ARTIGO
ORIGINAL
Percepção
da fisioterapia e suas especialidades entre praticantes de Crossfit
Perception
of physiotherapy and specialties between Crossfit
practices
Pedro Cunha Lopes*,
Bruno Gonçalves Dias Moreno**, Ismênia de Carvalho Brasileiro***, Francisco
Fleury Uchôa Santos Júnior***
*Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza/CE, **EBRAFIM – Escola Brasileira de Fisioterapia
Manipulativa, ***Centro Universitário Estácio do Ceará, Fortaleza/CE
Correspondência: Francisco Fleury
Uchoa Santos Júnior, Rua Eliseu Uchôa Beco, 600, Água Fria 60810-270 Fortaleza
CE, Brasil, Email: drfleuryjr@gmail.com; Pedro Cunha
Lopes: pedro.csl17@gmail.com; Bruno Gonçalves Dias Moreno: bruno@ebrafim.com;
Ismênia de Carvalho Brasileiro: ismeniabrasileiro@gmail.com
Artigo selecionado pelo
Congresso Brasileiro de Osteopatia e Fisioterapia
Manipulativa organizado pela Escola Brasileira de Fisioterapia Manipulativa,
www.ebrafim.com, Salvador 2018.
Resumo
Introdução: CrossFit®
tem sido criticado por ter um risco potencialmente desproporcional de lesões
musculoesqueléticas e pela sua exigência, que inspira preocupação com a
integridade física dos indivíduos A fisioterapia já tem seu papel estabelecido
como importante e eficaz no tratamento das lesões ostemioarticulares,
atuante em diversos esportes, na prevenção e no tratamento direto. Objetivo: A proposta desse estudo é
captar dados que possam embasar a percepção das condutas fisioterapêuticas
entre os praticantes de CrossFit®. Metodologia: Se trata de um estudo de
campo, transversal, descritivo, com estratégia de análise quantitativa dos
resultados apresentados. Foram coletados os dados através de um questionário
sobre lesões esportivas. Resultados:
Na análise dos questionários, obtivemos um total de 41 respostas. No quesito
“Recebeu tratamento fisioterapêutico para alguma lesão?”, 75,60% (31)
responderam que sim. Como especialidade preferida a osteopatia
está em primeiro lugar com 40% das respostas, seguido de 37,5% fisioterapia
esportiva, 12,5% fisioterapia convencional e 9,4% quiropraxia.
Quanto a periodicidade de atendimentos, a maioria necessitou apenas de até 3
atendimentos, com uma taxa de melhora total de 75%. Conclusão: Através dos dados coletados, podemos observar uma boa
tendência de procura e aceitação dos tratamentos fisioterápicos em lesões bem
como em atendimentos periódicos e com uma alta taxa de resolubilidade nos
atendimentos a possíveis lesões no público praticante de CrossFit®.
Palavras-chave: esportes, saúde,
perfil.
Abstract
Introduction:
CrossFit® has been criticized for having a potentially disproportionate risk of
musculoskeletal injuries and its requirement, which inspires concern for the
physical integrity of individuals. Physiotherapy already has important and
effective role in the treatment of osteo-articular lesions, acting in several
sports, prevention and treatment. Objective:
The aim of this study was to capture data that may support the perception of
physiotherapeutic behavior among CrossFit® practitioners. Methodology: Transversal and descriptive study, with a strategy for
quantitative analysis of the results presented. We collected data through a
questionnaire on sports injuries. Results:
We obtained a total of 41 answers. At the question "Did you receive
physiotherapeutic treatment for any injury?", 75.60% (31) answered yes. As
preferred specialty osteopathy is first with 40% of responses, followed by
37.5% sports physiotherapy, 12.5% conventional physiotherapy and 9.4%
chiropractic. As for the frequency of sessions, the majority needed only up to
3 sessions, with a total improvement rate of 75%. Conclusion: Through the collected data, we can observe a good
tendency of search and acceptance of the physiotherapeutic treatments in
injuries as well as in periodic attendance and with a high rate of resolubility in the attendance to possible injuries in the
practicing public of CrossFit®.
Key-words: sports,
health, profile.
O CrossFit®
tem a sua classificação como exercício multivariado, e adiciona um olhar para a
realização de amplas tarefas em um mesmo treino, fazendo com que os praticantes
evoluam de forma global em um curto tempo [1].Esse fato pode explicar sua
forte adesão entre os praticantes, principalmente jovens, que aderem a pratica,
também, pelo seu ambiente integrativo e altamente motivacional [2]. É um
programa de condicionamento que ganhou ampla atenção por seu foco em sucessivos
movimentos balísticos que auxiliam no fortalecimento e aumento da resistência
muscular [3,4].
CrossFit® tem sido criticado
por ter um risco potencialmente desproporcional de lesões musculoesqueléticas e
pela sua exigência, que inspira preocupação com a integridade física dos
indivíduos [5,6]. Pesquisas epidemiológicas sobre taxas de lesões e seus
fatores de risco são estimuladas, já existem uma variedade de estudos sobre o
potencial de lesão nos praticantes, fatores mais importantes e locais
anatômicos mais cometidos [7,8,9].
A fisioterapia tem seu
papel estabelecido como importante e eficaz no tratamento das lesões ostemioarticulares, atuante em diversos esportes, na
prevenção e no tratamento direto [10]. Após uma lesão esportiva, a reabilitação
é um aspecto crucial para garantir a recuperação integral do indivíduo,
minimizar o tempo ausente da pratica esportiva e evitar recidivas. Os mais
novos métodos de elaboração da reabilitação ultrapassaram os protocolos
tradicionais de gestão e baseiam-se em uma estrutura de reabilitação ativa que
exige uma continua atualização dos profissionais e participação igualitária do
atleta [11].
Na busca por artigos científicos que
abordem o atendimento fisioterápico e suas especialidades entre os praticantes
de CrossFit®, não existem publicações até o momento e
a literatura ainda não aponta estudos fortes e concretos que direcionem as
intervenções. A proposta desse estudo é captar dados que possam embasar o
atendimento fisioterápico e sua epidemiologia em praticantes do Brasil.
Se trata de um estudo
de campo, transversal, descritivo, com estratégia de análise quantitativa dos
resultados apresentados. Foi realizado no período de outubro e novembro de
2016, a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa do Centro
Universitário Estácio do Ceará com o número de comprovante 118162/2016. A
coleta de dados foi realizada no Brasil Throwdown na
sua etapa em Fortaleza/CE, realizada no estacionamento do shopping Iguatemi,
Av. Washington Soares, 85 Edson Queiroz, Fortaleza/ CE.
Foi realizada uma
abordagem de sensibilização a cada participante, explicando a finalidade da
pesquisa e os procedimentos sigilosos quanto aos seus dados pessoas, após isso
foi assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. A população foi
composta por praticantes de CrossFit®, sendo a
amostra constituída por 98 pessoas, atletas ou amadores, que se enquadram nos
critérios de inclusão: Os indivíduos que praticam CrossFit®,
independente do gênero dês de que pratique a mais de 3 meses e tenha mais de 18
anos de idade. E foram excluídos os que, após entrevista, não entrarem nos
quesitos. Só então, foi-lhes pedido que respondessem o questionário sobre
percepção da fisioterapia direcionada ao praticante de CrossFit®.
Quanto a análise dos dados coletados, trabalhamos com os softwares estatísticos
Excel 2013 e GraphPad Prism 7.0.
Nos dados de
estratificação desses 98 indivíduos, temos 61,9% homens e 38,1% mulheres, a
maioria dentro da faixa de 19 a 25 anos (34,37%), seguido de 26 a 30 anos
(31,25%). Os indivíduos têm um tempo pratico, em média, maior que 12 meses
obtendo 65,62% das respostas, com uma frequência de treinos/semana maior que 5
dias (65,62%), seguido por 3 a 5 dias por semana (34,37%) (Tabela I).
Tabela I - Estratificação da amostra.
Na análise dos
questionários relacionados aos atendimentos de fisioterapia para resolver
disfunções geradas pelo crossfit, obtivemos um total
de 41 (42,6%) respostas, porém, apenas 32 indivíduos completaram o
questionário. No quesito “Recebeu tratamento fisioterapêutico para alguma
lesão?”, 75,60% (31) responderam que sim e 24,4% não, sendo único quesito
assinalado por 41. Essa parte foi constituída apenas com os indivíduos que
terminaram o questionário. Responderem como especialidade preferida a osteopatia está em primeiro lugar com 40% das respostas,
seguido de 37,5% fisioterapia esportiva, 12,5% fisioterapia convencional e 9,4%
Quiropraxia (Tabela II).
Tabela II – Dados sobre o atendimento de fisioterapia.
Na opção de “Quantos
atendimentos foram necessários para a sua disfunção?”, separamos entre as duas
opções de especialidades da fisioterapia mais escolhidas entres os
participantes da pesquisa, osteopatia e fisioterapia
esportiva. Temos que 46,15% dos indivíduos que escolheram osteopatia
foram necessários apenas de 1 a 3 atendimentos, seguindo por 30,76% de 7 a 10 e
15% de 4 a 6 atendimentos. Já na fisioterapia esportiva 41, 66% relataram que
foram necessários de 4 a 6 atendimentos, seguindo de 33% acima de 20 e 25% de 1
a 3 atendimentos (Tabela II).
Quanto ao “Nível de
melhora da sua disfunção após o(s) atendimento(s) fisioterapêutico(s)?” Também
realizamos a estratificação apenas das duas especialidades mais recorrentes em
nosso questionário. 69% dos indivíduos que escolheram a osteopatia
obtiveram melhora total das suas disfunções, seguindo de 30,76% de melhora parcial.
Já na fisioterapia esportiva os números são de 75% quanto a melhora total e de
25% na melhora parcial (Tabela II).
Nos testes de
associações não encontramos diferenças estatísticas significantes entre número
de respostas da melhora total e melhora parcial entre os grupos de
especialidades da fisioterapia (p<0,05) (Figura 1).
Figura 1 – Associação entre as respostas da melhora entre as especialidades.
A popularidade do CrossFit® aumentou substancialmente desde o seu lançamento
em 2005. Com a rápido acessão a popularidade e a mídia, porém com a ainda
limitada disponibilidade de informações sobre epidemiologia de lesões, o CrossFit® tem sido questionado por sua segurança e o risco
que oferece aos praticantes. Além disso, os princípios tradicionais de
treinamento enfatizam a competência técnica, especialmente com movimentos de
força multiarticulares o que facilmente leva a
exaustão física [12]. A fadiga associada ao exercício anaeróbico de alta
intensidade pode resultar na deterioração da concentração e habilidade para
realizar os movimentos, e por esses fatores, a fadiga pode colocar os atletas
em maior risco de lesão [13].
Um perfil
epidemiológico sobre a procura e a qualidade dos serviços e especialidades da
fisioterapia nos levou a observar que a osteopatia
foi a escolha da maioria dos praticantes e quanto a periodicidade de
atendimentos, a maioria necessitou apenas de até 3 atendimento e obtendo a
melhora total em 69% dos questionários entre as escolhas da eficácia das
especialidades e a fisioterapia esportiva os indivíduos necessitaram de mais
atendimentos, porém obtiveram um maior índice de melhora total de duas
disfunções e o resultado do teste de associação não mostrou diferença
estatística .
A filosofia e raciocinio clinico por trás das manipulações osteopáticas têm sentido biomecânico e fisiológico,
principalmente em um cenário esportivo. Afinal, amplitude de movimento
normalizada e diminuição da dor beneficiam o desempenho dos atletas. Por outro
lado, os resultados preliminares de alguns estudos sugerem uma associação que
vai além dos efeitos preconizados, não somente específicos do tratamento
[14,15]. Um trabalho de Christiansen et al. [16],
analisou uma única intervenção de manipulação vertebral, e como resultados
obtive o aumentou da força muscular e excitabilidade corticoespinal
dos músculos flexores plantares do tornozelo em atletas de elite de Taekwondo
por até 60 min após manipulação.
Existem evidencias da osteopatia sendo um mecanismo de prevenção das lesões
durante, sendo utilizada antes de uma temporada, para equilibrar o sistema
musculo esquelético. Foram analisados 141 indivíduos ao longo de 5 anos. Esses
participantes faziam parte da equipe de cross-country e apresentavam
estatisticamente um alto índice de fratura por estresse. Após o acompanhamento osteopatico ao longo desse tempo, houve uma redução de 45%
no número de diagnóstico das disfunções/fraturas por estresse da tíbia [17].
Semelhante a osteopatia que tem demonstrado um trabalho mais pontual na
resolução de afecções musculares, a fisioterapia esportiva que também recebeu
parte importante (37,5%) das escolhas dos participantes, têm grande valor na
resposta de tratamento, pois integra o indivíduo a sua pratica esportiva para
conseguir a sua reabilitação. Um estudo de Grant et al. [18] destaca o importante papel da fisioterapia no apoio aos
atletas durante os jogos Olímpicos. A análise de todos os atendimentos de
fisioterapia demonstrou que foi a maior procura profissional dentro a equipe
multidisciplinar, assim, apontando a sua eficácia.
Podemos destacar como
fatores limitantes do estudo a resistência em responder os questionários,
imposta pelos praticantes, por um certo preconceito por tratar-se de um
questionário investigativo sobre lesões em seu esporte.
Através dos dados
coletados, podemos observar uma boa tendência da procura e aceitação dos
tratamentos fisioterápicos em lesões bem como em atendimentos periódicos e com
uma alta taxa de resolubilidade nos atendimentos a possíveis lesões no público
praticante de CrossFit®.