ARTIGO ORIGINAL
Influência de um
protocolo de fisioterapia pélvica na função urinária e sexual de mulheres
infectadas com vírus linfotrópico de células T humano tipo 1
Influence of a pelvic physiotherapy protocol in urinary and sexual
function of women infected with human T-cell lymphotropic virus type 1
Carla Iasmin Lima
Lemos*, Andreza Soares Nogueira*, Rayanne Mesquita Bendelack, M.Sc.**, Denise da
Silva Pinto, D.Sc.**, Cibele Nazaré Câmara Rodrigues,
D.Sc.**
*Discente de
Fisioterapia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém/PA, **Universidade
Federal do Pará (UFPA), Belém/PA
Recebido em 7 de março
de 2019; aceito em 19 de junho de 2020.
Correspondência: Carla Iasmin Lima
Lemos, Rod. Augusto Montenegro Km 4,5, Ville Solare torre 3 apto 1001, Parque Verde, 66635-110 Belém PA
Carla Iasmin Lima Lemos:
lemos.carla10@gmail.com
Andreza Soares Nogueira:
andrezanogs@gmail.com
Rayanne Mesquita Bendelack: rayanne_lisboa@hotmail.com
Denise da Silva Pinto:
denisefisio23@gmail.com
Cibele Nazaré Câmara
Rodrigues: cibelecamara@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Avaliar a influência
da fisioterapia pélvica na função urinária e sexual de mulheres infectadas com
HTLV-1. Métodos: Estudo quasi-experimental,
com protocolo de 16 sessões em nove mulheres, que foram categorizadas em grupo
sintomático e assintomático. Realizou-se teste de força muscular do assoalho
pélvico com esquema PERFECT modificado, aplicou-se os questionários King's Health Questionnaire
(KHQ) e Female Sexual Function
Index (FSFI). O protocolo de fisioterapia pélvica consistiu em
eletroestimulação do nervo tibial, eletroestimulação transvaginal e exercícios
de cinesioterapia pélvica. Resultados: No grupo assintomático, segundo
esquema PERFECT houve melhora da Endurance e
Resistência do assoalho pélvico. No KHQ, verificou-se melhora geral no impacto
da incontinência na qualidade de vida. No FSFI, houve aumento significativo no
escore geral (p = 0,01), com influência nos domínios Desejo, Excitação,
Lubrificação e Orgasmo. No grupo sintomático, o esquema PERFECT obteve melhora
significativa em todos os domínios, assim como nos domínios de Limitação
física, Sono/Energia e Medidas de Gravidade do KHQ e dos domínios de Desejo,
Excitação e o Escore geral (p = 0,01) do FSFI. Conclusão: Sugere-se que
o programa de fisioterapia pélvica aplicado melhorou a funcionalidade do
assoalho pélvico, a qualidade de vida, reduziu os sintomas urinários e
aprimorou a função sexual.
Palavras-chave: vírus linfotrópico T
tipo 1 humano, Fisioterapia, incontinência urinária.
Abstract
Objective: To evaluate the influence of pelvic physical therapy on the urinary
and sexual function of women infected with HTLV-1. Methods: A
quasi-experimental study in 16 sessions with nine women, divided into a
symptomatic and asymptomatic group. The muscle strength test was performed with
modified PERFECT scheme and were applied the King's Health Questionnaire (KHQ)
and the Female Sexual Function Index (FSFI). The protocol of pelvic physical
therapy consisted of electrostimulation of the tibial nerve, transvaginal
electrostimulation and pelvic kinesiotherapy exercises. Results: In the
asymptomatic group, the main results in PERFECT scheme were the improvement of
the endurance and pelvic floor strength. In relation to KHQ, we observed a
general improvement in the impact of incontinence on quality of life. In the
FSFI, there was a significant increase in the Overall Score (p = 0.01), with
influence in the domains Desire, Excitation, Lubrication and Orgasm. In the
symptomatic group, the PERFECT scheme obtained significant improvement in all
domains. As well as in domains Physical Limitation, Sleep/Energy and Severity
measures in KHQ and in domains Desire, Excitation and Overall Score (p = 0,01)
of FSFI. Conclusion: The pelvic physical therapy protocol improved the
pelvic floor functionality, quality of life, reduced urinary symptoms and
improved the sexual function.
Keywords: Human T-lymphotropic virus 1, Physical therapy, urinary incontinence.
O vírus linfotrópico de
células T humanas tipo 1 (HTLV-1) é um delta vírus agente etiológico da
Leucemia/Linfoma de células T adulto (L/LAT) e da Paraparesia Espástica
Tropical/Mielopatia Associada ao HTLV-1 (PET/MAH),
condição inflamatória, progressiva e incapacitante associada à alta
morbimortalidade. A persistência viral prolongada após um longo período de
latência pode ter como consequência o desenvolvimento de uma das doenças
mencionadas em cerca de 5% das pessoas infectadas [1,2].
Embora o número exato
de infectados seja desconhecido, estima-se que 5 a 10 milhões de pessoas no
mundo possuam o vírus. As regiões endêmicas do HTLV-1 são Ásia, América do Sul,
regiões da África subsaariana, Caribe e partes centrais da Austrália, Oriente
Médio e no continente europeu a Romênia. No Brasil, há aproximadamente 2,5
milhões de infectados sendo o território com o maior número absoluto de casos,
sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. As principais formas de transmissão do
HTLV-1 são por via parental, amamentação e predominantemente por intercurso
sexual com risco de 61% maior para a infecção de mulheres [3-5].
A mielopatia
classicamente associada ao HTLV-1 é caracterizada por um processo inflamatório
de desmielinização da medula espinhal principalmente
ao nível torácico que provoca alterações sensoriais e/ou motoras. As mulheres
são majoritariamente infectadas e evoluem para manifestação da doença na quarta
década de vida. Pacientes com PET/MAH podem apresentar distúrbios urinários e
disfunção sexual. Queixas urinárias são encontradas em praticamente todos os
indivíduos com PET/MAH e em cerca de 14% dos indivíduos HTLV-1 sem PET/MAH
sendo essas manifestações um sinal de importante evolução do vírus e aumento da
gravidade da infecção viral [5,6].
Os principais sintomas
são a fraqueza progressiva de membros inferiores, urgência, Incontinência
Urinária (IU), noctúria, diminuição da libido,
presença de disfunção sexual e constipação. Todos contribuindo para uma piora
na qualidade de vida. Embora a fisioterapia não possa afetar diretamente os
aspectos patológicos da infecção, ela pode contribuir significativamente para o
cuidado desses pacientes, para a melhora do estado funcional, redução dos
sintomas e impacto positivo na qualidade de vida [5,7,8].
Dessa forma a
fisioterapia pélvica atua nas disfunções do assoalho pélvico e disponibiliza de
diversos recursos para a realização da reabilitação perineal. Segundo a International Consultation
on Incontinence, o
treinamento muscular do assoalho pélvico é o tratamento de primeira escolha
para os diferentes tipos de incontinência urinária feminina. Assim, evidências
apontam que a eficácia da fisioterapia pélvica sobre as disfunções urinárias e
sexuais vem sendo demonstrada [9,10].
No entanto, há poucas
evidências sobre programas específicos de fisioterapia pélvica para mulheres
infectadas com HTLV-1, assintomáticas e sintomáticas da PET/MAH. Portanto, o
objetivo deste estudo foi verificar se um protocolo de fisioterapia pélvica tem
influência na função urinária e sexual de mulheres infectadas com HTLV-1.
Trata-se de um estudo quasi-experimental de caráter transversal e de abordagem
quantitativa, no qual foi realizada intervenção terapêutica em mulheres
portadoras do HTLV-1 no período de maio de 2017 a agosto de 2018, respeitando
as normas de conduta em pesquisa experimental com seres humanos descritas na
resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa teve início a
partir da aprovação do Comitê de Ética com número do parecer: 2.026.582 de
21/04/2017.
As mulheres elegíveis
para a pesquisa cadastradas no Laboratório de clínica e epidemiologia de
doenças endêmicas do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do
Pará foram convidadas a participar da pesquisa através de ligação telefônica.
Como critérios de inclusão, as mulheres deveriam ter diagnóstico de infecção
pelo HTLV-1, ser maiores de idade, alfabetizadas, ter parceiros sexuais, sem co-infecções com outros vírus ou outras manifestações
clínicas que levassem à disfunção urinária e/ou sexual. Foram excluídas as
grávidas e inativas sexualmente. A amostra foi composta por nove mulheres sendo
divididas em dois grupos segundo a sintomatologia para a PET/MAH. Então,
formou-se grupo de mulheres assintomáticas (n = 5) e de mulheres sintomáticas para
PET/MAH (n = 4).
Na avaliação inicial,
após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foi
preenchida a ficha de avaliação fisioterapêutica utilizada para obtenção do
histórico clínico das pacientes. Em seguida, foi realizado o exame físico
minucioso com inspeção, palpação e teste de força muscular com esquema PERFECT
modificado [11]. Neste esquema– Power (P) é a contração graduada pela escala de
Oxford, Endurance
(E) refere-se ao tempo de
sustentação da contração de 0 a 10
segundos, Resistência muscular (R) concerne
ao número de contrações sustentadas de 0 a 10,
Fibra rápida (F) tange ao número
de contrações rápidas de 0 a 10,
Elevação (E) representa a elevação do
períneo
perceptível e funcional pontuada como positiva ou negativa, Co-contração
(C) aborda a utilização de musculatura acessória sendo positiva ou negativa e,
Tosse (T) relaciona-se a perda de urina positiva ou negativa no momento da
tosse.
Também foi solicitado
que a paciente respondesse aos questionários de qualidade de vida relacionada à
incontinência urinária King's Health Questionnaire (KHQ) e de avaliação da função sexual
feminina Female Sexual Function
Index (FSFI).
O questionário KHQ
avalia a qualidade de vida relacionada com incontinência urinária mediante
trinta questões distribuídas em nove domínios e geram um escore que varia de 0
a 100, considerando-se que quanto maior o número obtido pior a qualidade de
vida [12,13]. Em seguida, de forma a avaliar a função sexual, aplicou-se o
instrumento FSFI o qual é composto por dezenove questões que analisa a resposta
sexual feminina sendo dividido em seis domínios. Os resultados variam de 2 a 36
e aqueles com pontuações mais altas indicam um grau melhor de função sexual e o
ponto de corte utilizado para diferenciar mulheres com e sem disfunção sexual é
26,55 [14].
O protocolo de
fisioterapia pélvica consistiu em dezesseis sessões de eletroestimulação do
nervo tibial, eletroestimulação transvaginal e exercícios de cinesioterapia,
com frequência de uma vez por semana. Por meio do aparelho Dualpex
961®, realizou-se a eletroestimulação com os programas específicos para
inibição da hiperatividade do m. Detrusor e reforço muscular do assoalho
pélvico. Para eletroestimulação do nervo tibial utilizaram-se dois eletrodos
superficiais autoadesivos, posicionados no trajeto do nervo, com um eletrodo a
10 cm do maléolo medial e outro sobre o calcâneo, aplicou-se uma corrente de
Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) com os seguintes parâmetros:
frequência de 8 Hz, largura de pulso 200 µs, modo continuo, duração de 30
minutos e intensidade conforme tolerância da paciente.
Na eletroestimulação
transvaginal usamos um eletrodo intracavitário, posicionando aproximadamente no
terço médio da vagina, com corrente de Estimulação Elétrica Funcional (FES)
para auxiliar no fortalecimento muscular com os seguintes parâmetros:
frequência 50 Hz, largura de pulso 500 µs, Tempo de subida 1 seg, Tempo de sustentação 5 seg,
Tempo de descida 1 seg, Tempo de repouso 10 seg, intensidade conforme tolerância da paciente e duração
total de 20 min. As pacientes realizavam contração voluntária dos músculos
durante a passagem da corrente.
Os exercícios de
cinesioterapia têm por objetivo o ganho de força e resistência dos músculos do
assoalho pélvico. Foi utilizado um protocolo baseado nas técnicas de
reabilitação perineal método de Kegel [15], o qual
consiste em contrações voluntárias do assoalho pélvico, e no programa de treino
elaborado por Bø [16]: a paciente realizava cinco
contrações rápidas em decúbito dorsal com os quadris e joelhos flexionados
simultaneamente e levemente abduzidos, em seguida relaxava por 10 seg; após realizava uma contração sustentada de 5 seg com 10 seg de relaxamento; e
iniciava o ciclo de contração rápida. O tempo total do exercício foi de 5 min.
Paciente em sedestação na bola suíça, joelhos
alinhados com os tornozelos, MMII paralelos e abduzidos: com os pés firmemente
posicionados, executava movimentos latero-laterais,
movimentos ântero-posteriores, movimento em forma de
oito com a pelve associado com a contração perineal (3 séries de 10
repetições); Paciente em bipedestação, realizava anteroversão e retroversão pélvica, associando à contração
perineal na retroversão pélvica (3 séries de 10 repetições);
Os dados coletados
foram tabulados em um banco de dados no programa Microsoft Excel 2007 ®. Para
apresentação dos dados foi utilizada a média e desvio padrão dos momentos pré e pós, para ambos os grupos. Na verificação de
normalidade da amostra aplicou-se o Teste de Shapiro-Wilk, o qual mostrou que
os dados não são normais. Então a comparação entre os momentos pré e pós em ambos os grupos foi realizada com o teste Wilcoxon e o nível de significância adotado foi p ≤
0,05. As análises foram realizadas utilizando o pacote estatístico R v.3.2.3.
Participaram deste
estudo nove mulheres infectadas com o vírus HTLV-1. A amostra foi dividida em
grupo de mulheres assintomáticas (n = 5) e grupo de mulheres sintomáticas para
PET/MAH (n = 4). Quanto às características sociodemográficas, a amostra foi
composta por mulheres com baixos níveis educacional e econômico. O grupo
assintomático apresentou idade média 63,8 ± 9,4 anos, tempo de infecção pelo
vírus 103,2 ± 63,9 meses. No grupo PET/MAH a média de idade foi de 61,3 ± 3,9,
tempo de infecção viral 63,0 ± 46,3 meses. Todas as mulheres eram multíparas e
estavam na pós menopausa.
Na avaliação do
assoalho pélvico através do esquema PERFECT modificado, o grupo assintomático
apresentava uma contração moderada, endurance no
valor mínimo, resistência baixa e fibra rápida satisfatória anterior ao
tratamento. Houve aumento no escore final para todos os itens após a
intervenção, tendo a contração perineal satisfatória, endurance
boa, resistência média e fibra rápida satisfatória. Todas as pacientes
apresentaram elevação perceptível e funcional, co-contração
positiva (músculos glúteos, adutores, abdominais e respiratórios) e ausência de
perda de urina durante a tosse.
O grupo sintomático,
previamente ao tratamento, não apresentou contração dos músculos do assoalho
pélvico, endurance, resistência, fibra rápida e
elevação. Com co-contração e tosse positivas. Ao
término das dezesseis sessões alcançou uma contração moderada, endurance mínima, resistência baixa, fibra rápida
satisfatória, elevação perceptível e funcional, co-contração
positiva e tosse negativa. Dessa forma, todos os domínios foram
estatisticamente significativos com Power (p = 0,04), Endurance
(p = 0,02), Resistência (p = 0,02) e Fibra rápida (p = 0,02). Além disso, há
indicativo de melhora dada à magnitude da diferença e o fato de que o desvio
padrão está estável (Tabela I).
Tabela I – Função dos
músculos do assoalho pélvico pelo Esquema PERFECT.
Nível de significância
adotado: p ≤ 0,05.
Ao avaliar a
incontinência urinária relacionada à qualidade de vida, por meio do KHQ,
identificou-se que os principais sintomas urinários da amostra foram aumento da
frequência urinária, noctúria, urgência,
urge-incontinência e perda de urina aos esforços. O grupo assintomático teve
como domínio mais afetado a percepção geral de saúde no pré-tratamento e após
teve escores mínimos em todos os itens. Sendo o domínio de Percepção geral de
saúde estatisticamente significativo (p = 0,01) (Tabela II).
O grupo sintomático,
antes do tratamento teve os domínios de percepção geral de saúde, impacto da
incontinência, limitação de tarefa e limitação física afetados. Após o
tratamento não apresentaram nenhum domínio com escore superior a 50, no
entanto, acima dos escores do grupo não-sintomático. Contudo, não encontramos
diferença estatística (Tabela II).
O índice de função
sexual avaliado pelo FSFI evidenciou no grupo assintomático escores acima do
ponto de corte para disfunção sexual, escore total de 30,2. Após a intervenção,
houve um aumento do escore geral e de todos os domínios. Houve diferença
significativa nos domínios de Desejo (p = 0,02) e Excitação (p = 0,01) (Tabela
III).
No grupo sintomático,
no momento anterior ao tratamento, o escore geral era 24,5, abaixo do ponto de
corte, o qual sugere a presença de disfunção sexual. O grupo teve como domínio
mais afetado o desejo sexual. Após o tratamento, o grupo alcançou um escore
acima de 26,6, sugerindo ausência de disfunção sexual e teve aumento do escore
de todos os domínios. Porém, não houve diferença estatística (Tabela III).
Tabela II - Qualidade de vida
relacionada à incontinência urinária.
Nível de significância
adotado: p ≤ 0,05.
Tabela III - Função sexual
feminina.
Nível de significância
adotado: p ≤ 0,05.
Este estudo investigou
a influência de um protocolo de fisioterapia pélvica na função urinária e
sexual de mulheres infectadas com HTLV-1, sintomáticas e assintomáticas da
Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia Associada
ao HTLV-1 (PET/MAH).
As características
sociodemográficas de pacientes com HTLV-1 encontrada na literatura são de mulheres
acima de 50 anos, com baixa escolaridade e baixa renda. Tendo como fatores de
risco o número de parceiros sexuais na vida, idade da coitarca,
infecção sexualmente transmissível anterior, transfusão sanguínea e prática de
sexo anal [17].
Acerca do encerramento
da carreira reprodutiva e multiparidade, mulheres
idosas não infectadas pelo HTLV-1 com IMC acima da normalidade, menopausadas e multíparas associada ao envelhecimento são
fatores de risco para IU [18,19], visto que são influenciados pela ação do
estrogênio os fatores determinantes da pressão intra-uretral,
a mucosa da uretra, a vascularização, a musculatura e o tecido conjuntivo periuretral [20].
Sabe-se que o
envelhecimento acarreta efeito sobre a função do trato urinário diminuindo a
capacidade vesical, a capacidade de adiar a micção, a pressão máxima de
fechamento uretral e a velocidade do fluxo de urina. Apesar de nenhuma dessas
alterações relacionadas à idade serem a causa da incontinência, elas reduzem a
capacidade do trato urinário inferior de resistir à agressão adicional [21].
Mulheres incontinentes
idosas apresentam comumente a Incontinência Urinária de Esforço (IUE),
independente da infecção pelo HTLV-1 [22]. A lesão do nervo pudendo pode
ocasionar relaxamento importante da musculatura do assoalho pélvico e do
esfíncter externo da uretra, permitindo a perda de urina. Portanto, a
integridade neuromuscular desempenha papel fundamental na manutenção da
continência e na integridade do assoalho pélvico [20,23].
Alterações uroginecológicas, coloproctológicas,
e disfunções sexuais em mulheres não infectadas pela HTLV-1 mostraram relação
com a contração perineal graduada como fraca [24]. Mulheres assintomáticas
tinham graduação moderada de contração e após a intervenção ficaram com uma
contração satisfatória. Já as mulheres sintomáticas da PET/MAH não apresentaram
contração perceptível, porém com o tratamento conseguiram ganhar consciência
perineal, fortalecer os músculos do assoalho pélvico e atingir uma contração
moderada.
Assim, sugere-se que o
programa de fisioterapia pélvica utilizado melhora a contração muscular
voluntaria dos músculos do assoalho pélvico. Sabe-se que vários tratamentos
surgiram com o intuito de restabelecer a função dos músculos e dos nervos que
compõem o assoalho pélvico. Entre as técnicas não cirúrgicas destacou-se a
eletroestimulação e os exercícios para os músculos do assoalho pélvico
[20,21,23]. A eletroestimulação perineal em baixas frequências gera supressão
da atividade eferente na pelve através da inibição central, fisiologicamente
ativa o reflexo inibitório, diminui o número de micções tardias, aumenta a
capacidade da bexiga e reduz os sintomas de urgência e incontinência [8].
Considerando que
aproximadamente 30% das mulheres não têm consciência corporal de sua região
pélvica, cabe ao fisioterapeuta despertar na paciente a propriocepção dessa
região [18,23-26]. Visto isso, realizou-se a eletroestimulação do nervo tibial
visando diminuir a urgência, urge-incontinência e noctúria,
a eletroestimulação transvaginal para fortalecimento muscular e conscientização
perineal e a cinesioterapia com treinamento muscular.
Considerando que a
disfunção urinária é altamente prevalente em indivíduos com HTLV-1 e pode
preceder sintomas neurológicos ressalta-se a elevada frequência de queixas
urinárias e sexuais em pacientes, não apenas no grupo PET/MAH, mas também em
indivíduos considerados como assintomáticos [17,27]. Esses sintomas urinários
influenciam negativamente na qualidade de vida dos indivíduos infectados pelo
HTLV-1. Em 118 indivíduos portadores do HTLV-1 observou-se a frequência de noctúria, ocorrendo em 84,6% dos casos, urgência 63,5%,
aumento da frequência 53,8%, incontinência urinária ao esforço 51,9% e
urge-incontinência 42,3% [6].
A presença de IU foi
relatada por 41,9% dos pacientes com PET/MAH e houve impacto significativo nos
seguintes domínios: impacto da incontinência, limitação das atividades de vida
diária, limitações físicas e sociais, relações sociais, emoções, sono e
disposição e medidas de gravidade [7]. Observamos que portadores do HTLV-1
geralmente têm o domínio percepção geral de saúde afetado.
Em relação à resposta
na qualidade de vida, é mais afetada em pacientes com IUM e nas mulheres
incontinentes e soropositivas para HTLV-1 quando comparado com mulheres
incontinentes não infectadas com HTLV-1 [28,29]. Na presente pesquisa, comparou-se
infectadas pelo vírus HTLV-1, sintomáticas e assintomáticas para PET/MAH e a
qualidade de vida foi mais afetada no grupo sintomático para PET/MAH. Dessa
forma, demonstra-se que o a perda de qualidade de vida pode estar associada ao
tipo de incontinência urinária e à infecção pelo HTLV-I, sendo a sintomatologia
um complicador do quadro.
A ocorrência de
disfunção sexual em mulheres infectadas pelo HTLV-1 ainda não está clara. Foi
investigada a relação entre infecção pelo HTLV-1 e disfunção sexual em mulheres
infectadas assintomáticas, sintomáticas de PET/MAH e mulheres não infectadas. A
prevalência geral de disfunção sexual foi de 53,7%, sendo maior no grupo
sintomático. Esses dados evidenciam que a diminuição da função sexual está
relacionada à PET/MAH em mulheres infectadas pelo HTLV-1 em idade reprodutiva
[5]. Mostrou-se que mulheres com a carreira reprodutiva encerrada e
sintomáticas para PET/MAH também apresentam disfunção sexual. Porém, neste
caso, sugere-se que esteja associada com a infecção viral e/ou menopausa.
Entretanto, o estudo
realizado apresentou limitações relacionadas ao número reduzido de
participantes, a ausência de um grupo controle e a falta de acompanhamento para
analisar as possíveis alterações após o protocolo de reabilitação. Ressalta-se
a dificuldade em recrutar participantes para o estudo por se tratar de uma
população específica, bem como a falta de artigos indexados relacionados ao
tema.
Mulheres infectadas
pelo vírus HTLV-1 assintomáticas e sintomáticas para PET/MAH ao participarem de
um protocolo de 16 sessões de fisioterapia pélvica composto por
eletroestimulação do nervo tibial, fortalecimento muscular e cinesioterapia
pélvica obtiveram melhora geral na contração dos músculos do assoalho pélvico,
continência urinaria e na função sexual.