ARTIGO
ORIGINAL
Efeito do
método Pilates sobre a força muscular respiratória, amplitude de movimento da
caixa torácica e pico de fluxo expiratório em tabagistas
Effect
of the Pilates method on respiratory muscle force, amplitude of thoracic
movement and expiratory peak flow in smokers
Diego Leandro Torcinelli*, Fábio da Silva Banuth*,
Simone Cristina Chiodi Prestes, D.Sc.*,
Andrea Cintra Lopes, D.Sc.**
*Curso de
Fisioterapia da Universidade Paulista - UNIP Campus Bauru/SP, **Curso de
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru FOB - USP Bauru/SP
Correspondência: Simone Cristina Chiodi Prestes, E-mail: simone.prestes@docente.unip.br;
Diego Leandro Torcinelli:
diegotorcinelli@hotmail.com.br; Fábio da Silva Banuth:
fabio.banuth@docente.unip.br; Andrea Cintra Lopes: aclopes@usp.br
Artigo apresentado no
VI Congresso Brasileiro de Pilates, 28 a 30 de setembro de 2018, UNIP campus
Paraíso, São Paulo, Coordenação: Theo Abatipietro
Costa, mestre em Ciências da Reabilitação UNINOVE, coordenador da Pós-Graduação
em Pilates UNIP Paraíso, E-mail: theopilates@gmail.com, e Alaide
Aragão, Mestre em Bioengenharia UNIVAP
Resumo
O tabagismo leva à
obstrução das vias aéreas, reduz a capacidade aeróbica, aumenta a resistência
ao fluxo aéreo, afeta a função da musculatura respiratória e diminui sua força.
Uma das técnicas mais modernas utilizadas na fisioterapia é o método Pilates. O
método Pilates pode ser uma ferramenta para reverter esses quadros, já que
entre seus inúmeros benefícios, proporciona um maior rendimento das funções
respiratórias. O objetivo do estudo foi verificar se há influência do método
Pilates sobre a força muscular respiratória, expansibilidade torácica e pico de
fluxo expiratório em indivíduos tabagistas. Foi realizado um estudo com dois
voluntários tabagistas, nos quais foi realizada a medida da pressão
inspiratória máxima (Pimáx), da amplitude de
movimento da caixa torácica e do pico de fluxo expiratório antes e após 20
sessões de Pilates para análise comparativa. Foi observado um aumento nos
valores da Pimáx. e do pico de fluxo expiratório e
que não houve alteração no índice da amplitude de movimento da caixa torácica.
Sugere-se que sejam realizados mais estudos relacionando os efeitos do método
Pilates sobre o sistema respiratório.
Palavras-chave: Pilates, tabagismo,
pressão inspiratória máxima.
Abstract
Smoking
leads to airway obstruction, reduces aerobic capacity, increases airflow
resistance, affects respiratory muscle function and decreases muscle strength.
One of the most modern techniques in the physiotherapy is the Pilates method.
The Pilates can be a tool to revert these frames, since, among its numerous
benefits, the practice improves the respiratory functions. The aim of this
study was to verify the influence of the Pilates method on respiratory muscle
strength, thoracic expandability and peak flow in smokers. The study was
carried out with two smoking volunteers, evaluating before and after twenty
sessions the maximal inspiratory pressure, the chest expansion and expiratory
flow. We observed a significant repercussion of Pilates in the time of the
study (2 months), with statistically significant improvement after 20 sessions.
There was no difference in thoracic cirtometry. We
suggested that more studies be done relating the effects of the Pilates method
on the respiratory system with participants presenting respiratory pathologies.
Key-words: Pilates,
smoking, muscle strength respiratory.
O tabagismo é um dos
mais importantes problemas de saúde pública, o mesmo persiste como uma das
principais causas de morte no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que um quinto de toda população mundial seja tabagista (1,1 bilhões de
fumantes e destes 800 milhões se encontram em países subdesenvolvidos como o
Brasil) [1]. O tabagismo deve ser considerado uma pandemia, já que, atualmente,
morrem no mundo, cinco milhões de pessoas, por ano, em consequência das doenças
provocadas pelo tabaco.
Estudos comprovam os
efeitos deletérios do tabagismo. Ao fumar, o tabagista lesiona o sistema
fisiológico do corpo causando alterações como diminuição da função pulmonar e
da força muscular respiratória, maior concentração de monóxido de carbono (CO)
no sangue, dispneia, limitação de exercícios, aumento da frequência cardíaca,
aumento de gastos energéticos e até mesmo câncer [2].
Muitos adolescentes
começam a fumar desde cedo. Quase metade dos 300 milhões de jovens fumantes no
mundo perecerão possivelmente devido ao fumo [3].
Tabagistas podem ser
inseridos em programas de reabilitação pulmonar visando, entre outros
objetivos, o ganho da força muscular respiratória [4].
O método Pilates é um
recente sistema de exercícios realizados pelos profissionais na área da
fisioterapia e foi idealizado pelo alemão Joseph Humbertus
Pilates como um princípio de exercícios que visam trabalhar a força,
alongamento e flexibilidade [5]. O Pilates configura-se pela tentativa do controle
dos músculos envolvidos nos movimentos da forma mais consciente possível.
Durante a prática do método, são mantidas as curvaturas fisiológicas do corpo e
não se usam pesos extras, apenas o peso do próprio praticante. É realizado por
pessoas que buscam atividades físicas sem impacto [6].
Pilates propôs ao seu
método o termo “Contrologia”, definido pelo mesmo
como “ciência e a arte de coordenar o desenvolvimento do corpo, mente e
espírito através de movimentos naturais”. Através dos exercícios de contrologia a pessoa desenvolve o corpo uniformemente,
corrige posturas erradas, restaura a vitalidade física, tem uma melhora na
amplitude de movimento, redução da dor, revigora a mente e eleva o espírito. Um
dos principais resultados da contrologia está no
domínio completo da mente sobre o corpo [7,8].
Os princípios básicos
pelos quais o Pilates é executado são: concentração, controle, centro de força,
respiração diafragmática, movimento fluido, precisão, força e relaxamento [7].
Pilates em seu trabalho enfatizava a respiração, que deve ser coordenada com o
movimento, como o fator primordial no início do movimento preparando e
recrutando os músculos estabilizadores profundos da coluna, beneficiando o
relaxamento dos músculos inspiratórios [9].
Os exercícios se
atentam a ativar e contrair os músculos profundos estabilizadores do tronco
associados à respiração: os intertransversais, os interespinhais, os multifidos e
os eretores da espinha seguem os princípios do método, como contração dos
músculos multifidos e transverso
abdominal associados à respiração [10,11]. O movimento do músculo
diafragma é oposto do músculo transverso do abdômen, mas acaba fazendo parte da
contração do abdômen e, sendo fortalecido, promove uma melhora na força
muscular respiratória do praticante. A respiração diafragmática é vastamente
utilizada na reabilitação de paciente com doenças pulmonares [12]. Diante aos
fatores expostos decidiu-se realizar esse estudo que teve por objetivo avaliar
os efeitos do método Pilates sobre a força muscular respiratória, a
expansibilidade torácica e o pico de fluxo expiratório em pacientes tabagistas
Trata-se de um estudo
descritivo, realizado em uma clínica particular na cidade de Agudos/SP.
Participaram 2 indivíduos do sexo feminino, com idade de 24 e 45 anos,
tabagistas e sedentários.
Os dados foram
coletados após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos da
Universidade Paulista. Parecer N0 2.597.842.
Após a triagem foi
realizada a medida da pressão inspiratória máxima (Pimáx),
do pico de fluxo expiratório (PFE) e da amplitude de movimento da caixa
torácica.
A Pimáx
foi medida por meio de um manovacuômetro analógico
MV-150 fabricado pela Ger-Ar, graduado em centímetros
de água (cmH2O). Foi solicitado aos indivíduos que fizessem um esforço
inspiratório máximo a partir do volume residual. Os dados foram colhidos com os
indivíduos sentados utilizando um clipe nasal para que não houvesse escape de
ar. A manobra foi realizada três vezes com intervalo de um minuto entre cada
uma, permanecendo como resultado o maior valor obtido [13,14].
A medida do pico de
fluxo expiratório foi realizada pelo Peak Flow Meter, modelo Mini-Wright-Adulto da marca Clement Clark, com escala ATS 60-880 litros por minuto. Em
posição ortostática e com a cabeça em posição neutra, foi solicitado aos
indivíduos para realizarem um esforço inspiratório máximo até a capacidade
pulmonar total e a partir daí para que expirassem forçadamente com a boca bem
acoplada ao bocal. Durante as medições os indivíduos receberam incentivos
verbais para que o teste fosse realizado com o maior esforço expiratório
possível. Foram realizadas três medidas e selecionada a de maior valor.
A medida da amplitude
de movimento da caixa torácica foi obtida por meio da cirtometria,
utilizando uma fita métrica escalonada em centímetros. A medida foi realizada
ao nível do processo xifoide onde foi tomada como referência a borda inferior
do processo xifoide. Os indivíduos foram examinados na posição ortostática.
Foram realizadas três inspirações e expirações máximas, sob o comando de voz do
examinador, sendo anotado três valores, bem como as diferenças obtidas entre a
inspiração e a expiração (coeficiente da amplitude). Para análise dos dados foi
considerado o maior valor obtido [15,16].
Após a coleta dos
dados, os indivíduos foram submetidos às sessões de Pilates três vezes por
semana com duração de 60 minutos cada sessão durante 20 sessões.
As sessões de Pilates
consistiram em exercícios realizados no solo utilizando o próprio corpo para
realizar alongamentos. Em alguns exercícios foram utilizados acessórios como
bola, overbol e faixa elástica. Entre os aparelhos,
foram utilizados o Reformer, Cadillac, Ladder Barrel e Chair. Os exercícios realizados durante as sessões foram o Cat, Rolamento quadril (ponte), Movimento pélvico, The Hundred, Roll Up,
The One Leg Circle, entre outros [17,18].
Após a 20ª sessão foi
realizada uma nova coleta dos dados para análise comparativa em relação aos
dados iniciais.
Os valores da Pimáx. obtidos antes e após as sessões de Pilates estão
demonstrados na figura 1.
Figura 1 – Representação gráfica dos valores da Pimáx.
antes e após sessões de Pilates.
De acordo com os
resultados obtidos foi verificado que o indivíduo 1 apresentou um aumento de
20,67% no valor da Pimáx. após as sessões de Pilates
e o indivíduo 2 não apresentou melhora da Pimáx. após
as sessões de Pilates.
Os valores do pico de
fluxo expiratório (PFE) obtidos antes a após as sessões de Pilates estão
mostrados na figura 2.
Figura 2 – Representação gráfica dos valores de PFE antes e após as sessões de
Pilates.
De acordo com os
resultados obtidos foi verificado que o indivíduo 1 apresentou um aumento de
4,87% no valor de PFE após as sessões de Pilates e o indivíduo 2 apresentou um
aumento de 23,07% no PEF após as sessões de Pilates.
Em relação à amplitude
de movimento da caixa torácica não houve diferença entre os valores encontrados
antes e após as sessões de Pilates nos dois indivíduos estudados.
Foi verificado neste
estudo que em apenas um indivíduo houve aumento no valor da Pimáx.
Já no valor do PFE, foi observado um aumento após as sessões de Pilates em
ambos indivíduos e que não houve diferença no coeficiente da amplitude de
movimento da caixa torácica.
Um estudo sobre o
método Pilates em pacientes com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
demonstrou melhora significativa na força muscular e na capacidade
respiratória, diminuindo a dispneia e proporcionando melhora nas atividades
diárias dos pacientes. Neste estudo, o autor tem uma visão de inclusão do
método na gestão pública, pois tem um menor custo em relação ao tratamento à
base de medicamentos [19].
Outra pesquisa
evidenciou que o método, como exercício respiratório, aumentou a força muscular
respiratória em paciente com DPOC, melhorou a mobilidade torácica e reduziu a
limitação ao fluxo expiratório, apresentando um trabalho ativo dos músculos abdominais
com consequente melhoria do trabalho respiratório [20].
Contradizendo esses
resultados, um estudo realizado em 2016 relata que o método Pilates não
apresentou um aumento na força muscular respiratória [21].
Santos [22] realizou um
estudo com aplicação do método Pilates no solo em um grupo de mulheres jovens e
saudáveis, e observou um aumento sobre os parâmetros respiratórios, com melhora
na resistência, força muscular e expansibilidade tóraco-abdominal.
Nota-se uma carência da
literatura em pesquisas demonstrando o efeito do método Pilates sobre os
parâmetros respiratórios.
Com base nos
resultados, foi concluído que o método Pilates pode promover aumento da pressão
inspiratória máxima e do pico de fluxo expiratório. Porém, não há influência do
método sobre a amplitude de movimento da caixa torácica.
Notou-se uma carência
na literatura de estudos relacionando os efeitos do Pilates sobre o sistema
respiratório.