REVISÃO
Atuação do
fisioterapeuta no trabalho de parto: revisão da literatura e proposta de manual
de orientação
Physiotherapist
performance in labor: literature review and guidance manual proposal
Thais Kuguelle*, Luana Albertoni*,
Larissa Abreu*, Cláudia de Oliveira**, Patrícia Andrade Batista***, Rossana Pulcineli Vieira
Francisco****, Clarisse Tanaka*****
*Ft., Especialista em
Fisioterapia Obstétrica – Hospital das Clínicas HCFMUSP, Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo, São Paulo/SP, **Docente Departamento de
Fisioterapia, Universidade Santa Cecília, Santos/SP, ***Departamento de
Fisioterapia, Universidade Ibirapuera, São Paulo/SP, ****Disciplina de
Obstetrícia e Ginecologia, Faculdade de Medicina FMUSP, Universidade de São
Paulo, São Paulo/SP, *****Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP),
São Paulo/SP
Recebido em 15 de maio
de 2020; aceito em 20 de agosto de 2020.
Correspondência: Thais Kuguelle. Rua Alexandre Dumas, 104, Alto da Boa Vista,
04717-000 São Paulo SP
Thais
Kuguelle: obstetricia.thaiskuguelle@gmail.com
Luana Albertoni: obstetricia.luanaalbertoni@gmail.com
Larissa Abreu:
obstetricia.larissaabreu@gmail.com
Cláudia de Oliveira:
claufisio@yahoo.com.br
Patrícia Andrade
Batista: pab.fisio@gmail.com
Rossana Pulcineli
Vieira Francisco: rossana.francisco@hc.fm.usp.br
Clarisse Tanaka:
cltanaka@usp.br
Resumo
O presente estudo teve
como objetivo realizar uma revisão crítica da literatura sobre a atuação do
fisioterapeuta durante o trabalho de parto e elaborar um manual com informações
mais relevantes baseadas nesta pesquisa. Foram procurados artigos nas bases Scielo, PubMed/Medline, e Lilacs de 2006 até 2018. Após serem analisados, foram selecionados
13 artigos para a revisão, sendo 5 na Scielo, 6 na PubMed/Medline e 2 na Lilacs. Com
esse levantamento pôde-se concluir que as intervenções fisioterapêuticas foram benéficas
para o alívio da dor, na redução do tempo de trabalho de parto e da ansiedade e
no aumento dos níveis de saturação de oxigênio, porém os estudos não
encontraram eficácia da eletroestimulação elétrica transcutânea para os
desfechos de alívio de dor no trabalho de parto.
Palavras-chave: fisioterapia,
trabalho de parto, dor de parto, gestante.
Abstract
The
objective of this literature review was the physiotherapist's performance
during labor and ti elaborate a manual with the most
relevant information found in this research. Articles were selected in the Scielo, PubMed/Medline and Lilacs databases from 2006 to
2018. After being analyzed for relevance, 13 articles were selected for review,
being: 5 in Scielo, 6 in PubMed/Medline and 2 in
Lilacs. Through this research, the studies demonstrated that the
physiotherapeutic interventions were beneficial for the relief of pain, the
reduction of labor time, the reduction of anxiety and the increase of levels of
oxygen saturation. The studies did not find efficacy of transcutaneous
electrical nerve stimulation for pain relief outcomes in labor.
Keywords: physical therapy, labor obstetric, labor pain, pregnancy.
A assistência
obstétrica humanizada visa à promoção do respeito aos direitos da mulher e da
criança, com condutas baseadas em evidência científica, garantindo o acesso da
parturiente a recursos para alívio de dor no trabalho de parto [1]. A principal
vantagem na utilização desses recursos é o reforço da autonomia da parturiente,
proporcionando sua participação ativa durante o parto e nascimento [2,3]. Neste
contexto, as informações existentes na literatura científica demonstram que a
fisioterapia obstétrica utiliza recursos para alívio da dor durante trabalho de
parto, dentre eles: mobilidade materna, deambulação, exercícios respiratórios,
massagem, banho de imersão e de chuveiro, eletroestimulação elétrica
transcutânea (EET), que promovem benefícios para a parturiente [2-4].
Embora a prática
clínica aponte benefícios às parturientes frente à presença do fisioterapeuta
na assistência perinatal, é escasso na literatura evidências científicas que
fundamentam tal prática. Portanto, o presente estudo tem por objetivo mostrar a
atuação do fisioterapeuta durante o trabalho de parto, e elaborar um manual de
orientação às gestantes, baseado nas informações desta pesquisa.
Na perspectiva de obter
uma revisão bibliográfica da literatura sobre este tema, foi realizada uma
busca por artigos com os descritores “fisioterapia”, “trabalho de parto”,
“gestante” e “dor de parto” na língua portuguesa e “physiotherapy”,
“labor obstetric”, “pregnancy”
e “labor pain” na língua inglesa, esses foram
combinados utilizando os operadores booleanos AND e OR nas bases de dados Scielo, Medline/PubMed e Lilacs, publicados entre 2006 a 2018.
Foram utilizados os
seguintes critérios de exclusão: estudos que não se enquadravam no período
proposto, artigos cujos títulos não tinham relação com o tema em análise,
trabalhos não realizados por fisioterapeutas e artigos com nível de evidência PEDro abaixo de 5.
A avaliação do nível de
evidência dos artigos selecionados foi realizada da escala PEDro,
a qual consiste em uma escala de 11 pontos, que tem o objetivo de auxiliar na avaliação
da qualidade metodológica dos artigos. A sua variação final varia de 0 a 9
pontos [5].
Para selecionar os
textos com o tema proposto, foram lidos os resumos dos artigos encontrados e a
análise de dados foi realizada de acordo com os critérios de seleção dos
artigos que foram delimitados segundo os critérios de inclusão: atuação da
fisioterapia no trabalho de parto.
Foram excluídos estudos
com abordagens invasivas, medicamentosas e aqueles que abordavam somente a
aplicação de instrumentos de avaliação.
Na Scielo,
foram encontrados 6 artigos. Na PubMed/Medline, 261
artigos. Na Lilacs 13 artigos.
Após a análise desses
artigos, sob o prisma dos critérios de exclusão, foram selecionados 13 deles,
sendo 5 da Scielo, 6 da PubMed/Medline
e 2 da Lilacs. Os artigos estão relacionados a
seguir, no Quadro 1.
Quadro 1 – Fluxograma dos 13
artigos encontrados.
Após análise dos
artigos, apresentados no quadro 1, verificou-se que o ano de 2013 correspondeu
ao período com o maior número de artigos científicos publicados sobre a
temática investigada. Esses artigos estão relacionados a seguir na tabela I.
Tabela I – Características e
dados dos estudos incluídos. (ver anexo em PDF)
A seguir, serão
discutidas as diferentes intervenções propostas nos estudos.
Exercícios
respiratórios
De acordo com Sinkin et al. [2] e Almeida et al. [6] os
exercícios respiratórios no trabalho de parto têm a função de reduzir a
sensação dolorosa, melhorar os níveis de saturação sanguínea materna,
proporcionar relaxamento e diminuir a ansiedade.
O estudo de Almeida et
al. [6] mostrou que as parturientes, ao receberem orientações para realizar
técnicas respiratórias durante o trabalho de parto, apresentaram menor nível de
ansiedade, quando comparadas ao grupo controle, porém não houve diminuição da
dor com essa intervenção.
Paula et al.
[7]
no seu estudo também concluíram que os exercícios
respiratórios podem não ser
suficientes na redução da sensação
dolorosa, porém são eficazes na redução da
ansiedade concordando com Almeida et al. [6]. Neste estudo,
priorizou-se a
respiração torácica lenta com
inspiração e expiração profundas e longas
em um
ritmo natural, sendo realizada no momento das contrações
uterinas.
Já no estudo de Bõing, Sperandio e Moraes [8] a
técnica respiratória apresentou melhora no alívio da dor nos níveis de
saturação materna. Neste estudo utilizou-se o padrão respiratório
diafragmático, realizado de forma lenta e profunda, o que o diferenciou do
estudo de Paula et al. [7], no qual foi priorizado o padrão respiratório
torácico.
Analgesia através de
eletroestimulação (EET)
Segundo a revisão
sistemática de Mello et al. [9], a EET é um método não farmacológico
utilizado no alívio da dor durante o trabalho de parto. De acordo com Orange et
al. [10], sua aplicação representa um método adjuvante que não se propõe
substituir outras técnicas já utilizadas e nem ser o único recurso.
No estudo de Mello et
al. [9], o resultado da metanálise de três
estudos não encontrou uma diferença estatisticamente significativa entre a dor
das parturientes em uso de EET quando comparadas a um tratamento placebo. Não
sendo possível determinar a sua efetividade como forma de analgesia durante o
parto devido aos resultados conflitantes, corroborando Knobel
et al. [11], em sua metanálise de seis estudos
que investigaram o uso de analgesia complementar que também não demonstrou
evidência de eficácia da EET.
Exercícios na bola
suíça
Segundo Lopes et al.
[4] e Sescato et al. [12], a bola suíça tem
sido utilizada como opção de recurso para a mulher que deseja adotar posição
não supina durante o trabalho de parto. Proporcionando a parturiente
estabilização, uma boa postura, possibilidade de movimentos e relaxamento
pélvico. Esse recurso reforça que as posições verticais favoreçam o conforto da
mulher no momento do parto [13], e os exercícios na bola, com a paciente
sentada, trabalha a musculatura do assoalho pélvico, o que amplia o diâmetro da
pelve auxiliando na descida fetal [14].
O estudo de Gallo et al. [15] demonstrou redução da intensidade
da dor com a realização de exercícios na bola durante o trabalho de parto, o
que se mostra benéfico para a parturiente. Silva et al. [14] constataram que a
maioria dos centros obstétricos de São Paulo possuem bola, e suas principais
indicações são: promover a descida fetal, aliviar a dor, relaxar, e estimular a
movimentação pélvica. Por outro lado, o ensaio clínico de Davin
et al. [16] constatou que a utilização da bola não alterou a duração dos
períodos da dilatação, do expulsivo e nem da condição perineal, mas houve
redução significativa da dor, concordando com os autores acima.
Em seu estudo, Braz et
al. [17] confirmaram os achados de Davin et
al. [18], que verificaram que a realização de exercícios de mobilidade
pélvica, durante o trabalho de parto, não influenciou na duração do tempo dele.
Percebe-se que os
estudos mencionados realizaram movimentos na bola de forma livre, que ajudaram
na diminuição da dor e no progresso do trabalho de parto. No entanto, poderiam
ser mais eficientes se fossem realizados baseando-se na evolução da dilatação do
colo e descida da apresentação cefálica que é mostrado no partograma.
De acordo com Bio et al. [19], o que importa não é apenas sentar-se
e movimentar-se de forma aleatória na bola, mas sim realizar movimentos com
consciência corporal. O fisioterapeuta obstétrico pode proporcionar à
parturiente recursos que facilitem a consciência corporal na bola, baseando-se
na leitura do partograma.
Massagem lombosacral
De acordo com Mamede et
al. [20], a massagem promove alívio da dor, proporciona contato físico com
a parturiente, potencializa o efeito de relaxamento, diminui o estresse,
melhora o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos.
No estudo de Gallo et al. [15], as parturientes receberam
massagem, quando atingiam 5 a 6 cm de dilatação, durante 40 minutos, realizaram
movimentos rítmicos ascendentes retornando com movimentos de deslizamento
através da região lateral do tronco em associação com a pressão sacral. Em
outro estudo desta autora, a mesma massagem foi realizada durante 30 minutos
quando as parturientes atingiam 4-5 cm de dilatação cervical. Em comparação com
o grupo controle em ambos os estudos o grupo experimental apresentou escores
mais baixos na escala de dor. Concluiu-se que a massagem realizada durante a
fase ativa do trabalho de parto reduz a intensidade da dor, apesar de não mudar
suas características e localização [21].
O estudo conduzido por
Chang, Chen e Huang [22], corrobora os achados acima. Avaliou o efeito da
massagem durante as contrações uterinas em três fases da dilatação: 3 a 4 cm, 5
a 7 cm e 8 a 10 cm concluindo que a aplicação da técnica reduziu efetivamente a
intensidade da dor nas duas primeiras fases da dilatação avaliadas, não havendo
diferenças significativas entre os grupos ao se considerar a terceira fase. E
observou que essa técnica pode ser aplicada durante os períodos de contração
uterina objetivando o alívio de dor e no intervalo das contrações com o intuito
de proporcionar relaxamento.
Banho quente/chuveiro/
imersão
De acordo com Simkin et al. [2] e Cluett
et al. [23], a água aquecida induz a vasodilatação periférica e
redistribuição do fluxo sanguíneo, promovendo relaxamento muscular. O mecanismo
de alívio da dor por este método é a redução da liberação de catecolaminas e
elevação das endorfinas, reduzindo a ansiedade e promovendo a satisfação da
parturiente.
Segundo Silva et al.
[24], é importante que a imersão seja realizada quando estiver definida a fase
ativa do trabalho de parto e com dilatação mais avançada, em torno de 6 cm,
para não interferir na intensidade e duração das contrações. É necessário que a
parturiente permaneça no mínimo 20 minutos no banho, com a ducha sobre a região
dolorosa [13].
A revisão sistemática
realizada por Cluett et al. [23] avaliou os
efeitos da imersão em água durante o trabalho de parto e evidenciou que a
imersão, durante o período de dilatação, reduz o uso de analgesia, sem
apresentar resultados adversos na duração do trabalho de parto.
Constatou-se em outro
estudo [18] que o efeito do banho de chuveiro no alívio da dor durante o
trabalho de parto é efetivo na redução da intensidade da dor na fase ativa da
dilatação. O estudo de Gallo et al. [15]
corrobora esses resultados, no qual essa intervenção era administrada quando a
dilatação cervical estava maior que 7 cm durante 40 minutos e houve redução na
intensidade da dor.
O estudo elaborado por Malarewicz et al. [25] avaliou a influência da
imersão sobre o trabalho de parto em parturientes a partir de 2 cm de
dilatação. Os resultados obtidos foram maior amplitude e frequência das
contrações uterinas em um grau proporcional à dilatação, resultando na menor
duração do trabalho de parto no grupo experimental.
Silva e Oliveira [24]
também realizaram um estudo com o objetivo de identificar a influência do banho
de imersão no tempo do trabalho de parto, na frequência e duração das
contrações uterinas. Mas, diferente dos resultados de Malarewicz
et al. [25], a duração das contrações foi estatisticamente menor no
grupo experimental. Portanto os autores concluíram que o banho de imersão é uma
alternativa para o conforto da parturiente, por oferecer alívio à dor. Porém
percebe-se uma dificuldade em comparar esses estudos por não apresentarem uma
metodologia definida em relação ao o banho de imersão e a dilatação cervical
apresentada.
Mobilidade
A mudança de postura
materna, durante o trabalho de parto, tem se mostrado eficiente para aumentar a
velocidade da dilatação cervical, promover o alívio da dor durante as
contrações e facilitar a descida fetal [2]. De acordo com os estudos, as
parturientes são incentivadas a adotarem posturas alternadas, de acordo com as
habilidades motoras das mesmas [25].
No estudo, conduzido
por Adachi et al. [28], as parturientes foram
orientadas a alternar entre as posições sentada e supina, a cada 15 minutos até
8 cm de dilatação. Os índices de dor foram significativamente menores na
posição sentada do que na supina. Os autores concluíram que a posição sentada é
uma postura eficaz no alívio da dor lombar durante a dilatação cervical de 6 a
8 cm.
Para investigar a
influência da mobilidade da parturiente durante a fase ativa da dilatação, Bio et al. [19] realizaram um ensaio clínico
randomizado e controlado, em parturientes com até 4 cm de dilatação. No grupo
tratado, as parturientes foram acompanhadas pelo fisioterapeuta durante toda a
fase ativa e orientadas a se manterem em posição vertical e em movimento, de
acordo com a fase da dilatação cervical e a descida fetal.
De acordo com Bio et al. [19], a principal área de foco da atuação
do fisioterapeuta obstétrico é a mobilização corporal realizada com movimentos
amplos e específicos, que levam a um trabalho de parto satisfatório. As
posturas e mobilizações variam de acordo com a descida do polo cefálico
(avaliado pelo método De Lee, por meio do partograma)
e de acordo com as contrações e os intervalos entre elas. Concluiu-se que a
mobilidade adequada da parturiente influência de maneira positiva o trabalho de
parto com o aumento da tolerância à dor, evitando o uso de fármacos e reduzindo
a duração da fase ativa da dilatação.
Uma revisão conduzida
por Hunter et al. [29] avaliou o efeito da postura materna de quatro
apoios durante o trabalho de parto. Foi concluído que a postura de quatro
apoios se associou a menor dor lombar durante o trabalho de parto, porém mais
estudos são necessários.
Deambulação
A deambulação é um
recurso terapêutico utilizado para reduzir a duração do trabalho de parto,
beneficiando-se dos efeitos da gravidade e da mobilidade pélvica aumentando a
velocidade da dilatação cervical e descida fetal [25].
Mamede et al.
[19] realizaram um estudo em parturientes e avaliaram o efeito da deambulação
sobre a dor na fase ativa do trabalho de parto. Os autores mostraram que, nas
parturientes que deambulavam nas primeiras três horas do trabalho de parto, a
velocidade de dilatação foi maior, porém também ocorreu aumento da dor.
A revisão sistemática
realizada por Lawrence et al. [26] verificou a redução da duração do
trabalho de parto em torno de uma hora para as parturientes que deambularam ou
adotaram posições verticais.
De acordo com as
intervenções citadas nos estudos acima, observou-se que somente o estudo de Bio et al. [19] utilizou o partograma,
como objeto de avaliação, para orientar de forma mais eficaz a parturiente. Os
outros estudos talvez não apresentaram resultados satisfatórios, pois não
partiram dessa premissa.
O partograma
é uma representação gráfica e objetiva do trabalho de parto. Ele mostra a
evolução da dilatação do colo e a descida da apresentação cefálica, associando
dois elementos fundamentais na qualidade da assistência ao parto: a
simplicidade gráfica e a interpretação rápida do trabalho de parto [30]. Além
do partograma é fundamental atuar em equipe durante o
trabalho de parto para obter informações sobre a posição fetal na pelve
materna.
Partindo deste
pressuposto, independentemente da intervenção fisioterapêutica adotada, se não
nos basearmos na fisiologia e biomecânica do trabalho de parto para realizar
movimentos específicos nas articulações: lombosacra, sacroilíaca, sínfise púbica e coxo femoral esses recursos
não terão valia alguma perante a prática clínica, pois o fisioterapeuta
obstétrico determina a sua conduta baseando-se na apresentação fetal.
Sugere-se que além da
variável dilatação que foi utilizada na maioria dos estudos, a apresentação
fetal e a posição cefálica deveriam ser consideradas pelos fisioterapeutas
(independentemente da intervenção) na elaboração da variedade de posturas que
podem ser orientadas e realizadas pelas parturientes em cada fase do trabalho
de parto.
Os estudos incluídos
nesta revisão indicam que as parturientes devem ter acesso aos recursos
fisioterapêuticos principalmente para alívio da dor e para a progressão do
trabalho de parto.
As intervenções
fisioterapêuticas se mostraram benéficas para o alívio da dor, na redução do
tempo de trabalho de parto, na redução da ansiedade e no aumento dos níveis de
saturação de oxigênio. Os estudos não encontraram eficácia da eletroestimulação
elétrica transcutânea para os desfechos do alívio de dor no trabalho de parto.
Portanto, o
fisioterapeuta obstétrico seria fundamental dentro da equipe multidisciplinar
por ser um profissional da saúde com competência no atendimento da parturiente
tanto para avaliação como na conduta corporal durante o trabalho de parto
devido ao seu conhecimento específico da biomecânica.
A atuação da
fisioterapia no trabalho de parto ainda é uma prática pouco estabelecida nas
maternidades, espera-se que, com a comprovação dos benefícios, os gestores e
profissionais de saúde validem a importância da assistência transdisciplinar no
ciclo gravídico-puerperal.
Diante deste contexto,
elaboramos um manual prático de orientação da fisioterapia durante o trabalho
de parto, e disponibilizamos este material com o intuito de colaborar mediante
o acesso dessas mulheres a conhecimento e informações de forma didática.
Manual prático da
fisioterapia durante o trabalho de parto
Informações básicas
Sinais de trabalho de
parto
Fases do trabalho de
parto
Sugestões de movimentos
que podem ser realizados durante o trabalho de parto
Seguem alguns
movimentos simples que você, gestante, poderá realizar durante o trabalho de
parto. Esses movimentos irão auxiliar a descida e a saída do bebê. O ideal é
tentar manter uma posição durante a contração, não se esqueça de respirar, a
respiração além de ajudar na diminuição da dor vai te deixar mais relaxada,
inspire (encha os pulmões de ar) pelo nariz e expire (solte o ar) pela boca de
forma lenta.
Quando a contração
terminar, durante o intervalo delas, se movimente de forma mais ativa possível,
a caminhada pode ajudar na dor e na evolução do trabalho de parto.
A figura 1 mostra os
movimentos de inclinar o quadril (bumbum) para frente e para trás, empinar e
encaixar o bumbum e balançá-lo para os lados, faça-os sempre respeitando os
seus limites.
Fonte:
Blandine Calais-Germain [38]. ©Le périnée féminin et l'accouchement, Adverbum
para as éditions DesIris, Gap France. Todos os direitos reservados.
Figura 1 – Movimentos na
posição em pé.
A figura 2 mostra
movimentos de inclinar o bumbum de um lado depois para o outro. Você também
pode rebolar fazendo movimentos bem amplos, e fazer um oito com seu quadril.
Fonte:
Blandine Calais-Germain [38]. ©Le périnée féminin et l'accouchement, Adverbum
para as éditions DesIris, Gap France. Todos os direitos reservados.
Figura 2 – Movimentos na
posição em pé.
De acordo com a figura
3, na posição de quatro apoios, você pode realizar movimentos de empinar e
encaixar o bumbum, você pode utilizar uma bola para se apoiar e, o seu
acompanhante pode realizar massagem na região da sua coluna lombar, a massagem
promove alivio da dor e é relaxante, além de diminuir o estresse.
Fonte:
Blandine Calais-Germain [38]. ©Le périnée féminin et l'accouchement, Adverbum
para as éditions DesIris, Gap France. Todos os direitos reservados.
Figura 3 – Movimentos na
posição de quatro apoios.
A figura 4 mostra a
posição de cócoras, que por ser uma posição verticalizada proporciona maior
oxigenação para o bebê e pode proporcionar para você maior autonomia durante o
trabalho de parto. Você pode realizá-la sozinha (caso você não consiga apoiar os
calcanhares no chão pode usar um ou mais lençois
dobrados) ou com ajuda do seu acompanhante. Não se esqueça de manter o bumbum
empinado durante essa posição.
Fonte:
Blandine Calais-Germain [38]. ©Le périnée féminin et l'accouchement, Adverbum
para as éditions DesIris, Gap France. Todos os direitos reservados.
Figura 4 – Posição de
cócoras.
A figura 5 mostra
outras possibilidades de movimentos, a bola suíça pode proporcionar a você,
gestante, melhora na postura durante o trabalho de parto, melhor estabilização
da sua pelve durante as contrações além de você realizar vários movimentos em
cima dela.
Fonte:
Blandine Calais-Germain [38]. ©Le périnée féminin et l'accouchement, Adverbum
para as éditions DesIris, Gap France. Todos os direitos reservados.
Figura 5 – Bola suíça.
Outro recurso que pode
te ajudar na dor durante as contrações é o banho quente ou a imersão em uma
banheira. Esse recurso é mais indicado quando a sua dilatação estiver mais que
6 cm.