OPINIÃO
Como a
Saúde Digital transformará a Fisioterapia
Guilherme Rabello
Engenheiro
pela Escola Politécnica da USP, Gerente Comercial e de Inteligência de
Mercado do InovaInCor (núcleo de inovação do
Instituto do Coração-InCor e da Fundação Zerbini), Membro do Comitê Executivo
de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP,
Presidente do Conselho de Administração da Fundação para Segurança do
Paciente (FSP), Professor do MBA HealthTech na
FIAP-SP, Professor da Faculdade de Medicina da USP, disciplina de “Inovação e
Empreendedorismo na Saúde”
Correspondência: Rua Dr. Enéas de
Carvalho Aguiar, 255 Cerqueira César 05402-000 São Paulo SP
grabello.inovaincor@zerbini.org.br
Uma das histórias mais
significativas na revolução industrial do século passado é a protagonizada por
Henry Ford, criador da empresa de automóveis Ford. O famoso carro Modelo T era
o vigésimo projeto da empresa. Mas Henry Ford havia criado algo diferente – um
novo modelo de negócio com uma nova forma produtiva, a linha de montagem em
série, que permitiu diminuir em muito o custo de seus automóveis e
transformar seu carro no mais conhecido da época, bem como escrever uma das
páginas da história da Revolução Industrial moderna.
Porém, Ford não chegou
ao sucesso sem enfrentar grandes dificuldades. Transformar uma indústria que
ainda estava nascendo – a automotiva - era em si mesmo um enorme obstáculo. Em
uma ocasião, falando sobre os problemas com os quais se deparava ao desenvolver
seu modelo de fabricação de carros, ele disse: “Não encontro defeitos, encontro soluções. Qualquer um sabe queixar-se!”. Sim, queixar-se das dificuldades era simples
miopia, mas enxergar as soluções era ter visão de horizonte – uma enorme
diferença entre sucesso e fracasso! Henry Ford como inovador teve Visão.
A história da
Fisioterapia começa a ser escrita a alguns milênios. O termo Fisioterapia vem
das palavras gregas: "Physis", que
significa "Natureza" e "Therapeia",
que quer dizer "Tratamento", podendo ser definida como a ciência que
estuda o movimento humano e que utiliza recursos físicos no tratamento e cura.
Segundo estudiosos do
assunto, o costume de se utilizar formas de movimento como recurso terapêutico
remonta há vários séculos antes da nossa era cristã. Naquela ocasião,
acreditava-se que o uso da ginástica (palavra originada do grego gymnádzein, que tem por tradução aproximada
"treinar" e, em sentido literal, "exercitar-se nu") estava
unicamente nas mãos dos sacerdotes e que era empregada somente com fins
terapêuticos, no tratamento de disfunções orgânicas já existentes na pessoa.
Mas como
a Saúde Digital entra em cena na Fisioterapia?
Se considerarmos que os
objetivos da Fisioterapia são estudar o movimento humano e utilizar recursos
físicos no tratamento e cura, então os novos recursos da tecnologia digital que
apareceram nas últimas décadas se tornam grandes ferramentas para transformar a
Fisioterapia tradicional como a conhecemos (e alguns até acham monótona e
ineficaz) em uma versão dinâmica e capaz de engajar o paciente e fornecer dados
vitais para os profissionais fisioterapeutas e médicos poderem avaliar o
progresso dos pacientes e as melhores condutas clínicas a serem aplicadas!
Bem-vindo a Fisioterapia 4.0!
Há uma revolução
literal em andamento no campo da Fisioterapia, com a inclusão das mais diversas
ferramentas digitais de computação 3D voltadas para o estudo do movimento do
corpo (cinesiologia), na adoção de Realidade Virtual
para exercícios terapêuticos, no uso de aplicativos com interatividade para
engajamento e educação do paciente nos exercícios, até o uso de wearables para
rastrear e medir as atividades de cada paciente visando a personalização do
tratamento.
A Saúde Digital
verdadeiramente abriu a caixa de Pandora na Fisioterapia!
Veja alguns exemplos do
que citamos acima, dentre os muitos produtos, soluções e serviços que estão
aparecendo quase que diariamente no mercado global da Saúde:
1) Computação 3D para análise de movimentos – assim como temos o uso
desta tecnologia para criar personagens animados nos desenhos de Hollywood, da
mesma forma esta tecnologia tem sido aplicada para estudar o movimento de
pacientes e poder ajudá-los na recuperação de disfunções motoras e posturais.
Figura 1 - Análise de movimento por computação 3D.
2) Realidade Virtual para tratamento fisioterápico – Mais do que uma
tecnologia que é utilizada nos games digitais modernos para aumentar a sensação
de realidade dos jogos, a Realidade Virtual (ou VR) tem diversas utilidades em
outras áreas como simulação de treinamento de pilotos, desenvolvimento de
projetos complexos de engenharia, etc. Mas na Fisioterapia sua aplicação pode
ajudar muito os pacientes ao realizar os exercícios e para os profissionais
poderem medir o progresso da terapia indicada.
3) Aplicativos de exercícios fisioterápicos – hoje existem aplicativos
para quase tudo, e na Fisioterapia não seria diferente. É claro que precisamos
saber se os Apps que escolhemos são adequados e seguem os melhores padrões
científicos e médicos, mas há boas opções disponíveis.
4) Wearables de rastreamento físico para análise de dados e avaliação clínica –
Como em muitas situações aonde precisamos ter dados para podermos analisar a
performance dos produtos e sistemas (exemplos: Fórmula 1, linha de produção de
fábrica, centros de processamento de dados, bancos, etc),
a Internet das Coisas trouxe uma grande quantidade de wearables para uso pessoal que
nos permite gerar informações relevantes no tratamento clínico, como no caso de
pessoas com problemas crônicos de dores. Mais do que apenas wearables, alguns produtos se
tornam ferramentas de gestão de recursos humanos e auxiliam na prevenção e
melhoria do condicionamento físico das pessoas.
Como podem ver, há uma
revolução em andamento no modo como a Fisioterapia tradicional se transformará
na Fisioterapia 4.0! O mesmo que Henry Ford fez na indústria automotiva ao
modificar a Visão do setor para produzir carros, a Saúde Digital fará da mesma
maneira em como a Fisioterapia capacitará seus profissionais no atendimento,
acompanhamento e análise dos pacientes, que por outro lado estarão mais
engajados em seu próprio tratamento. No final, o resultado esperado é um melhor
desfecho na Saúde do paciente!