitivos e coordenados dos membros
[34,35]. Supõe-se que na faixa etária incluída no estudo, os sistemas
vestibular, visual e proprioceptivo já estão em um estágio de maturação e
seletividade adequados ocorrendo uma correta captação e integração entre eles
[36]. Mas que este fato não é absoluto como em Duarte et al. [37], que observou
que o controle postural é influenciado pelo estado de saúde, características
antropométricas, condição física, idade e ambiente. Pontos estes que
provavelmente afetaram a característica dos resultados encontrados neste estudo
[37].
No que tange a idade,
ao analisarmos estudos realizados com idosos, como o de Rebelato et al. [38] onde os mesmos têm
desempenho negativo nos testes de equilíbrio estático e dinâmico, salientamos a
escolha por voluntários adultos jovens, que não cursariam com efeitos do avanço
da idade. Ao apresentarem testes positivos para desequilíbrios poder-se-ia
afirmar com maior clareza que essas respostas ocorreram por influências de
déficit vestibulares [38]. No entanto, mesmo supondo esse melhor desempenho na
realização dos testes, a fadiga muscular durante movimentos repetidos no teste
de Fukuda foi relatada de forma informal pelos voluntários e teve provável
influencia no desfecho do mesmo [38].
A literatura mostra que
tanto o baixo desempenho no equilíbrio funcional como a falta de confiança no
equilíbrio podem afetar a função e a condição física e a falta de confiança
influenciariam a realização tanto de atividades rotineiras como atividades que
demandam maior esforço, no entanto no presente estudo tal influencia foi
minimizada ao utilizar-se a CEA [39]. Nesta premissa a proposta do presente
estudo não incluiu a avaliação das características psicológicas da amostra, mas
elas podem ter influenciado, ao supormos estados de estresse e ansiedade
variados nos acadêmicos incluídos na amostra, como em Paulino et al. [40] onde
as queixas de estresse associado a tontura ocorreu em mais da metade dos
estudantes avaliados, com a maioria do gênero feminino e idade entre 20 e 30
anos [40].
Quanto a Manobra de Dix-Hallpike,
há poucos estudos que englobem apenas adultos jovens sem queixas, a maioria
abrange maior faixa etária e fatores influenciadores, como em Caldas et al. [41], que reafirma o maior número
de casos de VPPB entre 41 a 60 anos e acima de 60 anos de idade [41]. No
presente estudo a Manobra de Dix-Hallpike apresentou resultados significativos,
apenas para os movimentos de sedestação para decúbito dorsal esquerdo e de
decúbito dorsal para sedestação direito e esquerdo, também referentes à
ausência de sinais e sintomas, mostrando que os voluntários em sua maioria não
foram diagnosticados com VPPB.
Aqueles com VPPB, de
acordo com os sintomas relatados, foram classificados com quadro de canalitíase
na qual as partículas de carbonato de cálcio ficam flutuando livremente na
endolinfa dos canais, e a os sintomas reduziam à medida que a posição do
voluntário era mantida, momento que ocorria há cessação do movimento da
endolinfa [6,7,15,16,39]. Diversos estudos apontam esta forma como mais
frequente, e dá-se no presente estudo por caracterizarem sintomas rápidas que
não eram percebidos pelos voluntários no seu dia-a-dia, visto que os mesmos
relataram ausência de sintomas vestibulares na entrevista inicial ao estudo. Na
cupulolitíase os sintomas nos voluntários permaneceriam por todo o tempo que o
paciente ficasse na posição que o provocava, o que não ocorreu [6,42,43].
No momento da manobra
de Dix-Hallpike, os voluntários relataram a vertigem, mas em nenhum deles foi
observado o nistagmos, o que caracteriza a VPPB como subjetiva em nossa amostra
[43,44]. A ausência de nistagmo de posicionamento na movimentação cefálica como
ocorreu nos voluntários, é relatada na literatura em quadros de presença de
mínimas partículas de carbonato de cálcio aderidas à cúpula ou flutuando no
canal semicircular afetado, suficientes para provocar náusea ou vertigem, mas
insuficientes para produzir o nistagmo ou pela presença de nistagmos sutis,
dificilmente detectados [44]. Martins et
al. [45], corrobora com este resultado, visto que ao analisar o nistagmo em
indivíduos normais detectou que o mesmo ocorre em 88% e mais comumente na
posição de Dix-Hallpike, que ocorreu em 55% dos indivíduos, ratificando a
possibilidade da VPPB em assintomático. Já para Maia et al. [46] o nistagmo é observado em mais de 70% dos doentes com
VPPB [46].
Pelos testes utilizados
no presente estudo não se pode definir o canal semicircular envolvido nos
quadros de VPPB dos voluntários, mas diante de estudos como o de Manso et al.
[47] que relata que em o acometimento de canal posterior ocorreu em 89,9% dos
casos estudados, do canal lateral em 8,3% e do anterior em 1,8%, podemos supor
sua ocorrência [38,45,47].
Conclui-se que
indivíduos podem não relatar sintomas vestibulares em seu cotidiano e mesmo
assim apresentar déficit em seu equilíbrio e sintomas durante a realização da
Manobra de Dix-Hallpike. Isto ocorre devido à compensação realizada por outros
sistemas que se caracterizam como a base para o equilíbrio, pelos breves
quadros de vertigem associada à VPPB. Faz-se necessário, portanto o domínio das
formas de avaliação e tratamento por parte dos profissionais Fisioterapeutas
para que incorporem à Manobra de Dix-Hallpike na sua rotina de avaliação.