ARTIGO
ORIGINAL
Influência
da visão e da dupla tarefa no controle postural de idosas com perdas urinárias
Influence
of vision and dual task on postural control of elderly women with urinary
losses
Joane Severo Ribeiro, M.Sc.*, Melissa Medeiros Braz, D.Sc.**,
Luiz Fernando Cuozzo Lemos, D.Sc.**,
Patrícia Paludette Dorneles, M.Sc.***,
Carlos Bolli Mota, D.Sc.**
*Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS, **Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ***Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões – URI, Santiago/RS
Recebido em 28 de
fevereiro de 2019; aceito em 26 de abril de 2019.
Correspondência: Joane
Severo Ribeiro, Rua Carlos Lang, 115/403, 97020130 Santa Maria RS, E-mail:
joaneribeiro@gmail.com; Melissa Medeiros Braz: melissabraz@hotmail.com;
Patrícia Paludette Dorneles:
patriciapaludette@gmail.com; Luiz Fernando Cuozzo
Lemos: luizcanoagem@yahoo.com.br; Carlos Bolli Mota:
bollimota@gmail.com
Resumo
Introdução: A incontinência
urinária (IU) é um processo natural do envelhecimento, afetando 25 a 45% das
mulheres brasileiras. Portadores de IU podem apresentar alterações no controle
postural, pois a musculatura do assoalho pélvico é responsável pela
estabilização das estruturas da pelve, possuindo íntima relação com o controle
postural estático. Objetivo: Comparar
o controle postural de mulheres idosas com perdas urinárias e continentes, nas
condições de olhos abertos, supressão da visão e teste de dupla tarefa. Métodos: Estudo observacional de caráter
transversal com 46 idosas, 26 com IU com 68,31 ± 5,79 anos e 20 continentes com
69,3 ± 6,87 anos. Realizou-se anamnese para identificar aspectos de saúde das
idosas, onde incluía autorrelato de perda urinária.
Para análise do controle postural utilizou-se uma plataforma de força para a
obtenção dos dados referentes ao centro de pressão (COP). A normalidade dos
dados foi verificada através do teste de Shapiro-Wilk
e teste t de Student. O nível de significância
adotado foi de 5%. Resultados: Não
foram observadas diferenças significativas em todas as variáveis do COP na
situação de olhos abertos, nem nas variáveis COPap
e COPml de olhos fechados, bem como no COPap, COPml
e COPvel na dupla tarefa. As
variáveis COPvel e COPelp
de olhos fechados e COPelp na dupla
tarefa, apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05). Conclusão: As mulheres idosas com relato
de IU apresentaram um pior desempenho do controle postural estático no que se
refere a velocidade média de oscilação e a área de oscilação, quando comparadas
às idosas continentes.
Palavras-chave: equilíbrio postural,
dupla tarefa, idosos, incontinência urinária.
Abstract
Introduction:
Urinary incontinence (UI) is a natural process of aging, affecting 25 to 45% of
Brazilian women. UI patients may present changes in postural control, since the
pelvic floor musculature is responsible for the stabilization of the pelvic
structures, having an intimate relationship with the static postural control. Objective: To compare the postural
control of elderly women with urinary losses and continents, in conditions of
open eyes, suppression of vision and double task test. Methods: Observational cross-sectional study with 46 elderly women,
26 with UI, 68.31 ± 5.79 years and 20 continents, with 69.3 ± 6.87 years.
Anamnesis was performed to identify aspects of the elderly women's health,
including self-report of urinary loss. For analysis of the postural control, a
force platform was used to obtain the data related to the pressure center
(COP). The normality of the data was verified through the Shapiro-Wilk test and
Student's t-test. The level of significance was 5%. Results: There were no significant differences in all COP variables
in the open-eyes situation, nor in the COPap
and COPml variables with eyes closed, as
well as in COPap, COPml
and COPvel in the double task. The COPelp and COPelp
variables with closed eyes and COPelp in
the double task presented statistically significant differences (p <0.05). Conclusion: Older women with UI reported
worse performance of static postural control in relation to mean oscillation
velocity and oscillation area, when compared to the elderly women.
Key-words: postural
balance, dual task, elderly, urinary incontinence.
Com o aumento da
expectativa de vida da população, e sendo os idosos o grupo que mais cresce
atualmente, despertou maior interesse com a saúde e a qualidade de vida dos
mesmos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [1] mostram
que no Brasil já são 23,5 milhões de idosos, e no estado do Rio Grande do Sul esta população equivale a 14,7% do total. As perspectivas
em nível mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde [2,3], é que no ano de
2025 a população de idosos será mais de 1,2 bilhão.
O aumento de
expectativa de vida das mulheres em relação aos homens nos últimos anos [1]
despertou maior preocupação e interesse na saúde e na qualidade de vida desta
população. Considerando que as mulheres podem viver mais de um terço de suas
vidas após a menopausa, torna-se necessário a compreensão mais aprofundada
sobre o processo de envelhecimento feminino e, também, de certa forma, das
enfermidades que podem acometer facilmente este grupo.
Dados epidemiológicos
apontam que 20% das mulheres no climatério apresentam perdas urinárias
involuntárias, 26% em fase reprodutiva e esses números sobem para 30 a 40% na
menopausa [4,5]. Segundo a OMS, a incontinência urinária (IU) afeta mais de 200
milhões de pessoas no mundo todo, e é considerado um problema de saúde pública
[2,3].
Além disso, com o
processo de envelhecimento, a mulher sofre alterações posturais que podem
desestruturar sua estrutura pélvica. Com isso, o corpo busca um novo
equilíbrio, muitas vezes com danos às funções orgânicas [6]. Assim, os
desequilíbrios pélvicos podem levar a um déficit da musculatura perineal e
contribuir negativamente, para a continência [7].
Portadores de IU podem
apresentar alterações do controle postural [8,9], tendo em vista que a
musculatura do assoalho pélvico (MAP) é responsável pela estabilização das
estruturas da pelve, e que o processo de envelhecimento desencadeia perdas
musculares, assim alterações da MAP podem ter íntima relação com a diminuição
da capacidade de manutenção do controle postural estático e dinâmico [10-12].
Dessa forma, é provável que a IU seja associada com uma diminuição da atividade
dos MAP, mudanças posturais e consequentemente, alterações de equilíbrio.
Com o aumento da idade,
a capacidade de executar determinadas tarefas motoras diminui [13]. O idoso é
capaz de manter o equilíbrio postural quando está concentrado na realização de
uma atividade específica, mas pode não apresentar o mesmo padrão de execução
quando precisa realizar múltiplas tarefas simultaneamente [14,15]. Quando se
tem a necessidade da realização concomitante de várias atividades, dividindo a
atenção do idoso, isso pode gerar dificuldades no desempenho motor e no
controle do equilíbrio [14].
Tendo em vista este
contexto, o presente estudo tem por objetivo investigar a influência da visão e
da realização do teste de dupla tarefa no controle postural em mulheres com e
sem relatos de queixas de perdas urinárias.
Amostra
Participaram
voluntariamente do estudo 46 mulheres idosas, 26 que referiram perdas urinárias
diárias e 20 que não referiram perdas urinárias. As idosas responderam a uma
ficha de anamnese, em que haviam perguntas referentes ao estado geral de saúde,
incluindo o questionamento se apresentavam perdas urinárias, bem como se
realizavam tratamento para tal. A amostra não aleatória foi selecionada entre
idosas da comunidade e de grupos de conveniência da cidade de Santa Maria/RS, e
foram convidadas a participar da pesquisa por meio de cartazes e contato direto
nos grupos.
Para o cálculo amostral
foi realizado um estudo piloto com 18 sujeitos, utilizando uma das variáveis
como parâmetro para a definição do tamanho amostral. O software G*Power 3.1.9.2
foi utilizado para o cálculo da amostra, adotando um tamanho de efeito de 0,8,
intervalo de confiança de 95% e poder de 80. Com isso, o tamanho amostral
necessário ficou definido com 19 sujeitos por grupo.
Como critério de
inclusão os indivíduos deveriam ser do sexo feminino, ter mais de 60 anos de
idade, não apresentar patologias que pudessem interferir no resultado do estudo
como: AVC, doença de Parkinson, distúrbios vestibulares, deficiência visual não
corrigida, diabetes mellitus desregulada; fazer uso de dispositivos
deambulatórios e apresentar condições cognitivas para responder aos
questionamentos de anamnese e questionários.
Questões
éticas
O projeto de pesquisa
foi aprovado pelo comitê de ética da UFCSPA com o número de parecer 1710-12 e
número de cadastro no CEP 996-12. Todos os participantes que concordaram em
participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Procedimentos
Primeiramente foi
realizada uma anamnese, a qual foi constituída de uma ficha com dados pessoais,
relato de dores e locais, aspectos gerais de saúde, uso de medicamentos, estilo
de vida (ingestão de bebidas alcóolicas, cigarro e realização de atividades
físicas), relato de perdas urinárias e se estava realizando tratamento em
virtude disso. As avaliações foram realizadas numa sala em ambiente silencioso
e climatizado, em única visita ao laboratório de biomecânica da Universidade
Federal de Santa Maria, LABIOMEC. Após, realizou-se a avaliação antropométrica
de massa e estatura do sujeito, por meio de uma balança digital e estadiômetro. Mostrou-se o ambiente em que seriam
realizadas as avaliações, e foi feita a explicação de todos os procedimentos
previamente e os sujeitos assinaram o TCLE.
Antes da realização da
avaliação, os sujeitos ficaram sentados em repouso por cinco minutos. Durante a
avaliação, o sujeito de pesquisa foi solicitado a adotar a postura ortostática bipodal sobre a plataforma de força AMTI OR6-6 2000 (Advanced Mechanical Technologies, Inc.) com os pés descalços,
onde foi fixada uma folha e desenhada com a posição dos pés a fim de que fosse
utilizada a mesma base de apoio para todas as tentativas.
Foram realizadas seis
coletas para verificação dos dados de controle postural de cada sujeito. Nas
duas primeiras tentativas foi solicitado a cada participante que permanecesse
em pé com os olhos abertos (OA) o mais estático possível sobre a plataforma
durante 30 segundos, com foco visual fixado em um tripé na altura dos olhos de
cada indivíduo a uma distância de 2,70 metros. Os indivíduos repetiram o
procedimento em: duas tentativas com os olhos fechados (OF), e mais duas
tentativas realizando o teste de dupla tarefa stroop
color (SC). Após cada tentativa, pedia-se para o indivíduo sair da plataforma
de força, descansar 1 minuto e seguir para a próxima avaliação.
O teste de dupla tarefa
foi executado da seguinte forma: foi apresentada uma projeção em uma tela de
projeção branca com a escrita de doze nomes de cores, pintadas em cores
distintas dos referidos nomes, com tamanho de fonte 60, distribuídas três por
linha, totalizando quatro linhas por slide, após 13 segundos mudava-se o slide
para inverter a ordem da distribuição das palavras (Figura 1). A projeção
estava à frente dos indivíduos avaliados, a uma distância de 3 metros, numa
tela de 2 metros de largura por 1,5 metros de altura, com o projetor conectado
a um computador, que gerou e controlou a apresentação de slides. Antes do
início das avaliações foi explicada para cada indivíduo a forma de executar o
teste de dupla tarefa, devendo ficar o mais parado possível, falar apenas a cor
na qual as palavras estavam pintadas e não realizar a leitura da cor. Também
foi orientado que a cada mudança do slide se iniciava o texto sempre na
primeira linha (não onde se interrompeu o teste/leitura). O início da projeção
do teste de dupla tarefa era acionado com um passador de slides, ao mesmo
instante da avaliação de controle postural.
Figura 1 – Projeção do teste de dupla tarefa stroop
color.
Os dados cinéticos
foram coletados através da plataforma de força operando a 1000 Hz e no
nível solo. Para filtragem dos dados brutos de força e momento, foi utilizado
um filtro passa baixa Butterworth de 4ª ordem com uma
frequência de corte de 10 Hz. A partir de tais procedimentos foram calculadas
as posições do COP. As variáveis analisadas foram as amplitudes de deslocamento
do COP nos eixos anteroposterior (COPap) e
médio-lateral (COPml), obtidas através
diferença entre o valor máximo e mínimo atingido pelo COP em cada direção, a
velocidade média do COP (COPvel), obtida
pela divisão do valor de deslocamento total do COP pelo tempo de cada tentativa
(30 segundos) e a área de oscilação do COP (COPelp)
[16].
A área de oscilação
considerada foi a área da elipse 95%, a qual é descrita como a região em que
com 95% de probabilidade contém o centro da oscilação do corpo [17]. Foram
utilizadas duas tentativas válidas, escolhidas aleatoriamente, de cada situação
e primeiramente foi realizada uma média dos valores das variáveis de cada
sujeito de pesquisa, e após uma média geral de todos os indivíduos dentro de
cada tentativa.
Análise
estatística
Os dados foram
analisados utilizando-se o programa estatístico SPSS 17.0. A normalidade dos
dados foi verificada através do teste de Shapiro-Wilk,
as características dos indivíduos e as variáveis estudadas foram submetidas à
estatística descritiva.
Os dados das variáveis COPap, COPml,
COPvel, COPelp,
da situação OA; COPap, COPml,
COPvel, COPelp
da situação OF; e COPap, COPml, COPvel,
COPelp da situação SC apresentaram
distribuição normal. Para realizar as comparações entre as situações foi
utilizado o teste t de Student para amostra
independente.
O nível de
significância adotado para todos os testes foi de 5%.
O grupo de idosas
avaliadas (grupo de idosas incontinentes e idosas continentes), no presente
estudo não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, no que se
refere à idade, estatura, massa e IMC, caracterizando-se por grupos homogêneos
entre si. A caracterização das participantes da pesquisa está descrita na
Tabela I.
Tabela I - Médias e desvios padrão de idade, dados antropométricos e número de
indivíduos em cada grupo.
IU = Incontinência
Urinária; DP = Desvio padrão.
Na Figura 2, estão
representadas as comparações entre os grupos de idosas incontinentes (IU) e
continentes (CONT) na situação de olhos abertos (OA). Sendo representado na
Figura 2(A) os valores de oscilação ântero-posterior
(COPap), na Figura 2(B) oscilação médio-lateral
(COPml), na 2(C) os valores da velocidade
média de oscilação (COPvel) e na Figura
2(D) os valores da área de oscilação do Centro de Pressão (COPelp).
Verificando-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre as
variáveis do COP na situação de olhos abertos, entre os grupos de idosas
analisadas.
Figura 2 - Comparativo das variáveis do COP, na situação de olhos abertos, entre
os grupos de idosas incontinentes e de continentes.
Na Figura 3, estão
representadas as comparações entre os grupos de idosas incontinentes (IU) e
continentes (CONT) na situação de olhos fechados (OF). Sendo representado na
Figura 3(A) os valores de oscilação ântero-posterior
(COPap), na Figura 3(B) oscilação médiolateral (COPml),
na 3(C) os valores da velocidade média de oscilação (COPvel)
e na Figura 3(D) os valores da área de oscilação do Centro de Pressão (COPelp). Verificando-se que não houve diferença
estatisticamente significativa entre as variáveis do COPap
e COPml. E diferenças estatisticamente
significativas entre as variáveis COPvel
(p = 0,0048) e COPelp (p = 0,0139) na
situação de olhos fechados.
*indica diferença
significativa com p < 0,05
Figura 3 - Comparativo das variáveis do COP, na situação de olhos fechados, entre
os grupos de idosas incontinentes e de continentes.
Na Figura 4, estão
representadas as comparações entre os grupos de idosas incontinentes (IU) e
continentes (CONT) na situação de realização de teste de dupla tarefa stroop color (SC). Sendo representado na Figura 4(A) os
valores de oscilação ântero-posterior (COPap), na Figura 4(B) oscilação médiolateral (COPml),
na 4(C) os valores da velocidade média de oscilação (COPvel)
e na Figura 4(D) os valores da área de oscilação do Centro de Pressão (COPelp). Verificando-se que não houve diferença
estatisticamente significativa nas variáveis COPap,
COPml e COPvel
entre os grupos de idosas analisadas, havendo apenas diferença na
variável do COPelp (p = 0,0331) na
situação de realização de teste de dupla tarefa.
*indica diferença
significativa com p < 0,05.
Figura 4 - Comparativo das variáveis do COP, na situação de realização de teste de
dupla tarefa, entre os grupos de idosas incontinentes e de continentes.
O presente estudo teve
por objetivo analisar a diferença entre as variáveis do centro de pressão (COP)
entre grupos de idosas que tiveram autorrelato de
perdas urinárias e de idosas continentes e, desta forma, buscar compreender a
relação entre disfunções do assoalho pélvico e a manutenção do controle
postural em idosas.
Na situação de olhos
abertos, os achados do presente estudo não apresentaram diferenças de oscilação
do centro de pressão, oscilação anteroposterior e médio-lateral, velocidade
média de oscilação e a área de oscilação, entre os grupos analisados no
presente estudo.
Entretanto, quando se
tem a supressão da visão, na situação de olhos fechados, já se pode observar
que as idosas com incontinência tiveram maiores valores de velocidade média de
oscilação e de área de oscilação, quando comparadas com as idosas que são
continentes.
Sabe-se que algumas
condições estão relacionadas com a modificação de valores de oscilação
corporal. Segundo Masdeu et al. [18], o equilíbrio se deteriora com a idade em decorrência
das alterações de diversas funções orgânicas dos idosos como, por exemplo:
diminuição da acuidade visual e auditiva, perdas degenerativas no sistema
vestibular, redução na flexibilidade, redução da força muscular global e
diminuição das informações articulares.
A manutenção do
controle postural resulta da interação de diversas características individuais
de cada ser humano, como altura, peso corporal, estado emocional, cognição,
sistemas sensoriais, força muscular, assim como a tarefa que necessita ser
realizada e do ambiente na qual será realizada [19]. Entre essas
características que modificam o controle postural destaca-se a incontinência
urinária [20].
Estudos, como o de
Smith et al. [21], demonstram que há um comprometimento do controle postural em
mulheres com IU. O mecanismo está associado ao excesso da ativação da
musculatura do tronco e do retardo da ativação dos MAP, visto que a musculatura
do assoalho pélvico (MAP) faz parte do mecanismo de estabilidade de tronco e
sua função é interdependente com outros músculos de outros sistemas [20].
Capson, Nashed
e MacLean
[22] atribuem aos músculos do assoalho
pélvico (MAP), além de suas funções
clássicas de manutenção da continência,
suporte das vísceras abdomino-pélvicas e função
sexual, as funções de estabilização lombo-pélvica e controle postural. Desta
forma, a ativação dos MAP e a coordenação com os músculos do abdome e do tronco
desempenham um importante papel no tratamento das mulheres incontinentes.
A ativação dos MAP, em
conjunto com os músculos abdominais, pode ser explicada como uma estratégia
neural para coordenar estes grupos musculares por inputs descendentes de
centros superiores ou mecanismos reflexos espinhais ligados à manutenção da
continência quando a pressão intra-abdominal aumenta, pela contração muscular
[23].
A coordenação da
musculatura dos MAP é fundamental para a continência urinária, a fim de
proporcionar um mecanismo ativo de fechamento da uretra e resistir aos aumentos
da pressão intra-abdominal [24]. A pré-ativação dos MAP, que antecede qualquer
aumento de pressão intra-abdominal, envolve uma atividade neural coordenada que
implica o comando central e vias neurais autonômicas [25].
Baseado nisso, alguns
estudos avaliaram o controle postural de pessoas com incontinência urinária e
continentes [20,26]. Entre esses, o estudo de Smith et al. [21] investigou a diferença no controle postural de mulheres
continentes e incontinentes, verificou que as incontinentes apresentam uma
maior oscilação do COP quando comparadas às continentes. Tais achados, vão ao
encontro dos apresentados do presente estudo, sendo a presença de IU um fator
interveniente na manutenção do controle postural das mulheres avaliadas no
estudo.
E quando se tem a
demanda cognitiva envolvida, as idosas incontinentes apresentam maiores valores
de área de oscilação em comparação as continentes. Nesse sentido, alguns
estudos demonstram que características como a educação e o QI influenciam na
manutenção do controle postural durante a realização de dupla tarefa cognitiva,
como o teste stroop color [17,27].
Tarefas cognitivas e de
manutenção do controle postural ocorrem a mesmo nível de córtex, o que
explicaria a interferência da execução de tarefas concomitantes, havendo
prejuízo na execução de uma delas [27,28], como evidenciado no presente estudo,
em que o controle postural sofreu interferências significativas durante a
realização de uma tarefa cognitiva e visual simultâneas para o grupo
incontinente.
A dupla demanda
(controle postural e manutenção da continência) nas mulheres com IU aumentam o
risco de perdas urinárias, principalmente em tarefas que desafiem o controle
postural. Ocorre um atraso na ativação dos MAP durante perturbações posturais,
que resultam em um fechamento uretral inadequado [29]. Sapsford
e Hodges et al.
[23] relatam que, nas mulheres incontinentes, não ocorre a pré-ativação dos MAP
antecipatória ao controle postural, quando ocorrem aumentos da pressão
intra-abdominal, o que ocorre com as mulheres continentes.
A atenção e a distração
parecem desempenhar um papel importante na contração dos MAP durante situações
estressantes, significando que a distração mental pode estar envolvida na IU. O
estudo de Thubert et
al. [30] demonstrou que uma tarefa de distração afetou a capacidade de
contração dos MAP, resultando num retardo de ativação deste grupo muscular de
3,98 vezes. Fatores como a presença de dor ou o desempenho de dupla tarefa
parecem estar diretamente relacionados à piora da capacidade de pré-ativação
dos MAP [25,30].
No que se refere à análise
do controle postural de idosas incontinentes, é importante levar em
consideração que o desempenho da dupla tarefa pode constituir risco de quedas
para o grupo pesquisado, o que seria de fundamental importância para a clínica,
de modo a auxiliar nos serviços de atendimentos aos idosos, como educação em
saúde e nos processos de reabilitação.
Tais distinções seriam
de fundamental importância para a clínica, de modo a auxiliar nos serviços de
atendimentos aos idosos, como educação em saúde e nos processos de
reabilitação.
Com base nos resultados
do presente estudo, pode-se concluir que idosas com incontinência urinária
apresentaram maiores oscilações do centro de pressão, quando comparadas com
idosas continentes. Evidenciando que a musculatura do assoalho pélvico se
relaciona com o controle postural, pois é responsável pela estabilização das
estruturas da pelve e possui íntima relação com o equilíbrio estático.
Os autores gostariam de
agradecer ao LABIOMEC e ao CNPq.