ARTIGO ORIGINAL
Condições de vida e
saúde de idosos funcionários de uma faculdade particular
Living and health conditions of older employees in a private college
Dâmares Oliveira Silva*, Laiane Silva Santos*, Cristiane Gonçalves de Oliveira*, Isnanda Tarciara da Silva, M.Sc.**
*Graduanda em
Fisioterapia pela Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), **Professora
orientadora, FAINOR
Recebido em 14 de junho
de 2019; aceito em 04 de fevereiro de 2020.
Correspondência: Dâmares Oliveira Silva, Rua Mãe da Lua, N 4, Bairro Zabelê,
Bateias II 45077-340 Vitória da Conquista BA
Dâmares Oliveira Silva:
damaresolliveira@gmail.com
Laiane Silva Santos:
laiane_ss@hotmail.com
Cristiane Gonçalves de
Oliveira: haracris4@gmail.com
Isnanda Tarciara
da Silva: isnanda@fainor.com.br
Resumo
Introdução: Há um grande
percentual de idosos inseridos no mercado de trabalho e essa estimativa tende a
crescer devido ao aumento significativo dessa população, acreditando que, em
2020, 15% da população será idosa, e 13% estará inserida no mercado de
trabalho. Objetivo: Avaliar as condições de vida e saúde em idosos que
exerçam atividade profissional. Métodos: Estudo transversal,
quantitativo, censitário, descritivo, realizado em uma Instituição de Ensino
Superior com idosos de ambos os sexos, funcionários da instituição. Foram
aplicados os questionários sociodemográfico, Mini-exame
do estado mental, Escala de Katz, Escala de Lawton e Instrumento sobre doenças
crônicas autorreferidas. Os dados foram analisados no
Software SPSS v. 25.0. Resultados: Participaram do estudo 12 idosos, a
maioria do sexo feminino (58,3%), aposentados (58,3%), não tabagistas (16,6%) e
etilistas (75,0%). As patologias com maior índice foram a hipertensão (41,7%) e
diabetes (25%). Mostraram-se independentes para atividade básica e instrumental
de vida diária (91,7%) e (75%), respectivamente. Conclusão: Percebe-se
que os idosos estão ativos no mercado de trabalho, mesmo recebendo aposentadoria.
Apresentam alguma doença crônica e hábitos de vida que são fatores de risco
para outras doenças.
Palavras-chave: idoso, mercado de
trabalho, saúde.
Abstract
Introduction: There is a large percentage of older people entering the labor market
and this estimate tends to grow due to the significant increase of this
population, believing that in 2020 15% of the population will be elderly, and
13% will be inserted in the labor market. Objective: To evaluate the
life and health conditions of elderly who exercise professional activity. Methods:
Cross-sectional, quantitative, census-based, descriptive study carried out in a
Higher Education Institution with elderly people of both sexes, employees of
the institution. Socio-demographic questionnaires, Mini Mental State Exam, Katz
Scale, Lawton Scale, and Self-reported Chronic Diseases Instrument were
applied. The data were analyzed in SPSS v. 25.0. Results: Twelve elderly
people attended the study, the majority of whom were female (58.3%), retired
(58.3%), non- smokers (16.6%) and alcoholics (75.0%). The most frequent
pathologies were hypertension (41.7%) and diabetes (25%). They were independent
for basic and instrumental activity of daily life (91.7% and 75%,
respectively). Conclusion: The elderly are
active in the labor market, even receiving retirement. They present some
chronic illness and life habits that are risk factors for other diseases.
Keywords: aged, job market, health.
Comumente considera-se
como pessoa idosa o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos, de acordo
com a Organização Mundial de Saúde [1]. O processo de envelhecimento pode ser
caracterizado pela idade cronológica, que é a quantidade de anos que o idoso
possui; a idade biológica, que é definida pelas alterações bioquímicas e
anatômicas que ocorrem com o indivíduo e a idade psicológica que é representada
pela capacidade do mesmo em relacionar-se com o meio social [2].
O envelhecimento
encontra seu ápice na aposentadoria e, no Brasil, normalmente é vista como o
mecanismo de afastamento do trabalho. Entretanto, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) afirma que 20% dos idosos que trabalham no
Brasil são aposentados [3] e estudos têm mostrado que há uma estimativa para
2020, em que 15% da população possua 60 anos ou mais e 13% estarão inseridos no
mercado de trabalho [4].
Diante do aumento da
proporção de idosos na população brasileira, houve a chamada transição
epidemiológica [5], tendo como uma das fundamentais características o aumento
no predomínio de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), repercutindo em
grande impacto em países desenvolvidos e a partir da década de 1960 vêm se
espalhando pelo Brasil. Por volta dos 60 anos, algumas doenças são mais comuns,
tais como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças osteoarticulares,
doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e doenças respiratórias crônicas
[6].
O envelhecimento ainda
vem acompanhado por uma redução cognitiva fisiológica, sendo capaz de acarretar
o isolamento e ausência da autonomia e independência, pois o comportamento
físico e social do idoso depende da plenitude de todas as suas funcionalidades.
As alterações cognitivas podem ocasionar modificações na memória, atenção e
aprendizado, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, linguagem e
julgamento [7].
Além disso, com o
processo de senescência, os indivíduos reduzem o rendimento da atividade
funcional. Estudos apontam que para a saúde pública, a capacidade funcional e
sua autonomia são fatores determinantes que afetam os idosos.
Essa capacidade pode
ser determinada pela condição do mesmo em realizar com autonomia as atividades
básicas e instrumentais de vida diária [8].
Diante disso, executar
este estudo tem o intuito em avaliar as condições de vida e saúde desses idosos
que estão exercendo atividade profissional, mostrando à sociedade a importância
em inserir o idoso ao mercado de trabalho, pois espera-se que apesar de estarem
na terceira idade, os mesmos apresentem boa condição de saúde, devido a
atividade profissional.
Trata-se de um estudo
transversal, quantitativo, censitário e descritivo. O estudo foi realizado em
uma faculdade particular localizada em um município do interior da Bahia.
Os participantes da
pesquisa foram todas as pessoas com 60 anos ou mais, de ambos os sexos que
fossem funcionários de uma faculdade particular. Os critérios de inclusão foram
os docentes, colaboradores, funcionários terceirizados, coordenadores e
diretores e os critérios de exclusão foram os idosos com perda auditiva que impossibilitasse
a aplicação dos questionários.
Após a aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), a
coleta se iniciou convidando os indivíduos a comparecerem ao laboratório de
fisioterapia da instituição da pesquisa. O participante foi instruído quanto ao
tema e aos objetivos da pesquisa, bem como sobre o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido e o caráter voluntário da pesquisa. Ao aceitar participar do
estudo, o idoso assinou o TCLE e foi iniciada a coleta, podendo este deixar de
participar a qualquer momento sem ônus de qualquer natureza. O procedimento foi
realizado de forma individual, seguindo a seguinte ordem de aplicação dos
questionários: sociodemográfico; mini-exame do estado
mental; Escala de Katz; Escala de Lawton; Instrumento sobre Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis autorreferidas.
O questionário
sociodemográfico (Apêndice A) foi confeccionado pelos autores deste estudo e
composto de questões sobre idade, sexo, escolaridade, estado conjugal,
aposentadoria, consumo de bebida alcoólica, tabagismo e prática de atividades
físicas.
Para avaliar a função
cognitiva foi utilizado um questionário validado para idosos no Brasil, o Mini
Exame do Estado Mental – MEEM (Anexo A), que dispõe de duas fases, sendo a
primeira descrita pela avaliação da memória e atenção somando 21 pontos, sendo
utilizada de resposta verbal e a segunda etapa propõe leitura e escrita para
denominar, ordenações verbais e escritas, em que o mesmo irá copiar uma frase e
reproduzir um desenho (polígono), totalizando 9 pontos e finalizando com score
máximo de 30 pontos [9]. O score avaliado foi de acordo com Bertolucci [10], o
qual considera a escolaridade, com pontuação de 13 pontos para analfabetos, 18
para baixa e média e 26 para alta escolaridade.
A Escala de Katz (Anexo
B) é utilizada para avaliar a capacidade de realização das atividades básicas
de vida diária, que demonstra seis elementos que dispõem sobre o autocuidado e
discorre da seguinte maneira: capacidade para tomar banho, vestir-se, higiene
pessoal, transferências, continência e alimentação. A classificação da escala é
pontuada com nível de dependência ou independência [11].
A avaliação da
capacidade de realização das Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs) foi utilizada a Escala de Lawton (Anexo C), que
avalia o nível de independência do indivíduo, sendo discorrida por nove
atividades que proporciona ao ser humano a adequação ao meio e conservando sua
independência à comunidade. Cada item dispõe de três alternativas, a primeira
aponta independência, a segunda dependência parcial e a terceira indicam
dependência total. Para o resultado do score, associa-se 3, 2 e 1 pontos,
mutuamente, totalizando de 9 a 27 pontos [12]. A classificação é realizada de
acordo com o score, sendo até 9 pontos (dependência total), de 10 a 18 pontos
(dependência parcial) e 19 a 27 pontos (independência) [13].
Neste estudo também
foram investigadas as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (Apêndice B) autorreferidas dos idosos. Este instrumento, por sua vez,
foi elaborado pelos autores da pesquisa e conterão respostas de “sim” ou “não”.
Sendo investigadas as seguintes doenças: hipertensão arterial sistêmica;
diabetes mellitus, artrite, artrose, osteoporose, bursite, tendinite, síndrome
do túnel do carpo, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias.
Foram identificados 22
indivíduos com idade superior ou igual a 60 anos. Entretanto 3 se encontravam
em licença, 1 era deficiente auditivo e 6 recusaram a participação, resultando
em 12 indivíduos participantes da pesquisa.
Dos indivíduos
estudados, a maioria estava na faixa etária entre 60 e 69 anos, com média de
idade de 64,42 (±3,17), era do sexo feminino, solteira, completara o ensino fundamental
e recebia aposentadoria, como pode ser visto na Tabela I.
Tabela I - Características
sociodemográficas da população do estudo. Vitória da Conquista, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa
(2019).
No que se refere aos
hábitos de vida, a maioria consumia bebida alcoólica, já foi tabagista e não
praticava atividade física. Quanto à capacidade funcional, a maioria mostrou-se
independente tanto para as atividades básicas quanto instrumentais de vida
diária (Tabela II).
A investigação sobre as
condições de saúde desta população torna possível observar que houve o relato
de todas as doenças crônicas investigadas (Tabela II).
Tabela II - Condições de
saúde e hábitos de vida da população do estudo. Vitória da Conquista,
2019.
Fonte: Dados da pesquisa
(2019).
Diante da população
estudada é possível observar que 58,3 % são aposentados, em concordância com Cockell [14] que afirma que dos idosos brasileiros com 65
anos ou mais, aproximadamente 3,1 milhões continuam no mercado de trabalho,
sendo a grande maioria aposentado. Alguns autores acreditam que a permanência
desses idosos nessa atividade profissional está ligada a alguns fatores
relacionados à necessidade de provisão da família, ligado a baixa renda dos
benefícios que é proporcionada pela previdência e a necessidade de se sentir
ocupado e útil [15].
Pinheiro et al.
[16] apresentam que o trabalho proporciona a elevação da autoestima do
indivíduo, devido à aprovação social e à autoimagem positiva decorrente de uma
boa atividade profissional. Afirmam ainda que o serviço também é uma maneira de
manter-se em um convívio social e em constante renovação, desenvolvendo as
habilidades cognitivas.
De acordo à capacidade
cognitiva avaliada, a população se classifica com uma boa cognição. Consonante
com Costa et al. [17], as condições psicológicas que contornam a
inteligência e a capacidade cognitiva são indicativos de longevidade que são
continuamente incentivados no decorrer das ocupações profissionais. Desse modo,
quanto mais o idoso estiver em atividade, maior será seu contentamento com a
saúde.
Com relação à
capacidade funcional, o presente estudo demonstrou que 91,7% de idosos
independentes para as atividades básicas de vida diária e 75% de independentes
para as atividades instrumentais de vida diária. Amorim [18] discorre que os
idosos que permanecem em atividade após aposentadoria e/ou voluntariado obtêm
um melhor contentamento com a vida e permanecem realizando suas AVDs de maneira independente e que esses idosos que estão
envolvidos em execução produtiva têm menor chance de apresentar síndrome da
fragilidade.
Concernente aos hábitos
de vida, vale destacar os fatores encontrados no estudo, quanto a prática de
atividade física, tabagismo e consumo de álcool. De acordo Meneguci
et al. [19], a prática de atividade física
proporciona benefícios para a
saúde do idoso, contendo relação na
atuação de prevenção de doenças.
Quanto ao
tabagismo, representa um considerável acelerador de
envelhecimento, acometendo
não apenas a expectativa de vida, mas também a qualidade
[20], sendo a
principal causa de morte consequente de patologias referente ao uso do
tabaco,
principalmente as cardiovasculares, o câncer e as
respiratórias obstrutiva
crônica [21]. Em se tratando do consumo de álcool por
pessoas na velhice, assim
como outra substância química, provoca impactos em sua
condição de saúde e
bem-estar [22]. Esses três fatores de risco estão
relacionados ao
desencadeamento de Doenças Crônicas Não
Transmissíveis [23].
O estudo realizado por
Rios, Vilela e Nery [24], analisando os aspectos de saúde de idosos de
abordagem qualitativa, corrobora o presente estudo, no qual destacam que os
indivíduos avaliados apresentaram doenças crônicas não transmissíveis como
artrose, hipertensão arterial, diabetes mellitus e problemas respiratórios.
Nesta pesquisa, dos idosos entrevistados, houve relatos sobre as dificuldades
de saúde e como podem afetar no bom desempenho do seu trabalho, sendo
interessante citar um exemplo encontrado: uma trabalhadora disse não estar
capacitada para o trabalho, mas necessita para o sustento, podendo se observar
então a contribuição para a sua condição de vida.
No estudo é possível
perceber que os idosos, mesmo sendo beneficiários da aposentadoria, estão
ativos no mercado de trabalho. Apresentam alguma doença crônica não
transmissível, apresentam hábitos de vida que são fatores de risco para outras
doenças e desenvolveram algum tipo de dependência para as atividades
instrumentais de vida diária.
Ante o exposto, fica
claro que a atuação no mercado de trabalho para os idosos é altamente
recomendada, devido a necessidade financeira, sua função no auxílio da
capacidade cognitiva, funcionalidade, convívio social, bem como realização
pessoal, no tocante ao sentimento de utilidade.
Destarte, vale
ressaltar que o tema proposto é pouco abordado, dificultando discorrer sobre os
assuntos necessários, porém espera-se que o presente estudo contribua para
maior aprofundamento sobre o tema proposto, ajudando melhor a compreendê-lo.