ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
do conhecimento e dos fatores de risco do melanoma cutâneo: visão da
fisioterapia preventiva
Assessment
of knowledge and risk factors of cutaneous melanoma: view of preventive
physical therapy
Camila Soares Izidoro Morais, Ft*, Leonardo
Morais, M.Sc.**, Jefferson Luiz Brum Marques, PhD***,
Cláudia Mirian de Godoy Marques, PhD****
*Policlínica
Municipal de Barreiros, Prefeitura Municipal de São José, São José/SC,
**Departamento Acadêmico de Linguagem, Tecnologia, Educação e Ciência (DALTEC),
Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Florianópolis/SC, ***Departamento
de Engenharia Elétrica e Eletrônica, Instituto de Engenharia Biomédica,
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis/SC,
****Departamento de Ciências da Saúde (DCS), Centro de Ciências da Saúde e do
Esporte (CEFID), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
Florianópolis/SC
Recebido em 10 de
fevereiro de 2019; aceito em 15 de abril de 2019.
Correspondência: Cláudia Mirian de
Godoy Marques, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC – CEFID), Rua
Paschoal Simone 358, Coqueiros, 88080-350 Florianópolis SC, E-mail:
claudia.marques@udesc.br; Camila Soares Izidoro
Morais: camila.izidoro@hotmail.com; Leonardo Morais:
leonardo.morais@ifsc.edu.br; Jefferson Luiz Brum Marques:
jefferson.marques@ufsc.br
Resumo
O melanoma cutâneo é o
tipo mais agressivo de câncer de pele por se espalhar pelo corpo rapidamente e
por ser de difícil tratamento. Embora seja uma doença fácil de ser detectada na
sua fase inicial, pode passar despercebido e quando diagnosticado tardiamente
pode resultar em um prognóstico pobre em expectativa de vida. O objetivo deste
estudo foi avaliar o conhecimento sobre o câncer de pele e os fatores de risco
para desenvolver câncer de pele (principalmente melanoma). Os indivíduos
responderam a um questionário traduzido e validado apresentando nível médio e
alto sobre o conhecimento do câncer de pele. 80% dos participantes responderam
que têm pele clara, 60% bronzeiam-se intencionalmente, 65% tomam banho de sol
em horário inapropriado, 74% ficam com a pele avermelhada após exposição solar,
52% possuem mais de 20 sinais na pele, entretanto 78% não ficam expostos à
radiação solar para praticar esportes e o trabalho não exige exposição solar
prolongada. Mesmo apresentando conhecimento sobre o câncer de pele, 53,5%
apresentaram risco médio para o desenvolvimento do melanoma e 46,5% dos
participantes apresentaram risco mínimo. Mais estudos e campanhas abordando a
fisioterapia na prevenção do câncer de pele são necessários atuando em conjunto
com um grupo de saúde multiprofissional.
Palavras-chave: conhecimento, câncer
de pele, melanoma, fatores de risco, fisioterapia, prevenção.
Abstract
Cutaneous
melanoma is the most aggressive type of skin cancer as it spreads throughout
the body quickly, and can be difficult to treat. While
this disease is easily detected in its early stages, it can go unnoticed and
when diagnosed late can result in a poor prognosis in life expectancy. The aim
of this study was to evaluate the knowledge of skin cancer and the risk factors
for developing skin cancer (particularly melanoma). Individuals answered a
translated and validated questionnaire presenting medium and high level of knowledge
about skin cancer. 80% of respondents have fair skin, 60% tan intentionally 65%
sunbathe in inappropriate time, 74% have skin burn after sun exposure, 52% have
more than 20 spots on the skin, however 78% are not exposed to sunlight to play
sports, and work does not require prolonged sun exposure. Even having some
knowledge about skin cancer, 53.5% showed medium risk for developing melanoma
and 46.5% of the participants showed minimal risk. More studies and campaigns
addressing physiotherapy in the prevention of skin cancer are necessary acting
together with a group of multidisciplinary health professionals.
Key-words: knowledge,
skin cancer, melanoma, risk factors, physiotherapy, prevention.
O melanoma cutâneo é o
tipo mais agressivo de câncer de pele, sua incidência está aumentando em todo o
mundo e constitui a principal causa de morte em dermatologia [1]. O melanoma é
de difícil tratamento devido ao fato de que não existe tratamento
quimioterápico com mesmo sucesso de cura encontrado em outros tipos de
cânceres. Dados registrados no Brasil são muito escassos. Um estudo de Vasquez et al. [2] demonstrou que a taxa de
sobrevivência no Brasil era menor do que a taxa mundial. Segundo dados
estatísticos recentes do Instituto Nacional de Câncer, o Brasil apresentou
1.794 mortes em 2015 e estima novos casos 6.260, sendo 2.920 para homens e
3.340 para mulheres [3].
Desta forma, o melanoma
cutâneo passa ser a neoplasia maligna de caráter altamente agressivo, sendo por
isso considerado o tumor cutâneo mais importante no momento do diagnóstico. O
prognóstico de cura ou sobrevida do paciente está relacionado à profundidade da
lesão [4] e, por isso, a detecção precoce é de muita importância para a saúde
pública. A grande prevalência indica, portanto, a importância de se criar
estratégias para diagnóstico do melanoma em seu desenvolvimento inicial.
Dos poucos registros
sobre a epidemiologia do melanoma no Brasil, alguns estudos demonstram que
principalmente nas regiões sudeste e sul do Brasil concentram-se os maiores
povoados de descendentes europeus, os quais possuem cor de pele clara, não
preparada para a grande incidência de raios UV de um país com clima subtropical
e temperado. Muitos destes desconhecem ou ignoram os cuidados necessários com a
pele para prevenção do câncer de pele, em especial o melanoma cutâneo.
As áreas identificadas
com alta prioridade para intervenção do melanoma cutâneo são as regiões
sudeste, leste e nordeste do Estado de São Paulo [5]; na região sul, o Estado
de Santa Catarina, o melanoma cutâneo apresenta maior incidência [6,7]; e, o
Estado do Rio Grande do Sul, que apresenta tendência a diagnósticos mais
precoces [8]. Além disso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia desenvolveu um
Consenso contendo as recomendações para a proteção solar [9].
Nos últimos anos a
radiação UV, tem sido registrada como principal fator para o aparecimento do
melanoma e, de neoplasias cutâneas. Ao mesmo tempo é responsável por
queimaduras, e geram imunossupressão quanto a exposições exageradas ao sol,
levando também ao foto-envelhecimento precoce [10,11].
No que se refere ao
comportamento foto-imunológico, sabe-se que a capacidade da radiação
ultravioleta B (UVB) altera o sistema imunitário cutâneo e tem sido amplamente
documentada, além de ser um importante fator de risco para o desenvolvimento do
câncer de pele induzido pela luz solar. Evidências epidemiológicas e
moleculares relacionam a exposição solar ao desenvolvimento do melanoma
maligno, sendo esse o fator de risco mais importante para este tipo de câncer
da pele [12].
Os principais fatores
de risco para o desenvolvimento de lesões da pele e melanoma cutâneo são os
fatores genéticos, história familiar de câncer de pele e ambiental. Porém
considera-se como outros fatores, o grau de pigmentação do indivíduo, a
presença de múltiplos nevos, a propensão ao desenvolvimento de efélides, a história de queimaduras solares graves e a
reação da pele quando exposta ao sol [13].
Estudos epidemiológicos
mostram uma forte associação entre o desenvolvimento de melanoma e a frequência
de episódios de queimadura grave induzida pela radiação ultravioleta [14].
A atividade mais
relacionada à ocorrência dessas queimaduras graves é o banho de sol, recurso
adotado para bronzear a pele [15,16]. Além da exposição à radiação solar,
aumentou a exposição a fontes artificiais de radiação ultravioleta. A prática
do bronzeamento artificial difunde-se rapidamente, estando ao alcance de
considerável parcela da população. Argumenta-se que o bronzeamento artificial
seria uma opção segura, pois as lâmpadas empregadas emitiriam somente radiação
ultravioleta (UVA, comprimento de onda longa, 400 a 320 nm).
Porém, estudos recentes apontam a UVA como importante para a gênese do melanoma,
atuando sinergicamente com a UVB (comprimento de onda média 320 a 280 nm) [17].
A associação positiva
entre o desenvolvimento de melanoma e o uso de aparelhos de bronzeamento
artificial foi encontrada em estudos realizados nos Estados Unidos, Canadá e
Europa. Os fatores de risco mais importantes são a frequência anual em que
é feito bronzeamento artificial e a duração em anos dessa prática.
Aparentemente, o seu início antes dos 30 anos resulta em maior elevação do
risco. Esses estudos sugerem que o risco de desenvolver melanoma é maior para
usuários habituais e que se iniciam mais cedo nessa prática [18].
Sabe-se que pessoas de
pele clara têm maior pré-disposição para desenvolver o melanoma e esta evidência é fortalecida ao observar que os
coeficientes nas populações de raça negra e amarela são inferiores aos da raça
branca [19]. Porém, o excesso de exposição solar deve ser tratado com cautela,
incluindo todas as tonalidades de pele com o objetivo de garantir proteção a
todas as pessoas [20].
O trabalho rural, os
hábitos de lazer e de atividades esportivas ao ar livre favorecem a exposição
solar no Brasil [21]. Por outro lado, a grande miscigenação de etnias no país
diminui, em parte, o índice de pele clara, originária da raça branca, a qual
poderia aumentar o risco de desenvolvimento do melanoma cutâneo.
Estudos realizados com
ciclistas, triatletas e crianças em atividades desportivas apontam que a
quantidade de irradiação absorvida é sempre elevada, sendo assim de difícil
medição, ocasionando queimaduras. Estudos epidemiológicos revelam que a
exposição à radiação ultravioleta em crianças e adolescentes está intimamente
ligada com o aparecimento de neoplasias cutâneas no adulto [22].
Com isso, ocorre a
necessidade de programas de prevenção primária e secundária. Nas estratégias de
prevenção primária, utiliza-se a orientação relacionando a exposição ao sol e
câncer de pele, a necessidade da aplicação do protetor solar, utilização de
chapéus e óculos de sol e o tempo de exposição ao sol, evitando fontes
artificiais. Já a prevenção secundária seria o diagnóstico precoce e tratamento
adequado para o câncer de pele [23].
Desta forma, a
prevenção do melanoma cutâneo permanece como o melhor e único recurso em
alcance, através da detecção de possíveis neoplasias em estágio primário de
desenvolvimento, com chance de cura total.
O objetivo deste estudo
foi avaliar o conhecimento sobre o câncer de pele, no caso melanoma cutâneo,
bem como avaliar os fatores de risco para desenvolver melanoma, tendo como
amostra, indivíduos de um centro universitário incluindo, professores,
funcionários, acadêmicos, entre outros indivíduos presentes durante o estudo.
A primeira etapa a ser
desenvolvida foi a validação de dois questionários que foram adaptados ao nosso
meio cultural e habitual. Desta forma o objetivo foi validar e disponibilizar
para a língua portuguesa os questionários originalmente desenvolvidos em língua
inglesa, intitulados: Questionário 1: “Avaliação do conhecimento sobre o câncer
de pele” [24] e, Questionário 2: “Fatores de risco para desenvolver melanoma”
[25]. Após, validação e adaptação, o próximo passo foi disponibilizar para a
língua portuguesa em ambos os questionários.
Para comparar a
propriedade textual do instrumento na linguagem original e na língua
portuguesa, foram apresentadas ambas as versões para os indivíduos fluentes em
ambos idiomas. Estes indivíduos apresentaram-se capazes de ler e entender ambos
os idiomas, de tal forma que todos tivessem experiência de morar e estudar em
país de língua inglesa por um período mínimo de quatro anos. Os indivíduos
foram divididos em três grupos entre homens e mulheres com idade acima de 18
anos. O grupo 1 traduziu a versão inglesa para a portuguesa e, posteriormente,
respondeu o questionário em língua inglesa (produzida pelo grupo 2). O grupo 2
recebeu primeiramente a versão em língua portuguesa e traduziu para a língua
inglesa (back translation).
O grupo 3 respondeu a versão final dos questionários, realizou as adequações
necessárias para a produção de uma versão final traduzida e adaptado dos
questionários a serem utilizados como instrumentos em língua portuguesa. A
metodologia back translation
[26] mostra a garantia da tradução confiável do instrumento.
O método utilizado para
análise e validação dos questionários foi baseado nos métodos utilizados por Deliza et al.
[27].
Avaliação
do conhecimento sobre o câncer de pele
Esta avaliação foi
realizada utilizando o Questionário 1 - Avaliação do conhecimento sobre câncer
de pele, o qual classifica o conhecimento em nível mínimo, médio e alto.
Questionário
1 - Avaliação do conhecimento sobre câncer de
pele.
Segundo a sua opinião,
por favor, assinalar Verdadeiro ou Falso nas seguintes afirmações:
Pontuação do
conhecimento (número total de questões corretamente respondidas).
O Questionário 2,
referente aos Fatores de riscos em desenvolver melanoma cutâneo, além de
qualificar a importância de cada item, sua pontuação final classifica o risco
do desenvolvimento do melanoma para cada indivíduo. A pontuação foi realizada
de acordo a soma dos valores das respostas contidas na tabela abaixo:
Questionário
2 - Fatores de riscos em desenvolver melanoma
cutâneo.
Pontuação dos Fatores
de Risco (classificação):
Considerações
éticas
Este estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC) Número de Referência 144/2011. Após assinarem
um termo de consentimento livre e esclarecido para participarem voluntariamente
no estudo, os questionários foram aplicados individualmente a cada indivíduo da
amostra.
Ao responderem os
questionários, foi entregue a cada participante um folheto contendo as
respostas do questionário I, e um folheto contendo as informações sobre os
cuidados necessários para a prevenção do câncer de pele.
Análise
estatística
Para avaliação da
equivalência conceitual da tradução e validação foram utilizando o teste t (com
um índice de significância do valor de p > 0,05) e o coeficiente de correlação
de Pearson. Para análise dos questionários 1 e 2, utilizou-se uma estatística
descritiva e percentual com auxílio do pacote estatístico Microsoft Excel 2010.
Inicialmente foram
realizados os processos de tradução e validação dos questionários a serem
utilizados. Para a tradução, a comparação da propriedade textual do instrumento
na linguagem original (inglês) e na língua portuguesa, foi apresentada em ambas
as versões para os indivíduos fluentes em ambos os idiomas. Os indivíduos foram
divididos em três grupos entre homens e mulheres com idade acima de 18 anos. O
grupo 1 traduziu a versão inglesa para a portuguesa e, posteriormente respondeu
o questionário em língua inglesa (produzida pelo grupo 2). O grupo 2 recebeu
primeiramente a versão em língua portuguesa e traduziu para a língua inglesa (back translation).
Neste grupo, um dos participantes possui o inglês como primeiro idioma.
O grupo 3 respondeu a
versão final do Questionário 1 e parte do Questionário 2 já traduzido para a
língua portuguesa, bem como o restante do Questionário 2 (versão adaptada) já
elaborado em língua portuguesa.
Os testes de validade e
clareza, para as perguntas que compõem o questionário, foram compostos por uma
escala de nove pontos, segundo o ranqueamento em: 1 - concordância muito
intensa, 2 - concordância intensa, 3 - concordância moderada, 4 - concordância
leve, 5 - não concordo nem discordo, 6 - discordância leve, 7 - discordância
moderada, 8 - discordância intensa, 9 - discordância muito intensa.
A análise das respostas
de cada participante do grupo 1 foram comparadas com as respectivas respostas
dadas às respostas do grupo 2 com o objetivo de se obter a avaliação da
equivalência conceitual da tradução. Um coeficiente de correlação 0,6 foi
considerado aceitável para validação do questionário.
Foi também avaliada a
semelhança das notas dadas pelos mesmos indivíduos na versão original em língua
inglesa e traduzida para língua portuguesa (tabela I). Esta equivalência foi
calculada para cada indivíduo como uma proporção de concordância entre as duas
versões para as 9 perguntas e considerada como índice de concordância. O alto
índice de concordância indica alta equivalência entre a adaptação em língua
portuguesa e a versão em língua inglesa, aceitando-se a hipótese nula onde as
médias dos valores são estatisticamente iguais (p = 0,4197).
O teste de clareza para
o Questionário 2 em sua versão adaptada também mostrou a semelhança entre alto
índice de concordância, aceitando-se a hipótese nula onde as médias dos valores
são estatisticamente iguais (p = 0,1007) (Tabela II).
Tabela I - Pontuação referente à tradução em inglês e back-translation
para o português do Questionário 1.
Número de tradutores = 3
para cada grupo. Valores expressos como Média e Desvio Padrão (DP).
Tabela II - Pontuação referente à tradução e adaptação cultural em português,
versão adaptada do Questionário 2.
Número de avaliadores =
3; Valores expressos como Média e Desvio Padrão (DP).
Na Tabela III
encontra-se o teste de validação completo, incluindo perguntas do Questionário
1 e Questionário 2 das quais a resposta de “concordância muito intensa” foi de
76%, sugerindo um índice aceitável para validação completa dos dois questionários
a serem utilizados.
Tabela
III - Teste de validação completo, incluindo
perguntas do Questionário 1 e Questionário 2. Valores expressos em porcentagem.
N=10.
Conhecimento
sobre câncer de pele e fatores de riscos em desenvolver melanoma cutâneo
Após a validação,
tradução e adaptação cultural, uma amostra de indivíduos foi obtida a partir de
uma população de um Centro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Na
mesma havia homens e mulheres, todos com idade igual ou maior que 18 anos, com
a participação de alunos, professores, funcionários e outros (e.g. pessoal contratado para serviços
terceirizados) presentes no período da coleta de dados, totalizando 23
participantes. Todos os participantes responderam a dois questionários,
Questionário 1 o qual era referente ao conhecimento sobre câncer de pele e, o
Questionário 2, sobre os fatores de riscos em desenvolver melanoma cutâneo.
A Figura 1 mostra de
forma discriminada a participação dos indivíduos em termos de gênero e
ocupação. Foi obtido um número um pouco maior de indivíduos do gênero feminino
em comparação ao gênero masculino. Os estudantes foram os que mais participaram
seguidos dos funcionários, professores e outros.
Figura 1 - Fatores de risco (A) porcentagem de indivíduos do gênero feminino
(n=13) e do gênero masculino (n=10). Em (B) porcentagem de indivíduos entre
estudantes (n=14); Funcionários (n=5); Professores (n=2); e outros (n=2). N
total =23.
Nível de
conhecimento sobre câncer de pele – Questionário 1
Na Tabela IV observa-se
que o nível de conhecimento sobre o câncer de pele dos participantes foi entre
médio e alto, nenhum apresentou nível mínimo de conhecimento.
Tabela IV - Pontuação referente ao questionário da avaliação do conhecimento sobre
o câncer de pele. N = 23.
Avaliação
dos fatores de risco em desenvolver melanoma cutâneo – Questionário 2
Neste questionário, os
participantes responderam a um conjunto de perguntas referentes às
características fenotípicas, hábitos de exposição solar, medidas preventivas à fotoexposição, lesões na pele e sobre os fatores de
pigmentação da pele.
A Tabela V mostra que
dos 23 participantes, na maioria, os indivíduos se consideraram com pele clara,
olhos e cabelos castanhos, sendo a minoria, indivíduos com pele escura, ruivo,
e cor dos olhos verdes/mel e preto.
Quanto aos hábitos de
exposição solar, grande parte dos indivíduos (60,9%) bronzeia-se ao sol
intencionalmente, expondo-se no horário das 10 às 16, no período crítico, ainda
associado à exposição, o maior índice vem de pessoas que possuem a pele clara.
Quanto às medidas
preventivas à fotoexposição, a grande maioria (95,6%)
relatou que usam creme ou loção com filtro solar, 64,5% utilizam roupa, chapéus
e óculos para proteção solar, e 73,9% procuram sombra constantemente. Apenas um
indivíduo relatou que já sofreu queimaduras com bolhas e nenhum dos
participantes relatou ter câncer de pele. 78,3% não praticam esporte
regularmente expostos à radiação solar; e somente um sujeito relatou que o
trabalho exige exposição prolongada à radiação solar.
Em relação aos fatores
de pigmentação da pele, a maioria dos indivíduos (78,3%) respondeu que a pele
não forma pintas ou sardas facilmente com a exposição solar; mais da metade dos
participantes (56,5%) não se bronzeiam facilmente; 73,9% dos indivíduos
relataram que a pele se tornava vermelha com a exposição ao sol; e um pouco
mais da metade do número de indivíduos (52,2%) relataram que possuíam mais de
20 sinais na pele. 60,8% dos indivíduos relataram que não possuíam sinais
grandes com cor ou borda irregular; 69,6% nunca haviam queimado a pele, com
aparecimento de bolhas, devido à exposição solar.
Tabela V - Fatores de risco para desenvolvimento do melanoma cutâneo. N=23.
Finalmente, para o
Questionário 2, foi feita uma pontuação para cada item, seguida de uma soma, a
qual pôde-se classificar o risco de cada participante desenvolver melanoma.
Nesta pesquisa, 46,5% dos participantes apresentaram risco mínimo para o desenvolvimento
do melanoma, 53,5% apresentaram risco médio, e nenhum participante apresentou
alto risco para o desenvolvimento do câncer de pele (Tabela VI).
Tabela VI - Pontuação e classificação dos fatores de risco para o desenvolvimento
do melanoma cutâneo. N = 23
O objetivo deste estudo
foi avaliar o conhecimento sobre o câncer de pele, em particular, o melanoma
cutâneo e avaliar os fatores de risco para desenvolver melanoma, sendo a
população, uma comunidade acadêmica incluindo, professores, funcionários,
acadêmicos e outros indivíduos que estavam presentes, no período da coleta de
dados.
Para disponibilizar os
questionários, foi necessário realizar um processo de tradução e adaptação
cultural e posterior validação da nova versão adaptada, os quais são
requerimentos imprescindíveis para serem utilizados em outras culturas. A
adaptação do questionário de língua portuguesa foi realizada utilizando o
próprio idioma, seguido de validação. A técnica de back translation serviu como confirmação da
precisão da tradução do questionário.
Na fase inicial do
projeto, o processo de tradução e validação dos questionários permitiu
construir dois instrumentos para aplicação metodológica para se extrair dados
sobre o conhecimento que os indivíduos têm sobre o câncer de pele, bem como
avaliar os fatores de riscos para o desenvolvimento do melanoma. Os
questionários foram considerados como ferramentas adaptadas das versões
originais em idioma inglês, de fácil uso, porém oferecendo informações importantes
quanto ao câncer de pele, em especial, o melanoma cutâneo, o qual é um problema
de saúde mundial, pois a incidência do melanoma está aumentando e ainda é uma
doença de difícil tratamento se não diagnosticado precocemente.
De acordo com os
resultados da amostra, os questionários foram respondidos em sua maior parte
pelos acadêmicos, seguidos pelos funcionários, professores e outros. Em meio
aos participantes, mais da metade apresentaram que têm consciência sobre os
problemas relacionados ao desenvolvimento do melanoma cutâneo, sugerindo que
estas pessoas poderiam tomar medidas de prevenção do câncer de pele.
Entretanto, quanto aos hábitos de exposição solar, um pouco menos da metade dos
participantes apresentam fatores que predispõe ao risco do câncer de pele.
Nossos resultados
mostram que quase 80% dos participantes possuem pele clara, 60% bronzeiam-se
intencionalmente, 65% toma banho de sol em horário não-apropriado, 74% ficam
com a pele avermelhada após exposição solar, 52% possuem sinais na pele. De
forma contrária, mais da metade dos participantes possuem ou estão cursando
nível superior e possuem um bom entendimento sobre os riscos do desenvolvimento
do melanoma e ainda assim correm riscos desnecessários em relação ao câncer de
pele.
Estes resultados estão
de acordo com um estudo na França [28], o qual relata que ter conhecimento,
atuar com procedimentos de diagnóstico precoce e hábitos de prevenção podem
reduzir a incidência do melanoma. Porém, apesar de se obter um bom nível de
conhecimento, muitos conceitos errôneos ainda ocorrem, tornando necessárias
campanhas de informação sobre o melanoma cutâneo para ajudar a reduzir sua
incidência.
Segundo o INCA [3], o
maior fator de risco para o surgimento do melanoma é a sensibilidade ao sol, sendo
esta a queimadura pelo sol e não o bronzeamento. Ainda assim, pessoas com menos
pigmento na pele, ou seja, que possuem a pele clara apresentam menor proteção
contra as radiações UV e uma maior sensibilidade ao sol. Desta forma, pode-se
dizer que pessoas com cabelos e olhos claros, sardas, e com sensibilidade ao
sol, podem apresentar de duas a três vezes mais chances de desenvolver o
melanoma.
Os sinais podem ser um
fator de risco para o melanoma, já que a presença de muitas pintas ou sinais
(mais de 20), vários sinais grandes, ou nevo melanocítico
desde o nascimento aumenta o risco de câncer de pele em comparação com as
pessoas que têm poucos ou nenhum sinal na pele. Outras características incluem
a alteração da cor de um mesmo sinal, podendo variar de marrom a preto; tamanho
(maior que 6mm); bordas irregulares; e assimetria. Estas são regras básicas
para identificação de lesão na pele, incluindo a observação da evolução destas
lesões.
Estudos relatam a
necessidade de programas de prevenção primária e secundária. As campanhas que
tem como objetivo a prevenção de tumores de pele proporcionam um diagnóstico
precoce, promovendo a redução da morbidade e um aumento da sobrevida do
paciente. Assim, a detecção precoce é a melhor forma de prevenção para o
melanoma [29,30].
Sendo assim, a fisioterapia pode
trabalhar com os casos de melanoma de forma completa em todas as suas fases,
primeiramente promovendo a prevenção primária através do fornecimento do
conhecimento à população, de forma a utilizar políticas públicas, folhetos
explicativos, grupos de orientações em postos de saúde, passando a importância
do autocuidado às classes econômicas mais carentes, nas quais se observa uma
taxa elevada de trabalhadores expostos ao sol diariamente, sem cuidado ou
conhecimento algum sobre como se prevenir contra o câncer de pele.
Ainda para crianças e
adolescentes é necessário ter um foco diferente para abordagem da prevenção do
melanoma, devendo objetivar em atitudes relacionadas ao uso de protetor solar e
evitar o bronzeamento artificial, explicando também os problemas relacionados
ao foto-envelhecimento [31].
A prevenção secundária,
pelo diagnóstico precoce, constitui outro fator de importância. O melanoma
cutâneo, na maioria das vezes, apresenta fase de crescimento superficial
prolongada. Durante esse período as células tumorais estão confinadas à
epiderme. Portanto, esse é o momento em que o diagnóstico é considerado precoce
e tem importância crucial para o tratamento não invasivo, com consequente cura
e redução de mortalidade. Esta doença da pele é possível de ser detectada
facilmente pela observação dos sinais ou nevo melanocíticona
pele. Entretanto, a maioria das pessoas não tem conhecimento
sobre quem
detecta primeiro essas lesões e qual é o papel do
paciente em encontrar sua
própria doença. Esse conhecimento poderia servir para
avaliar a consciência
atual da população em relação ao problema e
fornecer orientações em relação às
futuras campanhas de saúde pública.
Juntamente com o conhecimento
vem o diagnóstico precoce, o qual é fundamental no tratamento de todas as
neoplasias. A pele, órgão de fácil acesso ao autoexame e à inspeção médica,
serve como modelo ideal para implementação de mecanismos que permitam o
diagnóstico de neoplasias nas fases iniciais. No caso do melanoma, a ressecção
com ampla excisão de margens de 1-2 cm dependendo da profundidade do tumor é o
padrão de tratamento cirúrgico para o melanoma invasivo primário. Além disso, a
biópsia de linfonodo sentinela é indicada para pacientes com melanomas
primários de espessura fina, intermediária e espessa, clinicamente com
linfonodo negativo [32]. Sabe-se que lesões recentes ou de pouca espessura
(menor que 1 mm) podem oferecer uma sobrevida de cinco anos entre 92-97% dos
casos [4].
Ainda é necessário
relatar sobre a comorbidade e mortalidade relacionadas ao melanoma que já
invadiu a pele, linfonodos e órgãos distantes, que mesmo após sua retirada, e
tratamento com quimioterapia, o paciente pode enfrentar sequelas, que limitarão
sua funcionalidade e o prognóstico é ruim.
A fisioterapia obtém
métodos e recursos exclusivos de sua profissão que são úteis nos cuidados à
pessoa com câncer, atuando em um tratamento multiprofissional, no processo de melhora da qualidade de vida, através de métodos
analgésicos, exercícios para melhora da função pulmonar, amplitude de
movimento, aumento de força, controle de linfedema, na reabilitação
pós-cirúrgica de excisão do melanoma de tronco, mama, entre outros.
Tendo em vista estes dados,
nota-se que é de suma importância medidas para solução de um problema de saúde
pública, como, por exemplo, o investimento de políticas na área da saúde
voltada para a população para que possa ser informada sobre os riscos do
desenvolvimento do melanoma cutâneo e tomar conhecimento sobre os hábitos
diários de como prevenir o câncer de pele, sendo este método de baixo custo.
As campanhas de
divulgação dos riscos e incentivo às pessoas a se protegerem e evitarem o sol
nos horários mais críticos aparentemente aumentam o conhecimento dos jovens,
porém não resultam em mudança de comportamento. Associado a isso, Azoury e Lange [33], enfatizam a importância da educação,
detecção precoce e a prevenção em reduzir o melanoma.
Na Austrália, um dos
países com incidência mais elevada de melanoma cutâneo, observou-se a redução
da exposição dos indivíduos ao sol. Entretanto, essa redução é resultado de
longos anos de campanha e ações efetivas para aumentar a proteção da pele ao
sol. Nas escolas, as áreas de recreação são cobertas por árvores ou construções
e estimula-se o uso de vestimentas e chapéus [34].
Assim como existem
outras campanhas de saúde pública para prevenção de doenças, o mesmo deveria
ocorrer quanto à exposição excessiva ao sol e prevenção do câncer de pele.
Divulgar nos meios de comunicação para conscientizar e alterar o comportamento
público de que - bronzear a pele pode resultar em queimaduras, indicando que a
pele foi danificada pela radiação ultravioleta solar – e que proteger a pele
pode prevenir o melanoma, com campanhas com ações efetivas motivando as
pessoas, pode apresentar melhores resultados na prevenção do melanoma cutâneo.
Futuros trabalhos
poderiam ser realizados para melhor compreensão sobre o conhecimento da
população sobre o câncer de pele, bem como sobre os riscos inerentes ao
desenvolvimento do melanoma cutâneo, pois existe em todo o Brasil uma grande
diversidade populacional, tanto em função da localização geográfica, étnica e
condições socioeconômicas.
Conclui-se que embora
os indivíduos apresentem um conhecimento de nível médio a alto sobre o melanoma
cutâneo, os riscos de desenvolvimento do melanoma cutâneo são de baixo a médio
na amostra estudada. A fisioterapia pode atuar na avaliação primária e
prevenção do melanoma em conjunto com multiprofissionais da área da saúde, o
que poderia ser de grande valia em campanhas de saúde para orientação e
prevenção do câncer de pele no Brasil.