REVISÃO
Resultados
e reconhecimento das terapias fisioterápicas no período pré
e pós-operatório de cirurgia cardíaca: uma revisão sistemática
Results
and recognition of physiotherapy in the preoperative and postoperative period
of cardiac surgery: a systematic review
Iramar Baptistella
do Nascimento, Ft., D.Sc.*, Raquel Fleig, M.Sc.*
*Professor
do Departamento de Tecnologia Industrial da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), São Bento do Sul/SC
Iramar Baptistella do
Nascimento: iramar.nascimento@udesc.br
Raquel Fleig:
raquel.fleig@udesc.br
Os fisioterapeutas, no pré e pós-operatório das cirurgias cardíacas, necessitam
métodos inovadores para melhor caracterizar seus resultados terapêuticos e
atuação do profissional? Realizou-se uma busca de artigos publicados nas bases Medline, Lilacs, Embase e da
biblioteca Cochrane. Através dos achados científicos observou-se que no
pré-operatório necessita-se de novos parâmetros comparativos despadronizados levando em consideração o tempo de
tratamento. Existe uma contraposição quanto à eficiência do trabalho da
Fisioterapia. Todavia, estudos demonstraram valores de impacto após o
treinamento muscular respiratório intensificado para o pós-operatório das
cirurgias cardíacas. Sugere-se uma inovadora metodologia, relacionando
características específicas do paciente e aspectos clínicos da doença com o
propósito de gerar motivação para adoção da intervenção e, consecutivamente,
melhorar a concepção e impacto das terapias fisioterápicas e qualidade de
evidência científica para os diferentes estudos a serem desenvolvidos.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca,
terapia combinada, frequência cardíaca.
Abstract
Do
physiotherapists in the preoperative cardiac surgery and postoperative period
of cardiac surgeries require innovative methods to better characterize their
therapeutic and professional performance? A search of articles published
between the years 2000 and 2017 was carried out on the Medline, Lilacs, Embase and Cochrane databases. Through the scientific
findings it was observed that in the preoperative cardiac it needs new
unbalanced comparative parameters taking into consideration the time of
treatment. There is a contraposition as to the efficiency of physiotherapy
work. However, studies have shown impact values following intensified
respiratory muscle training for postoperative period of cardiac. We suggest an
innovative methodology, relating specific patient characteristics and clinical
aspects of the disease with the purpose of generating motivation to adopt the
intervention and, consecutively, to improve the conception and impact of
physiotherapeutic therapies and quality of scientific evidence for the
different studies to be developed.
Key-words: cardiac
surgery, combined modality therapy, heart rate.
As patologias
relacionadas ao sistema cardiovascular têm se desenvolvido de maneira
significativa no cenário mundial [1]. O prognóstico epidêmico da cardiopatia
isquêmica é uma das principais causas de óbito nos países em desenvolvimento
[1]. No Brasil, estudos apontaram um percentual de 32% das mortes relacionadas
às enfermidades cardiológicas [1,2]. Entretanto, embora a literatura científica
contemple técnicas inovadoras e diferentes procedimentos preparatórios do
paciente para a realização da cirurgia cardíaca, as taxas de mortalidade por
doenças cardíacas vasculares (DCV) lideram nos parâmetros internacionais [3].
Sobre
as alterações
pulmonares, elas são inerentes ao pós-operatório
de cirurgia cardíaca (POCC)
[4,5]. Dentre outras possíveis complicações
pulmonares, já são evidentes a
possibilidade de desequilíbrio na
ventilação-perfusão, retenção de
secreções,
hipoxemia e a atelectasia, sendo estes, os fatores mais recorrentes que
podem
levar a uma reduzida capacidade vital (CV) e residual dos
pulmões [6,7]. O
método de ventilação mecânica (VM) é
um procedimento utilizado na pós-cirurgia
cardíaca para o paciente retornar as suas funções
respiratórias espontâneas
[8].
A VM é comum,
entretanto, há pouquíssimos dados abordando o modo ideal de suporte
ventilatório. Nos casos de infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca,
pesquisadores sugeriram que se estabeleça durante a VM um volume (VC) de 6 m/kg
na modalidade volume controlado ou pico/platô de pressão inspiratória, com o
objetivo de manter o VC na modalidade pressão controlada [8]. Consecutivamente,
após a estabilização hemodinâmica do pós-operatório, se preconizam as
recomendações quanto aos critérios de extubação que seguem as recomendações e
especificações da bibliografia científica [9,10]. Na reabilitação cardíaca, o
fisioterapeuta tem por desígnio trazer o paciente às suas atividades diárias
habituais enfatizando a prática do exercício físico e ações educacionais
voltadas às mudanças no etilo de vida [1].
O fisioterapeuta encontra-se
cada vez mais presente no pré e pós-operatório de
cirurgia cardíaca e a Fisioterapia respiratória é parte integrante na gestão
dos cuidados do paciente cardiopata [2]. Todavia, em função das demandas, o
procedimento fisioterápico padronizou-se junto à equipe multidisciplinar
hospitalar. Como consequência, pesquisadores concluíram que a remoção do manejo
rotineiro da Fisioterapia hospitalar não altera de forma significativa as
intercorrências do pós-operatório, mais especificamente, os pacientes submetidos
à cirurgia cardíaca aberta [11].
Quanto à prática do
fisioterapeuta no PECC e POCC, destina-se ao esclarecimento sobre mobilizações
ao paciente, posicionamentos, procedimentos respiratórios, fazê-lo entender os
diferentes tipos de padrões ventilatórios, utilizar corretamente a musculatura
ventilatória, técnicas de expectoração, deambulação precoce e identificar
previamente os possíveis riscos e sintomas de ansiedade dos pacientes
[1,11,12]. Consecutivamente, após a chegada à UTI, o fisioterapeuta atua
através de técnicas específicas para uma ventilação adequada e aos poucos
conquistar o êxito da extubação [13]. Pesquisas na década de 2000 e 2010
apontaram a necessidade de melhorias instrutivas por parte do profissional
fisioterapeuta no período pré-operatório [12-14].
Embora o trabalho do
fisioterapeuta junto à equipe multidisciplinar hospitalar no PECC e POCC seja
reconhecido no cenário mundial, parece existir uma contraposição na literatura
científica quanto aos resultados obtidos no pós-operatório cardíaco e,
subsequentemente, nos programas de reabilitação cardíaca [12-14] Desta forma,
parece haver a necessidade de protocolos de tratamentos contemporâneos e um
conhecimento prévio dos pacientes que serão submetidos a cirurgias cardíacas. Uma
afirmativa que pode ser consistente, uma vez que as reabilitações parecem
necessitar um maior entendimento do paciente e de preditores relacionados a uma
análise multivariada e/ou uma multidimensionalidade no âmbito do paciente
cardíaco, afastando-nos definitivamente da reabilitação padronizada [15].
Portanto, os desfechos
preventivos diante das complicações respiratórias do POCC não demonstram
maiores impactos nos resultados estatísticos demonstrados em diferentes
pesquisas [12-14,16,17]. O presente estudo tem por objetivo identificar os
procedimentos terapêuticos utilizados no pré e
pós-operatório das cirurgias cardíacas e sugerir um método inovador para melhor
caracterizar a atuação do profissional e sua prática de reabilitação.
Realizou-se uma revisão
sistemática da literatura entre os meses de abril e julho de 2018.
Desenvolveu-se um protocolo envolvendo um relatório de avaliação com diferentes
estudos científicos. Nesta organização, utilizou-se o checklist PRISMA [18].
Critérios
de elegibilidade
Na busca literária
aplicou-se a estratégia PICO [19], ou seja, identificando o paciente e demanda
a ser atendida. Desenvolveu-se uma comparativa entre práticas de Fisioterapia
já utilizadas em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca comparando-as com
tratamentos padrões utilizados nos hospitais. Consecutivamente, a análise dos
resultados e valores significativos. População: amostras de pacientes com idade
igual ou superior a 16 anos. Intervenção: o propósito foi coletar dados sobre
os resultados obtidos nos diferentes estudos com terapias e estratégias
fisioterápicas. Controle: O principal comparador estabelecido foi a observação
de terapêuticas fisioterápicas no PEEC e POCC. Desfechos: eficiência do
trabalho da Fisioterapia e as técnicas mais relevantes quanto ao preparo do
paciente.
A estratégia de busca
ocorreu da seguinte forma: estabeleceu-se uma fonte de coleta literária e um
diagrama de fluxo com idiomas em português, inglês ou espanhol. As palavras
chave de acordo com os Descritores em Ciência da Saúde da Biblioteca Virtual em
Saúde Lilacs (DeCS) e as
respectivas datas das publicações a partir dos anos 2000, nas bases de dados
MEDLINE, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Embase e da biblioteca Cochrane. Foram selecionados os
descritores: Cardiac Surgery, Combined Modality Therapy e Heart
Rate associados aos operadores booleanos AND e OR, da seguinte maneira: Cardiac Surgery AND Combined Modality Therapy AND Heart
Rate ou Cardiac Surgery OR Modality Therapy OR Heart Rate de modo a obter artigos mais
aderentes ao tema proposto, ou seja, utilizou-se uma sequência de descritores
para garantir a aleatoriedade na escolha das pesquisas científicas nos
diferentes sites e, um protocolo de avaliação, para identificar os diferentes
tipos de viés. A população foi composta por estudos na literatura contendo em
seu método amostras com paciente no PECC e POCC ou torácica não cardíaca, uma
vez que quando necessário identificar técnicas fisioterápicas utilizadas na
rotina hospitalar.
Seleção
dos estudos e extração dos dados
Critérios de inclusão:
a preferência foi para os estudos de ensaios clínicos. Outros estudos de
revisões sistemáticas e metanálises, coortes
prospectivos, retrospectivos, caso controle, corte
transversal e epidemiológico deveriam apresentar maiores correlações com
o objetivo da pesquisa. A aquisição de livros foi concebida, desde que fosse
para esclarecimento de normas e técnicas fisioterápicas.
Critérios de exclusão:
identificação de trabalhos repetidos; leitura dos títulos não condizentes às
terapias fisioterápicas e à profilaxia no PECC e POCC; análise metodológica com
critérios não cumpridos, poucos detalhes na seção de métodos e ausência de
registro científico e, exclusão pelos objetivos, quando não houve consenso
entre propósito, método e conclusão. Averiguavam-se as amostras, os anos mais
recentes e avaliação da qualidade metodológica nas diferentes pesquisas. O
rastreio teve no primeiro momento a avaliação dos dois pesquisadores de acordo
com os critérios de inclusão e exclusão. Consecutivamente os dois revisores de
forma individual verificavam e ratificavam os critérios. Num segundo momento,
os autores faziam uma leitura mais detalhada de todo o periódico e excluíram os
artigos não pertinentes.
Avaliação
de viés e qualidade metodológica nos diferentes estudos
Averiguavam-se as
amostras, os anos mais recentes e avaliação da qualidade metodológica nas
diferentes pesquisas. Tentava-se identificar as sequencias aleatórias nas
randomizações nos estudos de ensaios clínicos, se baixo ou alto risco de viés,
cegamento de participantes e profissionais, se as razões de perda de dados
estavam ou não relacionadas com os desfechos investigados. Portanto, se as
informações foram suficientes, validade externa, interna, fatores de vieses de
seleção, aferição, confundimento e poder do estudo.
Seguintes estratégias e/ou informações foram obtidas da seguinte maneira: se as
pesquisas de ensaios clínicos respondiam aos objetivos pré-estabelecidos, se a
coleta de dados e as análises foram conduzidas com critérios de inclusão,
exclusão e com uma população definida sem viés e/ou tendenciosidade aos
possíveis desfechos.
Observava-se a
imparcialidade nas coletas, análise dos dados e a neutralidade no critério de
escolha por parte dos diferentes estudiosos nas diversas pesquisas científicas.
Consecutivamente, as estratégias utilizadas com as características das
populações nos diferentes artigos. Tentava-se encontrar os efeitos confundidores nos resultados e, nas revisões de literatura,
a qualidade de evidência na obtenção dos dados. De forma similar foram as
avaliações sobre as técnicas fisioterápicas utilizadas, o delineamento e a
comparação sobre as características clínicas dos pacientes incluídos em cada
estudo.
Outro fator importante
foi o tempo de segmento nos estudos e/ou período em que os tratamentos foram
realizados. Consecutivamente, estabeleceu-se uma dinâmica comparativa entre
estudos anteriores e mais recentes de maiores impactos sobre PECC e POCC. Nos
estudos de coorte se a amostra foi adequada e com similaridade entre os grupos
em observação, se os mesmos apresentavam desfechos condizentes com os objetivos
propostos pelas pesquisas avaliadas, se as informações entre os desfechos foram
obtidas de maneira semelhante. Sucessivamente, a verificação sobre a perda e o
seguimento da amostra, uma vez que deveriam apresentar-se de maneira similar
nos dois grupos: intervenção e placebo.
Nos demais estudos
conservaram-se as mesmas propriedades de investigação avaliando as
particularidades, confiabilidade, validade dos dados e qualidade de evidência
em todos os estudos selecionados. Após todos os critérios metodológicos
utilizados, as informações não bem esclarecidas ou por falta de dados sobre os
diferentes dados nos ensaios clínicos, os autores dos periódicos foram e/ou
seriam contatados para melhores esclarecimentos. Sobre as demais pesquisas,
caso houvesse discordância sobre dois ou mais artigos, a decisão era por
consenso.
Os estudos científicos
que participaram desta revisão sistemática encontraram-se entre os anos de 2000
e 2017. Através da seleção do banco de dados, 1332 artigos foram identificados
sobre o tema de interesse. Após a remoção de 320 artigos duplicados, 1012 artigos
em inglês, português e espanhol foram obtidos para a realização da análise.
Consecutivamente, uma verificação dos títulos mais abrangentes e dos resumos,
foram eliminados 857 artigos, resultando em 155 artigos no primeiro estágio do
estudo e elegíveis para a segunda etapa da revisão sistemática. Dos 155 estudos
analisados na íntegra, 125 foram excluídos pelos seguintes motivos: 16
pesquisas apresentaram uma população diferente do protocolo pré-estabelecido na
atual pesquisa, 63 com poucos detalhes na seção de método, 12 com o projeto de
estudo irrelevante, 28 estudos cujos dados de associação não foram mostrados
entre terapêuticas fisioterápicas e PECC e POCC e 6 com seguimento curto de
tratamento. Obteve-se 30 estudos na seleção final (Figura 1).
Figura 1 - Fluxograma das atividades do processo de seleção nos anos 2000-2017.
Risco de
viés e dados encontrados
Nos ensaios clínicos,
80% apresentaram adequada sequência aleatória na randomização e compatibilidade
quanto aos objetivos e resultados. Contudo, não houve duplo cego em alguns
estudos randomizados reduzindo as expectativas tanto do examinado quanto do
examinador. Cem por cento (100%) descreveram a quantidade de perdas dos
participantes e 50 % dos estudos apresentaram a intenção de tratar. Vale
comentar que nos estudos de revisão literária, 100% apresentaram os métodos de
exclusão e, concomitantemente, respectivas estratégias de busca na bibliografia
científica.
Na tabela I
encontram-se os ensaios clínicos obtidos neste presente estudo, as principais
metodologias e técnicas utilizadas foram: três (3) das pesquisas utilizaram um
material prescrito com orientações para o POCC e recomendações no PECC com
dicas de mobilização respiratórias e posicionamentos para um melhor desempenho
no POCC; três (3) usaram aparelhos de incentivo respiratório; um (1) apontou
técnicas de eletroanalgesia. Quanto ao tempo de
terapêutica aos pacientes no pré-operatório, apenas dois (2) apresentaram e/ou
desenvolveu um seguimento de tratamento mais prologado, um deles 15 dias de
tratamento e outro estudo desenvolveu a Fisioterapia duas vezes ao dia durante
toda a internação no PECC; os outros estudos demonstraram suas respectivas
terapêuticas num período de no máximo 5 dias no PECC. Sobre as terapêuticas no
POCC, apenas dois (2) estudos desenvolveram suas respectivas terapias. Um (1)
estudo demonstrou suas técnicas tanto no PECC quanto no POCC. Este estudo teve
um segmento de 3 dias de terapia no POCC e a outra pesquisa somente no pó-
operatório durante 5 dias.
Tabela I – Características específicas dos estudos de ensaio clínico (ver PDF de Tabela em anexo)
Na tabela II apresentam-se
as características gerais de outros estudos selecionados. Nos estudos de coorte
prospectivo, os fatores de riscos no pré e
pós-operatório e avaliações sobre a importância dos tratamentos fisioterápicos
no PECC e POCC; nos estudos de revisão a identificação sobre os possíveis
tratamentos oferecidos pelo fisioterapeuta e sobre as rotinas de atendimentos
hospitalares; nas coortes retrospectivas as disfunções ventilatórias na
ventilação mecânica; nas pesquisas de corte transversal a investigação sobre a
percepção do paciente sobre o tratamento de fisioterapia; nos dois livros
utilizados, observou-se técnicas de Fisioterapia analgésica e padrões
respiratórios utilizados nas terapias respiratórias e, nos estudos
epidemiológicos, as informações e detalhes clínicos sobre doenças cardíacas.
Tabela II - Características gerais de outros estudos selecionados (2000-2017).
PPCs = Complicações
pulmonares no pós-operatório; RM = Revascularização do miocárdio; LOS = Duração
de internação hospitalar.
De modo geral os estudos
selecionados apontaram informações sobre a atualidade literária. Dentre outras,
identificou-se um maior número de modalidades terapêuticas e a inevitabilidade
de uma conduta inovadora do profissional fisioterapeuta no PECC. Conclui-se que
esta postura e/ou comportamento do fisioterapeuta torna-se relevante e
necessário diante das mudanças da sociedade contemporânea. Portanto, o
profissional atual demanda um atendimento de maior envolvimento dos
especialistas junto à equipe multidisciplinar identificando expectativas do
paciente, o nível de conhecimento sobre autocuidados de maneira a explorar a
importância das orientações e os aspectos clínicos da doença. Tal postura tem
por sugestão de diferentes pesquisadores que identificaram a atual gravidade
das doenças cardíacas nos pacientes das últimas décadas, ou seja, maiores
riscos de complicações no trans e pós-operatório
cardíaco e, concomitantemente, o vigente perfil evolutivo dos enfermos e suas
perspectivas que solicita uma atuação ética de maior envolvimento na tomada de
decisão e que o profissional atenda as suas
expectativas, exigências e melhorias [13,20].
Sobre parâmetros
comparativos, confirmou uma contraposição a respeito da eficiência do trabalho
da Fisioterapia para o POCC, bem como uma dificuldade de identificar os
resultados provindos de suas terapias, devido aos limitados valores
estatísticos para redução das complicações no POCC a partir dos preditores
avaliados e /ou estratégias aplicadas no PECC. No entanto, a implantação de
algumas estratégias específicas envolvendo incentivadores respiratórios e
estratégias mais intensificadas apontaram maiores benefícios para redução do
tempo hospitalar e nas complicações respiratórias mais graves ratificando
imprescindibilidade de tratamento muscular inspiratório (TMI) diferenciados.
O período
pós-cirúrgico, não apenas o trauma da cirurgia restringe a expansibilidade do
tórax, mas simultaneamente, as consequências provocadas pela dor limitando a
mobilidade e a mecânica torácica, que induz os especialistas a utilizarem
recursos para o alívio dos sintomas antes das diferentes e possíveis
modalidades terapêuticas [4,21].
Dentre outras, o
fisioterapeuta tem como opção as técnicas de estimulação elétrica nervosa
transcutânea (TENS) [21]. Pesquisadores utilizaram o TENS reduzindo a
intensidade da dor no POCC (p=0,03). Já nas funções ventilatórias, o pico de
fluxo expiratório (PEF) foi de 100,60 ± 16,49 litros/minuto no PECC com queda
de 65,56 ± 15,28 no POCC, a capacidade vital funcional (CVF), 83,33 ± 17,19 para
52,96 ± 14,61 e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) de
88,10 ± 17,19 caiu para 56,05 ± 16,37 no pós-operatório, demonstrando uma
redução nos valores relacionados ao volume e capacidade pulmonar (p<0,01) [22].
Todavia, a estimulação transcutânea é coadjuvante devido a sua função álgica,
ainda que os valores benéficos possam atender a uma ideia de contestação e/ou
um equívoco quanto à redução da dor, cujas comparativas e análises de
resultados necessitariam imprescindivelmente estarem ajustadas às condições
clínicas dos pacientes [21].
Os tratamentos com
manobras terapêuticas prévias e o preparo pré-concepcional
para o POCC são coadjuvantes na redução dos sintomas [11,23]. O estudo de Lima et al. [13] investigou os cuidados do
fisioterapeuta na equipe multidisciplinar sob a concepção do paciente. Os
autores não identificaram um prognóstico profilático significativo com as
técnicas desenvolvidas no PECC (p>0,05), visto que após coleta dos resultados
indicou percentuais reduzidos e uma atuação fisioterápica de tempo limitado,
tanto no número de atendimentos quanto na duração das terapias, com apenas 10 a
15 minutos de fisioterapia por sessão. Outra pesquisa, com maior número de
sessões utilizando um protocolo de orientações, não concluiu em diferença nas
alterações do volume pulmonar e força muscular inspiratória (P>0,05) [12].
Contudo, melhor preparou o paciente para as fases posteriores à cirurgia,
encurtando o seu tempo de internação hospitalar (LOS) [12].
Em contrapartida,
estudiosos observaram uma redução no risco absoluto (RRA) e número necessário a
tratar (NNT) com 15 dias de TMI no PECC [17]. A técnica prolongada de treino da
musculatura inspiratória proporcionou melhorias na tosse produtiva, hipoxemia,
atelectasia e hipercapnia. Demarcando um aumento na
resistência muscular e maiores benefícios para as complicações de grau > 2
(RRA 17% - NNT 6 pacientes para um benefício) [17]. Diante dos resultados em
diferentes pesquisas, tornou-se importante a variável início de tratamento e
segmento terapêutico [12,17,24], sendo que as terapias realizadas em períodos
inferiores a 15 dias com menos de 60 min de exercícios metabólicos,
respiratórios e treinamento muscular não foram suficientes para observar
diferenças nas medidas de força muscular respiratória e ventilometria
nos pacientes de pré-cirurgia de revascularização do
miocárdio [11].
Outro estudo [25] verificou
a remoção de exercícios respiratórios de uma rotina hospitalar composta por
mobilização precoce e técnicas de respiração profunda. Os resultados não
demonstraram diferenças significativas com a ausência das terapêuticas
respiratórias para os seguintes fatores: tempo de internação pós-operatório,
complicações pulmonares pós-operatórias, na saturação da oxi-hemoglobina
e nas funções do sistema respiratório (p>0,05) [25]. O aparecimento das
disfunções transitórias das trocas gasosas (DTTG) no POCC está relacionado às
pneumonias associadas à ventilação, hemodiálise, hemoterapia e arritmia
cardíaca (p<0,01) [26]. Outra pesquisa identificou um percentual de 78% de
incidência de complicações pulmonares no sexto dia pós-operatório de RM [12].
Em contrapartida, o uso
de técnicas de reexpansão pulmonar, padrões
ventilatórios reexpansivos, treinamento muscular
respiratório e espirometria de incentivo apontaram benefícios em alguns
estudos. Pesquisadores comparando dois grupos, intervenção (GI) e controle
(GII): a pressão expiratória foi significativa no quinto dia pós-operatório
(p=0,001). Os pacientes receberam um protocolo com orientações e recomendações
sobre o treinamento da musculatura utilizando o incentivador respiratório threshold - IMT® (Threshold -
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uma vez ao dia, durante o PECC. A técnica baseava-se na inspiração sustentada
com apneias, expirações prolongadas e mobilizações dos membros superiores
(MMSS), visto que os resultados foram de caráter preventivo, relevante e
confirmaram a necessidade de Fisioterapia na RM [27].
Semelhante foram os
desfechos utilizando o incentivador manovacuômetro
(MVB 300 Globalmed) com expiração até o volume
residual (VR) com o orifício aberto e uma inspiração máxima (PEmáx) até a capacidade pulmonar total (CPT) sustentada por
dois segundos e, consecutivamente, treinamento muscular respiratório com o Threshold IMT®, com início em 30% da PImáx
durante 15 minutos. Os efeitos demonstraram-se promissores, principalmente na
redução do LOS e riscos de desequilíbrio na ventilação-perfusão, reduziu a
retenção de secreções, da hipoxemia e da atelectasia [25]. Todavia,
manifesta-se controversa a ideia e/ou possibilidades de associações entre as
disfunções musculares com as consequências fisiopatológicas menores do POCC, em
razão de que as mesmas estão repercutidas em uma multifatorialidade
de causas e não propriamente as alterações das fibras musculares e redução da
mecânica do movimento [28-30].
O presente estudo de
revisão apresentou algumas limitações: como o reduzido número nas amostras em
diferentes estudos e o não acompanhamento dos pacientes por um período mais
prolongado no pós-operatório. Logo, poderíamos ter um melhor parâmetro sobre a
utilização dos métodos fisioterápicos e identificá-los com maior precisão junto
à equipe multidisciplinar. O ponto forte foi o número de estudos observacionais
sobre as PPCs, o que auxiliou na melhor interpretação
para elucidar novas ideias para o pré-operatório.
Nos achados científicos
existe uma contraposição quanto à eficiência do trabalho da Fisioterapia, bem
como uma dificuldade de identificar os resultados provindos de suas terapias.
Todavia, estudos demonstraram valores mais significativos associados à
espirometria de incentivo, reduzindo o período de internação do paciente.
Outros estudos apontaram o melhor equilíbrio na ventilação-perfusão, diminuição
da retenção de secreções, da hipoxemia e da atelectasia.
Esta pesquisa
identificou a necessidade de uma metodologia inovadora, relacionando idade,
gênero e hábitos de vida, envolvendo um rastreamento clínico e uma investigação
mais individualizada do paciente, com o objetivo de melhorar a força, a
resistência e a qualidade de vida pós-cirúrgica cardíaca. Sobre o maior
reconhecimento do profissional no cenário do estudo científico, sugere-se a
utilização do duplo cego nos ensaios randomizados e um período de no mínimo 15
dias junto à equipe multidisciplinar hospitalar.
Desta forma, hipotetiza-se a ideia de uma prática terapêutica
modernizada, com melhores parâmetros estatísticos de suas terapias junto à
equipe de reabilitação cardiovascular, melhorando o impacto dos resultados
fisioterápicos e facilitando a qualidade de evidência científica para os
diferentes estudos a serem desenvolvidos nos desfechos do pós-operatório
cardíaco.