ARTIGO
ORIGINAL
Efeito
agudo da bandagem elástica no tratamento de cicatrizes de pacientes com
sintomas musculoesqueléticos
Acute effect of elastic bandage in the treatment of
scars in patients with musculoskeletal symptoms
Ariele Farina da Fonseca*, Carla Patrícia de Aguiar Rafael*, Larissa Nascimento Manoel*, Ivan Luiz Pavanelli*, Kelvin Anequini Santos**, Paulo Roberto Rocha Júnior***, Bruno Gonçalves Dias Moreno***, Guilherme Batista do Nascimento***
*Graduado
em Fisioterapia, Unifai, Centro Universitário de
Adamantina/SP, **Graduado em Fisioterapia, Unisalesiano,
Lins/SP, ***Docente do Curso de Fisioterapia da Unifai,
Centro Universitário de Adamantina/SP
Correspondência: Bruno Gonçalves Dias Moreno, Rodovia Washington Luiz Km 445 s/n, Golden Park Residence 2 Quadra F2 Lote 34 15130-000 Mirassol SP, E-mail: bruno@ebrafim.com; Ariele Farina da Fonseca: ariele_braca@hotmail.com; Carla Patrícia de Aguiar Rafael; carlaaguiarrafael22@gmail.com; Larissa Nascimento Manoel: larissanascimento47@hotmail.com; Ivan Luiz Pavanelli: ivanluiz_p@hotmail.com; Kelvin Anequini Santos: kelvinanequini@hotmail.com, Paulo Roberto Rocha Júnior: prochajr@terra.com.br; Guilherme Batista do Nascimento: guilhermefcav@gmail.com
Artigo selecionado pelo
Congresso Brasileiro de Osteopatia e Fisioterapia
Manipulativa organizado pela Escola Brasileira de Fisioterapia Manipulativa,
www.ebrafim.com, Salvador 2018.
Resumo
A cesariana é a
intervenção cirúrgica mais prevalente em mulheres. Estudos descrevem
perturbações musculoesqueléticas quando um tecido é comprometido como, por
exemplo, a perda da continuidade ocasionada pela cicatriz. O objetivo do estudo
foi analisar os efeitos da bandagem elástica na redução da queixa de dor local
em estático, dor ao movimento, sensibilidade dolorosa, flexibilidade e função
vascular em pacientes com sintomas musculoesqueléticos, submetidas à cirurgia
de cesariana. Foram avaliadas trinta mulheres, pacientes do ambulatório de
Fisioterapia ortopédica, com no mínimo dezoito anos de idade. Foram avaliadas
antes e depois de 24 horas da aplicação da técnica, a dor, com algometria e escala numérica, a flexibilidade, com fita
métrica e alterações vasculares, pela termografia. A aplicação da bandagem
ocorreu em sentido transversal ou longitudinal da cicatriz com tensão de 50%.
Para análise estatística foram utilizados os testes T-Student
e Wilcoxon, para variáveis paramétricas e não
paramétricas respectivamente, o nível de significância foi de 5%. Os resultados
demonstraram uma diminuição das queixas de dor em geral (p = 0,004), dor ao
movimento (p = 0,02), sensibilidade dolorosa (p = 0,0001), flexibilidade (p =
0,047) e condição vascular (p = 0,027). Foi possível observar, que após a
aplicação da bandagem elástica todas as variáveis analisadas tiveram melhora
significativa em relação à condição inicial.
Palavras-chave: cesárea, bandagem
elástica, cicatriz, cirurgia, dor.
Abstract
Cesarean
section is the most prevalent surgical intervention in women. Studies describe
musculoskeletal disorders when of a tissue is compromised, such as loss of
tissue continuity caused by a scar. The objective of the study was to analyze
the effect of elastic bandage on pain reporting, overall flexibility, pain,
sensitivity and local temperature changes in patients with cesarean section
scars who present musculoskeletal symptoms. Thirty women, orthopedic
Physiotherapy outpatients, with at least eighteen years of age were evaluated
before and after 24 hours of application, the pain, with algometry and
numerical scale, flexibility, with tape measure and vascular alterations, by
thermography. The application of the bandage occurred in a transverse or
longitudinal scar direction with a 50% tension. For statistical analysis,
T-Student and Wilcoxon tests were used for parametric and non-parametric
variables. The level of significance was 5%. The results showed a decrease in
general pain complaints (p = 0.004), pain on movement (p = 0.02), pain
sensitivity (p = 0.0001), flexibility (p = 0.047) and vascular condition (p =
0.027). It was possible to observe that after the application of the elastic
bandage all variables analyzed had an improvement in relation to initial
condition.
Key-words: cesarean
section, athletic tape, scar, surgery, pain.
Cicatrizes são
provocadas por traumas, cirurgias ou queimaduras. Existem quatro estágios
principais na cicatrização da pele: hemostasia, inflamação, proliferação e
remodelação [1]. A remodelação pode durar anos e depende do tamanho e da
natureza da ferida, nessa fase o colágeno tipo 3 é substituído por uma fibra
mais forte, como o colágeno tipo 1, isso resulta em mais força, e menor
elasticidade [1,2].
Quando a derme e a
fáscia são afetadas por cicatrizes, essas estruturas são alteradas, sua função
e capacidade de interação com o ambiente externo e interno tornam-se
diminuídas. A proporção de tais eventos em cada indivíduo depende da vários
fatores, como a predisposição genética e idade, mas ainda não são claramente
compreendidos [3,4]. Atualmente, o panorama científico oferece algumas
possibilidades de explicação, mas as de maior aceitação são as hipóteses de
inflamação neuroinflamatória ou a neurogênica.
Pesquisas confirmaram um aumento de terminações nervosas na região das
cicatrizes e um acúmulo de neuropeptídeos, isso
significa que uma cicatriz pode desencadear estímulos diários, permitindo
entender sua relação com aparecimento de sintomas [5].
Traumas profundos
também podem afetar a fáscia e as vísceras, pois passam por um processo de cura
idêntico. A fáscia é rica em corpúsculos, com propriedades proprioceptivas e
informações periféricas significativas, bem como com provável função
nociceptiva, além disso, o tecido fascial é feito de
fibras contráteis o que pode causar espasmos, disfunção e dor [1,4]. A cicatriz
resultante de uma cesárea pode levar a infertilidade, menorralgia,
dor abdominal baixa, dispareunia e dismenorréia, endometriose e dor pélvica [6,7].
Interdependência
regional é o termo que tem sido utilizado para descrever observações clínicas,
relacionado a diferentes regiões do corpo, principalmente com distúrbios
musculoesqueléticos. Existe uma crescente base literária demonstrando que as intervenções aplicada a uma região anatômica pode
influenciar o resultado e a função de outras regiões do corpo, que
aparentemente poderiam não estar relacionadas [8,13].
Ampliando possíveis
hipóteses que possam sustentar conceitos de interdependência regional,
destaca-se a teoria da Tensegridade, descrita pela
primeira vez pelo arquiteto Buckminster Fuller. O conceito refere-se a estruturas de rede que
mecanicamente estabilizam-se através do uso de uma pré-tensão
de tração [14]. A Tensegridade é a teoria que amplia
a necessidade e interdependencia regional para
propagação de forças de mecanotransdução celular,
processo pelo qual as células percebem as forças mecânicas e estimulam
alterações bioquímicas intracelulares [15]. Baseado nisso, considerando a forma
de células nucleadas e de sua estrutura molecular interna, conhecida como
citoesqueleto, defende-se que as células vivas usem arquitetura de tensegridade (integridade tensional) para controlar sua
forma e estrutura [15].
A base fisica da doença é ignorada atualmente pela medicina na genetica molecular,
embora muitos problemas
que levam à dor e à morbidade consequentemente levam os pacientes ao
consultório médico resultam de alterações na estrutura ou na mecânica dos
tecidos.
A mecanotransdução
celular anormal é atribuída como fator etiológico em uma ampla gama de doenças
incluídas em praticamente todos os campos da medicina e cirurgia. Possíveis
falhas neste processo podem ser atribuídas a alterações na mecânica celular,
variações na estrutura da matriz extracelular ou pela desregulação dos
mecanismos moleculares, pelos quais as células detectam sinais mecânicos e os
convertem em uma resposta química ou elétrica [16].
Todas as estruturas
corporais são envolvidas em tecido conjuntivo, ou fáscia, criando uma
continuidade estrutural que dá forma e função a todos os tecidos e órgãos. A
fáscia desempenha um papel significativo na transmissão de tensão mecânica, a
fim de controlar um ambiente inflamatório e pode ser considerada essencial no
processo de transmissão de forças [17].
A intervenção cirúrgica
que mais acomete mulheres, tanto em países subdesenvolvidos como nos
desenvolvidos, é a cesariana. No Brasil, os índices variam nas diferentes
regiões, sendo alterados pelas circunstâncias sociais, culturais e econômicas
[18,19].
A Bandagem Elástica tem
como objetivo amenizar os sintomas de dor e as limitações de movimento [20].
Entre suas funções descritas destacam-se a função dérmica (devido aos
mecanorreceptores que sofrem ação sensorial à sua aplicação), a função muscular
(ocorre a estímulos e ativações desencadeados diretamente na musculatura) e a
função linfática (ocasionando o deslocamento de edemas sanguíneos e linfáticos,
e drenagem de fluidos) [21].
O objetivo desta
pesquisa foi analisar os efeitos da bandagem elástica na redução da queixa de
dor local em estático, dor ao movimento, sensibilidade dolorosa, flexibilidade
e função vascular em pacientes com sintomas musculoesqueléticos, submetidas à
cirurgia cesariana.
Trata-se de um estudo
do tipo experimental, onde os valores pré e pós-intervenção foram comparados.
Para composição da
amostra foram convidadas a participar pacientes em tratamento no setor de
estágio de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia de uma clínica escola, com
idade igual ou superior a 18 anos, submetidas à cirurgia cesariana e que
tivessem algum tipo de sintoma musculoesquelético. A pesquisa foi realizada no
mês de setembro de 2018 e conteve um total de 76 participantes.
Pacientes com sintomas
precedidos de eventos traumáticos e ferimentos abertos na região da cicatriz,
assim como a presença de escamações na pele, vermelhidão, coceira, bolhas e
verrugas não foram incluídas na pesquisa. Foram excluídas as voluntárias que
não cumpriram com a rotina de avaliações e tratamento proposto e as que tiraram
a bandagem elástica funcional fora do prazo determinado.
Este projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) via plataforma Brasil (CAA:
87298918.4.0000.5379) e todos os pacientes assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido – TCLE.
Para a avaliação das
pacientes foram utilizadas a ficha de avaliação dos dados sociodemográficos,
ficha de avaliação contendo escala numérica de dor, para mensuração da
intensidade e de dor ao movimento [22], uma fita métrica com escala de
milímetros para avaliar a flexibilidade global, um Algômetro
digital de modelo FPX 25 Wagner Pain Test, um Termovisor
T-530 da marca Flir, software Flir Tools e para o tratamento
foi utilizada bandagem elástica Kinesiology 3NS TAPE
da cor bege.
As avaliações
aconteceram em dia e horário diferentes dos atendimentos ambulatoriais
agendados para os tratamentos, em uma sala reservada, onde foi explicado o
objetivo da pesquisa, realizados os testes de avaliação e o procedimento de
intervenção. As avaliações e reavaliações foram realizadas pelo mesmo
examinador e a intervenção por um examinador diferente.
O teste de “Sentar e
Alcançar”, foi utilizado na avaliação da flexibilidade global seguindo a
padronização canadense para os testes de avaliação da aptidão física do Canadian Standardized Test
of Fitness [23]. A paciente estava sentada sobre
a maca, mantendo membros inferiores em extensão com dorsiflexão plantar de
aproximadamente 45º graus, com as mãos paralelas e com os dedos à frente,
continuamente. O avaliador registrou em centímetros com a fita métrica a
distância que faltou para o indivíduo tocar a ponta do pé (escore negativo) ou
a distância que ultrapassou (escore positivo). Os pontos de referência
utilizados foram o meio do primeiro dedo do pé e o terceiro dedo da mão [24].
A avaliação da
sensibilidade dolorosa foi realizada com auxílio de um Algometro
sobre o processo espinhoso vertebral, do nível correspondente ao dermátomo da região de maior sintoma da paciente. Nos casos
de sintomas de dor na região da coluna vertebral o nível estabelecido foi o de
maior sensibilidade. Neste procedimento foi realizada uma pressão no local até
que o paciente relatasse o início da sensação de dor e registrado valor
expresso em kg/cm2. As medidas foram coletadas por três vezes e para
o cálculo foi utilizada a médias das medições [25].
Para a análise da
função vascular foi utilizado um sistema imageador,
dotado de recursos para a análise e medição de distribuições de
sobreaquecimentos, nominando hiperradiação ou hiporradiação. As imagens foram registradas em escala de
cores (infravermelho) [26,27]. A termografia foi realizada no local onde as
pacientes referiram o maior sintoma de dor e foram comparadas às médias de
temperatura no local antes e depois da intervenção.
Para a aplicação da
bandagem as pacientes permaneceram em decúbito dorsal com os membros inferiores
em extensão, foi executada a limpeza da cicatriz com álcool 70%.
Posteriormente, a cicatriz foi dividida em quatro pontos de mesma distância e a
técnica empregada foi aplicação em “I”, com aplicação do centro para as
extremidades, com tensão moderada de 50%, para inibição [28,29]. As pacientes
que receberam a intervenção permaneceram com a bandagem na cicatriz por 24
horas consecutivas, realizando sua retirada e efetuando a higienização do local
com água e sabão neutro para remoção de vestígios de cola, com três horas de
antecedência a reavaliação, tempo mínimo para que ocorra a termorregulação do
tecido facial.
A análise estatística
descritiva das variáveis quantitativas foi realizada considerando os valores
das médias e do desvio-padrão. Nas variáveis qualitativas “Dor Geral” e “Dor ao
Movimento” foram apresentados os valores de mediana e o intervalo interquartil
(IIQ). As variáveis quantitativas algometria,
flexibilidade e termografia, que atenderam as pressuposições de normalidade,
por meio do teste de Shapiro-Wilk, foram avaliadas
por meio do teste paramétrico de T-Student. Nas
demais características foi aplicado o teste não paramétrico de Wilcoxon. Como os resultados foram colhidos na mesma
unidade experimental antes e após a aplicação do tratamento, em ambas as
análises os dados foram considerados como pareados. As análises foram
realizadas por meio do Software R [30] e foi adotado um nível de significância
de p> 0,05.
Para a realização deste
trabalho, das 76 mulheres convidadas, 34 aceitaram participar da pesquisa.
Quatro pacientes foram excluídas por não cumprirem as orientações de tempo de
retirada da bandagem elástica funcional.
As características
antropométricas de peso, altura e idade das 34 pacientes estudadas foram
apresentadas na Tabela I. A idade média foi de 54 ± 9,1 anos.
Tabela I - Características antropométricas da amostra (n=30).
DP=desvio padrão.
Os dados
sociodemográficos dispõe que 60% das pacientes são casadas, apenas 38,5% possuem
o ensino médio completo e 80% encontram-se fora do mercado de trabalho. A renda
familiar de 2 a 3 salários mínimos prevaleceu em 60% das pacientes.
O tempo médio da
cirurgia de cesárea das participantes foi de 24,2±7,80 anos e todas estavam em
tratamento no setor de estágio de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia da
UNIFAI na média de 5,8 meses (Tabela II). A região mais acometida pelos sintomas
musculoesqueléticos foi dos membros superiores ombros (36,6%), seguido da
região lombar (30%) e cervical (13,4%).
Os valores de limiar de
“Dor global” e “Dor ao Movimento” colhidos por meio da escala numérica da dor
estão dispostos na Tabela 3. Foi observada uma diminuição acentuada da mediana
pós-intervenção, embora o intervalo interquartil tenha se elevado, com valores
estatisticamente significantes.
Tabela II - Características sociodemográficas da amostra (n=30).
DP=desvio padrão.
A dor à pressão
apresentou diferença significativa nas comparações de antes e depois,
principalmente nos segmentos da Algometria Vertebral.
Tabela
III - Dados da escala analógica de dor da amostra
(n=30).
IIQ=intervalo
interquartil; * valores estatisticamente significantes.
A flexibilidade
avaliada apresentou valores reduzidos depois da intervenção e, embora se tenha
aumentado o desvio padrão, o valor de p foi significativo.
Tabela IV - Dados do limiar de dor à pressão e flexibilidade global da população
da amostra (n=30).
M/DP = média/desvio
padrão; * valores estatisticamente significantes.
Os resultados da
Termografia realizada em região sintomática apresentaram melhora da
temperatura, onde o cálculo estatístico demonstrou um valor de p = 0,027
(Figura 1). Na figura é possível observar as temperaturas registradas na
vertical em Graus (ºC).
A temperatura mediana da
região sintomática pré-intervenção
representa 32,3ºC e pós-intervenção
32,9ºC.
Figura 1 – Gráfico Boxplot da termografia média de cada
região pré e pós-intervenção.
No presente estudo, as
bandagens elásticas foram utilizadas como proposta de tratamento nos sintomas
musculoesqueléticos. Apesar de este recurso ser relativamente controverso é
muito utilizado clinicamente, portanto, investigações da eficácia do método,
utilizando metodologia distinta é fato importante para melhor entendimento de
seus efeitos terapêuticos [31].
Em relação à
caracterização da amostra descrita nesta pesquisa, foi observada a média do
índice de IMC maior que 25 kg/m2, retratando um perfil de sobrepeso. É
importante destacar que este tipo de condição remete a risco elevado a inúmeras
doenças crônicas, como condições inflamatórias e degenerativas do sistema
musculoesquelético [34].
Em estudo realizado por
Vagetti et al.
[35] no município de Curitiba/PR foi observada elevada prevalência de percepção
negativa de saúde e queixa de dor em idosas que residiam em bairros de menor
renda e escolaridade e, quando analisados, os dados sociodemográficos do
presente estudo apontam que a amostra foi composta por um grupo predominante de
baixa renda, baixa escolaridade e média de idade maior de 50 anos.
Cheng et al. [36] descreve diversos fatores psicossociais individuais e
relacionados ao trabalho que desempenham um papel crucial na persistência dos
sintomas musculoesqueléticos e incapacidades. Nota-se no presente estudo um grande número de pacientes desempregadas ou afastadas de
seu cargo, isso ocorre porque muitas vezes a manifestação dolorosa é
persistente ou recorrente, impossibilitando a execução de tarefas.
Estudos recentes
contestam os efeitos da aplicação da bandagem elástica utilizada em alterações
musculoesqueléticas quando comparada com outras intervenções, ou adicionada a
um recurso terapêutico em geral [37]. Em revisão sistemática realizada por
Júnior et al. [31] que incluiu 11
ensaios clínicos randomizados, comparou-se o uso da bandagem elástica com
placebo e fisioterapia em uma população de adultos com lombalgia crônica
inespecífica, onde nenhuma diferença estatisticamente significativa foi
encontrada.
A fáscia é um tecido
flexível que pode causar sintomas distantes do local da disfunção, portanto,
alterações que restringem as camadas de tecido com um consequente aumento de
sua tonalidade, criam um ciclo vicioso patológico. Desta forma, ao passo que
ocorram alterações ou disfunções musculoesqueléticas, são produzidas respostas
de adaptação como parte de um processo de restauração do equilíbrio das
estruturas a fim de promover sua recuperação. Esses conceitos são uma hipótese
que corrobora com os resultados descritos no presente trabalho, onde a bandagem
elástica teve efeito significativo na diminuição da queixa de intensidade de
dor, da dor ao movimento e da sensibilidade dolorosa no segmento vertebral do dermátomo correspondente a área dos sintomas [32,33].
Um recurso amplamente
utilizado para avaliar limiares de dor é a algometria,
que fornece confiabilidade em seus resultados e é de fácil aplicação. Em estudo
de metodologia equivalente, McSweeney et al. [38], utilizaram a algometria para medição mecânica dos limiares de dor
correspondente ao nível segmentar para inervação da região sintomática estudada
e, após verificar o antes e depois dos resultados, os dados mostraram que a dor
do processo espinhoso havia se modificado, isso condiz com o presente estudo
onde se percebe diferença dos valores pré e pós intervenção dos limiares de
dor.
A redução do quadro
álgico apresentado pelas pacientes é justificada através da termografia, sendo
que a condução de calor para a pele é comandada pelo sistema nervoso simpático
por meio da constrição e dilatação dos vasos sanguíneos. Os estímulos que
alcançam os receptores periféricos, levam informações ao hipotálamo posterior
que envia a resposta de conservar ou dissipar calor. Em uma situação normal, os
sensores térmicos observam variações da temperatura do corpo, transmitindo ao
centro integrado. Este, por sua vez, gera respostas que têm por objetivo
conservar ou dissipar calor. Qualquer ruptura nesse equilíbrio fisiológico, ou
danos estruturais a qualquer um desses níveis podem
levar à perda da capacidade de regulação térmica [39-43].
Brioschi et al. [40,41] relata que quando é realizado manipulação tecidual
em uma condição álgica crônica haverá um aumento de vascularização local,
ocorrendo o aumento da temperatura local e, em uma condição álgica aguda
ocorrerá uma redução de vascularização resultando em diminuição da temperatura
local, indicando a presença de termorregulação. No presente estudo foi
verificado uma variação térmica positiva e negativa nas
pacientes, ambos indicativos de melhora sintomática.
Slomka et al. [44] utilizaram um protocolo de estudo com 60 participantes
analisando alterações da temperatura local da pele após uso da bandagem
elástica em um curto período e, confirmaram uma mudança de temperatura
estatisticamente significativa em todas as áreas avaliadas, o que condiz com o
presente estudo.
A limitação deste
estudo dá-se pela ausência de um grupo controle para referência-padrão.
Foi possível concluir
que o uso da bandagem elástica em cicatriz de cirurgia cesariana proporcionou
uma melhora da intensidade de dor local em estático, dor ao movimento,
sensibilidade dolorosa, flexibilidade e diminuição dos pontos de hiperradiação, portanto sua aplicação pode ser estimulada
em ambiente de clínica, quando as pacientes apresentarem condições semelhantes
às estudadas nesta pesquisa.