RELATO DE
CASO
Abordagem
biopsicossocial associada aos exercícios do Pilates solo em uma paciente
portadora de dor lombar crônica associada à cinesiofobia
Biopsychosocial
approach associated with mat Pilates exercises in a patient with chronic low
back pain and kinesiophobia
Cintia Domingues de
Freitas*, Carlos José Maltese**, Larissa Matos
Andrade Barros***
*Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, São Paulo, **Supervisor de
Estágio, Universidade Paulista, São Paulo, ***Graduanda do curso de
Fisioterapia da Universidade Paulista, São Paulo
Correspondência: Cintia Domingues de
Freitas, Rua Amazonas da Silva, 737 Vila Guilherme 02051-001 São Paulo SP,
E-mail: cintiafreitas24@gmail.com; Carlos José Maltese:
maltese68@yahoo.com.br; Larissa Matos Andrade Barros:
matosandrade.larissa@gmail.com
Artigo apresentado no
VI Congresso Brasileiro de Pilates, 28 a 30 de setembro de 2018, UNIP campus Paraíso,
São Paulo, Coordenação: Theo Abatipietro Costa,
mestre em Ciências da Reabilitação UNINOVE, coordenador da Pós-Graduação em
Pilates UNIP Paraíso, E-mail: theopilates@gmail.com, e Alaide
Aragão, Mestre em Bioengenharia UNIVAP
Resumo
Introdução: A dor lombar crônica
pode estar associada à cinesiofobia. Segundo a
neurociência o tratamento deve conter educação em dor, exercícios cognitivos e
atividades de exposição graduada. Objetivo:
Avaliar a abordagem biopsicossocial da dor associada ao Pilates em uma paciente
com dor lombar crônica e cinesiofobia. Apresentação do caso: Mulher, 38 anos,
dor lombar crônica. Triagem: Start Back
e Inventário de Sensibilização Central. Avaliada antes, após o tratamento e a
cada duas semanas: Escala Visual Analógica da dor, Escala Tampa, Oswestry e Escala de Pensamento Catastrófico. Tratamento:
três meses, 3 vezes por semana. Iniciou-se com 2 aulas de educação em dor e
liberação miofascial. Da segunda a quarta semanas: exercícios cognitivos para
superação do medo da flexão da coluna e treino de imagética motora. No segundo
mês iniciou-se o Pilates solo e caminhada na esteira. Na triagem paciente
apresentou alto risco biopsicossocial (Start
Back: Pontuação total: 9; Subescala psicossocial: 5) e Sensibilização
Central (30 pontos). EVA 8, 42% de incapacidades, cinesiofobia
(46 pontos) e 28 de catastrofização. Na quarta semana
dor, incapacidade e pensamentos catastróficos zerados e cinesiofobia
grau mínimo. Resultados mantidos até o terceiro mês. Conclusão: O tratamento eliminou a dor, as incapacidades, a catastrofização e a cinesiofobia.
Palavras-chave: dor lombar, dor
crônica, técnicas de exercício e de movimento, sensibilização central.
Abstract
Introduction:
Some patients with chronic low back pain develop kinesiophobia.
The treatment should contain education in pain, cognitive exercises with
graduate exposure. Objective: To
evaluate the biopsychosocial approach of pain associated with Pilates in a
patient with chronic low back pain and kinesiophobia.
Case presentation: Female, 38 years
old, chronic low back pain. Screening: Start Back and Central Sensitization
Inventory. Evaluated before, after treatment and every two weeks: Visual Analog
Pain Scale, TAMPA Scale, Oswestry and Catastrophic
Scale. The treatment lasted three months, three times a week. It began with 2
classes of education in pain and myofascial release. From second to fourth
weeks: cognitive exercises in spinal flexion and training of motor imagery. In
the second month after changing the fear avoidance beliefs, Pilates exercises
and treadmill walking with graded exposure were started. At screening, this
patient presented a high biopsychosocial risk (Start Back: Total score: 9;
Psychosocial: 5) and 30 points of Central Sensitization. EVA 8, disabilities
(42%), 46 kinesiophobia and 28 catastrophic points.
In the fourth week pain, disability and catastrophic thoughts were zero and kinesiophobia reached a minimal degree. These results were
maintained until the third month. Conclusion:
The treatment eliminated pain, disability, catastrophization
and kinesiophobia.
Key-words: low back pain,
chronic pain, exercise movement techniques, central nervous system
sensitization.
A dor lombar crônica
inespecífica é caracterizada como dor persistente por mais de 3 meses, sem
causa definida [1]. A dor crônica pode gerar uma memória de dor protetora [2].
Indivíduos com dores crônicas podem apresentar comportamentos de medo evitação
[3] evoluindo para o desenvolvimento de incapacidades funcionais [3-5]. Os
pacientes podem apresentar a cinesiofobia que pode
colaborar para o maior desenvolvimento das incapacidades [6,7].
Nestes indivíduos,
previamente à inclusão dos exercícios, o fisioterapeuta precisa recontextualizar a dor com educação em neurociências, aumentando
a confiança para a realização dos exercícios dentro dos princípios de exposição
graduada [2,7]. O paciente é orientado a fazer de forma sistemática movimentos
similares ao que ele tem medo para entender que o movimento não é lesivo e não
produz a dor. Dessa forma as crenças limitantes poderão ser modificadas para
gerar mudanças de comportamento frente à dor e evolui-se de forma mais efetiva
os exercícios [2,7]. Intervenções biopsicossociais mostram efeitos promissores
na dor lombar crônica [7,8].
A imagética motora
graduada também pode ser utilizada para estimular a neuroplasticidade cerebral,
e gerar modificações nas vias relacionadas à manifestação da dor crônica [9].
O objetivo do estudo é
avaliar a abordagem biopsicossocial da dor associada ao método Pilates em uma
paciente com dor lombar crônica inespecífica associada à cinesiofobia.
Trata-se de um relato
de caso aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Paulista com o
parecer número 2.933.347.
Paciente de 38 anos,
sexo feminino, com dor lombar crônica inespecífica desde 2014, não fazia a
utilização de medicamentos e sem antecedentes pessoais. Não relatava dores
irradiadas para membros inferiores.
Foi avaliada com os
seguintes instrumentos: Start Back
[1], Escala Visual Analógica da dor [10], Mapa Corpóreo [11], Escala Tampa
[12], Questionário Oswestry [13], Inventário de
Sensibilização Central [14], Escala de Pensamento Catastrófico [15] e questões
sobre percepções dos exercícios [2].
O Start Back e o Inventário de Sensibilização Central foram aplicados
na triagem e os outros instrumentos antes, imediatamente após o tratamento e
com três meses de seguimento. A cada duas semanas a paciente também era
reavaliada.
O tratamento durou três
meses, 3 vezes por semana em sessões de uma hora na Clínica de Fisioterapia da
Universidade Paulista-Campus Norte. Foram aplicadas aulas de educação em dor
com o site retrainpain.org na
primeira semana associada às técnicas de liberação miofascial na região lombar.
Na segunda semana foram incluídos exercícios cognitivos visando o medo da dor
relacionado ao movimento de flexão com exposição graduada e o treino de
lateralidade com o aplicativo Recognize até diminuir
o índice de cinesiofobia da paciente.
No segundo mês, após a
modificação das crenças incapacitantes foram iniciados os exercícios de Pilates
solo e caminhada na esteira de acordo com os princípios de exposição graduada. Os exercícios de Pilates praticados
(Figura 1) foram: hundred, roll up, rolling back, spine
stretch forward, saw, single straight, double leg stretch, one leg kick, double
leg kick, shoulder bridge, leg pull front, push up, single leg stretch, side
bend, one leg circles, roll down (parede)
[16,17]. O
número de repetições para cada exercício seguiu o estabelecido por Joseph
Pilates [16,17].
Figura 1 - Exercícios de Pilates aplicados neste estudo.
Tabela I - Desfechos avaliados antes do tratamento, a cada duas semanas,
imediatamente após o tratamento e com três meses de seguimento.
Os valores apresentados
em números absolutos e porcentagens; EVA = Escala Visual Analógica da Dor; Av = Avaliação.
Figura 2 - Mapa corpóreo da 1ª avaliação: dor com predomínio à direita.
A escolha deste relato
se baseou no fato da melhora rápida da paciente em todos os desfechos. A
paciente apresentava um quadro de dor lombar crônica há mais de quatro anos,
sem remissão do quadro com tratamentos de fisioterapia realizados
anteriormente. Além da dor intensa, a paciente apresentava incapacidade
funcional importante, com um comportamento de medo evitação, no qual evitava
movimentos de flexão anterior da coluna e caminhadas prolongadas.
Depois de diagnosticado
o perfil biopsicossocial de alto risco, sensibilização central e a cinesiofobia, optou-se pela abordagem de educação em dor,
imagética motora e exercícios cognitivos, já que a paciente nunca havia
recebido tal tratamento. A melhora foi rápida e importante nas primeiras 3
semanas (Tabela I), com mudança das crenças que refletiu diretamente na
evolução dos exercícios.
Os estudos que utilizam
os exercícios de Pilates como reabilitação da dor lombar crônica associada à cinesiofobia apresentam efeitos clínicos modestos [18,19] e
um estudo apresentou melhora sobre o desfecho cinesiofobia
após a intervenção com Pilates, mas esses efeitos não permaneceram ao longo do
tempo [20]. É importante ressaltar que nestes estudos o método foi aplicado sem
abordagem biopsicossocial prévia.
No presente relato de
caso optou-se pelo método Pilates após a mudança das crenças, por se tratar de
exercícios que envolvem grandes amplitudes de movimento, principalmente nos
movimentos de flexão anterior da coluna, queixa principal da paciente em
relação à cinesiofobia. Ao iniciar a prática do
Pilates a paciente demonstrou bastante entusiasmo para evoluir nos exercícios,
quando percebia que era capaz de realizá-los sem dor. A introdução da caminhada
em esteira com exposição graduada foi realizada porque a paciente também
relatava medo de fazer caminhadas prolongadas, evitando inclusive levar a filha
para a escola.
Ao longo do tratamento
e após o tempo de seguimento a paciente manteve-se com todos os desfechos nos
níveis mínimos.
Os resultados deste
estudo corroboram com a literatura [7-9] a qual relata que intervenções
baseadas em fatores psicossociais parecem mais promissoras.
O tratamento eliminou a
dor, as incapacidades, a catastrofização e a cinesiofobia.