ARTIGO
ORIGINAL
Atividade
elétrica muscular de vasto medial, vasto medial oblíquo, vasto lateral, glúteo
médio e tensor da fáscia lata no exercício footwork
realizado no reformer segundo o método Pilates
Muscular
electrical activity of vastus medialis, vastus medial oblique, vastus
lateralis, gluteus medius, and tensor of fascia lata in the exercise footwork performed in the reformer
according to the Pilates method
Luciana
Plentz Marquardt Lemos,
Ft.*, Catiane Souza, D.Sc.**, Artur Bonezi, D.Sc.***, Edgar Santiago Wagner Neto,
M.Sc.****, Katty Otilia Motta Tosetto,
Ft.****, Maria Cecília Pereira López, Ft.*****,
Jefferson Fagundes Loss, D.Sc****
*Especialista
em Pilates, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, **Faculdade Social da
Bahia, ***Universidad de la
Republica, Uruguai, ****Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
*****Especialista em acupuntura, Universidade Católica de Salvador
Correspondência: Luciana Plentz Marquardt Lemos:
Luplentz@hotmail.com; Catiane
Souza:catiane.poa@gmail.com; Artur Bonezi:
abonezi@gmail.com; Edgar Santiago Wagner Neto: edgar.swagner@gmail.com, Katty Otilia Motta Tosetto: kattytosetto@gmail.com; Maria Cecília Pereira
López: cycalopezz@gmail.com; Jefferson Fagundes Loss:
jefferson.loss@ufrgs.br
Artigo apresentado no
VI Congresso Brasileiro de Pilates, 28 a 30 de setembro de 2018, UNIP campus
Paraíso, São Paulo, Coordenação: Theo Abatipietro
Costa, mestre em Ciências da Reabilitação UNINOVE, coordenador da Pós-Graduação
em Pilates UNIP Paraíso, E-mail: theopilates@gmail.com, e Alaide
Aragão, Mestre em Bioengenharia UNIVAP
Resumo
Introdução: Rael
Isacowitz preconiza que o vasto medial obliquo (VMO)
pode ter sua ação privilegiada durante o exercício Footwork
quando os pés estão afastados e o quadril em rotação externa. Objetivos: Verificar a influência de
cinco variações do exercício Footwork no Reformer na ativação do VMO, vasto medial (VM), vasto
lateral (VL), glúteo médio (GM) e tensor da fáscia lata (TFL). Metodologia: Vinte mulheres realizaram
cinco variações do exercício footwork: Parallel Toes (PT), V–Position Toes (VT), Open V–Position
Toes (OVT), PT com overball (PTO) e PT com banda
elástica ao redor dos joelhos (PTBE). Eletromiografia de superfície foi
utilizada para avaliar a atividade muscular com base na contração voluntária
máxima. ANOVAs de medidas repetidas form utilizadas para análise estatística (p < 0,05), utilizando como fator músculo e variações. Resultados: Os resultados mostraram que houve diferença significativa
do TFL e do GM em relação ao VM, VL e VMO quando comparados entre todas
variações, mas não foi detectada diferença entre estes dois músculos. O músculo
GM apresentou diferença entre a situação PTBE com todas as outras variações. O
músculo TFL apresentou diferença nas situações PTO e PTBE em comparação com as
demais variações, mas não entre si. Conclusão:
Não houve diferença clinicamente relevante na atividade elétrica do músculo
vasto medial obliquo, conforme preconizado por Rael Isacowitz.
Palavras-chave: reabilitação,
eletromiografia, síndrome de dor patelofemoral.
Abstract
Introduction:
Rael Isacowitz suggests that the vastus obliquus
medialis (VMO) may have its privileged action during the Footwork exercise when
the feet are apart and the hip in external rotation. Objectives: To verify the influence of five variations of the
Footwork exercise on the Reformer in the activation of VMO, vastus medialis
(VM), vastus lateralis (VL), gluteus medius (GM) and
fascia lata tensor (TFL). Twenty women performed five
variations of the footwork exercise: Parallel Toes (PT), V-Position Toes (VT),
Open V-Position Toes (OVT), PT with overball (PTO)
and PT with elastic band around the knees PTBE). Surface electromyography was
used to assess muscle activity based on maximal voluntary contraction. ANOVAs of
repeated measures were used for statistical analysis (p < 0.05) using as factor muscle and variations. Results:
The results showed a significant difference between TFL and GM in relation to
MV, VL and VMO when compared among all variations, but no difference was
detected between these two muscles. The GM muscle presented a difference
between the PTBE situation and all other variations. The TFL muscle presented a
difference in PTO and PTBE situations in comparison to the other variations,
but not between them. Conclusion:
There was no clinically relevant difference in electrical activity of the
oblique medial vastus muscle, as suggested by Rael Isacowitz.
Key-words:
rehabilitation, electromyography, patellofemoral pain syndrome.
A síndrome de dor patelofemoral (SDPF), descrita como uma das alterações mais
comuns da extremidade inferior [1,2], é caracterizada pela ocorrência de dor
não específica na região anterior do joelho, geralmente agravada por atividades
como corrida, agachamentos, subidas e descidas de escadas [3,4]. Apesar de sua
grande incidência, a etiologia da SDPF ainda é controversa. Diversos autores
sugerem que seja multifatorial e relacionada com alterações no alinhamento patelofemoral, geradas por diversos fatores biomecânicos,
como fraqueza do mecanismo extensor de joelho [3,5-7], com possibilidade de
desequilíbrio neuromuscular entre o vasto lateral (VL) e os vastos medial (VM)
[8,9] e medial oblíquio (VMO) [10-12]. Bem como, por
fraqueza da musculatura de tronco, abdutores e rotadores laterais de quadril,
além de pronação excessiva do tornozelo [5,7,11]. Fatores estes relacionados
com a cinemática do valgo dinâmico de joelho [13-21].
Consequentemente, os
aspectos referentes ao programa de reabilitação também geram discussão. Os
principais objetivos parecem compreender a correção dos desequilíbrios do
mecanismo extensor de joelho e das alterações associadas ao valgo dinâmico,
através do reforço muscular e de exercícios de controle neuromuscular de
tronco, loja póstero lateral do quadril, quadríceps e tornozelo-pé
[6,16,21-25].
Um dos exercícios
utilizados no método Pilates com o objetivo de fortalecimento muscular dos
membros inferiores é o denominado footwork. Constituindo uma flexo-extensão
de tornozelos, joelhos e quadris, de forma concêntrica e excêntrica, ao mesmo
tempo em que se estabiliza a região lombopélvica,
podendo ser realizado no aparelho Reformer, uma cama de madeira com uma superfície deslizante,
que utiliza molas como resistência [26]. O método Pilates propõe algumas
variações de apoio dos pés na barra do Reformer, bem como de posicionamento dos membros inferiores,
com o objetivo de recrutar diferentes grupos musculares [26]. Isacowitz [26] descreve dez variações do footwork no Reformer, em seis
combinações de apoio e posicionamento dos membros inferiores, onde seria
possível uma ativação “distinta” do VMO.
Apesar da ampla
utilização do método Pilates, a literatura disponível ainda é escassa,
principalmente no que se refere aos aspectos biomecânicos. Alguns autores têm
se preocupado em demonstrar que determinadas variações na execução do exercício
geram respostas de ativação muscular diferentes, que podem determinar a sua
indicação ou não, de acordo com os objetivos da reabilitação [27-29]. Assim,
entende-se que um maior conhecimento a respeito da ativação muscular
apresentada nas diferentes variações do footwork, de músculos-chave como o VM, VMO, VL, TFL e GM,
seja importante para aqueles que utilizam o método Pilates como instrumento de
reabilitação. Podendo assim, subsidiar a prescrição do exercício,
principalmente quando utilizado no tratamento de indivíduos com SDPF. Portanto,
o objetivo deste estudo foi verificar a influência de diferentes posições dos
membros inferiores na ativação muscular do VM, VMO, VL, TFL e GM, bem como nas
proporções VM:VL, VMO:VL e GM:TFL, durante a execução do exercício Footwork no Reformer.
A amostra, não
probabilística intencional, constituiu-se de 20 indivíduos do sexo feminino
(31,2 ± 6,2 anos, 59,3 ± 8,4 kg, 162,3 ± 3,3 cm) saudáveis, praticantes de
Pilates há, no mínimo, três meses. Foram excluídos da amostra indivíduos com
lesões musculoesqueléticas e neurológicas, histórico de dor anterior nos joelhos
ou que estivessem apresentando dor no momento da coleta. Para o cálculo
amostral foi utilizado o software G-Power versão 3.1.7, com base na família de
testes F (ANOVA de medidas repetidas), considerando um erro de 5% e um poder de
amostra de 90%. Levando em consideração 5 situações, assumindo a esfericidade
dos dados, uma correlação máxima de 0,5 entre as medidas e um tamanho de efeito
moderado (0,3), obteve-se um n amostral de 19. Prevendo eventuais perdas,
decidiu-se avaliar 20 indivíduos. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da
universidade onde foi desenvolvido, e registrado sob o protocolo de número
21866.
O protocolo de
avaliação foi realizado no equipamento Reformer, com as molas selecionadas pela sensação subjetiva
de esforço da participante, conforme sua experiência prática, sendo solicitado
que o exercício correspondesse à intensidade moderada a forte. Cinco variações
do exercício footwork
foram realizadas de forma aleatória, em séries de dez repetições e com um
intervalo de dois minutos entre as mesmas. As participantes foram orientadas a
encontrarem a posição de pelve neutra e manterem a mesma durante toda a
execução do exercício, que deveria ser realizado de forma lenta e constante,
com fluidez. O padrão ventilatório (expiração na extensão e inspiração na
flexão) e a estabilização lombopélvica, com ativação
da musculatura do centro (core),
foram enfatizados. As variações do exercício foram denominadas conforme Isacowitz [26] e adaptadas para a implementação de
resistência para abdução e adução, todas com apoio na região metatarsofalangeana e tornozelos em plantiflexão:
A
- parallel toes (PT); B - parallel toes com overball
(PTO); C - parallel toes com banda elástica (PTBE); D - “V”- position toes (VT); E - open “V”-
position toes (OVT).
Figura 1 - Variações do footwork.
Para aquisição dos
dados, foi utilizado o eletromiógrafo NewMiotool (Miotec Equipamentos Biomédicos
Ltda. Porto Alegre, Brasil), com taxa de amostragem de 2000 Hz por canal,
conversor A/D de 14 Bits, com modo de rejeição comum de 100 dB a 60 Hz.
Conforme orientação do SENIAM [30] e do ISEK [31] (International Society of Electrophysiology
and Kinesiology), foi
realizada a tricotomia da região onde foram fixados os eletrodos, seguida pela
limpeza da pele com álcool e leve abrasão, com o objetivo de diminuir a
impedância. A mesma foi medida com um multímetro e aceitos valores menores que
5 MΩ. Eletrodos de superfície descartáveis, da marca Kendall (Meditrace – 100; Ag/AgCl;
diâmetro de 18 mm), com adesivo de fixação, na configuração bipolar, foram
utilizados em pares, em cada músculo, dispostos 20 mm distantes um do outro, no
ventre muscular e paralelos às fibras musculares. Também foram utilizadas fitas
adesivas hipoalérgicas, a fim de serem evitados possíveis deslocamentos dos
eletrodos e cabos. O posicionamento dos eletrodos referentes ao VMO e ao VL foi
realizado conforme Cowan et al. [32] dispostos 10 cm superior e 6 a 8 cm lateral à borda
superior da patela, com orientação de 15° à vertical para a análise do VL, bem
como 4 cm superior e 3 cm medial à borda supero medial da patela e 55° à
vertical para o VMO. Os demais foram posicionados conforme o SENIAM [30]. O
eletrodo de referência foi fixado no maléolo lateral contralateral. A execução
foi considerada simétrica, sendo o membro inferior direito utilizado para a
análise, em todas as participantes. Para a normalização dos dados eletromiográficos, foram coletados os valores referentes às
contrações voluntárias máximas isométricas (CVMI) de cada músculo. As
participantes realizaram 2 repetições de 5 segundos, com um intervalo de 3
minutos entre as mesmas. Para os músculos VM, VMO e VL, as participantes
realizaram a CVMI sentadas na maca, com o quadril a 90 graus e o joelho a
aproximadamente 80 graus de flexão, com resistência para a extensão fornecida
por uma faixa rígida, posicionada acima dos maléolos e fixada à maca. Para a
CVMI do GM as participantes foram posicionadas em decúbito lateral esquerdo,
com quadris em posição neutra e joelhos estendidos. Travesseiros foram
colocados entre os membros inferiores, de modo que o quadril direito mantivesse
uma abdução de 25 graus. A resistência foi aplicada para abdução, com a faixa
rígida sobre o côndilo femoral lateral direito e fixada à maca. A CVMI do TFL
foi coletada na mesma posição, porém com o quadril em flexão de 45 graus e
abdução de 30 graus, com a força realizada num plano diagonal, de aproximadamente
45 graus, entre os planos sagital e coronal. Para monitor o movimento durante
as execuções, um eletrogoniômetro Miotec
GN 270 (Miotec Equipamentos Biomédicos Ltda. Porto
Alegre, Brasil), foi fixado no joelho correspondente de cada participante e conectado
ao eletromiógrafo. Os sinais de EMG e do eletrogoniometro foram coletados simultaneamente através do
software Miotec
Suite (Miotec Equipamentos
Biomédicos Ltda. Porto Alegre, Brasil).
Para a filtragem e
processamento dos dados, foi utilizado o software
BIOMEC-SAS, versão 1.1 (www.ufrgs.br/biomec). Os
sinais de EMG foram filtrados através do filtro passa-banda Butterworth, quarta ordem, com
frequências de corte entre 20 e 500 Hz, enquanto os sinais do eletrogoniometro foram filtrados através de um passa-baixa Butterworth,
quarta ordem, com uma frequência de corte de 5 Hz. Os sinais de CVMI foram
suavizados com um envelope RMS com janelamento móvel
e tamanho de 1 segundo, sendo utilizado o maior valor de cada CVMI como
referência para a normalização. Com base na angulação mensurada pelo eletrogoniometro, recortes correspondentes a cada uma das
execuções (extensão/flexão) foram realizados e o valor RMS (root mean square) calculado para cada
execução, sendo posteriormente calculadas as médias destes valores e
normalizadas como porcentagem da CVMI.
A
análise estatística
foi realizada no software SPSS 17.0. Anovas de medidas repetidas foram
utilizadas para comparar o fator posicionamento dos pés (OVT, PT, PTO, PTBE e VT), uma para cada músculo; e para comparar o fator músculos (TFL, GM, VL, VM e VMO), uma para cada posicionamento dos pés. Diferenças foram avaliadas por teste post hoc com correção de Bonferroni, e o tamanho de efeito foi avaliado pelo η2.
Para as comparações entre os músculos foram realizadas múltiplas ANOVAs de medidas repetidas, uma para cada posicionamento
do exercício Footwork.
O nível de significância adotado foi de α < 0,05 para todos os testes.
Nenhuma das posições de
exercício avaliadas ativou diferencialmente o músculo VMO (Figura 2). Da mesma
forma, não houve diferença nas relações VMO: VL, GM: TFL e VM: VL entre as
variações propostas pelo método (PT, VT e OVT) (Tabela I). Quando os músculos foram avaliados
individualmente em cada posição, apenas a posição de PTEB demandou mais do
glúteo médio (9,1%), enquanto os PTEB e PTO exigiram mais do tensor da fáscia
lata, 6,1% e 6,9%, respectivamente (Figura 3).
Figura 2 - Média e Erro Padrão da ativação eletromiográfica
durante execução do exercício Footwork no Reformer nas diferentes variações. Letras diferentes
indicam diferença significativa (p < 0,05).
Figura 3 - Média e Erro Padrão da ativação eletromiográfica
dos músculos em cada variação do exercício Footwork
realizado no Reformer. Letras diferentes indicam diferença
significativa (p < 0,05).
Tabela I - Médias de ativação muscular apresentadas nas variações do footwork em percentual da contração voluntária isométrica
máxima.
Sendo VL - vasto
lateral, VMO - vasto medial oblíquo, TFL - tensor da fáscia lata e GM - glúteo
médio, e suas proporções VMO:VL e GM:TFL, apresentadas nas variações OVT - open
“V”- position toes, PT - parallel toes, PTO - parallel toes com overball, PTBE
- parallel toes com banda elástica e VT - “V”-
position toes.
Os dados encontrados
neste estudo não apontaram para a possibilidade de uma ativação preferencial do
VMO nas condições analisadas. Entretanto, foi observada uma variação importante
no padrão de ativação entre as participantes, também descrita por Herrington e Pearson [33] Tal variação sugere que os dados
apresentados devam ser interpretados com cautela.
Sacco et al. [29] compararam os dados eletromiográficos
de VM, bíceps femoral, gastrocnêmio lateral e tibial
anterior em três variações de apoio dos pés no footwork realizado no Reformer.
Os
resultados apontaram para uma menor atividade do VM durante a fase de
flexão
(excêntrica), na posição VT em
relação à variação PT (porém
com apoio nos
calcanhares). Os autores sugeriram a possibilidade de influência
do
posicionamento em rotação lateral de quadril sobre a
atividade dos extensores
de joelho. Esta possibilidade não foi confirmada pelos dados
encontrados no
presente estudo, em nenhuma das duas variações que
apresentam rotação lateral
de quadril (VT e OVT). Apesar de não terem sido analisadas
separadamente as
fases do movimento, de forma que não se pode negar esta
influência. Porém,
traçando-se um paralelo com outros exercícios realizados
em cadeia cinética
fechada (CCF), os estudos de Ninos [34] e Herrington [35] não encontraram diferença na atividade
elétrica de VMO e VL no agachamento e no leg press, respectivamente, em diferentes
posições de rotação de quadril. Da mesma forma, Escamilla
[36] não encontrou diferença na atividade de VM e VL no agachamento e no leg press entre posição neutra e
rotação externa de quadril a 30°, corroborando com os dados apresentados neste
estudo. Portanto, a referência de Isacowitz [26] em
relação a uma ativação preferencial do VMO na variação OVT não foi confirmada
pelos dados deste estudo e nem sustentada pelos autores citados, em situações
similares.
Em um estudo conduzido
por Cantergi [28], a cinemática e a cinética do footwork foram
analisadas em um Reformer
com a barra de pés instrumentada com células de carga. Os resultados mostraram
que existe uma diferença na característica do exercício e nos grupos musculares
envolvidos, conforme a direção da força aplicada sobre a barra. O mesmo pode
ter acontecido no estudo de Sacco [29], uma vez que o
bíceps femoral também apresentou menor atividade com apoio nos calcanhares e no
arco do pé e possivelmente exista diferença na direção da força nos três
apoios. No presente estudo também não houve orientação quanto à direção da
força.
Além da análise de
variações propostas pelo método, optou-se pela inclusão de variações com
implementação de acessórios por vezes utilizados na prática clínica, que
associam a adução ou a abdução de quadril, buscando-se um maior conhecimento a
respeito de uma possível influência na atividade elétrica dos músculos
analisados.
Uma revisão sistemática
conduzida por Smith [37] em 2008 sugere que não seja possível uma ativação
preferencial do VMO, uma vez que dos 20 estudos analisados, apenas três
apresentaram maiores valores de ativação, cada um em uma situação diferente.
Posteriormente, Irish [38] e Hyong
[39] encontraram maiores valores de proporção VMO:VL, no agachamento associado
à adução de quadril. Contrariando os dados de Boling
[40], que não encontrou diferença na associação de adução de quadril no
agachamento e os do presente estudo, no footwork com adução de quadril. Entretanto, enquanto os
estudos supracitados utilizaram uma bola ou travesseiro entre os joelhos como
implemento para adução, optou-se pelo posicionamento da overball abaixo dos joelhos
(Figura 1B), com o intuito de atenuar-se a tendência de rotação interna de
quadril durante a execução do exercício.
Os baixos valores de
proporção VMO:VL encontrados geram especulações. Primeiramente, algumas
participantes mais treinadas podem ter executado o exercício com a resistência
inferior à proposta. A escolha da resistência através da percepção subjetiva da
participante associada a uma resistência limitada pelo conjunto de molas padrão
do Reformer
pode ter influenciado os resultados. Herrington e
Pearson [33] concluíram que a proporção VMO:VL aumenta conforme aumenta a carga
imposta ao exercício. Além disto, a outra inferência que se faz diz respeito às
funções atribuídas ao VMO. Alguns autores sugerem que maiores valores de
ativação do VMO sejam alcançados em situações que desafiam a estabilidade do
joelho, uma vez que sua função primária seria a estabilidade patelar enquanto a
extensão do joelho seria primária do VM e do VL [41-43].
Por outro lado,
ultimamente diversos autores têm investigado o tratamento da SDPF através de
exercícios que visam o reforço muscular de abdutores e rotadores laterais de
quadril (loja póstero lateral do quadril), associado ao reforço de quadríceps e
da musculatura do tronco [23], além de reeducação neuromuscular visando a
diminuição do valgo dinâmico de joelho em atividades funcionais [24,44,45].
Desta forma, além de os
dados aqui apresentados não apontarem para uma maior atividade de VMO na
variação PTO, questiona-se a indicação do uso de exercícios em CCF, com
associação de adução de quadril, em indivíduos que apresentem disfunções de
movimento relacionadas ao valgo dinâmico, uma vez que um possível estímulo
deste mecanismo poderia ser gerado.
De acordo com esta
tendência atual, optou-se pela inclusão da variação PTBE neste estudo. Esta
variação, utilizada por Mascal, Landel
e Powers [44] no protocolo por eles descrito,
assemelha-se a outros exercícios realizados em cadeia cinética fechada, que são
utilizados no tratamento da SDPF visando o reforço muscular de quadríceps, com
estímulo de ativação de abdutores e rotadores laterais de quadril, buscando a
correção do valgo dinâmico [12,44,46]. Segundo os autores, a vantagem de se
utilizar o Reformer
seria realizar uma atividade com descarga de peso, com uma carga inferior ao
peso corporal, levando a uma menor reação de força articular, principalmente em
menores amplitudes de flexão de joelhos.
Bennel et al. [12] sugeriram inclusive que a associação de resistência
para abdução e rotação lateral de quadril em exercícios como o agachamento,
pudesse “encorajar” o VMO, por desfazer o valgo. Mas este dado não foi
confirmado na situação analisada neste estudo.
Alguns autores têm
investigado a atividade elétrica muscular do GM e do TFL em exercícios
utilizados em programas de reabilitação. Buscando identificar aqueles com maior
potencial de ativação do GM e que possam apresentar uma menor ativação do TFL,
pois embora o TFL seja um importante abdutor, também exerce papel na rotação
interna de quadril [46,47]. Um aumento na atividade do TFL pode gerar um
aumento na tensão do trato iliotibial e consequente
lateralização da patela, além de um aumento na rotação interna do fêmur. E como
proposto Powers [20], um aumento na rotação interna
de fêmur em atividades em cadeia cinética fechada pode gerar também um
desalinhamento patelofemoral, porém através da
rotação do fêmur sob a patela estável. Gerando assim, um estresse elevado na
articulação patelofemoral [24].
Os valores encontrados
no presente estudo referentes à atividade elétrica do GM e do TFL foram
extremamente baixos. Andersen [48] sugere que uma ativação mínima de 40 a 60%
da CVMI seja necessária para gerar adaptações de ganho de força muscular. De
qualquer forma, alguns dados devem ser observados. Primeiramente, não houve
diferença significativa na atividade do GM entre as variações propostas pelo
método (PT, VT e OVT), sendo ainda que os valores encontrados não parecem ter
relevância para a prática clínica. Porém, a inclusão da banda elástica na PTBE
aumentou significativamente os valores de GM em relação às demais variações,
embora ainda baixos, bem como a proporção GM:TFL em relação à PTO e VT. Assim,
acredita-se que a utilização de uma banda elástica com alta resistência deva
elevar a atividade elétrica de GM a níveis com maior relevância clínica.
Da mesma forma,
sugere-se a utilização de molas que gerem uma percepção de esforço subjetivo
maior, visando alcançar níveis de atividade elétrica de quadríceps superiores a
20-35%, como os aqui descritos.
Para a coleta de dados,
a amplitude de movimento de flexo-extensão de joelhos
durante a execução dos exercícios não foi limitada. Convém ressaltar, no
entanto, que existe a orientação de restrição na amplitude de 0 a 50° de flexão
de joelhos em indivíduos com SDPF, durante a realização de exercícios em CCF,
evitando-se desta forma o aumento do estresse patelofemoral
[16,35,36,44].
Além das limitações já
mencionadas, acredita-se que a comparação com dados de indivíduos do sexo
masculino e a análise do glúteo máximo, enquanto importante rotador lateral de
quadril, poderia aumentar a aplicabilidade dos dados encontrados. Como a
amostra constituiu-se de indivíduos saudáveis, a reprodutibilidade dos achados
em indivíduos com SDPF deve ser observada com cautela.
A análise de exercícios
que sejam mais direcionados à ativação da loja póstero lateral do quadril se
faz necessária, bem como se acredita que um estudo utilizando o método Pilates
como proposta de tratamento para a SDPF deva ser considerado. Uma vez que o
mesmo propõe exercícios que visam a estabilidade lombopélvica,
reforço muscular, flexibilidade e controle motor [49], abrangendo assim os
principais objetivos descritos para a reabilitação da SDPF.
Não parece haver uma
variabilidade na atividade elétrica dos músculos VL, VM, VMO, GM e TFL entre as
variações propostas pelo método, aqui analisadas.
A associação da banda
elástica gerou uma maior atividade de GM em relação às demais variações, bem
como uma maior proporção GM:TFL em relação à VT e PTO, além de uma maior
atividade do TFL em relação à OVT. Já a associação da overball gerou maior atividade do
TFL em relação à OVT. Embora os percentuais de ativação referentes aos músculos
GM e TFL tenham sido muito baixos, gerando questionamentos quanto às
implicações clínicas.
Não foi observada uma
atividade elétrica preferencial do VMO, nem uma maior proporção VMO:VL, sendo
que esta apresentou valores de proporção inferiores a 1,00.