REVISÃO
Fisioterapia e
qualidade de vida na osteoartrose de joelho
Physical therapy and quality of life in knee osteoarthritis
Cassia Gonçalves dos
Santos*, Danielly Brullinger da Rosa*, Gustavo
Andrade Martins, M.Sc.**, Eduardo Freitas da Rosa, M.Sc.***, João Pereira Neto, M.Sc.****
*Pós-graduada em
Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Esportiva pela
Faculdade IBRATE, **Docente na Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Esportiva pela Faculdade IBRATE,
***Docente na Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopédica
e Esportiva pela Faculdade IBRATE, ****Docente na Pós-graduação em Fisioterapia
Traumato-ortopédica e Esportiva pela Faculdade IBRATE
Recebido em 17 de
janeiro de 2019; aceito em 4 de dezembro de 2019.
Correspondência: Cassia Gonçalves dos
Santos, Rua Tereza Alexandre Souza, 118, 92035-294 Canoas RS
Cassia Gonçalves dos
Santos: cassiagoncalves.08@gmail.com
Danielly Brullinger da Rosa: daniellybrullingerdarosa@gmail.com
Gustavo Andrade Martins:
gugamart@terra.com.br
Eduardo Freitas da Rosa:
eduardo@institutogolden.com.br
João Pereira Neto:
joaofisioneto@outlook.com
Resumo
Introdução: A osteoartrose (OA) é
um distúrbio articular caracterizado patologicamente por perda localizada de
cartilagem, remodelação de osso adjacente, formação de osteófitos
e inflamação associada. Manifesta-se como um desarranjo molecular seguido de alterações
anatômicas e fisiológicas, caracterizadas por degradação da cartilagem,
remodelação óssea, formação de osteófitos, inflamação
das articulações e perda da função articular normal. Objetivo: Realizar
uma revisão da literatura, avaliando a influência da fisioterapia no tratamento
dos indivíduos com OA de joelho, quanto ao seu impacto na qualidade de vida,
identificando os diferentes tratamentos para OA de joelho. Métodos: Foi
realizado uma revisão da literatura nas bases de dados Pubmed,
Pedro, Scielo e Biblioteca Cochrane, com ensaios
clínicos com data de publicação de 2014 a 2018 com as palavras-chave:
osteoartrose de joelho, fisioterapia e qualidade de vida. Foram escolhidos
estudos com participantes com diagnóstico de OA de joelho, com idade >
50 anos, de ambos os gêneros, que relatassem informações sobre o tratamento e a
qualidade de vida dos pacientes. Resultados: Foram encontrados 224
artigos e selecionados 12 artigos para análise. Conclusão: Os estudos
demonstraram a eficiência do uso de exercícios e da educação na melhora dos
sintomas decorrentes da osteoartrose, como dor, melhora da função física e
qualidade de vida.
Palavras-chave: osteoartrose de
joelho, fisioterapia e qualidade de vida.
Abstract
Introduction: Osteoarthrosis (OA) is a pathological disorder characterized by
localized loss of cartilage, remodeling of adjacent bone, formation of
osteophytes and associated inflammation. It manifests as molecular derangement
followed by anatomical and physiological alterations, characterized by
cartilage degradation, bone remodeling, formation of osteophytes, inflammation
of the joints and loss of normal joint function. Objective: To review
the literature evaluating the influence of physical therapy on the treatment of
individuals with knee OA and its impact on quality of life, identifying the
different treatments for knee OA. Methods: A literature review study was
carried out in the Pubmed, Pedro, Scielo
and Cochrane Library databases, with clinical trials with publication date from
2014 to 2018 with the keywords: osteoarthritis of knee, physical therapy and
quality of life. Patients with a diagnosis of knee OA, >50
years, of both genders, who reported information on treatment and quality of
life, were chosen. Results: We selected 12 articles on 224 for analysis.
Conclusion: Studies demonstrated the efficacy of exercise and education
in improving the symptoms of osteoarthritis, such as pain, improvement of
physical function and quality of life.
Keywords: knee osteoarthritis, physical therapy, quality of life.
A osteoartrite (OA) é
um distúrbio articular, caracterizado por estresse celular e degradação da
matriz extracelular iniciada por lesões que ativam respostas de reparo
inadaptadas, incluindo caminhos pró-inflamatórios de imunidade inata [1].
Manifesta-se como um desarranjo molecular seguido de alterações anatômicas e
fisiológicas, caracterizadas por degradação da cartilagem, remodelação óssea,
formação de osteófitos, inflamação das articulações e
perda da função articular normal [1]. Apresenta-se entre 44% e 70% dos
indivíduos acima de 50 anos de idade, e na faixa etária acima de 75 anos chega
a 85% [2].
A OA não tem cura,
porém o tratamento deve ser individualizado, visando manejo da dor, amplitude
de movimento articular e recuperação e manutenção da função [3]. Através da
fisioterapia e terapias alternativas, podem-se proporcionar melhorias na dor e
manutenção da função articular, o que reflete principalmente no ganho de
qualidade de vida [2]. Mesmo com a efetividade de exercícios que vem sendo
demonstrada estatisticamente, sendo melhor ou equivalente a alguns medicamentos
comumente prescritos, seu efeito em relação à dor e função continua sem grandes
evidências. É possível que nem todas as opções terapêuticas tenham sido
exploradas e pesquisadas e que resultados melhores ainda possam ser alcançados
[4].
Segundo o Guideline publicado pela Ostheoarthritis
Research Society International
(OARSI) que avaliou a relação de eficiência de diversos tratamentos para
OA, recomenda-se principalmente as intervenções biomecânicas, manejo do peso,
autocuidado e educação do paciente. Também foram pesquisados e recomendados a
acupuntura, o ultrassom e a Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS), porém com evidências pouco
conclusivas em relação aos seus benefícios [5].
O propósito desta
pesquisa foi realizar uma revisão da literatura, avaliando a influência da
fisioterapia no tratamento dos indivíduos com OA de joelho, quanto ao seu
impacto na qualidade de vida, identificando os diferentes tratamentos para OA
de joelho.
Uma pesquisa na
literatura online foi realizada utilizando Pubmed,
base de dados Pedro, Scielo e Biblioteca Cochrame, com base nas diretrizes da prática clínica para
osteoartrose OARSI [1], com data de publicação de 2014 a 2018. Esta
investigação envolveu a busca por artigos selecionados de acordo com as
diretrizes do PRISMA [6] seguindo suas normas, foi pesquisado por
palavras-chave contendo os termos osteoartrose de joelho, fisioterapia e
qualidade de vida. As pesquisas foram limitadas a estudos publicados na língua
inglesa e portuguesa, que incluíram participantes com idade superior a 50 anos,
com um diagnóstico de osteoartrose de joelho conforme os critérios de American
College of Rheumatology ou que se autodeclararam com OA de joelho
com base na dor na articulação crônica (com ou sem confirmação radiográfica)
foram incluídos.
Para a seleção dos artigos
científicos, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: apresentar
informações no estudo sobre indivíduos acometidos pela osteoartrose, idade
superior a 50 anos, de ambos os gêneros, relatar informações sobre os
tratamentos fisioterapêuticos e seu impacto na qualidade de vida no tratamento
da doença. Foram excluídos os estudos em que os indivíduos haviam feito algum
tipo de tratamento cirúrgico, indivíduos com comprometimento neurológico e
cognitivo, relatórios de estudos, OA de joelho traumática ou pós-cirurgia.
Procedimentos de coleta
de dados
Foi utilizado como
critério de seleção dos artigos, conforme o diagrama de fluxo das diretrizes do
PRISMA apresentado na (Figura 1), na qual os estudos foram separados nos
critérios de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos.
Na primeira etapa da
investigação, realizou-se um levantamento de artigos encontrados com as
palavras-chave propostas nas bases de dados anteriormente mencionadas; em uma
segunda etapa, ocorreu uma leitura e seleção criteriosa dos artigos e a
formação de um banco de dados sistematizado, nessa etapa, os dados de todos os
artigos incluídos foram coletados e armazenados em novo banco de dados.
Os artigos foram
agrupados por similaridade de população e resultados, de forma que se
caracterizou a publicação científica que se associasse à temática. Na etapa de
análise, esses dados foram debatidos conforme a literatura pertinente, no
sentido de estabelecer consensos e pontos divergentes na literatura e produzir
um resumo crítico sintetizando as informações disponibilizadas pelos artigos
coletados.
Figura 1 - Diagrama de fluxo
nas diretrizes PRISMA 2009.
Após análise com base
na elegibilidade e menor risco de vieses foram selecionados 12 artigos para o
presente estudo. Dados gerais sobre os estudos incluídos nesta revisão
sistemática estão demonstrados no Quadro 1, usando as seguintes informações:
autor, amostra, técnica aplicada, tempo de aplicação, ferramenta de avaliação,
e desfecho.
Quadro 1 - Estudos incluídos
na pesquisa.
Este estudo de revisão
incluiu 12 ensaios clínicos randomizados, com um total de 939 indivíduos com
diagnóstico de osteoartrose de joelho, apresentando grande variedade de
ferramentas de avaliação, e uma ampla variedade de exercícios para o tratamento
conservador desta patologia em indivíduos com idade superior a 50 anos de
idade, a fim de observar os benefícios das terapias para alívio da dor, melhora
da função física e qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde estima que
25% dos indivíduos com mais de 65 anos sofrem de dor e deficiências associadas
com osteoartrose [19].
O presente estudo de
revisão sobre o uso de recursos terapêuticos em indivíduos com osteoartrose de
joelho demonstrou que o uso frequente de programas de exercícios terapêuticos
como forma de tratamento obteve um resultado bastante eficiente, já que os
artigos classificados relataram, em seus resultados, a melhora dos sintomas
clínicos referentes à dor, à função física e à mobilidade. Isso possivelmente
refletiu de forma direta na qualidade de vida dos indivíduos acometidos por
essa doença [2].
O fortalecimento com
exercícios resistidos foi aplicado em 8 estudos [7,9,10,12-14,16,18], de forma
isolada ou associada a outras técnicas. Para Jiménez et al. [20], o treino de
força e educação do paciente melhoram a função e qualidade de vida. Também
foram utilizados em 2 artigos métodos de educação em saúde aos indivíduos
participantes [8,10], exercícios aquáticos com técnicas combinadas [10,12] e
exercícios domiciliares com uso de eletroestimulação, com ou sem acompanhamento
[17]. Segundo a OARSI, a atividade física de fortalecimento, independente do
meio utilizado, e a educação do paciente são métodos eficazes e seguros no
tratamento da osteoartrose [5]. O instrumento de avaliação mais utilizado foi o
questionário de dor e testes de função o Western Ontario and
McMaster Universities Osteoarthritis (WOMAC), aplicada em 5 artigos
[7,8,19,11,16], que também foi utilizado por estudos de Dobson
et al. [21] e Bennell et al [22].
A dor está entre as
principais causas de deficiência em pacientes com OA e sua melhora constitui um
dos principais objetivos dos tratamentos propostos [20]. Os estudos que
utilizaram técnicas ativas, de fortalecimento, com envolvimento do paciente e
educação tiveram impacto direto na qualidade de vida dos indivíduos. No estudo
de Elbadawy et al. [17], no qual foram
avaliados 60 indivíduos que realizaram um programa de exercícios domiciliares +
TENS (1x semana durante o período de 10 semanas), obtiveram como resultados,
uma redução significativa na dor e melhora na escala de Knee
and Osteoarthritis Outcome Score (KOOS), corroborando o estudo de Saw et al. [23] no qual demonstraram que exercícios
físicos associados à educação em saúde tem efeito significativo na qualidade de
vida à longo prazo. O mesmo se mostra no estudo de
Almeida et al. [24], no qual há resultados significativos quanto à
redução da dor e melhora da mobilidade articular em grupos de pacientes idosas
que realizaram cinesioterapia e eletrotermoterapia.
Um dos estudos
selecionados avaliou a eficiência da bandagem elástica no tratamento da OA, não
tendo melhora dos sintomas, o que corrobora o estudo de Wageck
et al. [25] que afirma não ter efeitos benéficos no uso da bandagem
elástica para a OA de joelho. Dois estudos utilizaram o meio aquático para o
tratamento. No estudo de Kumpel et al. [26],
houve melhora significante da amplitude de movimento ao realizar flexão dos
joelhos acometidos, diminuição significativa da dor e melhora significante na
capacidade de realização das atividades de vida diária, através de um programa
aquático elaborado de 15 sessões, 2 vezes por semana. Os autores indicam que os
efeitos fisiológicos pela imersão são o diferencial da hidroterapia.
Além disso, o exame
físico é muito importante, pois permite aos profissionais de saúde a detecção
do aumento de volume da articulação, a atrofia do quadríceps, e a mobilização
patelar; realizar os testes articulares, avaliações de força muscular e a
amplitude de movimento que pode estar parcialmente ou totalmente limitada,
apresentando crepitação perceptível à palpação quando realizado movimento de flexo-extensão do joelho [2]. Fransen
et al. [27] ainda complementa em seu estudo a necessidade de mais
investigações relacionadas ao tratamento da OA, quanto ao nível de dor,
amplitude de movimento (ADM) e o índice de massa corporal (IMC) como influência
dessas abordagens. As questões e respostas a essas terapias continuam merecendo
uma atenção da comunidade científica, uma vez que as evidências físicas
reabilitação são muitas vezes sem evidência.
Pôde-se constatar por
esta revisão que os estudos demonstraram grande eficiência quanto ao uso de
exercícios terapêuticos e pela educação como forma de tratamento, na melhora
dos sintomas decorrentes da osteoartrose, como: dor, melhora da função física e
qualidade de vida, porém, não há um consenso quanto aos parâmetros de
aplicação, como intensidade e duração de cada tipo de exercício. As terapias
apresentadas neste estudo continuam a merecer atenção da comunidade científica,
uma vez que a evidência sobre a reabilitação é escassa.
Este estudo tem
limitações pelo fato de haver poucos estudos incluídos, que podem não permitir
que os resultados sejam generalizados, esta questão continua a ser examinada no
futuro.