ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do perfil dos praticantes do método Pilates solo e estúdio na cidade de São
Paulo
Profile
characterization of the studio and mat Pilates practitioners in São Paulo city
Cintia Domingues de
Freitas*, Camilla de Carvalho Separowic**, Carlos
José Maltese***, Graciette
de Fátima Rebelo Ramos Passarelli****, Silene Contreras Lopes*****
*Docente
do curso de graduação em Fisioterapia, Universidade Paulista (UNIP), São Paulo,
**Fisioterapeuta, UNIP, São Paulo, ***Supervisor de Estágio, UNIP São Paulo,
****Supervisora de Estágio, UNIP, São Paulo, *****Educadora Física, Faculdade
Integrada de Guarulhos (FIG), São Paulo
Correspondência: Cintia Domingues de
Freitas, Rua Amazonas da Silva 737 Vila Guilherme 02051-001 São Paulo SP,
E-mail: cintiafreitas24@gmail.com; Camilla de Carvalho Separowic:
c.separowic@gmail.com; Carlos José Maltese:
maltese68@yahoo.com.br; Graciette de Fátima Rebelo
Ramos Passarelli: graciettef@hotmail.com; Silene Contreras Lopes: silene.contreras@imperiopilates.com.br
Artigo apresentado no
VI Congresso Brasileiro de Pilates, 28 a 30 de setembro de 2018, UNIP campus
Paraíso, São Paulo, Coordenação: Theo Abatipietro
Costa, mestre em Ciências da Reabilitação UNINOVE, coordenador da Pós-Graduação
em Pilates UNIP Paraíso, E-mail: theopilates@gmail.com, e Alaide
Aragão, Mestre em Bioengenharia UNIVAP
Resumo
Introdução: O Pilates é aplicado
em diferentes populações. Objetivo:
Analisar o perfil dos praticantes em estúdios da cidade de São Paulo. Metodologia: Estudo transversal. Foi
aplicado um questionário sobre patologias, dor, gestação, atividades físicas,
prática do Pilates e formação do instrutor, em estúdios de Pilates da cidade de
São Paulo, entre junho e setembro de 2014. Cada indivíduo preenchia o
questionário em papel. Resultados: 47
estúdios incluídos, 129 homens (56,1 ± 20,1 anos) e 388 mulheres (40,5 ± 21,7
anos), 34,8% idosos e 7,9% gestantes. 56,2% das aulas ministradas por
Fisioterapeutas e 43,7% por Educadores Físicos. 34,62% das aulas individuais e
65,3 % em grupo de 2 (36%), 3 (53,2%) a 4 (10,6%) pessoas, praticado 1 (11,4%),
2 (81%) a 3 (7,5%) vezes por semana. O tempo de prática do Pilates era de 14 ±
7,81 meses. Atividades físicas citadas: musculação (25,9%), caminhada (15,2%) e
hidroginástica (12,7%). 234 (45,2%) dos entrevistados com patologias: lombalgia
crônica (19,2%), hipertensão arterial (14,5%) e osteoartrite (11,9%). 28,8%
sentiam dor há mais de três meses. Conclusão:
Predomínio de mulheres jovens, prática de duas vezes por semana, em grupos de
três pessoas. Entre os praticantes gestantes, idosos e indivíduos com dores e
patologias crônicas. A maioria associa Pilates a outras atividades.
Palavras-chave: terapia por
exercício, reabilitação, coluna vertebral, perfil de saúde, técnicas de
exercício e de movimento.
Abstract
Introduction:
Pilates is applied in different populations. Objective: To analyze the profile of Pilate’s practitioners in São
Paulo. Methodology: Cross-sectional
study. A questionnaire was applied with questions about personal history of
disease, pain, pregnancy, physical activity, characteristics of the practice
and instructor training in Pilates Studios in São Paulo, between June and
September 2014. The questionnaire was filled individually. Results: 47 studios were included. 129 men (56.1 ± 20.1 years old)
and 388 women (40.5 ± 21.7 years old). 34,8% aged and 7.9% pregnant. 56.2%
classes are taught by physiotherapists and 43.7% for Physical Educators. 34.62%
individual classes and 65.3% in group of 2 (36%), 3 (53.2%) or 4 (10.6%).
People practiced 1 (11.4%), 2 (81%) or 3 (7.5%) times a week. The Pilates
practice time was 14 ± 7.81 months. Physical activities: bodybuilding (25.9%),
walking (15.2%) and water aerobics (12.7%). Pathologies in 234 (45.2%) of
individuals: chronic low back pain (19.2%), hypertension (14.5%),
osteoarthritis (11.9%). 28.8% reported feeling pain more than three months. Conclusion: Most of practitioners were
young women practicing twice a week in groups of three. Included pregnant, aged
and people with pain and chronic pathologies. Most individuals associated
Pilates with other activities.
Key-words: exercise
therapy, rehabilitation, spine, health profile, exercise movement techniques.
O método Pilates
trabalha força, flexibilidade, equilíbrio, controle preciso do movimento e a
consciência corporal. O método se baseia em seis princípios: Centralização;
Controle; Precisão; Respiração; Fluidez e Concentração [1,2,3]. Os exercícios
do método são realizados em aparelhos (estúdio) ou solo [1].
Revisões sistemáticas
destacam a efetividade do método Pilates em pessoas saudáveis. A maior parte
dos estudos analisam os exercícios em solo, avaliam adultos homens e mulheres
ativos ou sedentários. A aplicação do método varia de 5 a 15 semanas e a
frequência de 1 a 5 vezes por semana [3,4]. Há forte evidência do método, para
desenvolver flexibilidade da cadeia posterior e equilíbrio dinâmico e uma
evidência moderada para o ganho de resistência muscular de tronco e ausência de
evidência para ganho de força nos indivíduos saudáveis [3,4].
Em relação à
flexibilidade, estudos, afirmam ganho significante de flexibilidade dos
músculos da cadeia posterior [5-10]. Os estudos que obtiveram ganho de flexibilidade
da cadeia posterior em indivíduos saudáveis, aplicam o método Pilates em uma
frequência de 2 [6,9,10] a 3 vezes por semana [5,7,8]. Há variação quanto ao
tempo total de prática, entre 5 [8], 8 [7,10], 10 [9] e 12 semanas [5,6].
Os estudos que obtém
aumento na resistência muscular abdominal em pessoas saudáveis aplicam o método
de 2 [6] a 3 vezes por semana [7-9]. Há variação quanto ao tempo total: 5 [8];
8 [7]; 10 [9] e 12 semanas [6].
O ganho de equilíbrio
em pessoas saudáveis submetidas ao método acontece em uma frequência de 2
[5,10] a 3 vezes por semana [7]. O tempo total de aplicação de exercícios varia
entre 8 [10] e 12 semanas [5,6].
Outra revisão
sistemática com meta-análise indica que os exercícios de Pilates em solo ou em
aparelhos 2 a 3 vezes por semana, entre 5 e 12 semanas, melhora a resistência
muscular abdominal, equilíbrio dinâmico, qualidade de vida e flexibilidade
muscular da coluna quando comparado a ausência de prática de exercícios, entre
pessoas saudáveis [3].
A maioria dos estudos
na dor lombar crônica, praticam o Pilates solo [11-17] embora alguns autores
sugiram o Pilates estúdio [18,19]. As evidências ainda são inconclusivas sobre
a eficácia dos exercícios de Pilates na redução da dor e incapacidade na dor
lombar crônica, com número insuficiente de estudos e grande variedade
metodológica [11,17,22]. No tratamento da dor lombar crônica revisões
sistemáticas relatam que o método é mais efetivo que uma intervenção mínima por
exercício [20,21] ou oferece melhoras equivalentes em relação a outros
exercícios [11,21], além disso, algumas revisões sistemáticas apontam que as
evidências ainda são inconclusivas.
O objetivo deste estudo
foi analisar as características dos praticantes e da prática do método Pilates
em estúdios na cidade de São Paulo.
Trata-se de um estudo
de campo transversal, submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
Paulista e aprovado com o número 641.481.
Foram recrutados
indivíduos de ambos os sexos, maiores de 18 anos, em estúdios de Pilates de
todas as zonas da cidade de São Paulo/SP, no período de junho a setembro de
2014.
O número de
participantes foi determinado por cálculo amostral com erro de 10%. A partir de
uma análise segmentada por macro regiões da cidade de
São Paulo, criaram-se cinco zonas de estudo Centro, Norte, Sul, Leste e Oeste
com número estimado de 500 indivíduos. O levantamento dos estúdios foi feito
pela internet. Os instrutores locais receberam orientações da pesquisadora
executante sobre como os indivíduos deveriam preencher o questionário, o qual
continha perguntas sobre dados pessoais, profissão, patologias, dor, uso de
medicamentos, gestação, prática de atividades físicas, características quanto à
prática do Pilates e formação do instrutor. Os questionários eram preenchidos
em papel individualmente.
Os critérios de
inclusão foram: praticantes do método Pilates estúdio/solo da cidade de São
Paulo, homens e mulheres maiores de 18 anos. Seriam excluídos, aqueles que se
recusassem a responder alguma questão ou que apresentassem alteração cognitiva.
Os indivíduos após
terem lido e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da
Universidade Paulista, receberam o questionário. Depois de recolhidos os
questionários, foi feita análise descritiva dos dados.
Dos 80 estúdios de
Pilates da cidade de São Paulo, convidados, 33 se recusaram a participar. A
amostra foi de 517 participantes de 20 a 84 anos (45,6 ± 21,5 anos), 129 homens
(56,1 ± 20,1 anos) e 388 mulheres (40,5 ± 21,7 anos), praticantes do método
provenientes dos 47 estúdios das zonas da cidade de São Paulo que participaram.
Tabela I - Profissão exercida pelos praticantes de Pilates entrevistados.
Gráfico 1 – Grupos de idade.
243 voluntários (47%)
associam o Pilates à outra atividade física. A mais citada foi a musculação
(25,9%), seguida da caminhada (15,2%), hidroginástica (12,7%) e natação
(11,1%), entre outras (34,9%). Essas atividades ocorrem 3 vezes por semana
(48,1%) na sua maioria, sendo 1 vez (14,4%), 2 vezes (18,1%) e 5 vezes por
semana ou mais (19,3%). O tempo médio de duração da atividade é 56,23 ± 17
minutos por dia e 17,43 ± 20,3 meses. Entre os entrevistados, 234 (45,26%)
apresentam afecções clínicas.
Gráfico 2 – Afecções clínicas apresentadas.
Apresentaram dor 149
(28,82%) dos entrevistados, 91(61,07%) mulheres e 58 (38,92%) homens.
Gráfico 3 - Local da dor relatada.
A dor há mais de 3
meses foi relatada por 91 indivíduos (61,07%), enquanto 58 (38,92%)
apresentaram tempo de dor menor que 3 meses.
A Escala Visual
Analógica (EVA) apresentou média 3,4 ± 0,28, sendo entre as mulheres 3,45 ±
0,17 e entre os homens 3,25 ± 0,15.
Entre os entrevistados
100% praticavam Pilates estúdio, sendo 56,29% das aulas ministradas por
Fisioterapeutas e 43,71% por Educadores Físicos. As aulas eram realizadas
individualmente por 34,62% enquanto que 65,37 % praticavam em grupo. Os grupos
variaram de 2 a 4 pessoas, sendo 36,09% grupos de 2, 53,25% de 3 e 10,65% de 4
pessoas.
Gráfico 4 – Frequência semanal do Pilates.
O tempo de prática foi
de 14 ± 7,81 meses, com duração de 56,23 ± 17 minutos por dia. Entre os
praticantes de Pilates 180 (34,81%) eram idosos, e 31 (7,98%) eram gestantes.
No presente estudo
nota-se uma preferência da prática do Pilates por mulheres assim como na
maioria dos estudos [8,9,12]. Entre os praticantes do método Pilates a maioria
são adultos jovens, o que condiz com a literatura a qual avalia principalmente
jovens ou atletas, os quais são beneficiados com o método Pilates em relação a
melhora da flexibilidade e resistência muscular [4,23].
Na amostra avaliada
encontrou-se entre os praticantes principalmente pessoas com nível superior,
provavelmente por terem maior acesso às informações podendo buscar aquilo que
está em evidência na mídia. Essa é uma característica esperada uma vez que
entre indivíduos com maior escolaridade é verificada prevalência de atividade
física de lazer, existem evidências de que sujeitos com nível superior completo
apresentam cerca de oito vezes mais chances de praticar exercícios comparados
com aqueles com ensino fundamental incompleto [24].
Nota-se que
aproximadamente metade dos praticantes entrevistados associa o Pilates à outra
atividade física sendo a preferência por musculação, natação, hidroginástica e
caminhada, não há relato na literatura que faça tal associação, porém
acredita-se que a prática dessas modalidades de maneira supervisionada pode
somar os seus benefícios como melhora do condicionamento cardiovascular,
melhora da força e da resistência muscular aos benefícios do Pilates. Essas
modalidades vêm sendo praticadas de 1 a 5 vezes por semana, sendo em sua
maioria 3 vezes por semana.
Entre as patologias
citadas pelos participantes as mais prevalentes foram às alterações na coluna
(hérnias de disco, protusão e lombalgia crônica não específica), hipertensão
arterial sistêmica e osteoartrites. Os exercícios de Pilates podem ser
benéficos para as patologias em geral, considerando-se que há evidencia do
método para melhora da flexibilidade, da resistência muscular e do equilíbrio
[3,4,20].
Um estudo [25]
preocupou-se em investigar os efeitos do método Pilates em relação a parâmetros
cardiometabólicos, no qual ocorreu apenas uma
diminuição da pressão sistólica em mulheres sedentárias normotensas após oito
semanas de prática. Diante do número de praticantes hipertensos (14,52%),
torna-se importante avaliar o comportamento dos sinais vitais nestes indivíduos
mediante a prática dos exercícios de Pilates e deve-se ter cautela ao lidar com
essa população devido à ausência de estudos.
O presente estudo
mostrou que 28,82% dos entrevistados apresentaram algum tipo de dor sendo na
maioria localizada na coluna lombar, com sintomas presentes há mais de três
meses, o que caracteriza como dor crônica. A condição clínica mais estudada em
relação aos efeitos do método Pilates é a dor lombar crônica, em relação a qual
as revisões sistemáticas relatam efetividade do método para a melhora da dor e
das incapacidades funcionais comparado a uma intervenção mínima por exercício
[20,21] ou oferece melhoras equivalentes em relação a outras formas de
exercício [11,21], entretanto as evidências ainda são inconclusivas [17,22].
Um estudo que comparou
a efetividade dos exercícios do Pilates solo com estúdio na dor lombar crônica
não especifica identificou que os exercícios realizados nos equipamentos foram
superiores quanto aos resultados de incapacidade e cinesiofobia,
entretanto não foi encontrada diferença significante entre os dois tipos de
prática no que concerne à intensidade da dor [20].
A prática do Pilates
vem sendo realizada em São Paulo de 1 a 3 vezes por semana, sendo que se
destaca a prática de 2 vezes por semana. Na literatura os estudos que obtiveram
ganho de flexibilidade da cadeia posterior, resistência muscular abdominal e
equilíbrio dinâmico em indivíduos saudáveis, aplicam o método Pilates em uma
frequência semanal de 2 [6,7,10] a 3 vezes por semana. [5,7-9], o que demonstra
que a prática realizada nos estúdios da cidade de São Paulo está dentro de uma
frequência semanal adequada para obtenção de resultados.
O Pilates vem sendo
praticado em grupo pela maioria dos indivíduos nos estúdios da cidade de São
Paulo, o que se assemelha a maioria dos estudos nos quais os exercícios do
método são realizados em grupos. Esta forma de prática nas pesquisas demonstra
bons resultados. Há uma vantagem na prática individual, já que o aluno tem
total atenção do instrutor podendo apresentar um melhor desempenho na
realização dos exercícios, porém a prática em grupo pode proporcionar uma
integração social na qual é possível criar vínculos e tornar-se um incentivo
para praticar. A literatura mostra que foi possível atingir bons resultados com
o Pilates praticado em grupo, mas não se especifica a quantidade de indivíduos
por grupo [4]. No presente estudo, os grupos variam de 2 a 4 pessoas.
Nota-se um baixo número
de gestantes praticantes do método Pilates, das 388 mulheres entrevistadas
apenas 7,98% estavam grávidas. Os estudos encontrados mostram que o Pilates
pode trazer efeitos positivos na minimização dos agravos causados pela
lombalgia e pode ser um dos programas preventivos lombalgia na gestação. A prática
beneficia a saúde física e mental das mulheres no pós-parto e melhora da
qualidade de vida [26,27]. No presente trabalho das 31 gestantes, 23
apresentaram diagnóstico de dor lombar crônica não especifica.
Entre os indivíduos
entrevistados, 34,81% no presente estudo eram idosos entre 60 e 84 anos. A
literatura relata que o método Pilates para essa população vem apresentando
benefícios como redução de quedas, melhora da flexibilidade da cadeia
posterior, melhora do equilíbrio estático, além da melhora da autonomia
pessoal, qualidade de vida [5,12].
Chama-se atenção para a
quantidade de indivíduos que praticam o método Pilates e apresenta alguma
patologia, além da presença de idosos e gestantes entre os praticantes, o que
demanda atenção especial nesses casos no momento da prática, tornando necessário
o desenvolvimento de novas pesquisas relacionadas à prática do Pilates em
certas condições clínicas específicas para que sejam feitas as devidas
adaptações.
Há um predomínio de
mulheres jovens que praticam o método duas vezes por semana, na maioria em
grupos de três pessoas. Entre os praticantes encontram-se gestantes, idosos e
indivíduos que apresentam dores e patologias crônicas, principalmente afecções
ortopédicas e dores na coluna lombar. A maioria dos indivíduos associa a
prática do Pilates a outras atividades físicas.