ARTIGO ORIGINAL
O efeito da
fisioterapia de grupo na destreza motora funcional e a força de membros
superiores de hemiparéticos crônicos
The effect of group physiotherapy on functional motor dexterity and
upper limb strength in chronic hemiparetic patients
Isabella Cristina Leoci*, Katiane Mayara Guerrero**, Andressa Sampaio
Pereira**, Larissa Borba André**, Mileide Cristina Stoco de Oliveira***, Carla de Oliveira Carletti**,
Caroline Nunes Gonzaga**, Silas de Oliveira Damasceno**, Alice Haniuda Moliterno*, Isabela Bortolim Frasson*, Nicoly Ribeiro Uliam*, Guilherme Yassuyuki Tacao***, Lúcia Martins Barbatto****,
Augusto Cesinando de Carvalho****
*Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia
12ª Edição, Área de
concentração em
Fisioterapia Aplicada à Neurologia pela Universidade Estadual
Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente/SP,
**Residência em
Fisioterapia Neurológica pelo Programa de Residência em
Reabilitação Física
pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” Campus de
Presidente Prudente/SP, ***Pós-Graduação Stricto
Sensu em Fisioterapia da
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual
Paulista, Presidente
Prudente/SP, ****Docente do
Departamento de Fisioterapia
da Faculdade de Ciências e Tecnologia (Unesp), Presidente
Prudente/ SP
Recebido em 15 de julho
de 2019; aceito em 20 de março de 2020.
Correspondência: Isabella Cristina Leoci, Rua Roberto Simonsen, 305 Centro Educacional
19060-900 Presidente Prudente SP
Isabella Cristina Leoci: bela_leoci@hotmail.com
Katiane Mayara Guerrero:
katianeguerrero@gmail.com
Andressa Sampaio
Pereira: andressasampaio1992@gmail.com
Larissa Borba André:
lari_borba@hotmail.com
Mileide Cristina Stoco de Oliveira: Cristina.mileide@gmail.com
Carla de Oliveira Carletti: carlacarletti28@yahoo.com.br
Caroline
Nunes Gonzaga: caa_nunes_11@yahoo.com.br
Silas de Oliveira
Damasceno: silas.damasceno10@hotmail.com
Alice Haniuda Moliterno:
ftalice.m@gmail.com
Isabela Bortolim Frasson: isafrasson@hotmail.com
Nicoly Ribeiro Uliam: nicoly.ruliam@gmail.com
Guilherme Yassuyuki Tacao:
guilhermetacao@yahoo.com.br
Lúcia Martins Barbatto: lucia.barbatto@unesp.br
Augusto Cesinando de Carvalho: augusto.cesinando@unesp.br
Resumo
Introdução: O acidente vascular
encefálico (AVE) é a causa de diversas incapacidades neurológicas em adultos, o
que torna necessário o melhor estudo de seu impacto na capacidade funcional. Objetivo:
Avaliar a destreza motora funcional de membros superiores de hemiparéticos crônicos submetidos a Fisioterapia em Grupo
no Formato de Circuito de Treinamento (FGCT), pois esta forma de tratamento tem
se mostrado eficaz na melhora da capacidade funcional, o que torna necessário
um estudo voltado para o membro superior. Métodos: Participaram 15 hemiparéticos em atendimento com FGCT. Foi realizada uma
avaliação inicial (AV1) utilizando a escala de Ashworth
Modificada, o teste de caixa de blocos, e o nine hole
peg test. Após 12 semanas de intervenção com FGCT
foi realizada a avaliação final (AV2) utilizando os mesmos testes. Resultados:
A análise estatística considerou p > 0,05 e não revelou diferença
significante entre AV1 e AV2 na dinamometria bem como
no teste de caixa de blocos e nine hole peg test. Conclusão: O protocolo terapêutico não
determinou a melhora da destreza motora funcional de membros superiores de hemiparéticos crônicos submetidos a fisioterapia de grupo
no formato de circuito de treinamento.
Palavras-chave: treinamento em
circuito, hemiparesia, habilidade motora, força muscular.
Abstract
Introduction:
Stroke is the cause of several neurological disabilities in adults, which makes
it necessary to better study the impact on functional capacity. Objective: The
objective was to evaluate the motor dexterity performance of upper limbs in
chronic hemiparetic submitted to Group Physiotherapy in the Training Circuit
(GPTC) format, as this form of treatment has been shown to be effective in the
improvement functional capacity, which makes it necessary a study aimed at the
upper limb. Methods: Fifteen hemiparetic patients in our service with GPTC
participated. An initial assessment (IA1) was performed using the Modified
Ashworth scale, Box and Block Test (BBT), and the 9-Hole Peg Test (9-HPT).
After 12 weeks of intervention with GPTC, the final evaluation (FE2) was
performed using the same tests. Results: Statistical analysis considered p >
0.05 and did not reveal a significant difference between IA1 and FE2 in
hand-held dynamometry as well as in the BBT and 9-HPT. Conclusion: The
therapeutic protocol did not determine the improvement of the motor dexterity
of upper limbs in chronic hemiparetic patients submitted to GPTC.
Keywords: circuit-based training, paresis, motor skills, muscle strength.
O acidente vascular
encefálico (AVE) caracteriza-se por um sinal clínico, em que ocorre perturbação
focal da função cerebral, sendo a causa de diversas incapacidades neurológicas
em adultos, com limitações individuais para as atividades de vida diária, tais
como se alimentar, vestir-se, pentear os cabelos, escovar os dentes, fazer
compras, deambular, subir escadas, sujeitando os indivíduos a um padrão de vida
sedentário [1-3].
Após o AVE, 80% dos
sobreviventes apresentam paresia aguda do membro superior que consiste em
déficit da destreza, da força muscular, associada ao déficit de sensibilidade,
gerando dificuldades persistentes, especialmente aquelas que dependem da
coordenação entre os membros superiores [1,4].
Com o passar do tempo,
a tendência é usar o membro não afetado predominantemente e desconsiderar o
membro afetado, desenvolvendo assim o não aprendizado [1,5]. Apenas 5 a 20% dos
indivíduos com comprometimento inicial do membro superior recuperaram
totalmente a função e 30 a 66% não conseguem readquirir nenhum uso funcional após
6 meses do insulto [6,7] e, portanto, torna-se de suma importância a
maximização da estimulação da função do membro superior para melhorar e ou
manter a recuperação funcional [7]. Apesar dos esforços da reabilitação, o
resultado funcional do membro superior às vezes é pequeno [2].
Déficits comumente
associados a pessoas com deficiência de destreza no membro superior hemiparético incluem a perda de movimento individualizado
dos dedos [6,10], alteração das propriedades musculares devido à contratura [7,11],
desaceleração movimentos coordenados [12], aumento da sensação de peso ou
esforço ao mover-se [8.13], e reduzido comando de movimentos direcionados. A
recuperação gradual da destreza pode ocorrer após um AVE, embora muitas vezes
seja incompleta [9,16].
Diante do exposto, uma
ampla gama de intervenções pode ser realizada na tentativa de melhorar a função
dos membros superiores após o AVE. Tais intervenções podem ser direcionadas a
deficiências específicas (por exemplo, fraqueza muscular) ou a movimentos
funcionais como apreensão e liberação. Intervenções de membros superiores podem
ser usadas separadamente ou combinadas para que o tratamento aborde a natureza
multifatorial dos déficits pós AVE [1].
No entanto, grande
parte da reabilitação dos membros superiores enfoca os indivíduos na fase aguda
da recuperação que tendem a demonstrar ganhos motores mais rápidos [13-15]. A
maioria das terapias termina as intervenções em torno dos primeiros 6 meses
ocorrendo a alta após este período [5,16], todavia existe evidência atual em
relação à neuroplasticidade do córtex cerebral [6,17] que indica que a
recuperação pode continuar ocorrendo meses e até anos após o início da
incapacidade [7,8,18,19]. Poucos esforços de reabilitação são identificados
para indivíduos crônicos que precisam de estratégias novas e inovadoras que
restaurem o movimento. Nesse contexto, a reabilitação dos membros superiores
pode ser realizada como parte de uma sessão individual ou em grupo [1,17],
visando reduzir a incapacidade funcional e otimizar o desempenho de tarefas
diárias [3], bem como promover a recuperação funcional das mãos, visto que é um
componente significativo para a autonomia desses indivíduos [7,18].
Evidências atuais
indicam que a reabilitação para indivíduos após AVC deve ser focada na prática
repetitiva de tarefas funcionais, e a quantidade de estímulos recebidos deve
ser maximizada nos primeiros 6 meses de AVC [18]. Também foi demonstrado que a
prática intensiva de tarefas promove neuroplasticidade após o AVC. Sendo assim,
a fisioterapia de grupo no formato de circuito de treinamento (FGCT) pode ser
definida como um conjunto alternativo de exercícios que elabora diferentes
grupos musculares que oferecem um programa geral para melhorar a força,
resistência e equilíbrio [28].
Esta forma de terapia
utiliza exercícios, atividades e tarefas ativas funcionais específicas
realizadas de forma intensiva devido a sua configuração de grupo, possui foco
na repetição e progressão contínua de exercícios funcionais numa série de
estações dispostas em um circuito. Tal circuito enfatiza a melhora da
mobilidade geral, capacidade de andar, coordenação e equilíbrio funcional
[18,19]. Os efeitos da FGCT têm sido estudados como uma terapêutica alternativa
durante tratamento ambulatorial em centros de reabilitação de hemiparéticos com deficiência leve a moderada, e mostra ser
uma terapêutica segura e tão eficaz quanto a fisioterapia convencional
individualizada (FCI) [15,16,18].
O treinamento de
tarefas repetitivas tem o potencial de ser um componente eficiente em termos de
recursos para a reabilitação de um AVC, incluindo a entrega em ambiente de
grupo ou a prática autoiniciada no ambiente
doméstico. A repetição do movimento é o mecanismo básico de ação associado a
muitas intervenções que mostram promessas na melhoria da função motora [2].
Dentre os principais
desafios da reabilitação após o AVE temos a provisão de programas contínuos que
mantenham e ou melhorem o desempenho e a forma física, ao invés de permitir o
desuso e os comportamentos adaptativos para aumentar a incapacidade
remanescente após a alta da reabilitação [3]. Para melhorar o entendimento da
FGCT são necessários mais ensaios pós-AVC a fim de identificar resultados
através da avaliação da performance motora funcional de hemiparéticos,
para contribuir com os achados da literatura e nortear os futuros atendimentos
[6].
Diante do exposto, o
objetivo principal desta pesquisa foi avaliar a destreza motora funcional de
membros superiores de hemiparéticos crônicos
submetidos a fisioterapia de grupo no formato de circuito de treinamento e também correlacionar a destreza motora funcional com a
força muscular.
Para realização deste
estudo clínico quase-experimental participaram 15 hemiparéticos
(sendo 7 homens e 8 mulheres) em tratamento fisioterapêutico em um Centro de
Estudos e Atendimento em Fisioterapia e Reabilitação (CEAFIR) da Faculdade de
Ciências e Tecnologia - FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente. Todos os
participantes foram informados sobre os procedimentos a serem adotados, os
objetivos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido
aprovados pelo Comitê de Ética da FCT-UNESP (Número CAAE:
55629516.7.0000.5402).
Foram incluídos neste
estudo hemiparéticos com hemiparesia unilateral e
encaminhamento médico com tempo de lesão ≥ 12 meses; com alteração de
tônus de grupos musculares do membro superior parético, identificada por
escores diferentes de zero pela escala modificada de Ashworth
[20], ausência de déficits cognitivos avaliados pelo Mini-exame
do Estado Mental (ponto de corte para indivíduos analfabetos 18/19 e para
indivíduos com instrução escolar 24/25). Os critérios de exclusão do estudo
foram: dupla hemiparesia, tempo de lesão inferior a 12 meses, afasia sensitiva
ou condições de saúde adversas tais como outras doenças neurológicas ou
ortopédicas não relacionadas ao AVE.
Desenho do estudo
Antes de iniciar o treinamento de FGCT os hemiparéticos foram submetidos a uma entrevista individual para coleta de dados pessoais e a seguir foi realizada a avaliação inicial (AV1) utilizando as escalas de avaliação. Foram realizadas 12 semanas de FGCT e no final deste período ocorreu a avaliação final (AV2).
Dinamometria dos
flexores dos dedos (DIN)
A força muscular pode
ser avaliada por um dinamômetro portátil que consiste em um instrumento que
fornece mensurações objetivas, válidas, precisas e sensíveis da força muscular.
O hemiparético foi colocado na posição sentada com o
apoio do antebraço sobre uma mesa e o cotovelo fletido a 90º. O aparelho foi
ajustado primeiramente na mão não plégica do hemiparético e a seguir foi solicitado que apertasse a
alavanca com máximo de força possível, o incentivo verbal foi fornecido sempre
que necessário. O mesmo procedimento foi realizado na mão plégica
[21], três vezes de cada lado. Foi calculada a média dos três ensaios.
Teste de caixa de
blocos (TCB)
O TCB permite avaliar
de forma simples a destreza manual grossa de hemiparéticos
com problemas neuromusculares e paralisia cerebral. É aplicado de maneira
individual e permite a observação e medida de tempo e resistência ao realizar a
tarefa de transferência dos blocos. A medida do teste foi expressa pelo número
de blocos transferidos durante um minuto de um compartimento para o outro da
caixa [22].
Nine hole peg test (NHPT)
O NHPT avalia a
coordenação motora fina dos membros superiores. É uma medida de coordenação dos
dedos, a qual envolve o desempenho cronometrado de inserir e remover nove pinos
a partir de um bloco de madeira [23-25]. As pontuações foram expressas em
segundos, com a quantidade máxima de tempo atribuída sendo 120 segundos [23].
Fisioterapia em Grupo
no Formato de Circuito de Treinamento (FGCT)
A FGCT ocorreu em 10
áreas diferentes, de modo que em cada uma há um distinto grau de dificuldade de
realização do exercício conforme descrito na tabela I.
Tabela I - Estações do
circuito de treinamento utilizado no presente estudo.
Figura 2 - Ilustração das
estações voltadas para o membro superior no circuito de treinamento utilizado
no presente estudo.
Análise estatística
Os dados foram testados
quanto à distribuição normal pelo teste de Shapiro Wilk. As estatísticas
descritivas (média e desvio padrão) foram operacionalizadas pelo Statistical Software for Social Sciences
(SSPS), bem como o teste de normalidade, comparações e análises de correlação.
O teste t de student para amostras pareadas foi
utilizado para comparar os momentos AV1 E AV2 e o teste de Wilcoxon
para dados não paramétricos foi utilizado para comparar o mesmo momento. O
coeficiente de correlação usado foi Correlação de (r) para dados com
distribuição normal e para distribuição não normal dos dados, o coeficiente de
correlação de Spearman (r)
foi usado para avaliar a relação entre as variáveis TCB, NHPT e DIN. Para todas
as análises foi considerado nível de significância de α ≤ 0,05.
Para as diferenças
entre os grupos também foi calculado o tamanho do efeito, pela fórmula Cohen
(d) [29]. As leituras das magnitudes foram realizadas como efeito
insignificante (≥ 0,00 a 0,15); pequeno efeito (≥ 0,15 e < 0,40);
médio efeito (≥ 0,40 e < 0,75); grande efeito (> 0,75). Esse
conceito estatístico é traduzido normalmente pela diferença efetiva na
população, sendo assim, quanto maior for o ES, maior será a manifestação do
fenômeno na população.
Os participantes tinham
idade mínima de 39 anos e máxima de 84 anos e a idade média foi de 63,13 ± 10,8
anos. O tempo médio de lesão foi de 7,06 ± 4,86 anos. Quanto ao tônus muscular,
40% tiveram pontuação 1, 6,7% pontuação 1+, 13,3% pontuação 2 e 40% tiveram
pontuação 3.
A análise dos valores
do NHP realizado pelos hemiparéticos deste estudo
demonstrou na AV1 26,24 ± 5,36 segundos e 27,96 ± 7,51 na AV2 para lado não
parético, já para o lado parético na AV1 74,85 ± 40,79 e 75,92 ± 43,44 na AV2. No
TCB a pontuação foi de 44,13 ± 9,40 blocos na AV1 e na AV2 44,53 ± 10,66 blocos
no lado não parético e 22,60 ± 16,43 na AV1 e 21,86 ± 14,38 blocos para o lado
parético na AV2.
Na DIN pode-se observar
na AV1 26,98 ± 10,38 e 11,12 ± 8,50 joules na AV2 no lado não parético ao passo
que no lado não parético a AV1 demonstrou 29,75 ± 12,41 e 12,88 ± 10,16 na AV2.
A análise estatística não revelou diferença significante entre AV1 e AV2 na DIN
bem como no TCB e NHP.
O Teste de Rô de Spearman mostrou correlação moderada entre o NHP com a DIN
(r: 0,74, p= 0,794), já o teste de Pearson mostrou correlação fraca entre o TCB
e a DIN (r: -0,272, p=0,326). O tamanho do efeito estimado das médias e
desvios-padrões das diferenças entre os momentos (AV1 e AV2) para as variáveis dinamometria e NHP do lado não parético DIN-np (d:0,25), NHP-np (d: 0,27)
demonstraram pequeno efeito.
O presente estudo
demonstrou que o protocolo utilizado na FGCT não alterou a destreza funcional e
a força muscular dos hemiparéticos crônicos apesar de
terem realizado FGCT para manter os ganhos funcionais obtidos na reabilitação
inicial pós AVE. Os valores de magnitude do tamanho do efeito revelaram um
efeito clínico pequeno.
Há evidências de que a
recuperação não se limita a esse período de tempo e a recuperação da mão e dos
membros superiores foi relatada muitos anos após o AVE [1], todavia não foi
observada recuperação nos pacientes deste estudo cujo tempo de lesão é superior
a 7 anos, no entanto, deve-se considerar também que o treinamento destes
indivíduos não foi voltado apenas para o membro superior.
A perda de função do
membro superior após um AVE afeta muitas atividades da vida diária e, às vezes,
os indivíduos não percebem totalmente suas habilidades remanescentes em suas
atividades cotidianas e, por isso, a redução da incapacidade é um dos
principais objetivos das intervenções durante um protocolo fisioterapêutico. A
terapia de movimento induzido por restrição (CIMT) [6] que envolve o uso forçado
e a prática concentrada do braço afetado, restringindo o braço não afetado
demonstrou ser uma ferramenta útil para recuperar habilidades em atividades
cotidianas, no entanto, torna-se dificultada devido ao tempo de restrição que
deve ser mantido no braço não afetado e também ao desconforto do paciente, além
disso ainda é pouco utilizada na prática clínica brasileira. Sendo assim,
diversas terapias podem melhorar esta perda e estão baseadas na repetição e na
progressão de uma atividade como a FGCT que enfatiza a melhora da mobilidade
geral do indivíduo com foco em atividades funcionais, visando também uma maior
autonomia desta população em suas atividades de vida diária.
As tarefas de destreza
manual requerem a integração de várias funções sensório-motoras [26]. A
inclusão do treino destas capacidades nos protocolos fisioterapêuticos é
fundamental. Ainda que a FGCT não tenha desencadeado mudanças funcionais
importantes nos hemiparéticos crônicos analisados
neste estudo, foi observada uma pequena mudança clínica no NHP e DIN, o que
sugere que mesmo não tendo significância estatística, a intervenção contribuiu
para uma melhora clínica na destreza motora funcional e força de membros
superiores dos indivíduos participantes do estudo.
O treinamento de
tarefas repetitivas (TTR) envolve a prática ativa de atividades motoras
específicas de tarefas repetidas vezes e é um componente das abordagens
terapêuticas atuais na reabilitação pós AVC e tem potencial para ser um recurso
eficiente na reabilitação incluindo na configuração de terapia em grupo ou a
prática auto assistida no ambiente doméstico [2]. A FGCT pode ser considerada
um modelo de TTR, pois permite que paciente execute repetidamente exercícios
funcionais em diferentes estações, o que sugere que a FGCT tem potencial para
ser um recurso eficiente na reabilitação de pacientes pós AVC.
Há evidências que o TTR
melhora a função do membro superior e inferior e estas melhorias foram
sustentadas até seis meses após o tratamento, todavia não tem claramente
estabelecido o tipo e quantidade de treinamento bem como as formas de medir o
número de repetições efetivamente realizadas pelos participantes [2].
Carr e Shepherd [7] sugeriram
que a recuperação deficiente dos membros superiores pode ser devida não apenas
ao impacto direto do AVC em si, mas também a intervenções terapêuticas
inadequadas ou inapropriadas. Pouca informação está disponível, no entanto,
para descrever o que melhor representa o tratamento ideal ou quais são os
componentes desses tratamentos. Talvez a FGCT com maior intensidade e mais
focada para o membro superior pudesse dar melhores resultados nos pacientes
estudados.
Embora a FGCT utilizada
neste estudo seja um modelo de TTR, esta não foi capaz de alterar a
funcionalidade observada a partir dos valores nas escalas utilizadas neste
estudo, porém não pode ser descartada como um modelo a ser utilizado na
recuperação da funcionalidade do membro superior. Novos trabalhos devem
considerar a intensidade, o tempo suficiente de duração do tratamento para
desencadear alguma alteração detectável.
A diminuição da força
muscular pode ser um fator limitante na manutenção de um estilo de vida
independente. Em indivíduos hemiparéticos, essas
alterações são agravadas pelos déficits inerentes ao AVC. Além disso, tem sido
um fator limitante refletido pela incapacidade de gerar força muscular em
níveis normais [17]. A avaliação do membro superior é de extrema importância,
tendo em vista que possibilita quantificar as sequelas e o tratamento poderá
ser traçado com foco na fraqueza [27]. Apesar da falta de alteração
estatisticamente significante na DIN observada na AV1 e AV2, deve-se levar em
consideração o fato de sua melhora clínica, que pode ter sido um fator que
influenciou a melhora clínica da capacidade funcional.
A espasticidade se
caracteriza pelo aumento da resistência ao alongamento passivo, associado à
exacerbação dos reflexos tendinosos, sendo um dos sinais e sintomas mais comuns
nas lesões do sistema nervoso central [17]. Pode-se considerar que esta
alteração de tônus em todos os hemiparéticos deste
estudo seja um dos componentes responsáveis pela falta de alteração nos
resultados dos testes utilizados.
A correlação moderada
entre o NHP e DIN não apresentou significância estatística, todavia o effect size revelou
um pequeno efeito clínico da intervenção. Esta análise indica que a FGCT pode
ser um fator facilitador na reabilitação da destreza manual, reforçado pela
correlação fraca entre o TCB e a DIN o que instiga a busca de mais estudos para
fortalecer a prática clínica fisioterapêutica.
O modelo utilizado
neste estudo poderá ser implementado com tarefas mais específicas para os
membros superiores e também com o aumento do número de
sessões, podendo revelar melhores resultados em hemiparéticos
crônicos. Este estudo foi ao encontro daqueles que descrevem a baixa melhora
funcional após seis meses após um AVC, todavia não se pode determinar que a
FGCT seja uma ferramenta que não deva ser investigada ou que os membros superiores
dos hemiparéticos devam ser esquecidos durante um
protocolo fisioterapêutico.
O estudo teve como
limitações a cronicidade da população em questão, e o circuito não voltado
apenas para o membro superior.
O protocolo terapêutico
não foi capaz de apresentar melhora significante da destreza motora funcional e
da força de membros superiores de hemiparéticos
crônicos submetidos a fisioterapia de grupo no formato de circuito de
treinamento.