OPINIÃO
O
autocuidado é imprescindível para líderes de equipe e profissionais de saúde
Self-care
is essential for team leaders and healthcare professionals
Walmir Cedotti*
*Psicanalista
Clínico e Analista Institucional no Desenvolvimento de Equipe e Liderança do
Instituto Central HCFMUSP e ICESP
Correspondência: Rua Dr. Enéas de
Carvalho Aguiar, 255 Cerqueira César 05402-000 São Paulo SP, E-mail:
cedotti@gmail.com
Burnout ou Síndrome por
Exaustão Profissional é o resultado de largos períodos de contato com as
contínuas pressões frente às ameaças vindas de fora, como por exemplo, o
ambiente profissional, que pode tornar-se a fonte de circunstâncias geradoras
de emoções, sentimentos e de uma gama de pensamentos que podem abater o corpo,
afetar as relações de trabalho e da vida pessoal.
O organismo humano foi
capacitado para viver diferentes experiências que demandam diferenciados níveis
de respostas, todas elas ativam um sistema de retornos que integram o físico, o
psíquico, o social a uma forma consciência do que acontece, provocando mais ou
menos pressão interna, pois o organismo está exposto a uma gama diversificada
de estímulos dos quais a maior parte deles relacionados às expectativas frente
ao desconhecido.
Diante do que
desconhecemos somos impelidos a criar estratégias para sobreviver. O auto-domínio, o controle emocional, o pensamento claro e a
disposição para o enfrentamento frente aos múltiplos níveis do que podemos
chamar de ameaça, real ou imaginária, vivenciamos no corpo em sua totalidade
como descrevemos acima, e este por sua vez é impelido a reagir para se
defender, na fuga ou no confronto com o inesperado. No entanto, no mundo de
imprevisibilidades e mudanças tão velozes em que vivemos, os períodos de tensão
frente ao novo parecem ter se estendido, provocando a sensação de serem
ininterruptos e certas vezes até esmagadores, exigindo maior contato e
apropriação com nossos recursos internos de enfrentamento.
As profissões que lidam
com o sofrimento alheio apresentam maior necessidade de controle emocional e
autoconhecimento, devido aos desgastes inerentes aos sentimentos muitas vezes
paradoxais presentes no contato com a dor, seja física ou psíquica, fator que
pode desencadear e acelerar o processo de adoecimento do cuidador.
Diferentes profissionais de saúde estão
expostos à doença, independentemente da área de atuação ou especialidade.
Estudos demonstram que os riscos de desenvolvimento de burnout
e estresse são eminentes dentro da área da saúde [1]. Shanafelt
et al. [2], relata que um terço dos médicos oncologistas experienciam um
significante grau de burnout na carreira. Morse et
al. [3], constataram em uma série de pesquisas, o acometimento de burnout em 21% a 67% dos profissionais que trabalham com
saúde mental. Estes dados revelam alto nível de acometimento da doença nos
profissionais de saúde.
Rotinas desafiadoras no
contato com a transitoriedade e finitude da vida podem ser disparadoras de
sinais como exaustão emocional, despersonalização,
desmotivação e redução do compromisso profissional são recorrentes, com estes
sintomas como angústia, depressão, humor variável, irritação, insônia e pânico
podem surgir.
Diante deste cenário,
os profissionais da área da saúde e líderes de equipe precisam estar atentos à
sua saúde. Perceber os sinais de cansaço mental, instabilidade emocional ou
dificuldades nas relações sociais são determinantes para buscarem algum nível
de ajuda na melhoria da relação consigo mesmo e com tudo o que o cerca.
A importância de
reverem os seus hábitos e a maneira como pensam e sentem o mundo, pode
ajudá-los para produzir novos significados frente aos imprevistos e desafios
que despontam. O autocuidado pode iniciar com a leitura dos sinais do corpo,
emoção, mente e espírito.
Quando realizado
conscientemente, ou seja, tempo de repouso, alimentação balanceada, busca do
sagrado, atividade física e relacionamentos construtivos, pode fazer emergir
uma realidade de maior unidade consigo mesma e percepção das necessidades do
corpo, emoções e mente. Por isto, precisamos buscar o autocuidado na
perspectiva de que temos outras tantas pessoas para cuidar com excelência
técnica e relacional.
A atuação de forma
preventiva na relação dos líderes e sua equipe ou profissionais de saúde com
seus pacientes passa primeiramente pela experiência de autocuidado do cuidado
que envolve:
Para tornar realidade
os pontos acima descritos, o profissional de saúde, neste caso o fisioterapeuta
que lidera a sua prática, precisa estar bem consigo mesmo, com seus colegas,
equipe e liderança, com o genuíno desejo de se auto cuidar, crescer e aprender
sempre mais.