ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
da reeducação postural global na intensidade dos sintomas álgicos e equilíbrio
postural em mulheres jovens com cefaleia do tipo tensional
Effects
of global posture reeducation on pain and postural balance in young women with
tension-type headache
Deborly Cristina Dalzotto Kunast, Ft.*, Camila Kich, Ft.*, Marcos Vinicius Soares Martins, M.Sc.**, Hilana Rickli Fiuza
Martins, Ft., M.Sc.***
*Faculdade
Guairacá, Guarapuava/PR, **Profissional de Educação
Física, Docente do Departamento de Educação Física Bacharelado da Universidade
Estadual do Centro-Oeste e Docente do Departamento de Educação Física
Bacharelado e Licenciatura da Faculdade Guairacá,
Guarapuava/PR, ***Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da
Universidade Federal do Paraná (PPGEDF-UFPR), Docente do Departamento de
Fisioterapia da Universidade Estadual do Centro-Oeste e Docente do Departamento
de Fisioterapia da Faculdade Guairacá, Guarapuava/PR
Recebido em 28 de junho
de 2019; aceito em 2 de dezembro de 2019.
Correspondência: Hilana
Rickli Fiuza Martins, Departamento de Fisioterapia,
Faculdade Guairacá, Rua XV de Novembro, 7050,
85064-500 Guarapuava PR
Deborly Cristina Dalzotto
Kunast: debykunast@hotmail.com
Camila Kich: camila.kich@hotmail.com
Marcos Vinicius Soares
Martins: marc_edfisica@yahoo.com.br
Hilana Rickli
Fiuza Martins: mail:hilana_@hotmail.com
Resumo
Introdução: Fatores emocionais, nocicepção miofascial pericraniana
e ineficácia da regulação central da dor são mecanismos relacionados à cefaleia
tensional, destacando os fatores psicossociais e a sobrecarga muscular
decorrente de uma postura não adequada. Objetivo:
Descrever os efeitos da Reeducação Postural Global (RPG) na cefaleia tensional.
Métodos: Seis mulheres (28,16 ± 7,57
anos), com classificação 2 da International Classification of Headache Disorders
3rd edition (ICHD-3) e pontuação ≥ a 50 no Headache Impact Test
(HIT-6) receberam uma sessão semanal de RPG, durante 40 minutos, em 4 semanas.
A avaliação estabilométrica e baropodométrica
foi realizada com plataforma de pressão e avaliação da dor com a escala visual
analógica. Resultados: Foi observado
redução da dor (6,8 ± 1,3 vs 3 ± 0,6; p = 0,000) e do
impacto da cefaleia (58,5 ± 5,2 vs 47,3 ± 6,0; p =
0,002), aumento da oscilação do centro de pressão (COP) médio lateral (0,08 ±
0,33 vs 1,50 ± 0,32 mm2; p= 0,026) e antero-posterior (0,8 ± 0,2 vs
1,3 ± 0,3 mm2; p = 0,014) e maior contato com o solo em retropé em comparação ao antepé
(65,33 ± 6,37%; vs 34,66 ± 6,37 p = 0,002), que foi
mantido após as atendimentos (63,0 ± 6,38% vs 37,0 ±
6,38%; p = 0,004). Conclusão: A RPG
promoveu redução do impacto da cefaleia e dor e mostrou-se eficaz como um
método de correção postural, visualizado pelo aumento da oscilação do centro de
pressão.
Palavras-chave: cefaleia do tipo
tensional, modalidades de fisioterapia, equilíbrio postural.
Abstract
Introduction:
Emotional factors, pericranial myofascial nociception
and ineffectiveness of central regulation of pain are mechanisms related to
tension type-headache, with emphasis on psychosocial factors and muscle
overload due inadequate posture. Objectives:
To describe the use of Global Postural Reeducation (GPR) in tension
type-headache. Methods: Six women
(28.16 ± 7.57 years), classification 2 in International Classification of
Headache Disorders 3rd edition (ICHD-3) and score ≥ 50 in the Headache Impact Test (HIT-6)
participated in 4 sessions of GPR, for 40 minutes, once a week. Pain was
evaluated by the Visual Analog Scale of Pain (VAS) and stabilometric
and baropodometric evaluation were performed with pressure platform. Results: Reduction of pain (6.8 ±1,3 vs
3 ± 0.6; p = 0.000) and headache impact (58.5 ± 5.2 vs 47.3 ±6.0; p = 0.002),
increase in the oscillation of the center of standardized pressure, both as
sagittal (0.8 ± 0.2 vs 1.3 ± 0.3 mm2; p = 0.014) and frontal plane
(0.08 ± 0.33 vs 1.50 ± 0.32 mm2; p = 0.026) were observed, as well
as more hindfoot ground contact compared to forefoot (65.33 ± 6.37% vs 34.66 ±
6.37%; p = 0.002), which was maintained after the sessions (63.0 ± 6.38% vs
37.0 ± 6.38%; p = 0.004). Conclusion:
The GPR technique promoted reduction on impact of headache and pain and showed
to be effective as a method of postural correction, visualized by increased
pressure center oscillation.
Key-words: tension-type
headache, physical therapy modalities, postural balance.
A cefaleia tipo tensão
é caracterizada por episódios frequentes de cefaleia, tipicamente bilateral,
com caráter de pressão ou aperto de intensidade de média a moderada, durando de
minutos a dias [1]. A sua incidência é mais alta no
período de pico de produtividade populacional, acometendo mais a faixa etária
de 25 a 55 anos e afetando mais as mulheres do que os homens [2,3].
Mecanismos como fatores
emocionais, genéticos, fatores periféricos (nocicepção
miofascial) e centrais (sensibilização e controle inadequado da dor endógena)
são apontados como causadores da cefaleia tensional, com destaque aos fatores
psicossociais e à sobrecarga muscular decorrente de uma postura ativa não
adequada [4]. Pontos gatilhos miofasciais ativos em regiões de cabeça e pescoço
provocam a liberação de várias substâncias algogênicas
que sensibilizam os nociceptores periféricos e
originam a dor refletida na cabeça. Entre os fatores que promovem e agravam a
atividade de pontos-gatilho miofasciais, está a manutenção de uma postura
inadequada, que pode favorecer a disfunção da musculatura do pescoço, reduzindo
sua mobilidade e causando sobrecarga dos segmentos vertebrais [5-7].
A fisioterapia é citada
como opção de tratamento para a cefaleia tensional através da utilização de
recursos que promovem a melhoria da postura, técnicas de manipulação da coluna,
tratamento oro-mandibular, programas de exercício, compressas quentes e frias,
ultrassom e correntes elétricas [8]. No entanto, existe um grande contraste
entre o uso disseminado de técnicas da fisioterapia e a falta de provas
científicas sólidas sobre a eficácia dessas técnicas, sendo necessários mais
estudos para apoiar ou rejeitar a eficácia de modalidades da fisioterapia na
cefaleia tensional.
Dentre os recursos
fisioterapêuticos a Reeducação Postural Global é um método que pode ser
utilizado, mas ainda há carência de evidências científicas sobre os efeitos do
RPG na cefaleia tensional, pois desconhecemos estudos prévios sobre esse tema.
A RPG é um método
desenvolvido por Phillippe Emanuel Souchard em 1987, com base na teoria das cadeias musculares
[9,10]. Trata-se de uma técnica de tratamento fisioterapêutico que utiliza
posturas ativas e simultâneas, isométricas em posições excêntricas dos músculos
da estática aplicadas em decoaptação articular
progressiva [11]. É relatado que método RPG desenvolve a consciência corporal e
melhora a postura corporal [12].
Um estudo do tipo
revisão sistemática, realizada com estudos de muito baixa a baixa qualidade de
evidência, mostrou que a técnica RPG foi eficaz para promover redução da dor e
incapacidade nas condições de dor lombar relacionada a gravidez e a espondilite
anquilosante e na dor lombar crônica em comparação com nenhum tratamento [13].
Dessa forma, partindo
do princípio de que posturas inadequadas podem desencadear a cefaleia tensional
e a RPG tem-se mostrado como uma técnica comumente utilizada para a correção
das alterações posturais na prática clínica do fisioterapeuta. O presente
estudo tem como objetivo avaliar os efeitos da RPG na intensidade dos sintomas
álgicos e no equilíbrio postural em mulheres jovens com cefaleia tensional.
Estudo longitudinal e
prospectivo, realizado nas Clínicas Integradas Guairacá.
Obedeceu aos critérios éticos, com base na Resolução nº 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS), com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual do Paraná (CEP/UNICENTRO), sob o parecer nº
1.710.697/2016 e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Para a seleção da
amostra, após a aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, foi realizada a
divulgação da intenção de pesquisa por meio de folders e/ou panfletos nas
instalações da Faculdade Guairacá e redes sociais,
convidando interessados para participar do estudo.
As interessadas foram
incialmente avaliadas em relação ao impacto da cefaleia sobre a qualidade de
vida por meio da escala de autorrelato Headache Impact Test
(HIT-6). Trata-se de uma escala que aborda aspectos como dor, funcionamento
social, cognitivo, psicológico e angústia. A pontuação total é obtida pela soma
de suas seis perguntas e quanto mais alto o valor da soma, maior o impacto da
dor de cabeça na vida do indivíduo [14]. As voluntárias que atingissem
pontuação igual ou superior a 50 passaram por uma avaliação elaborada para esse
estudo, a fim de que fossem verificados os critérios de elegibilidade do
estudo.
Os critérios de
inclusão foram: voluntárias do sexo feminino, com idade entre 20 e 40 anos e
que apresentassem cefaleia do tipo tensional, de acordo com a classificação
internacional de cefaleias [1] e que aceitassem não fazer uso de medicamentos
anti-inflamatórios, analgésicos ou miorrelaxantes no
período do estudo. A cefaleia tipo tensão é caracterizada por episódios
frequentes de cefaleia, tipicamente bilateral, com caráter de pressão ou aperto
de intensidade de média a moderada, durando de minutos a dias. A dor não piora
com atividade física de rotina e não se associa a náusea, mas pode haver
fotofobia ou fonofobia [1]. Os critérios de exclusão foram pessoas que
apresentassem cefaleia de outra classificação, que apresentassem doença
neurológica, reumática ou ortopédica, pessoas que estivessem inseridas em outro
programa de reabilitação, pessoas que apresentassem restrição para execução das
atividades propostas ou déficit de compreensão.
Nove interessadas
entraram em contato com os pesquisadores e após análise dos critérios de
elegibilidade, participaram do estudo 6 voluntárias adultas com idade entre 20
e 37 anos, que apresentaram classificação 2 do ICHD-3 (cefaleia tipo tensão), e
aceitaram participar do estudo assinando o termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE).
Realizou-se avaliação
antropométrica – peso, altura e índice de massa corporal (IMC). A pressão
plantar e o equilíbrio postural estático foram avaliados com o baropodômetro eletrônico da marca Arquipélago®, com
dimensões de 575 x 450 x 25 mm e superfície ativa de 400 mm x 400 mm. O
equipamento possui revestimento de policarbonato e suas características
eletrônicas são: 2704 captadores capacitivos calibrados, frequência de 150 Hz,
conversão analógico-digital de 16bits, medida do captador de 7,62 x 7,62 mm e
pressão máxima por captador de 100N/cm2. A avaliação foi realizada em uma sala
fechada com temperatura ambiente. A participante foi posicionada sobre a
plataforma na postura ereta, em apoio bipodal, com um
afastamento dos pés igual à largura do quadril e braços ao longo do corpo. Os
dados foram coletados com os olhos abertos, e foi solicitado que mantivesse o
olhar fixo em um ponto demarcado na parede a 3 metros de distância, na altura
dos olhos com apoio dos dois pés. Foram realizadas 3 tentativas, com duração de
30 segundos cada, e intervalo de 1 minuto entre cada tentativa, e a média das 3
tentativas foi considerada para a análise [15].
A dor foi avaliada pela
Escala Visual Analógica da Dor (EVA) representada por uma régua demarcada de 0
a 10, zero significa que o paciente não apresenta nenhum quadro doloroso e os
dez significa dor máxima. A dor foi avaliada no início do tratamento e após a
4ª sessão.
Após
os procedimentos
avaliativos, as participantes foram submetidas ao protocolo
experimental de 4
atendimentos de Reeducação Postural Global, com intervalo
de 7 dias. Os
atendimentos foram realizados sempre no período vespertino e
pelo mesmo
fisioterapeuta. A sessão de RPG consistiu nas posturas em
fechamento do ângulo
coxo femoral com braços abertos e fechados (“rã no
ar”) e abertura de quadril
(“rã no chão”) com braços abertos e
fechados, adução escapular, retificação
lombar e tração cervical.
Ambas as posturas foram
aplicadas durante 20 minutos cada, totalizando 40 minutos. As participantes
foram orientadas a usar uma roupa leve e confortável. As posturas foram
mantidas durante 4 minutos cada intervaladas por um tempo de descanso de 1
minuto. A sequência foi: postura rã no ar com semiflexão
de joelho e braços fechados, rã no ar com semiflexão
de joelho e braços abertos, rã no ar com extensão de joelho e braços fechados;
rã no ar com extensão de joelho e braços abertos, rã no chão com o pé mais
próximo do corpo e braços fechados; rã no chão com o pé mais próximo do corpo e
braços abertos; rã no chão com o pé mais afastado do corpo e braços fechados e
rã no chão com o pé mais afastado do corpo e braços abertos [11].
Após 4 atendimentos de
RPG, as voluntárias foram reavaliadas por um colaborador do estudo previamente
treinado, a fim de que fossem investigados os efeitos do método RPG na cefaleia
tensional, nas variáveis dor, impacto da cefaleia e equilíbrio.
A estatística
descritiva e inferencial foi realizada utilizando o Software Statistical Package for the Social Science (SPSS) para Windows (versão 20.0, SPSS
Inc.©, Chicago, Illinois). Os dados foram avaliados quanto à normalidade por
meio do teste de Shapiro-Wilk. O teste t de student pareado foi utilizado para comparar os momentos pré e pós para as variáveis dor, impacto da cefaleia,
pressão plantar e equilíbrio estático. O estudo adotou o valor de p < 0,05
para a significância estatística.
Participaram do estudo
6 mulheres com idade média 28,1 ± 7,5 anos, peso corporal médio de 63,8 ± 5,3
kg e índice de massa corporal classificado como normal (23,2 ± 2,9 kg/m2).
Foi observado redução
estatisticamente significativa da dor (p=0,000, teste t de student
pareado, Tabela I) e do impacto da cefaleia (0,002, teste t de student, Tabela I) após 4 atendimentos de reeducação
postural global.
Tabela I - Efeitos da RPG nos sintomas álgicos e impacto da cefaleia do tipo
tensional.
Valores expressos em
média e desvio padrão, com os intervalos de confiança de 95%. Dor foi avaliada
pela Escala visual analógica da dor (0-10). Impacto da cefaleia foi avaliado
pelo HIT-6 (Headache Impact
Text). *Diferença significativa (Teste t de student pareado).
Na avaliação da
oscilação corporal estática através da estabilometria
foi observado aumento estatisticamente significativo da oscilação do centro de
pressão (COP) padronizado pela altura após 4 atendimentos de RPG, tanto no
plano frontal quanto sagital
(Figura 2).
Figura
2-A - Oscilação do centro de pressão
médio-lateral; *Aumento da oscilação no plano sagital (0,08±0,33 mm2
[0,4-1,2] vs 1,50±0,32 mm2 [1,1-1,8],
p=0,026, teste t de student pareado). Figura 2-B - §Aumento da oscilação de pressão no plano frontal (0,8±0,2 mm2
[0,5-1,1] vs 1,3±0,3 mm2 [0,8-1,7],
p=0,014, teste t de student pareado). [ ] Intervalo de confiança em 95%.
Foi observado que as
pacientes com cefaleia do tipo tensional apresentaram maior área de contato com
o solo em retropé (65,3 ± 6,3%) em comparação ao antepé (34,6 ± 6,3%) (p = 0,002, teste t de student) o que foi mantido após as 4 atendimentos de RPG (retropé (63,0 ± 6,3%) em comparação ao antepé
(37,0 ± 6,3%, p = 0,000 teste t de student), sem
diferença estatisticamente significativa entre o pré
e pós (p = 0,552 teste t de student pareado) (Figura
3).
Figura
3-A - Distribuição de pressão plantar em mulheres
com cefaleia tensional. Maior descarga de peso em retropé
(65,33±6,37% [58,6-72,2]) em comparação ao antepé
(34,66±6,37% [27,9-41,3]) *(p=0,002, teste t de student
pareado). Figura 3-B - Distribuição da pressão plantar em mulheres
com cefaleia tensional após 4 atendimentos de RPG. Maior descarga de peso em retropé (63,0±6,38% [56,2-69,7]) em comparação ao antepé (37,0±6,38% [30,2-43,7])*(p=0,004,
teste t de student pareado). [ ]
Intervalo de confiança em 95%.
Quanto à distribuição
de pressão plantar, foi verificada aumento na área de contato no pé esquerdo
estatisticamente significativa após 4 atendimentos de RPG. A tabela II
apresenta os resultados da área de contato e a pressão média de ambos os pés.
Tabela II - Área de contato e pressão média.
Valores expressos em
média e desvio padrão, com os intervalos de confiança de 95%. Kpa: kilopascal. *Aumento da área
de contato em pé esquerdo após 4 atendimentos de RPG (p=0,004, teste t de student pareado). ( ) Intervalo de
confiança em 95%.
É relatada alta
prevalência de cefaleia tensional na população economicamente ativa o que
acarreta em diminuição de rendimento e absenteísmo ao trabalho. Ainda, jovens
relatam sintomas álgicos decorrentes do uso excessivo de smartphones, o que
justifica o objetivo deste estudo, que foi analisar os efeitos do RPG em
indivíduos com cefaleia do tipo tensional, na intensidade dos sintomas álgicos
e no equilíbrio postural antes e após intervenção.
O método RPG emprega
posturas que trabalham gradualmente o alongamento de músculos específicos de
uma determinada cadeia seja ela anterior ou posterior, e/ou das cadeias
estáticas secundárias (cadeia inspiratória, superior de ombro, anterior de
braço, ântero-interna do ombro, ântero-interna
do quadril e lateral do quadril) [16]. Os resultados do presente estudo
mostraram que 4 atendimentos com o método Reeducação Postural Global foram
eficazes no alívio da dor e redução do impacto da cefaleia tensional em
mulheres jovens. Estudos utilizando técnicas de terapia manual no manejo da
cefaleia do tipo tensional relatam tempo de duração do tratamento de 4 semanas
[17,18], com estudo relatando a realização de 20 atendimentos [19]. O presente
estudo também foi realizado durante 4 semanas, mas com um atendimento semanal,
tendo em vista a recomendação de que o método seja aplicado uma vez por semana,
o que demonstra a vantagem do método em relação ao número reduzido de
atendimentos em comparação a outros métodos.
A RPG proporciona o
alongamento das cadeias musculares encurtadas, descompressão articular e
muscular com a tração da cervical, reeducando a postura e diminuindo as
compensações, resultando em alívio da dor. A diminuição da tensão excessiva da
musculatura cervical superficial influencia na redução
da hipersensibilidade pericranial [5] justificando a
redução da dor. A administração de exercício de relaxamento diminuiu
significativamente a sensibilidade muscular pericraniana
e cervical em trabalhadores com queixa de cefaleia, tendo como benefício a
redução da dor de cabeça e pescoço [20].
Estudos relatam
benefícios do método de RPG na melhora da força muscular respiratória,
expansibilidade torácica, mobilidade tóraco-abdominal
e da pressão respiratória máxima, além de redução da dor e da perda urinária em
mulheres incontinentes, melhora da flexibilidade, redução da dor lombar e
cervical crônica, alteração da atividade eletromiográfica
nas disfunções temporo-mandibulares e da estabilidade
postural em alterações ortopédicas de membros inferiores e
[21,22,31,23-30].
O presente estudo
mostrou que a técnica RPG promoveu redução da dor em pacientes com cefaleia do
tipo tensional. A postura com cabeça anteriorizada e
redução da força e resistência dos músculos da região cervical explicam o
envolvimento muscular no desencadeamento do quadro álgico da cefaleia tensional
[32]. Tendo em vista que os atendimentos de RPG consistiram em alongamento muscular,
assim como contração muscular isométrica dos músculos cervicais para manter uma
retificação da cabeça durante a postura, verifica-se que houve redução da dor
como resultado do aumento do controle muscular da região cervical.
Um estudo verificou os
efeitos de um programa de exercícios resistidos em isometria, de leve
intensidade, em pacientes com cefaleia do tipo tensional com o objetivo de
treinar e/ou recuperar o controle muscular das regiões cervico-escapular
e craniocervical. Foi observada redução da frequência
dos episódios de cefaleia, assim como na intensidade e duração. Seis meses após
o tratamento, os autores ainda observaram redução significativa da frequência,
intensidade e duração da cefaleia do tipo tensional [33].
Um achado interessante
do presente estudo foi o aumento do deslocamento do centro de pressão nos
planos sagital e frontal. O aumento da oscilação no centro de pressão
verificado após 4 atendimentos de RPG pode representar os efeitos biomecânicos
obtidos com a técnica. Leitch et al. [34] relataram que o sistema de medição da pressão do pé foi
apropriado para a avaliação dos efeitos biomecânicos. A oscilação corporal está
relacionada aos ajustes realizados para manter o centro de gravidade dentro da
base de sustentação, assim, mudanças da localização do centro de gravidade
promovem aumento da oscilação corporal, que no presente estudo representa um
efeito da técnica aplicada que tem como objetivo a reeducação postural de forma
global.
A alteração no padrão
postural das pacientes após os 4 atendimentos de RPG foi confirmada pelo
aumento da área de superfície de apoio no pé esquerdo de forma estatisticamente
significativa. Esse achado foi um resultado interessante, pois, no momento pré, a maior superfície de apoio foi registrada no pé
direito. Verifica-se dessa forma que a RPG, por ser um método de correção
postural, alterou a localização do centro de gravidade habitual das
participantes o que também pode justificar o aumento da oscilação do centro de
pressão, pois precisavam se ajustar a nova postura. Ainda não foi observada
diferença na pressão média entre os dois pés, o que indica que estavam
descarregando o peso de forma semelhante nos dois hemicorpos.
O estudo de Ishizaki et al.
[35] não observou diferença nos parâmetros estabilométricos
entre indivíduos com cefaleia do tipo tensional e indivíduos controle
saudáveis, enquanto Giacomini et al. [36] relatam que indivíduos com cefaleia tensional
apresentam maior oscilação corporal em comparação a indivíduos saudáveis e
sugerem que uma perturbação proprioceptiva pode ser responsável pelo padrão
postural alterado apresentado por esses pacientes.
Algumas limitações no
presente estudo devem ser consideradas, tais como o tamanho amostral, a
ausência de grupo controle, ausência de avaliação postural e a falta de
registro sistemático da cefaleia durante a intervenção. O registro da
frequência e duração dos sintomas poderia ter contribuído para a compreensão
dos efeitos da técnica RPG, podendo-se argumentar de que o efeito observado
possa ter sido resultado de um desenvolvimento natural ao longo do tempo. No
entanto, considerando o impacto da cefaleia e a intensidade da dor neste grupo
de pacientes recrutados, atribuir tal melhoria simplesmente ao decorrer do tempo
é bastante improvável. No entanto, é necessário repetir o mesmo procedimento
com maior número de participantes com cefaleia tensional para confirmar nossos
achados. Pesquisas são necessárias para especificar a relação da postura
corporal e posturas inadequadas com a cefaleia tensional, assim como mais
pesquisas são necessárias para definir claramente o papel dos músculos da
cabeça e pescoço no desencadeamento da cefaleia tipo tensão. Recomenda-se a
realização de estudos com randomização, alocação secreta e cegamento dos
avaliadores.
A técnica de Reeducação
Postural Global, aplicada uma vez por semana, durante 4 semanas em mulheres
jovens, foi eficaz na redução da dor e do impacto da cefaleia. A técnica ainda
se mostrou eficaz como um método de correção postural visualizado pelas
alterações nos parâmetros estabilométricos, pois por
ser uma técnica de correção postural, alterou a localização do centro de
gravidade habitual o que justifica o aumento da oscilação do centro de pressão.
Dessa forma, a técnica de RPG pode ser indicada para pacientes que apresentam
cefaleia tensional por promover redução dos sintomas álgicos e modificar o
padrão postural.