REVISÃO
Intervenções
fisioterapêuticas utilizadas na reabilitação funcional do membro superior de
mulheres pós-mastectomia
Physiotherapy interventions used in the functional rehabilitation of the
upper limb of women post-mastectomy
Giovana Morin Casassola*, Gabrieli Rodrigues
Gonçalves*, Joana Hasenack Stallbaum**,
Hedioneia Maria Foletto Pivetta***, Melissa Medeiros Braz***
*Discente da
Universidade Federal de Santa Maria, **Mestre em Reabilitação Funcional,
Universidade Federal de Santa Maria, ***Docente da Universidade Federal de
Santa Maria
Recebido 19 de
fevereiro de 2019; aceito 15 de dezembro de 2019.
Correspondência: Giovana Morin Casassola, Rua Erly de Almeida
Lima, 505 Santa Maria RS
Giovana Morin Casassola: giovanacasassola@hotmail.com
Gabrieli Rodrigues
Gonçalves: gabrielirodriguesg@gmail.com
Joana
Hasenack Stallbaum: jo.hs@hotmail.com
Hedioneia Maria Foletto Pivetta: hedioneia@yahoo.com.br
Melissa Medeiros
Braz: melissabraz@hotmail.com
Resumo
Introdução: O procedimento
cirúrgico é o principal tratamento para o câncer de mama e pode ser conservador
ou não conservador. As técnicas cirúrgicas são propostas junto com terapias
adjuvantes (radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia). Independente dos
avanços tecnológicos, esses procedimentos ainda estão associados a uma alta
prevalência de complicações. Objetivo: Este estudo visa identificar os
indicadores de funcionalidade e os tipos de intervenções fisioterapêuticas
utilizadas para avaliação e reabilitação funcional do membro superior de
mulheres pós-mastectomia. Métodos: Pesquisa bibliográfica em que foi
realizada a busca em quatro bases de dados: Scielo;
Pedro; Pubmed e Lilacs.
Foram incluídos ensaios clínicos randomizados que abordaram algum tipo de
intervenção fisioterapêutica na reabilitação da funcionalidade de membro
superior de mulheres pós-mastectomia no período de 2012 a julho de 2018. Resultados:
Os indicadores de funcionalidade encontrados nos artigos foram amplitude de
movimento, força muscular, volume do membro, dor, funcionalidade e qualidade de
vida. As intervenções fisioterapêuticas propostas pelos artigos foram:
alongamentos; mobilização articular; mobilização neural; educação em saúde;
massagem cicatricial; terapia miofascial; terapia convencional descongestiva;
terapia vibratória; acupuntura; exercício ativo e fortalecimento muscular. Conclusão:
Os resultados apresentados neste estudo evidenciam a importância da
fisioterapia, tanto para identificar as possíveis complicações, quanto para o
tratamento.
Palavras-chave: fisioterapia,
neoplasia da mama, funcionalidade, membro superior.
Abstract
Introduction: The surgical procedure is the main treatment for breast cancer and may
be conservative or non-conservative. Surgical techniques are proposed along
with adjuvant therapies (radiotherapy, chemotherapy and hormone therapy).
Regardless of technological advances, these procedures are still associated
with a high prevalence of complications. Objective: This study aims to identify
the indicators of functionality and the types of physiotherapeutic
interventions used for evaluation and functional rehabilitation of the upper
limbs of post-mastectomy women. Methods: A literature review was carried
out in four databases: Scielo; Pedro; Pubmed and Lilacs. We included randomized clinical trials
that addressed some type of physiotherapeutic intervention in the
rehabilitation of upper limb functionality of women after mastectomy from 2012
to July 2018. Results: Functional indicators found in the articles were
range of motion, muscle strength, volume of limb, pain, functionality and
quality of life. The physiotherapeutic interventions proposed by the articles
were: stretching; joint mobilization; neural mobilization; health education;
scar massage; myofascial therapy; conventional decongestive therapy; vibratory
therapy; acupuncture; active exercise and muscle strengthening. Conclusion:
The results presented in this study show the importance of physical therapy,
both to identify possible complications and to treat them.
Keywords: physical therapy specialty, breast neoplasms, functionality, upper
limb.
O câncer (CA) de mama é
a neoplasia mais comum nas mulheres de todo o mundo. No Brasil estão estimados
59.700 (29,5%) novos casos para 2018 [1]. O CA de mama é caracterizado pela
multiplicação desordenada e sem controle das células do tecido mamário,
tornando-se um grande problema na saúde pública [2,3].
O procedimento
cirúrgico é o principal tratamento para o CA de mama, pela possibilidade de
erradicar o tumor e aumentar a sobrevida [4]. A abordagem cirúrgica pode ser
conservadora (quadrantectomia, setorectomia
ou tumorectomia) ou não conservadora (mastectomia,
seguida ou não de reconstrução mamária), geralmente associada à linfadenectomia
ou biópsia de linfonodo sentinela [5,6]. As técnicas cirúrgicas são propostas
junto com terapias adjuvantes, como radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia
[7,4].
Com a melhor
compreensão das características biológicas dos tumores mamários, o tratamento
cirúrgico passou a ser menos agressivo [8]. Porém, independente dos avanços
tecnológicos e da abordagem cirúrgica utilizada esses procedimentos ainda estão
associados a uma alta prevalência de complicações no membro superior
homolateral à cirurgia. Algumas alterações físicas importantes são encontradas
durante e após o tratamento cirúrgico da neoplasia da mama, como dor,
parestesia, linfedema, diminuição da força muscular e redução da amplitude de
movimento, as quais repercutem negativamente sobre a funcionalidade e a
qualidade de vida [9].
O estudo de Faria et
al. [10] aponta para uma alta prevalência de morbidade de membro superior de
mulheres submetidas a mastectomia radical. De acordo com o tipo de cirurgia,
maiores são os índices de complicações. A mastectomia radical é uma cirurgia
“mutiladora” devido a retirada do músculo peitoral, causando diversas
alterações funcionais no membro superior (MS) [11].
A função do membro
superior é a base das capacidades motoras finas e grossas, fundamentais para as
atividades da vida cotidiana [12]. A funcionalidade é definida pela interação
entre as condições de saúde e os fatores contextuais no qual o indivíduo está
inserido, bem como suas atividades de vida diária [13].
A fisioterapia atua na
prevenção e no tratamento das complicações cirúrgicas, tendo como objetivo a
preservação da funcionalidade e a melhora da qualidade de vida de mulheres
submetidas a cirurgia de mama [14]. Muitas são as técnicas e condutas
utilizadas, contudo não são descritos quais os elementos a serem avaliados que
devem ser adotados para o monitoramento da funcionalidade. Nesse sentido, este
estudo visa identificar esses elementos que são indicadores de função para que
possa estimar sobre a funcionalidade do membro superior desses pacientes. Do
mesmo modo, os tipos de intervenções fisioterapêuticas utilizadas para
avaliação e reabilitação funcional do membro superior de mulheres
pós-mastectomia também carecem de maior detalhamento.
Material e métodos
Pesquisa bibliográfica
em que foi realizada a busca em quatro bases de dados: Scielo
(http://www.scielo.org/php/index.php);
Physiotherapy Evidence
Database (Pedro; https://www.pedro.org.au/); Pubmed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/)
e Lilacs (http://lilacs.bvsalud.org/).
A combinação de termos
utilizados foram: funcionalidade, amplitude de movimento, cirurgia de mama,
neoplasia de mama e reconstrução mamária e seus respectivos termos em inglês. Os cruzamentos dos descritores foram: range of motion and functionality, range of motion
and breast reconstruction, range of motion and breast surgery, functionality
and breast reconstruction, functionality and breast neoplasm, functionality and
breast surgery.
Seleção dos estudos
A busca foi realizada
por duas pesquisadoras independentes, que elegeram os estudos relevantes com
base nos títulos e resumos. De acordo com os critérios de elegibilidade, os
estudos selecionados foram analisados na íntegra e aplicados os critérios de
inclusão e exclusão. Na discordância das pesquisadoras em qualquer uma das
fases de seleção dos estudos, foi definido pela argumentação entre elas, e em
caso de desacordo uma terceira pesquisadora emitiu o parecer final (figura 1).
Figura 1 - Fluxograma de
planejamento da busca.
Critérios de inclusão e
exclusão
Foram incluídos ensaios
clínicos randomizados (ECR) que abordaram algum tipo de intervenção
fisioterapêutica na reabilitação da funcionalidade de membro superior de
mulheres pós-mastectomia no período de 2012 a julho de 2018. Selecionaram-se
artigos com disponibilização na íntegra, nas línguas inglesa ou portuguesa, que
obtiveram pontuação maior que 3 na escala PEDro.
A escala PEDro possui uma pontuação que varia de 0 a 10, que avalia
por meio de 11 itens, a qualidade e a confiabilidade dos ECR na área da
fisioterapia [15].
Para verificar a
reprodutibilidade e concordância entre as avaliadoras da qualidade metodológica
dos artigos foi utilizado o Índice de correlação intraclasse,
bem como seu intervalo de confiança, 0,984 (0,941-0,996), o que indica alta
reprodutibilidade e concordância.
Foram excluídos artigos
de revisão, artigos que abordaram técnicas cirúrgicas e efeitos de tratamentos
adjuvantes, trabalhos publicados em anais de eventos, teses, dissertações,
monografias e artigos não disponíveis na íntegra ou duplicados.
Análise dos estudos
A análise dos estudos
foi realizada mediante a investigação das seguintes variáveis: avaliação da
qualidade do método, amostra e caracterização dos estudos (país de publicação,
idioma, objetivo do estudo, amostra, faixa etária, tipo de estudo e tempo de
intervenção), instrumentos, indicadores de função que sugerem sobre a
funcionalidade e abordagens fisioterapêuticas adotadas.
Os resultados da busca
nas bases de dados até a seleção dos artigos incluídos estão apresentados na
figura 2.
Figura 2 - Fluxograma com os
critérios de buscas nas bases de dados escolhidas.
Avaliação da qualidade
metodológica
Adotou-se como critério
de seleção dos artigos a avaliação da qualidade metodológica deles. Os escores
da avaliação metodológica realizada pela escala PEDro
nos artigos selecionados variou de 4 a 10. O escore mínimo para seleção dos
estudos foi de 3, baseado no estudo de Shiwa et al.
[16], que realizou uma revisão sistemática com 50 ECR publicados na PEDro, e observou que os artigos nacionais obtiveram uma
pontuação mínima de 3,4 e internacionais 5,2.
Os critérios de
elegibilidade foram descritos em todos os estudos. Quanto à distribuição
aleatória, 70% desempenharam este critério. No critério de alocação oculta, 70%
não cumpriram com este item. A comparabilidade de bases foi realizada em 90%
dos estudos. Nos critérios referentes ao cegamento, 40% tiveram indivíduos
cegados, 40% cegou os terapeutas e 50% utilizaram avaliadores cegos. O adequado
follow-up foi executado em 80% dos estudos. Análise da intenção de tratamento,
comparação estatística entre os grupos e pontos estimados e variabilidade foram
realizadas em todos os estudos.
Amostra e
caracterização dos estudos
Nos estudos selecionados
ocorreu variação no tamanho amostral com uma média de 72,2 (18 a 160) mulheres
incluídas. A maioria dos artigos foi escrito na língua inglesa, apenas 1 em
português. O país com maior número de publicações foi o Brasil com 40% (n = 4).
Os demais estudos foram publicados em: Canadá, Austrália, Japão, Coréia do Sul,
Espanha e Bélgica (n = 1) (Tabela A).
Tabela A - Caracterização
dos estudos analisados. (ver anexo em PDF)
Instrumentos e
indicadores de função analisados
Todos os artigos
selecionados avaliaram amplitude de movimento (ADM), 50% (n = 5) por meio do
goniômetro e 30% (n = 3) por meio do inclinômetro. A
força muscular foi avaliada em 50% (n = 5) dos artigos, todos avaliados com o
dinamômetro. O volume do membro foi avaliado em 60% dos estudos (n = 6).
Destes, 66,6 (n = 4) utilizaram a perimetria e 16,6
(n = 1) perômetro como método de avaliação. Dos
artigos selecionados, 50% (n = 5) avaliaram a intensidade da dor. Destes, 100%
(n = 5) utilizaram a escala visual analógica da dor (EVA) (Tabela B).
A funcionalidade do
membro superior foi avaliada em 50% (n = 5) dos estudos. Destes, 80% (n = 4) utilizaram o questionário
Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH) e 20% (n = 1) aplicaram o Wingate Daily Life Activities Table
(WDLAT). Qualidade
de vida (QV) foi avaliada em 40% (n = 4) dos artigos. Destes, 50% (n = 2) utilizaram o European organization for research and
treatment of cancer quality of life questionnaire, breast cancer module
(EORTIC BR-23), 25% (n = 1) aplicaram o Breast
questionnaire (FACT-B + 4) e 25% (n = 1) short form 36.
Tabela B - Indicadores de
função avaliados pelos artigos.
*O artigo não descreve o
instrumento utilizado na avaliação
Abordagem
fisioterapêutica
As intervenções
fisioterapêuticas propostas pelos artigos foram: alongamentos dos músculos
peitorais [17,19], músculos do pescoço [22,24], cintura escapular [22] e do
membro superior [24,25]; mobilização articular da glenoumeral
[17,18,19,24,26] e escapulo-torácica [19,24,26]; mobilização neural [18];
educação em saúde [17,23]; massagem cicatricial [17,19,24]; terapia miofascial
[19]; terapia convencional descongestiva [18,20]; terapia vibratória [21];
acupuntura [22]; exercício ativo [20,24,26] e fortalecimento muscular
[17,19,20,22,24,25].
A técnica mais
utilizada pelos estudos foi a mobilização articular aplicada em 60% (n = 6) dos
artigos, seguida de alongamentos em 50% (n = 5), fortalecimento muscular em 40%
(n = 4), educação em saúde em 30% (n = 3). A massagem cicatricial, DLM,
exercícios de resistência e ativos foram citados em 20% (n = 2) dos artigos.
Para a melhora da dor,
as abordagens fisioterapêuticas que demonstraram bons resultados foram
alongamentos, mobilizações articulares, fortalecimento muscular, terapia
convencional descongestiva e terapia vibratória. Para a reabilitação da ADM, as
mobilizações articulares e mobilização neural, terapia convencional
descongestiva, terapia vibratória, alongamentos, educação em saúde, massagem
cicatricial, exercícios ativos e fortalecimento muscular apresentaram melhora
na reavaliação. Para a força muscular foram aplicados alongamentos,
fortalecimento muscular, educação em saúde e terapia vibratória, demonstrando melhora
nos resultados. O linfedema foi estudado em um artigo e apresentou melhora com
a terapia convencional descongestiva. A qualidade de vida teve melhora nos
escores do questionário após a intervenção com mobilização articular, massagem
cicatricial, alongamentos e exercícios ativos.
Algumas intervenções
utilizadas pelos estudos não demonstraram resultados positivos ou não
apresentaram diferença entre o grupo controle, como terapia miofascial para
melhora da função [19], mobilização articular, que comparado com exercício
ativo para ADM não apresentou melhora [26], educação em saúde comparado com
fisioterapia [17] e acupuntura não teve melhora na dor e funcionalidade [22].
Foram analisados dez
estudos, os quais abordaram métodos de avaliação e as intervenções
fisioterapêuticas após o tratamento para o câncer de mama. Todos os artigos
avaliaram a ADM de membro superior, assim sendo está considerada como um
importante indicador de funcionalidade em mulheres submetidas a cirurgia
oncológica. Salienta-se que para a avaliação da ADM 80% dos autores utilizaram
o goniômetro. Alguns artigos presentes nessa revisão salientam apenas a
avaliação da ADM como um instrumento da funcionalidade, porém segundo Jesus et
al. [27] a funcionalidade engloba outras variáveis, como força muscular,
dor, sensibilidade e volume.
A força muscular foi
avaliada em 50% dos estudos com o dinamômetro. De acordo com os estudos de
Silva et al. [28] e Lahoz et al. [29],
a restrição do movimento diminui significativamente a força muscular do membro
superior homolateral a cirurgia da mama. Para o restabelecimento da ADM e da
funcionalidade, é necessário que essas mulheres tenham força suficiente para
realizar suas atividades de vida diárias [30].
A presença do linfedema
pode acarretar prejuízos na mobilidade, diminuição da força muscular, dor e
aumento do peso membro, ou seja, diminuindo a funcionalidade das mulheres [31].
Dor após o tratamento do câncer é muito comum, as mulheres que manifestam esse
sintoma exibem uma limitação na funcionalidade com consequente diminuição da
qualidade de vida [32].
Seis dos artigos
selecionados para essa revisão avaliaram o volume do membro superior, porém
apenas 3 destes avaliaram associado ao volume, a dor e a funcionalidade das
pacientes. Isso demonstra uma falha em algumas pesquisas, pois o linfedema
apresenta como sintoma a dor e redução da ADM, o que afeta também a
funcionalidade e qualidade de vida das pacientes. Desta forma, pode-se afirmar
que o linfedema reduz significativamente o funcionamento físico, a mobilidade,
e a capacidade de realizar atividades de vida diária [33,34]. No estudo de Park
et al. [20], o linfedema apresentou redução quando tratado por meio da
terapia convencional descongestiva. Essa técnica é citada na literatura por
Soares et al. [35], a qual mostrou-se eficaz na redução do linfedema e
melhorou a qualidade de vida do grupo intervenção.
Dois estudos utilizaram
terapias alternativas para a reabilitação funcional de membro superior. A
terapia vibratória foi benéfica na redução da dor, aumento da ADM e força
muscular e ativou o mecanismo de contração muscular. Já a acupuntura como
método de reabilitação para a dor e ADM não apresentou diferença estatística
entre o grupo que realizou somente exercícios e o grupo que realizou exercícios
associados a acupuntura. Segundo a revisão realizada por Novaes et al.
[36], a acupuntura foi benéfica para reduzir os sintomas associados ao
tratamento oncológico. O estudo de Gatti et al. [37] demonstrou em seu estudo
que a utilização de alguma terapia foi relatada por 83% dos pacientes de um
hospital privado, sendo a acupuntura mais utilizada.
As intervenções mais
utilizadas nos artigos analisados foram mobilização articular, alongamentos e
fortalecimento muscular. Essas técnicas mostraram bons resultados, assim como
vem sendo proposto por outros autores. Como no estudo de Petry
et al. [38], Nava et al. [30] e Junior et al. [39] que
utilizaram alongamentos, mobilização articular, exercícios ativos, exercícios
resistidos, mobilização cicatricial e liberação miofascial, afirmando que houve
melhora na ADM, dor e qualidade de vida das pacientes após o período de
intervenção. Segundo Alves et al. [40], a fisioterapia é fundamental
para a melhora da funcionalidade, pois sua redução é considerada um declínio na
condição física e incapacidade de realizar atividades diárias, refletindo
negativamente na vida do indivíduo [41,42].
Para além dos aspectos
destacados, os estudos apresentaram algumas limitações, como por exemplo, a
funcionalidade, que foi avaliada em 50% dos artigos, entretanto, um destes [23]
tem como objetivo avaliar a melhora da função, mas em sua metodologia não
utiliza nenhum instrumento que responde ao objetivo. Portanto, não seria
adequado inferir que houve melhora da função do membro superior.
O volume do membro
superior foi avaliado em 60% dos artigos selecionados, a maior parte com a perimetria (66,6%). Um dos estudos analisados [22], analisa
o volume em sua pesquisa, porém, não descreve com qual instrumento ele avalia o
membro. Assim como outro estudo [20] incluído nesta revisão, que possui como
critério de inclusão mulheres que possuam o diagnóstico de linfedema de
extremidade superior, entretanto, não avalia o volume do membro.
Dor foi avaliada por
50% dos autores e o instrumento utilizado por todos foi a EVA. Um dos estudos
analisados apresentou como critérios de inclusão possuir dor na região do
ombro, entretanto o autor não avaliou a intensidade da dor [19]. Alguns artigos
não avaliaram a intensidade da dor, mas também não excluíram pacientes com dor
[24-26].
A sensibilidade não foi
avaliada por nenhum dos artigos selecionados para esta revisão sistemática.
Mesmo os autores que julgam avaliar a funcionalidade não contemplaram a
sensibilidade. A alteração da sensibilidade é enfatizada na literatura, pois
pode predispor a lesões no membro no superior, acarretando processos
infecciosos e inflamatórios que levam a restrição da mobilidade e diminuição da
qualidade de vida [43].
Os principais achados
em nosso estudo foram os indicadores de função e abordagens fisioterapêuticas
utilizadas para avaliação e reabilitação funcional do membro superior de
mulheres pós-mastectomia. Os indicadores de função encontrados na literatura
foram ADM, força muscular, dor, circunferência do membro superior, assim como a
avaliação da funcionalidade e qualidade de vida. E as intervenções
fisioterapêuticas que apresentaram significância clínica e estatística foram
alongamentos, mobilizações articulares, terapia convencional descongestiva,
terapia vibratória, mobilização neural, educação em saúde, massagem
cicatricial, exercícios ativos e fortalecimento muscular.
Os resultados
apresentados neste estudo evidenciam que o tratamento oncológico teve
influência negativa na funcionalidade do membro superior. Desta forma, a
fisioterapia é de extrema importância, tanto para identificar as possíveis
complicações, quanto para o tratamento delas.
De um modo geral, os estudos
analisados nesta revisão sistemática demonstraram que a fisioterapia possui
técnicas amplamente utilizadas na prática clínica, e se mostraram eficientes na
melhora da funcionalidade do membro superior após o tratamento do câncer de
mama, havendo a necessidade da abordagem fisioterapêutica no pré e pós-operatório imediato e tardio.
Os estudos dificultaram
a comparação entre eles, por apresentarem técnicas heterogêneas, além disso,
foram encontradas outras limitações como, pequeno tamanho amostral e métodos
inespecíficos. Deste modo, há a necessidade de estudos futuros
metodologicamente adequados para maior embasamento que permitam a análise e
comparação dos resultados e uma conclusão mais consistente para recomendação
ampla da técnica.