ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
clínico de pacientes submetidos à ventilação mecânica em uma unidade de pronto
atendimento da região central do Rio Grande do Sul
Clinical
profile of patients submitted to mechanical ventilation in an emergency care
unit of the central region of Rio Grande do Sul
Mainara Antunes de Freitas,
Ft.*, Bárbara Lago Aragones, Ft.**, Caren Schlottfeldt Fleck, Ft., M.Sc.***
*Pós-graduanda
em Atenção ao Paciente Crítico: Urgência, Emergência e UTI, pelo Centro
Universitário Internacional, Santana do Livramento/RS, **Pós-graduanda em
Reabilitação Físico-Motora com ênfase em Distúrbios Cardiorrespiratórios, pela
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, ***Docente da Universidade
Franciscana, Santa Maria/RS
Recebido em 1 de
fevereiro de 2019; aceito em 17 de junho de 2019.
Correspondência: Mainara
Antunes de Freitas, Rua Daciano Gomes Dias, 300,
97574-780 Santana do Livramento RS, E-mail: mainara.freitas@hotmail.com,
Bárbara Lago Aragones: barbaraaragones@hotmail.com; Caren Schlottfeldt Fleck: carenfleck@hotmail.com
Resumo
Introdução: A procura pelas
Unidades de Pronto Atendimento (UPA) vem em um crescente, com atendimento 24
horas e extremamente resolutivo. É um serviço importante na classificação de
atenção ao usuário, com grande rotatividade de pacientes. Objetivo: Traçar o perfil dos pacientes submetidos à ventilação
mecânica invasiva (VMI) que são internados na UPA na região central do estado. Métodos: Estudo quantitativo, com
análise descritiva de prontuários de pacientes internados na UPA submetidos à
VMI, no período de fevereiro a junho de 2017. Resultados: Amostra de 14 prontuários, 57,2% (n = 8) do sexo
feminino e 64,3% (n = 9) com idade superior a 60 anos. O diagnóstico inicial
mais frequente foram as complicações respiratórias 62% (n = 13). Entre
patologias de base, a hipertensão arterial sistêmica teve maior incidência 36%
(n = 9). Quanto às manifestações clínicas no momento da intubação, a mais
frequente foi a hipoxemia 33,4% (n = 4) e o principal motivo da intubação foi
rebaixamento de sensório 57,1% (n = 8). A permanência na unidade em 42,8% (n =
6) dos casos durou menos de 24 horas. Conclusão:
Predominaram pacientes mulheres idosas, apresentando como diagnóstico inicial
complicações respiratórias, tempo de permanência na unidade após VMI menos de
24 horas e a maioria dos prontuários sem prescrição de fisioterapia.
Palavras-chave: emergência,
fisioterapia, respiração artificial.
Abstract
Introduction:
The demand on Emergency Care Units (UPA) is increasing, with 24-hour service
and extremely resolute. It is an important service in the classification of
attention to the user, with great patient turnover. Objective: To outline the profile of patients undergoing invasive
mechanical ventilation (IMV) admitted to the UPA in the central region of Rio
Grande do Sul State. Methods:
Quantitative study, with descriptive analysis of medical records of patients
who underwent IMV admitted to the UPA, from February to June 2017. Results: A sample of 14 medical records, 57.2% (n = 8)
female and 64.3% (n = 9) aged over 60 years has been analyzed. The most
frequent initial diagnosis was respiratory complications 62% (n = 13). Among
the basic pathologies, systemic arterial hypertension had a higher incidence
with 36% (n = 9). Among the clinical manifestations at the time of intubation
the most frequent was hypoxemia (33.4%) (n = 4) and the main reason for
intubation was the low level of consciousness (n = 8). Unit stay in 42.8% (n =
6) of the cases lasted less than 24 hours. Conclusion:
Predominant old female patients, presenting as initial diagnosis respiratory
complications, length of stay in the unit after IMV less than 24 hours and most
of the medical records did not have physical therapy prescription.
Key-words: emergency
relief, emergencies, physical therapy specialty, respiration artificial.
O processo de
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) na prática tem sido um desafio,
pois o fluxo invertido entre a procura da rede básica e o de alta complexidade
resulta na superlotação dos serviços de urgência e emergência. A partir disso,
surgem as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs),
estabelecimento de complexidade intermediária com atendimento 24 horas e
extremamente resolutivo [1,2].
As UPAs
estão inseridas na Política Nacional de Urgência e Emergência (PNAU), aplicada
desde 2006, com a capacidade de organizar a rede de urgências, objetivando a
integração da atenção às urgências. O aumento da procura por este setor se dá
por apresentar atendimento especializado, como as consultas, acesso aos
medicamentos, procedimentos ambulatoriais, exames complementares, entre outras
possibilidades de oferta de serviços [3].
Atualmente, em
funcionamento no Brasil, há 520 UPAs e no estado do
Rio Grande do Sul há 20 instalações. Sendo a UPA da região central do estado,
um estabelecimento que presta serviço desde 2013, com classificação de porte
III, atinge um raio de 200.001 a 300.000 habitantes, com capacidade de atender
em média 500 pessoas ao dia, tanto em nível ambulatorial quanto emergências, sendo
direcionado pela classificação de risco ou trazidos pelo SAMU [4,5].
As intercorrências mais
atendidas nas unidades de urgência e emergência são as patologias respiratórias
(29,5%), seguido de doenças cardíacas (12,1%). As idades dos pacientes variam
entre 70 e 80 anos (21,8%) com predominância do sexo feminino (54,1%) de acordo
com a pesquisa realizada no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de
Goiás [6]. Outro estudo, realizado na UPA Rui Barbosa de Curitiba, também
avaliou o perfil sócio demográfico desse setor. A partir dos dados
observaram-se quais são as patologias que levaram à procura da unidade,
constatou-se que a pneumonia (48%), a angina (30%), o acidente vascular
encefálico (23%), a doença pulmonar obstrutiva crônica (18%) foram os mais
encontrados, e 7% evoluíram para ventilação mecânica invasiva. Nesta amostra
predominavam pacientes do sexo masculino (51%) de faixa etária entre 61 a 80
anos (44%) [7].
No setor de urgência e
emergência, a ventilação mecânica invasiva (VMI) é um dos métodos mais
utilizados em pacientes críticos que chegam a estas unidades, o que corrobora
ainda mais com a atuação do fisioterapeuta, pois estes poderão trabalhar com
pacientes mais críticos diminuindo as complicações, o tempo de intubação orotraqueal
e o tempo de internação [7,8].
A fisioterapia inserida
nas unidades de terapia intensiva atua dando assistência nas intubações,
utilização da ventilação mecânica não invasiva, ajustando parâmetros dos
ventiladores mecânicos, além de outras técnicas não invasivas o que corrobora
que este profissional deve estar presente nas equipes das unidades de pronto
atendimento [7].
No estudo realizado na
sala de emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição no município de Porto
Alegre/RS, que analisou a inserção do fisioterapeuta nas unidades de
emergência, os pacientes apresentavam em sua maioria complicações cardíacas e
pulmonares, situações nas quais o fisioterapeuta já atua. Além disso, dissertou
sobre o atendimento fisioterapêutico que vem a somar com a equipe
multiprofissional no suporte rápido e eficiente, evitando agravos no quadro
clínico, auxiliando na intubação e ventilação mecânica invasiva [8].
É a partir de estudos
sobre o perfil dos usuários que necessitam de VMI nas UPAs,
que se tem a possibilidade de estabelecer critérios de assistência a essa
população. Tendo o conhecimento destas situações, o referido estudo irá
permitir um melhor manejo do profissional com esses pacientes. Por ser uma
unidade importante na classificação da atenção ao usuário, ter grande
rotatividade de pacientes e de profissionais da área da saúde, justifica-se a
importância do desenvolvimento deste estudo, que tem como objetivo traçar o
perfil dos pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, internados na
Unidade de Pronto Atendimento na região central do estado.
Este estudo trata-se de
uma pesquisa de caráter quantitativa, com análise descritiva de prontuários da
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Maria, na região central do estado
do Rio Grande do Sul. O trabalho respeita as diretrizes regulamentadoras de
pesquisa com seres humanos, autorizado pela Comissão Científica do Hospital
Casa de Saúde (COMIC) e pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP)
do Centro Universitário Franciscano, com o CAAE nº 62734716.6.0000.5306 e
parecer número 1.877.235. A coleta de dados foi realizada diariamente pelo
pesquisador, nos turnos vespertino e noturno a fim de obter um retrato mais
fidedigno da unidade, bem como acompanhar o setor de grande rotatividade de
pacientes. Conduzido na sala de emergência da UPA de Santa Maria, no período de
fevereiro a junho de 2017.
A amostra do estudo foi
selecionada por conveniência, através dos prontuários de pacientes internados
na UPA submetidos à ventilação mecânica invasiva (VMI). Foram incluídos os
pacientes que estavam internados na UPA, com idade superior a 18 anos, que
necessitam de intubação orotraqueal e fazendo uso de VMI. Como critério de
exclusão constituiu pacientes internados que não fazem uso de VMI e que fazem
uso de ventilação mecânica não invasiva.
Foi elaborada uma ficha
para coleta de dados, em que o levantamento ocorreu em um único momento da
internação, direto e exclusivamente do prontuário, sendo acompanhado somente
para concluir o tempo de permanência na unidade. As informações estão relacionadas
ao perfil sociodemográfico (gênero e idade); qual o diagnóstico inicial; doença
de base diagnosticada previamente; a necessidade de oxigenoterapia anterior à
VMI; a solicitação de exames e quais são eles, dentro do período de 24 horas
após VMI; quais manifestações clínicas apresentadas no momento da intubação; o
motivo da intubação orotraqueal; a escala de Glasgow no momento da intubação;
seu tempo de permanência de VMI na unidade; prescrição de fisioterapia e qual o
meio de deslocamento até a unidade (SAMU ou por meios próprios).
Foram avaliados 14
prontuários de usuários da referida UPA, destacando que a maioria dos sujeitos
são do sexo feminino (57,1%) e estão alocados na faixa etária superior a 60
anos (64,3%), conforme a Tabela I.
Tabela I – Gênero e faixa etária.
No que se refere ao
meio de deslocamento até a unidade, 50% da amostra utilizou o serviço do SAMU e
o restante por meios próprios. Em relação aos diagnósticos iniciais, os mais
frequentes foram as complicações respiratórias (61,9%), entre essas se
encontram a dispneia (30,8%) e a pneumonia (30,8%). Os diagnósticos de parada
cardiorrespiratória (25%), overdose (25%), dor torácica (25%) e a hipotensão
(25%) foram agrupados como emergências clínicas, seguidas pelas complicações
neurológias e cardíacas, como ilustra a Figura I.
Figura I - Diagnóstico inicial.
As patologias de base
mais frequentes foram hipertensão arterial sistêmica (36%), seguido por
diabetes (16%) e cardiopatias (16%), como descritos na Figura II. Foram
alocados como fatores de risco (16%), os agravantes tabagismo (8%) e etilismo
(8%).
Figura II – Doenças de base.
A solicitação de exames
complementares e procedimentos ambulatoriais são uma das características deste
setor. Dentre os 14 pacientes, 9 fizeram uso de oxigenoterapia anterior a
adaptação VMI, sendo 66,7% por óculos nasal e o restante por máscara de Venturi
e máscara de Hudson. Em relação aos exames complementares, os mais frequentes
foram o hemograma (33,3%) e o raio X de tórax (27,8), exposto do Gráfico I.
Gráfico I – Exames complementares.
Em relação as
manifestações clínicas, que os pacientes apresentaram no momento da intubação,
destacam-se que os problemas relacionados com o sistema respiratório foram os
mais incidentes, aparecendo em dez prontuários, conforme evidencia a Tabela II.
Tabela II
– Manifestações clínicas.
Como motivo da
intubação, os fatores mais frequentes foram o rebaixamento de sensório (57,1%)
e a parada cardiorrespiratória (35,7%), como ilustrado no Gráfico II.
Outro aspecto analisado
foi a utilização da Escala de Glasgow no momento da intubação, no entanto em
42,8% da amostra este valor não foi informado nos prontuários, os outros 57,2%
apresentaram Glasgow 3 (50%) e de valor 6 (7,2%) da escala.
Gráfico
II – Motivo da intubação.
Quanto a permanência em
VMI na unidade, 42,8% da amostra permaneceu menos de 24 horas, 35,7% ficaram
mais de 24 horas e 21,5% acima de 48 horas.
Durante a análise dos
prontuários, verificou-se que apenas um paciente tinha prescrição de
fisioterapia.
A partir dos dados
coletados nessa unidade, observou-se a predominância do sexo feminino com idade
superior a 60 anos. Resultados semelhantes foram encontrados por Gomide et al. [3] e Ataíde et al. [6] em que 54,1% e 57% são do sexo feminino,
respectivamente. Em contrapartida, no estudo realizado no pronto socorro de um
hospital universitário do estado do Rio Grande do Sul, foram mais frequentes
pacientes do sexo masculino (74,5%) [9].
Com relação à idade, o
estudo observacional realizado no setor de emergência do Hospital de São Paulo
identificou a média de idade da sua amostra, com 65 anos [10]. O estudo de
Mesquita et al. [11] corrobora este
achado sendo 64% dos pacientes idosos. Já Casarolli et al. [1] caracterizaram a amostra do
seu estudo agrupando adultos e idosos, totalizando 85,1%, ao encontro dos
achados no presente estudo.
Quanto ao diagnóstico
inicial deste estudo, destacam-se as complicações respiratórias, o que vem ao
encontro da pesquisa de Vieira et al.
[7] realizada na UPA Rui Barbosa onde verificaram que dos 642 pacientes, 377
apresentavam complicações cardíacas e 256 complicações respiratórias. No estudo
realizado na sala de emergência do Hospital São Paulo, expõe seus dados
separando o diagnóstico inicial das pessoas portadoras de doenças cardíacas e
de doenças pulmonares. Sendo o infarto agudo do miocárdio o mais frequente com
36% no primeiro grupo e a pneumonia com 31% dos casos do segundo grupo [10].
Por sua vez, Rosa et al. [9] apontam que 31,9% de sua
amostra deu entrada por trauma leve. Diferenciando dos achados deste estudo,
apesar de que a recepção de traumas seja uma característica dessa unidade, não
estando evidenciado, pois a amostra está restrita aos pacientes que foram
submetidos à VMI. Além disso, o hospital que está vinculado a esta unidade não
realiza cirurgias de grande porte, direcionando os pacientes poli traumatizados
a outro hospital da região.
Em relação à patologia
de base, previamente diagnosticada, destacou-se a hipertensão arterial
sistêmica. O estudo de Siqueira et al.[12]
corrobora esses achados e evidência que as crises hipertensivas
estão cada
vez mais frequentes, associando aos hábitos inadequados,
dificuldade na adesão
do tratamento e até mesmo a carência da
educação em saúde na atenção
primária.
Idosos portadores hipertensão arterial sistêmica
representam a maioria dos
usuários assistidos nestes serviços de urgência e
emergência [13]. Em 109 (57%)
casos da amostra de Ogawa et al. [10] apresentaram a
hipertensão arterial sistêmica como o principal antecedente pessoal.
Neste estudo, o meio de
deslocamento até a unidade oscilou entre os meios próprios e o serviço do SAMU.
Diferenciando dos dados de Vieira et al.
[7] onde o meio de entrada dos pacientes em 55% dos casos foi a partir de meios
próprios. Na Portaria nº10 de 3 de janeiro de 2017, onde redefinem as
diretrizes de modelo assistencial e financiamento das UPAs,
reitera a articulação desta unidade com o SAMU [14]. Necessitando comprovação
de cobertura da população pelo SAMU, e as unidades como o espaço físico para
estabilização desses pacientes. O estudo de O’Dwyer et al. [15], que analisa a implantação
do SAMU no estado do Rio de Janeiro, destaca o SAMU como um componente móvel e
a UPA um componente fixo da rede de urgências. Dissertam sobre a dificuldade de
integração dos serviços da rede, sendo uma das exigências para a implantação da
UPA sua vinculação ao SAMU, no entanto na prática não é o que acontece
apresentando três UPAs implantadas antes do
componente móvel [15]. No que se refere aos procedimentos prestados, a
instalação de oxigênio foi um dos procedimentos mais frequentes, sendo os
óculos nasal o mais usual [6,9,10], corrobora os dados deste estudo. Siqueira et al. [12] dissertam sobre a
importância dos exames complementares como hemograma e o raio X de tórax, que
atuam na resolutividade dos casos. Em 26,3% da amostra de um estudo realizado
no pronto atendimento de Ribeirão Preto, uma das condutas utilizadas pela
equipe foi a solicitação de exames [3].
Estudo cujo objetivo
era traçar o perfil dos pacientes atendidos na sala de emergência do pronto
socorro de um hospital universitário caracterizou sua amostra conforme os
procedimentos, dentre eles a realização de exames. Pode-se observar que a
maioria das solicitações foi de raios X (39%), hemograma (24%),
eletrocardiograma (24%) e tomografia computadorizada (13%) [9]. A realização de
exames complementares exerce um papel de suma importância na atenção ao
usuário, pois é a partir deste que possibilitará o acesso ao diagnóstico
correto e então ao tratamento específico.
No que se refere às
manifestações clínicas que os pacientes apresentaram no momento da intubação,
destacam-se complicações respiratórias, visto que grande parte da amostra fez
uso de oxigenoterapia anterior a VMI e apesar disso evoluíram para a VMI.
Dentre 192 pacientes analisados, 40% necessitaram de oxigenoterapia e 30%
realizaram assistência ventilatória divididos entre VMI e ventilação mecânica
não invasiva [10]. Em contrapartida, 60,5% da amostra de Mesquita et al. [11] não fizeram uso de oxigênio
anterior a intubação orotraqueal. Já no estudo de Ataíde et al. [6] a oxigenoterapia foi utilizada em 36,8% de sua amostra e
21,8% necessitaram de VMI. O que corrobora os achados deste estudo, pois o
desconforto respiratório não foi resolvido apenas com oxigenoterapia.
Em um estudo realizado
na cidade de Recife, com analise descritiva dos prontuários de três UPAs, encontram-se dados semelhantes quanto ao motivo da
intubação. A maioria dos casos aponta a parada cardiorrespiratória (36,7%), o
rebaixamento do sensório (33,2%), seguido pela insuficiência respiratória aguda
(25,2%) [11].
O fato de 42,8% dos
prontuários não apresentarem informação sobre a escala de Glasgow demostra um
fator limitante deste estudo. A escala de Glasgow é uma ferramenta de avaliação
quanto ao nível de consciência, a qual avalia três variáveis: abertura ocular,
resposta verbal e resposta motora. Quanto maior o escore obtido, menor é o
comprometimento neurológico, variado entre 15 pontuação máxima e 3 o mínimo,
sendo que valores abaixo de 8 são indicados à intubação [16]. Entre os
pacientes deste estudo, classificados pela escala, em sua maioria apresentaram
valor 3.
Com relação ao tempo de
permanência em VMI na unidade, no estudo de Ogawa et al. [10] cerca de 64% de sua amostra
permaneceram menos de 24 horas, seguidos de 21% dos pacientes que permaneceram
um dia e 5,5% dos que ficaram por dois dias, diferenciando dos achados deste
estudo. Já na pesquisa de Vieira et al.
[7] foi caracterizado de outra forma, englobando os pacientes que permaneceram
mais de 24 horas até cinco dias em um único item, sendo este 59% de sua
amostra, diferindo de uma das principais características da UPA, setor de curta
permanência.
Outra forma de analisar
o tempo, foi relacionando o tempo de entrada na unidade e o momento da
intubação orotraqueal, em que 83,4% da amostra necessitou de intubação em menos
de 24 horas da sua admissão na unidade [11], corroborando com a ideia de que os
pacientes permanecem na unidade até a sua estabilização, sendo então
transferidos.
Há uma carência de
pesquisas e conhecimento sobre a atuação do fisioterapeuta no setor de urgência
e emergência, no entanto este profissional está apto a dar suporte aos
pacientes críticos, com potencial de evitar complicações cardíacas e
respiratórias, agindo inclusive no tempo de permanência em VMI [6,7,10].
Piccoli et al. [8] em pesquisa no setor de urgência do Hospital Nossa
Senhora da Conceição no município de Porto Alegre, após análise de prontuários,
verificaram que a inserção do fisioterapeuta é necessária, pois os pacientes
assistidos neste setor necessitaram de oxigênioterapia,
ventilação mecânica e passaram por longos períodos acamados. E como o presente
estudo, apresentavam como diagnóstico mais frequente as doenças cardiovasculares
e pulmonares.
Dentre os agravos da
assistência aos pacientes do serviço de urgência e emergência, o atendimento
multiprofissional é utilizado, sendo a fisioterapia importante na profilaxia
das complicações clínicas, na estabilização do paciente, diminuição dos
sintomas, no tratamento das morbidades e também em promoção de saúde [6].
No estudo de Ogawa et al. [10]
no qual mais de 50% dos pacientes receberam acompanhamento fisioterapêutico,
verificou-se a atuação do fisioterapeuta na equipe de urgência e emergência e o
tratamento aos pacientes potencialmente críticos. Os procedimentos mais
utilizados foram a higiene brônquica e expansão pulmonar, aspiração traqueal.
Em relação ao
tratamento fisioterapêutico mais utilizado no pronto socorro do Hospital de
Clínicas da Universidade Federal de Goiás, foram terapia de remoção de
secreção, manobras de expansão pulmonar e aspiração das vias aéreas dentre os
procedimentos de fisioterapia respiratória. Quanto à fisioterapia motora,
destacou-se a mobilização precoce, exercícios de amplitude de movimento,
alongamentos, sedestação e posicionamento terapêutico
[6]. Nepel et
al. [17] destacam em seu estudo que os idosos acometidos por afecções
respiratórias realizando atendimento fisioterapêutico obtiveram a diminuição no
tempo de internação, aumentando o número de altas para 20% e reduzindo as
transferências para hospitais em 36%, confirmando a ideia que a atuação da
fisioterapia fornece o suporte eficiente nas disfunções respiratórias.
Acredita-se que tiveram
poucas prescrições de fisioterapia, pois a unidade (UPA) onde este estudo foi
desenvolvido não conta com este profissional na equipe. Cabe ressaltar que
alguns fatores contribuíram para a limitação do desenvolvimento deste estudo,
entre elas destacam-se a carência de dados nos prontuários, a falta da
classificação pela escala de Glasgow e a falta de prescrição de fisioterapia.
O presente estudo teve
em sua amostra a predominância do sexo feminino, com idade superior a 60 anos,
que apresentava complicações respiratórias como diagnóstico inicial. Entre as
manifestações clínicas que os pacientes apresentaram no momento da intubação,
destacam-se os problemas relacionados com o sistema respiratório.
A maioria desses
pacientes apresentava como doença de base a hipertensão arterial sistêmica,
população que está cada vez mais frequente nessas unidades, podendo estar
associado aos hábitos de vida inadequados, à falta de adesão ao tratamento e
até mesmo a carência da educação em saúde na atenção primária.
O meio de deslocamento
utilizado durante a situação de urgência é um critério importante a ser
analisado. As UPAs estão intimamente relacionadas ao
SAMU, sendo estas implantadas somente após a comprovação de cobertura da
população pelo serviço móvel. Pode ser observado que os meios próprios estão
fortemente presentes nessas situações.
Recomenda-se estudos
futuros que tracem o perfil da população relacionando a atuação da fisioterapia
nessas unidades, com intuito de incentivar e promover a fisioterapia no setor
de urgência e emergência. Observa-se que há estudos na área que comprovam a
diminuição do tempo de permanência, a profilaxia das complicações clínicas e a
promoção de saúde.