ARTIGO
ORIGINAL
Aplicação
do MiniBESTest para avaliar
o equilíbrio de pacientes obesos submetidos à cirurgia bariátrica
MiniBESTest application to
assess the balance of obese patients undergoing bariatric surgery
Paula Santana dos
Anjos*, Raquel de Paula Carvalho, D.Sc.**,
Michel Bastouly***, Helga
Tatiana Tucci**
*Terapeuta
Ocupacional, Mestranda do Programa Interdisciplinar em Ciências da Saúde,
Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, **Docente da
Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, ***Médico Cirurgião
Bariátrico, Serviço de Cirurgia Geral/Setor de Cirurgia Bariátrica da Santa
Casa de Misericórdia de Santos
Recebido em 16 de
abril de 2017; aceito em 10 de outubro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Paula Santana dos Anjos, Rua Silva Jardim, 136, 11015-020 Santos SP, E-mail:
paula.anjos_to@hotmail.com; Raquel de Paula Carvalho:
raquelpcarvalho@gmail.com; Michel Bastouly:
bastoulymichel@hotmail.com; Helga Tatiana Tucci: helgatucci@gmail.com
Resumo
Introdução: A obesidade pode
ocasionar alterações morfológicas que comprometem o controle postural. A
cirurgia bariátrica é considerada uma das opções de tratamento. Objetivo: Analisar, através do MiniBESTest, se a mudança na massa
corporal influencia no equilíbrio postural de obesos submetidos à cirurgia
bariátrica. Métodos: Neste estudo de
coorte transversal com amostra por conveniência, 24 voluntários foram divididos
em Grupo Obeso (GO; indivíduos com obesidade grau II e III); Grupo Sobrepeso
(GS; indivíduos com sobrepeso) e Grupo Eutrófico (GE;
indivíduos eutróficos). Esta pesquisa compreendeu 2 etapas. Na Etapa I, os voluntários foram submetidos à
avaliação física seguida da avaliação do equilíbrio postural (MiniBESTest).
Na Etapa II, as avaliações da Etapa I foram feitas no
GO 30 dias após cirurgia bariátrica. As variáveis peso, idade, altura, relação
cintura-quadril, índice de massa corporal (IMC) e pontuação do MiniBESTest
foram comparadas entre grupos pela Análise de Variância seguido do teste de
comparações múltiplas de Bonferroni.
Resultados: O GO apresentou peso e
IMC maiores na Etapa I comparado aos demais grupos, assim como relação
cintura-quadril maior em comparação ao GE. Conclusão:
Os resultados mostram que a perda de massa corporal um mês após a cirurgia
bariátrica não influenciou o equilíbrio de obesos avaliado pelo MiniBESTest.
Palavras-chave: obesidade,
equilíbrio postural, cirurgia bariátrica.
Abstract
Introduction: Obesity can cause morphological alterations in the body that
compromise postural control. Bariatric surgery is considered one treatment for
obesity. Objective: To analyze
through MiniBESTest the effects that change in the
body mass could have on postural balance in obese submitted to bariatric surgery.
Methods: In this cross-sectional
cohort study with sample for convenience, 24 volunteers were divided into Obese
Group (OG, individuals with grade II and III obesity); Overweight group (OG,
overweight individuals) and Eutrophic Group (EG, eutrophic individuals). This
research comprised two Stages. In Stage I, volunteers were submitted to
physical evaluation followed by postural balance evaluation (MiniBESTest). In Step II, same evaluations done in Step I
was repeated in OG 30 days after surgery. Mean values and standard deviation of
weight, age, height, waist-to-hip ratio, body mass index and score of MiniBESTest were compared between groups by the Analysis of
Variance followed by Bonferroni multiple comparisons.
Results: Before surgery, OG showed
greater values of weight and BMI compared to the other groups, and greater
value of waist-to-hip ratio compared to EG. Conclusion:
Results showed that the loss of body weight 30 days after surgery not
influenced the postural balance of obese evaluated by MiniBESTest.
Key-words: obesity,
postural balance, bariatric surgery.
A obesidade é uma
doença crônica degenerativa multifatorial, caracterizada por um acúmulo
excessivo de gordura corporal distribuída irregularmente pelo corpo, com
predomínio na região abdominal [1]. O critério clínico mais utilizado para
diagnosticar a obesidade é feito através da determinação do índice de massa
corporal (IMC), que é calculado pela divisão do peso (kg) do indivíduo pelo
quadrado de sua altura (m), sendo considerado obeso o indivíduo que apresentar
IMC acima de 30 kg/m² [2].
Dados do Ministério
da Saúde referentes ao ano de 2013 mostraram que 51% da população brasileira
acima de 18 anos está acima do peso e que 17,5% desta população é obesa [3]. No Estado de São Paulo, mais da metade da
população apresenta excesso de peso, sendo a faixa etária mais acometida entre
45 e 64 anos, de ambos os gêneros e com menor nível de escolaridade [4].
Entre as possíveis
causas da obesidade estão os fatores genéticos, hábitos alimentares e
disfunções endócrinas, consumo de esteroides e hipotireoidismo [2]. A
reeducação alimentar e prática de exercícios físicos são considerados
tratamentos iniciais para a perda de peso corporal [5]. Entretanto, pessoas
obesas podem ter dificuldade para perder peso através dessas intervenções
conservadoras, recorrendo à intervenção cirúrgica [6]. Em 2014, 88 mil pessoas
se submeteram ao tratamento cirúrgico no Brasil [7].
Além da perda de
peso, melhorar a qualidade de vida das pessoas e reduzir os riscos associados à
obesidade, a literatura também mostra que, após seis meses de cirurgia
bariátrica, pacientes relatam redução de dor na coluna e em membros inferiores
[8]. Além disso, a diminuição da sobrecarga nos membros inferiores destes
pacientes após a perda de peso melhora a deambulação e diminui o risco de
quedas [9]. Pesquisas também mostram que obesos apresentam alterações
musculoesqueléticas, como joelho valgo, pé plano, hiperlordose
lombar, ombros caídos, hipercifose torácica,
escápulas aladas, abdome protruso, anteversão pélvica, entre outras que interferem diretamente
na morfologia e na biomecânica corporal [10,11].
Essas modificações na
biomecânica corporal podem ocasionar alterações no centro de massa e, portanto,
no controle postural [11]. Estudos observaram que indivíduos com obesidade
mórbida apresentam maior oscilação médio-lateral que eutróficos,
podendo ocasionar um desequilíbrio corporal e, consequentemente, maior risco de
queda quando comparados com não obesos [12,13]. A literatura mostra que a perda
de peso após cirurgia bariátrica altera a pressão plantar média, reduzindo a
sobrecarga nos membros inferiores e prevenindo alterações funcionais e
estruturais nos pés [14]. Obesos também apresentam alterações do centro de
pressão e dos limites de estabilidade anteriores quando comparadas a eutróficos, resultando numa adaptação funcional do controle
da postura ereta [15]. Pessoas obesas projetam mais anteriormente o centro de
pressão ao realizarem tarefa de alcance quando comparados aos eutróficos [12]. Além disso, idosas obesas oscilam mais
comparadas a eutrófico e permanecem menos tempo na
zona de estabilidade postural [16]. Já adolescentes obesos apresentam maior
fase de balanço na marcha em velocidade rápida, estratégia adaptativa para
preservar o equilíbrio na velocidade de progressão, observando-se, assim, que o
aumento de peso causa adaptações no controle postural estático e dinâmico [17].
Além disso, pessoas
obesas possuem uma maior oscilação corporal anteroposterior [15], que pode ser
justificado pelo fato do acúmulo da gordura abdominal deslocar o centro de
massa anterior à articulação do tornozelo, influenciando na instabilidade
postural [13]. Desta forma, considerando que o excesso de peso pode interferir
na manutenção do equilíbrio corporal e alterar o centro de massa é esperada uma
melhora do equilíbrio após a perda significativa de peso.
Entre os testes
utilizados na prática clínica para avaliar o equilíbrio, pode ser citado o MiniBESTest,
que permite analisar de maneira rápida e confiável alterações do constructo
equilíbrio dinâmico [18]. Este teste foi traduzido e teve sua adaptação
transcultural feita para a Língua Portuguesa do Brasil, o que o torna
recomendado para avaliações clínicas no Brasil [18]. Avaliações de equilíbrio
feitas em plataforma de força e por análise cinemática são consideradas
fidedignas para este tipo de avaliação e pesquisas utilizando estas ferramentas
observaram alterações no equilíbrio postural de obesos em comparação a pessoas
com sobrepeso e eutróficas [12,14-17]. Entretanto,
estas ferramentas são caras e de não fácil acesso, assim como não são de uso
corriqueiro em clínicas de reabilitação. Desta forma, testes clínicos de baixo
custo e rápidos de serem aplicados aos pacientes e que consigam avaliar o
equilíbrio desta população em ambientes clínicos são ferramentas clínicas
importantes para complementar a avaliação física
destes pacientes.
Considerando que o
excesso de peso pode alterar o equilíbrio postural dos obesos e que a cirurgia
bariátrica promove grande perda de peso, surgiu o questionamento se a possível
melhora do equilíbrio concomitante à diminuição da massa corporal poderia ser
observada em obesos através de um teste clínico de baixo custo. Desta forma, o
objetivo desta pesquisa é analisar, através do MiniBESTest,
se a mudança na massa corporal influência no equilíbrio postural de obesos
submetidos à cirurgia bariátrica. A hipótese desta pesquisa é que haverá um
aumento na pontuação do MiniBESTest para o grupo
obeso após a realização da cirurgia bariátrica, indicando melhora do equilíbrio
postural.
Trata-se de um de um
estudo de coorte transversal e foi composto por uma amostra não probabilística
de conveniência de 24 voluntários entre 18 e 60 anos, de ambos os sexos,
divididos em três grupos: Grupo Obeso (GO; n = 8): voluntários com obesidade grau
II associada à comorbidades ou obesidade grau III com
ou sem comorbidades, encaminhados à cirurgia
bariátrica do tipo Bypass
Gástrico; Grupo Sobrepeso (GS; n = 8): voluntários com sobrepeso e Grupo Eutrófico (GE; n = 8): voluntários eutróficos.
As amostras dos grupos GS e GE foram pareadas com o GO em relação à altura,
idade e sexo (tabela 1). Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética sob parecer nº 664.970.
Os critérios de
exclusão desta pesquisa foram presença de deformidades ou disfunções
musculoesqueléticas que interferiam no equilíbrio, disfunções neurológicas,
problemas vestibulares, problemas com a visão não corrigível com óculos ou
lentes de contato, uso de órteses para deambulação, participar de um programa
de atividade física nos últimos 12 meses, gravidez e problemas cognitivos. O
estudo teve como critérios de descontinuidade a não realização do teste
proposto e os voluntários do GO que não retornaram para a avaliação.
Delineamento
experimental e recrutamento
O estudo é um coorte transversal composto por uma amostra não
probabilística de conveniência composta de voluntários entre 18 e 60 anos de
ambos os sexos. O delineamento do projeto compreendeu uma ou duas etapas,
dependendo do grupo avaliado. As avaliações foram realizadas sempre pelo mesmo
avaliador. O grupo obeso realizou as avaliações duas vezes, sendo uma entre 30
dias antes da intervenção cirúrgica e outra um mês após a intervenção
cirúrgica. Os grupos sobrepeso e eutrófico realizaram
as avaliações apenas uma vez. Os pacientes com indicação de cirurgia bariátrica
foram avaliados e acompanhados por um médico clínico geral e cirurgião
bariátrico durante o estudo.
O médico fez o
encaminhamento dos pacientes obesos, com o perfil dentro dos critérios de
inclusão, que se interessaram em participar da
pesquisa. As pessoas do grupo sobrepeso e eutrófico
foram contatadas via e-mail, telefone ou contato pessoal.
Procedimento
experimental
Em virtude do
delineamento deste estudo, o procedimento experimental foi dividido em duas
etapas. A Etapa I compreendeu a Avaliação Física e coleta inicial de dados dos
voluntários de todos os grupos. Primeiramente, o procedimento experimental e o
objetivo da pesquisa foram expostos aos voluntários que, conforme aceitaram
participar do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Em seguida, os voluntários foram submetidos a uma avaliação cinético-funcional
para confirmar os critérios de inclusão. Em seguida, foi realizada a medida da perimetria abdominal e do quadril. A mensuração do
perímetro da cintura foi feita através de uma fita métrica inelástica,
posicionada na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca
[19]. A circunferência do quadril foi realizada com a fita métrica posicionada
na área de maior protuberância glútea [19]. Essas duas medidas originaram a
obtenção do indicador razão cintura-quadril. Os valores considerados como
referência de normalidade da razão cintura-quadril é de até 0,95 para homens e
0,80 para mulheres [20].
Por fim, a última
avaliação feita na Etapa I foi a aplicação do MiniBESTest,
teste clínico utilizado para avaliar o equilíbrio dinâmico. O tempo necessário
para a aplicação do teste é entre 10 e 15 minutos, o que o torna bastante
viável na prática clínica. O MiniBESTest possui 14
itens sobre a avaliação do constructo equilíbrio dinâmico. Os itens são
pontuados de zero a dois, sendo a pontuação máxima 28 e a mínima 0 e, quanto maior a pontuação, melhor o equilíbrio [18].
Apenas os voluntários
do GO participaram da Etapa II do delineamento experimental. Após 30 dias da
realização da cirurgia bariátrica, os participantes foram novamente submetidos
à avaliação da perimetria do quadril, perimetria abdominal e a aplicação do MiniBESTest. O mesmo avaliador da Etapa I refez as
avaliações.
Análise
de dados
O MiniBESTest
teve seus valores calculados para cada grupo pela somatória dos valores obtidos
nos itens constantes no teste, que poderiam totalizar até 28 pontos. Os valores
obtidos do MiniBESTest realizado na Etapa I foram comparados
intergrupos com o objetivo de avaliar se havia diferença na pontuação do teste
entre os três grupos. Também foi feita uma segunda comparação intergrupos com
os valores obtidos na Etapa II do GO com os valores obtidos da Etapa I do GS e
GE. Desta forma, foi possível avaliar, dentro da amostra desta pesquisa, se o
aumento de peso corporal influenciou no equilíbrio dinâmico dos obesos em pré-cirurgia através da pontuação do teste. Além disso, uma
comparação intragrupo com a pontuação do MiniBESTest
foi realizada no GO com o objetivo de comparar a pontuação do teste antes e um
mês após a cirurgia bariátrica.
Da mesma forma que a
pontuação do MiniBESTest, o peso, o IMC e relação cintura quadril
obtidos na Etapa I também foram comparados intergrupos. Também foi feita uma
segunda comparação intergrupos com os valores obtidos na Etapa II do GO com os
valores obtidos da Etapa I do GS e GE. Por fim, estas variáveis foram
comparadas no GO antes e após a cirurgia bariátrica.
Os dados obtidos
foram agrupados em valores médios e desvios-padrão para posterior análise
estatística. Após a verificação da normalidade dos dados, as variáveis peso,
idade, altura, índice de massa corporal, relação cintura-quadril e a pontuação
do MiniBESTest
foram comparadas entre os grupos pelo teste estatístico Análise de Variância
(ANOVA), seguido de comparações múltiplas de Bonferroni.
O nível se significância foi estipulado em a = 0,05. A análise
estatística foi realizada no programa SPSS19.
Inicialmente, foram
contatados 32 pacientes. Desses, 15 indivíduos obesos candidatos à cirurgia
bariátrica aceitaram participar da pesquisa. Porém, apenas 8
retornaram para a reavaliação feita 30 dias após o procedimento cirúrgico. O
tempo de triagem e avaliação destes voluntários compreendeu um período de 12
meses.
As características
antropométricas dos grupos avaliados estão descritas na Tabela I. Os resultados
mostraram que houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos
apenas para o peso e para o índice de massa corporal (IMC). O GO apresentou
peso e IMC maiores quando comparados aos valores obtidos dos grupos GS e GE,
tanto antes quanto após a cirurgia.
Tabela
I - Caracterização da amostra.
A relação
cintura-quadril e a pontuação total do MiniBESTest
dos grupos avaliados estão descritas na Tabela II. O valor da relação
cintura-quadril no GO antes da cirurgia foi maior em comparação com o grupo eutrófico.
Tabela
II -
Características antropométricas e valores
médios (desvios-padrão) da pontuação total do MiniBESTest e da relação cintura-quadril nos grupos
avaliados.
* = obesos pré-cirurgia>sobrepeso e eutrófico;
& = sobrepeso<obesos pré-cirurgia e obesos
pós-cirurgia; ¥ = eutrófico<obesos pré-cirurgia e obesos pós-cirurgia; € = obesos
pós-cirurgia>sobrepeso e eutrófico; a
= obesos pré-cirurgia>sobrepeso e eutrófico; β = sobrepeso<obesos pré-cirurgia
e obesos pós-cirurgia; ●
= eutrófico<obesos pré-cirurgia
e obesos pós-cirurgia; @ = obesos pós-cirurgia>sobrepeso e eutrófico; § = obesos pré-cirurgia>eutróficos.
O objetivo desta
pesquisa foi analisar os efeitos que a mudança na massa corporal possui sobre o
equilíbrio postural em obesos submetidos à cirurgia bariátrica através da
aplicação do MiniBESTest. A hipótese do trabalho de que os obesos
após serem submetidos à cirurgia bariátrica apresentariam uma pontuação maior
no teste não foi comprovada.
Não houve diferença
estatisticamente significativa de peso entre os indivíduos antes e depois da
cirurgia bariátrica. Porém, a média de perda de peso desses indivíduos foi de
12,3 kg em até 30 dias após a cirurgia, valor considerado dentro do previsto,
visto que a literatura mostra que a perda de peso no primeiro mês pós-cirurgia é
cerca de 8% do peso corporal [1].
As diferenças de peso
e IMC apresentadas nos resultados são esperadas. Para calcular a categoria de
peso de cada indivíduo é necessário calcular o IMC através da divisão do peso
(kg) do indivíduo pelo quadrado de sua altura (m) [19]. A não diferença entre
altura e idade também pode ser justificada devido ao fato da amostra ter sido
pareada, visto que esses dois fatores podem interferir na altura do Centro de
Massa (CM) e, consequentemente, na manutenção do equilíbrio corporal [11].
Esses resultados garantiram que o procedimento experimental tivesse grupos
adequados para as comparações feitas com os resultados do MiniBESTest.
A ausência de
diferença entre os valores de IMC dos indivíduos eutróficos
com os de sobrepeso pode ser justificada pelo fato de alguns voluntários
apresentarem IMC na faixa limite, tanto inferior quanto superior, das
categorias a que pertencia, pois para o indivíduo ser considerado eutrófico seu IMC deve estar entre 18,5-24,9 kg/m², com sobrepeso
o IMC varia entre 25-29,9 kg/m² [20]. Desta forma, é possível observar que a
faixa superior de IMC do indivíduo eutrófico é muito
próxima da faixa de IMC inferior do indivíduo com sobrepeso.
Os resultados deste
estudo mostraram que apenas o grupo eutrófico
apresentou a relação cintura-quadril menor quando comparado aos obesos pré-cirurgia. Entretanto, é possível observar que a relação
cintura-quadril de todos os grupos estudados foi acima do valor considerado
adequado [21]. Uma das possíveis justificativas é o nível de atividade física
da amostra e o percentual maior de mulheres. Entre os 24 voluntários do estudo,
todos eram não praticantes de atividade física e 21 voluntários eram do sexo
feminino. Segundo Rivas e Adries Júnior [16], as
mulheres têm um acúmulo de gordura maior na região ventral, coxas, quadris,
abdômen e seios. Estas considerações de acúmulo de adiposidade na região
abdominal em mulheres, associado ao fato das mulheres recrutadas não praticarem
atividade física, pode justificar os achados. Apesar do valor da relação
cintura-quadril não classificar o indivíduo em obeso, sobrepeso ou eutrófico, um indivíduo eutrófico
que apresenta esta relação acima do considerado adequado é preocupante, pois
esta medida pode predizer o excesso de gordura visceral e o risco de doenças
cardiovasculares [23].
Em relação a não
diferença estatisticamente significativa no resultado do MiniBESTest,
é importante ressaltar que, até o presente momento e onde os autores tem
conhecimento pela última revisão realizada, este estudo é o primeiro a
investigar o equilíbrio em obesos submetidos à cirurgia bariátrica utilizando o
MiniBESTest.
Desta forma, não foi possível comparar os resultados com achados prévios na
literatura. Entretanto, estudos utilizando outras ferramentas, como a
plataforma de força e a análise cinemática, observaram alterações no equilíbrio
postural nesta população quando comparada a pessoas com sobrepeso e eutróficas [12,14-17].
Porém, mesmo sem
apresentar diferença estatisticamente significativa na pontuação do MiniBESTest,
a maioria dos pacientes obesos antes da cirurgia bariátrica apresentou
dificuldades em três tarefas do teste, representadas pelos itens “5 – Passo
Compensatório para Trás”, “8 – Olhos fechados, superfície de espuma (pés
juntos)” e “14 - “Get up & go”
cronometrado (TUG) com dupla tarefa”. Após a cirurgia, houve aumento na
pontuação da maioria dos voluntários obesos, sendo apresentadas dificuldades
apenas no item “14 - “Get up & go” cronometrado (TUG) com dupla tarefa”. Já nos GS, a
maioria dos voluntários apresentou dificuldade nos itens “13 – Passar sobre
obstáculos” e “14 - “Get up & go” cronometrado (TUG) com dupla tarefa” e nos
voluntários do GE a dificuldade foi observada apenas na “14 - “Get up & go” cronometrado
(TUG) com dupla tarefa”. Estes resultados permitem observar que, após a perda
de peso corporal, os indivíduos obesos tiveram uma melhora na realização das
tarefas, aproximando-se dos resultados obtidos nos grupos sobrepeso e eutrófico.
Desta forma, algumas
considerações podem ser feitas para a ausência de resultados estatisticamente
significativos do MiniBESTest.
O tamanho da amostra pode ter influenciado os resultados. Considerando que as
pessoas avaliadas nesta pesquisa não possuem problemas visuais não corrigíveis
por lentes, não possuem problemas vestibulares e considerando as alterações
biomecânicas que a obesidade pode causar no sistema musculoesquelético, a
alteração no equilíbrio corporal em obesos poderia estar relacionada ao sistema
somatossensorial.
Desta forma,
pesquisas sobre alterações biomecânicas decorrentes do sistema somatossensorial nesta população, associado a testes
clínicos de equilíbrio postural seriam importantes para auxiliar em questões
clínicas e científicas sobre o assunto. Uma segunda justificativa para a não
diferença nos resultados é que o MiniBESTest, por ser uma
versão reduzida do BESTest, avalia apenas itens
relacionados ao equilíbrio dinâmico, não permitindo a identificação de qual
subsistema poderia influenciar no equilíbrio[18]. Assim, pode ser sugerido que
a aplicação do BESTest, ferramenta da qual o MiniBESTest foi originado, seria
uma melhor alternativa para avaliar o equilíbrio de obesos, pois permite
identificar os subsistemas do controle postural responsáveis pela alteração do
equilíbrio.
Este estudo apresenta
algumas limitações. Apesar do período de recrutamento ter sido de 16 meses o
tamanho amostral do grupo obeso é pequeno e foi decorrente do número restrito
de participantes que aderiram ao projeto. Tem-se também, como possível fator
limitante, o tempo de reaplicação do teste nos indivíduos submetidos ao
procedimento cirúrgico. Assim, o tamanho amostral e o intervalo de 30 dias após
a realização da cirurgia bariátrica podem ter influenciado os resultados do
teste de equilíbrio. Outra possível limitação é ter sido usado MiniBESTest,
versão reduzida do BESTest.
Desta forma, novos estudos com o MiniBESTest utilizando uma
amostra maior e com a reavaliação considerando mais de um período de tempo pós-operatório
seriam necessários. Além disso, estudos que analisam o equilíbrio de obesos
aplicando o BESTest poderiam auxiliar na identificação do sistema
responsável pelo equilíbrio que apresenta déficit nesta população, visto que a
possibilidade do sistema somatossensorial interferir
no equilíbrio em obesos é possivelmente maior.
Conclusão
Os resultados
permitem concluir que não houve diferença na pontuação do MiniBESTest
entre os grupos avaliados, ou seja, a perda de massa corporal um mês após a
cirurgia bariátrica não influenciou o equilíbrio de pacientes obesos avaliado
pela ferramenta clínica MiniBESTest.
Entretanto, os resultados precisam ser observados com cautela, visto que o
estudo apresenta limitações.
Referências