REVISÃO
Reabilitação abdominal
no pós-parto
Abdominal rehabilitation after labor
Déborah Gonçalves Dornelles
Corrêa, Ft.*, Magda Patrícia Furlanetto, Ft.**
*Centro Universitário
Ritter dos Reis (UniRitter), **Orientadora,
Professora do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter)
Recebido em 8 de abril
de 2019; aceito em 15 de maio de 2020.
Correspondência: Deborah Gonçalves
Dornelles Corrêa, Rua Cassio de Medeiros 760/321 bl
14, 91900-020 Porto Alegre RS
Déborah
Gonçalves Dornelles Corrêa: deborah.dornelles@hotmail.com
Magda Patrícia Furlanetto: magdafurlanetto@hotmail.com
Resumo
Diversos processos
fisiológicos, bem como alterações viscerais e osteomioarticulares,
ocorrem durante a gestação e o parto e impactam de forma significativa o
organismo feminino. A expansão do útero afeta a forma do abdome e a geometria
dos músculos abdominais, os pesos do útero gravídico aumentam a pressão sobre a
musculatura do assoalho pélvico com repercussões estéticas e funcionais. Objetivo:
Revisar sistematicamente os estudos publicados nos últimos 10 anos a respeito
das técnicas de reabilitação abdominal no pós-parto. Métodos: Foi
realizada uma revisão sistemática da literatura, no período compreendido entre
os anos de 2009 e 2019, nas bases de dados eletrônicas PubMed,
BVS, Science Direct, PEDro. Resultados: Houve
uma grande variabilidade em relação às intervenções utilizadas e aos desfechos
analisados, sendo verificado estudos sobre flacidez abdominal, fibro edema gelóide,
incontinência urinária persistente e tratamento para diástase do reto abdominal
(DRA). Conclusão: De acordo com os resultados obtidos no presente estudo
e baseados em estudos anteriores, conclui-se que os exercícios abdominais não
apresentam mudança significativa para tratamento de IU; são necessários mais
estudos para analisar quais tipos de exercícios são eficazes para tratamento de
DRA; o aparelho que combina radiofrequência, infravermelho, massagem mecânica e
endermologia tem influência positiva no tratamento de
flacidez abdominal, fibro edema gelóide
e lipodistrofia localizada.
Palavras-chave: reabilitação,
fisioterapia, músculos abdominais, pós-parto, puerpério.
Abstract
Several
physiological processes, visceral and osteomioarticular,
occur during pregnancy and labor and impact significantly the female organism.
The uterus expansion affects the abdomen shape and the abdominal muscles
geometry, the pregnant uterus weight rises the pressure over the pelvic floor
muscles with esthetic and functional repercussions. Objective: To review
systematically studies published in the last 10 years about the techniques of
abdominal rehabilitation on post childbirth. Methods: Systematic review
of literature in the period between 2009 and 2019, on electronic data bases
PubMed, BVS, Science Direct, PEDro. Results:
There was a great variability in relation to the interventions used and the
analyzed outcomes, being checked studies about abdominal flaccidity, fibrosis geloid edema, persistent urinary incontinence (UI) and
abdominal rectus diastasis (ARD). Conclusion: According to the results
obtained in the present study and based in previous studies, we conclude that
abdominal exercises do not show significant change to UI treatment; more
studies are necessary to analyze which exercises are effective to ARD treatment
and if the machine that combines radiofrequency, infrared, mechanical massage
and endermologie has positive influence on treatment
for abdominal flaccidity, fibrosis geloid edema and
localized lipodystrophy.
Keywords: rehabilitation,
physiotherapy, abdominal muscles,
postpartum, puerperium.
Durante o período
gestacional, a expansão do útero afeta a forma do abdome e a geometria dos
músculos abdominais, aumentando a distância entre os músculos retos e pode
repercutir de forma negativa tanto estética quanto funcionalmente na puérpera
[1,2]. Diversos processos fisiológicos, bem como alterações viscerais e osteomioarticulares, ocorrem durante a gestação e o parto e
impactam de forma significativa o organismo feminino [3]. Os músculos
abdominais são alongados até o seu ponto elástico limite no final da gravidez.
Como resultado da ação hormonal da relaxina, os
ligamentos sofrem uma profunda frouxidão levando a uma diminuição na tensão dos
tecidos conjuntivos e aumento na mobilidade das estruturas anatômicas em geral.
Os músculos do assoalho pélvico (MAP) precisam suportar o peso do útero e podem
ser distendidos ou rompidos durante o processo do nascimento. O centro de
gravidade (CG) da mulher desvia-se para cima e para frente devido ao
alargamento do útero e das mamas, o peso transfere-se para os calcanhares para
trazer o CG para uma posição mais posterior, o que requer compensações
posturais para o equilíbrio e estabilidade [4].
Além disso, algumas
mulheres podem lograr peso excessivo e desenvolver flacidez e celulite
corporais [5,6]. Estima-se que até 20% das mulheres aumentem pelo menos 5 kg de
peso no período de 6 a 18 meses de pós-parto [7]. Outros desconfortos presentes
nessa fase são inerentes ao processo parturiente, tais como lesões perineais e
abdominais, modificações no contorno abdominal e incontinência urinária de
esforço (IUE) [5-11]. Uma das alterações mais frequentes é a Diástase de Retos
Abdominais (DRA) e estima-se que prevalência deste evento no pós-parto seja de
até 72,1% das puérperas [12], sendo mais prevalente na região supraumbilical (68%) [2]. Igualmente, podem desenvolver
algum tipo de incontinência urinária (IU), especialmente a IU de esforço (IUE)
[12]. Mulheres que desenvolvem IUE no puerpério e que não apresentam remissão
em até 3 meses após o parto, apresentam um risco significativo de persistência
dos sintomas 5 anos depois [8].
Desta feita, os
músculos abdominais formam um apoio elástico de “quatro vias de estiramento”
para o conteúdo abdominal. São elas, os músculos reto
abdominal, transverso do abdome, oblíquo interno e oblíquo externo,
bilateralmente. Superficialmente, o reto abdominal tem como funções flexionar a
coluna, assim como dar suporte a mesma, sustentar a massa visceral, auxiliar na
expiração forçada, entre outros [13]. A função do oblíquos, externo e interno,
é fletir a coluna lateralmente, quando atuando bilateralmente, aproximando a
pelve e o tórax anteriormente, suportam e comprimem as vísceras abdominais,
deprimem o tórax e auxiliam na respiração. [14]. Estudos indicam que a
contração dos músculos transversos do abdome (TrA)
aumentam a pressão intra-abdominal (PIA) e induzem a elevação do colo vesical
[9] e, desta forma, o treinamento indireto do MAP via TrA
tem sido empregado como um método avançado para tratar IUE [9].
A literatura tem se
mostrado conflitante sobre exercícios abdominais que sejam recomendados para
tratamento de DRA [10] e sobre quais técnicas são eficazes para tratamento do
contorno abdominal, tão pouco quais exercícios abdominais são eficazes para
tratamento dessas lesões geradas no período gestacional e no pós-parto.
Portanto, estudos que avaliem programas de tratamento abdominal podem ser de
grande valia para que seja possível comprovar o quanto essa modalidade, tanto
física quanto terapêutica, pode acrescentar na prevenção de disfunções causadas
após a gravidez. Diante do exposto, este estudo tem por objetivo revisar
sistematicamente as publicações científicas dos últimos 10 anos a respeito dos
tratamentos fisioterapêuticos que existem para reabilitação abdominal tanto
estética quanto funcional no pós-parto.
Trata-se de uma revisão
sistemática da literatura realizada através de busca bibliográfica digital em
artigos científicos publicados em revistas impressas e eletrônicas, ensaios
clínicos, estudos randomizados, no período compreendido entre os anos de 2009 e
2019, nas bases de dados eletrônicas PubMed, BVS,
Science Direct, PEDro e que apresentassem pelo menos
uma técnica de reabilitação aplicada à região do abdome. Foram selecionados
estudos com idioma de publicação em inglês, espanhol e português em diferentes
estratégias para assegurar uma busca abrangente (Quadro I). A questão
norteadora deste estudo abordou quais tratamentos fisioterapêuticos existem na
reabilitação abdominal no pós-parto. Esta pergunta foi capaz de gerar
descritores referentes à população, tipo de intervenção e desfechos (PICO).
Quadro I - Descritores e
operadores booleanos utilizados na busca em bases de dados.
As buscas foram
realizadas por dois avaliadores independentes que selecionaram os estudos
potencialmente relevantes a partir dos títulos e resumos dos resultados obtidos
nas bases de dados. Quando essas seções não forneceram informações suficientes
para serem incluídas, o texto completo foi verificado. Posteriormente, os
mesmos revisores avaliaram independentemente os estudos completos e realizaram
a seleção de acordo com os critérios de elegibilidade, ou seja, o uso de uma
metodologia que tenha envolvido uma intervenção através da reabilitação
abdominal do pós-parto em pelo menos um grupo pesquisado. Os casos discordantes
foram resolvidos por consenso.
A avaliação da
qualidade dos estudos foi realizada através da escala Downs
& Black [15] que foi desenvolvida com intuito de preencher lacunas na
avaliação de estudos que não fossem ensaios clínicos randomizados. Esta escala
é reconhecida como “metodologicamente forte” e é mais flexível que outras, já
que permite avaliar de forma credível, um maior leque de tipos de estudo. Tem
também a vantagem de ser possível avaliar e destacar as potenciais forças e
fraquezas dos estudos em avaliação [16]. Foram considerados metodologicamente
fortes os trabalhos que apresentassem escore igual ou
superior a 80% da pontuação máxima, escores entre 60 e 80% como moderados e
aqueles inferiores a 60% foram considerados metodologicamente insatisfatórios
(fracos). Para o presente estudo, os artigos que tinham como desenho ensaios
clínicos, todas as questões foram consideradas.
Na busca realizada, 148
referências foram localizadas. Destas, 25 artigos foram oriundos na base de dados
da BVS, dos quais 11 artigos eram duplicados, 13 abordavam outras técnicas ou
não falava em reabilitação abdominal. Na base de dados Science Direct, foram
encontrados 56 artigos, 1 artigo foi selecionado para uma leitura analítica e
55 artigos não se aplicavam ao objetivo de análise ou encontravam-se em
duplicidade com outras bases de dados. Na base de dados PEDro,
foram encontrados um total de 9 artigos, sendo que 2 foram selecionados para
leitura, 1 artigo não estava indisponível para análise e 6 não se aplicavam ao
objetivo ou estavam em duplicata. Na base de dados PubMed
foram encontrados um total de 47 artigos, sendo 15 duplicados e 31 abordavam
outras técnicas ou não reportavam reabilitação abdominal. Finalmente, após a
leitura analítica, 6 estudos foram selecionados como objeto de análise, por
apresentarem aspectos que respondiam à questão norteadora. A figura 1
representa o fluxograma de pesquisa, que demonstram que destes 6 selecionados,
3 foram ensaios clínicos randomizados [8-10] e 3 ensaios clínicos [5,6,11].
Figura 1 - Fluxograma de
pesquisa. PRISMA, 2009 [17]
Características dos
estudos incluídos
Houve uma grande
variabilidade em relação às intervenções utilizadas e aos desfechos analisados,
sendo verificados estudos sobre a DRA, IUE no pós-parto e irregularidades
abdominais como flacidez e fibro edema gelóide (FEG). As características dos artigos selecionados
quanto à intervenção, desfechos e resultados são apresentadas no Quadro II.
Quadro II - Artigos
incluídos, fonte bibliográficas, tipo de estudo, número amostral, idade das
participantes, alterações pesquisadas e intervenções realizadas.
DRA = diástase do reto
abdominal; EE = eletroestimulação; END = endermologia;
FEG = fibro edema gelóide;
IUE = incontinência urinária de esforço; IV = infravermelho; MM = massagem
mecânica; RF = radiofrequência; TMAP = treinamento muscular do assoalho
pélvico.
Avaliação do risco de
viés dos estudos
No que se refere às
pontuações obtidas por meio da Escala Metodológica Downs
and Black [15], os seis ensaios clínicos obtiveram
média de 19,0 ± 5,5 considerando a pontuação máxima de 28 pontos. Dentre os
critérios metodológicos que mais apresentaram falhas, alude-se à omissão das
características dos pacientes perdidos durante o seguimento do estudo, os
principais efeitos adversos, a falta de definição dos pacientes cegados e
dragagem de dados, e omissão de fatores de confusão em relação ao recrutamento
temporal dos pacientes e se a intervenção foi oculta para os pacientes. Dos
seis trabalhos analisados, dois destes obtiveram uma pontuação igual ou acima
de 80% e foram considerados metodologicamente fortes de acordo com os critérios
descritos anteriormente, conforme demonstrado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Avaliação do
risco de viés através da Escala Downs and Black.
Análise dos desfechos
Os resultados obtidos
em relação aos métodos de avaliação, grupos de intervenção, frequência,
intensidade e duração do programa de reabilitação e as principais conclusões
estão dispostos no Tabela III.
Tabela III – Apresentação e
avaliação dos estudos (ver anexo em PDF)
Foram objetos desta
revisão 6 ensaios clínicos, e apenas dois destes não eram randomizados. Houve
uma grande variabilidade em relação às intervenções utilizadas e aos desfechos
analisados, sendo verificado estudos sobre flacidez abdominal, fibro edema gelóide,
incontinência urinária persistente e tratamento para diástase do reto abdominal
(DRA). Em termos metodológicos, de acordo com o Check
list Downs and Black, os artigos avaliados apresentaram 2 escores
altos, 2 moderados e 2 foram insatisfatórios. Critérios importantes e
primordiais para a solicitação científica dos estudos não foram amplamente
atendidos. Dentre os indicadores de qualidade ausentes, destacam-se a descrição
objetiva dos fatores de confusão; relatos de eventos adversos importantes ao
estudo; o número de participantes não ser representativo do universo analisado;
relato de perdas e se tal fato foi levado em consideração ou não para a equipe.
Todos estes fatores põem em risco os achados de alguns estudos.
Dois autores desta
revisão [5,6] abordaram técnicas para melhorar o contorno abdominal devido à
flacidez, FEG e lipodistrofia localizada. Ambos
utilizaram um dispositivo que combinavam a radiofrequência, o infravermelho,
massagem mecânica e endermologia e demonstraram
resultados eficazes na perda da circunferência abdominal com melhora
progressiva ao longo das sessões. Em convergência com estes estudos, a
literatura tem relatado o uso da radiofrequência em temperaturas elevadas para
aumento da densidade do colágeno e demonstrado bons resultados na melhora da
flacidez cutânea. Sua principal indicação se dá para tratamentos da flacidez de
pele e remodelamento corporal, porém são escassos os estudos sobre a atuação na
fáscia [18].
De acordo com Borges, a
massagem modeladora melhora a circulação, facilita o retorno venoso, melhora a
aparência corporal e o bem-estar [19]. A massagem modeladora mostrou-se eficaz
no estudo de Machado et al. [20], mostrando uma melhora significativa em
seus resultados. Existem alguns relatos na literatura que incluem resultados
satisfatórios do uso da eletroestimulação para melhora da qualidade da função
muscular. E essas técnicas têm como objetivo manter a qualidade e quantidade do
tecido muscular, recuperar a sensação de tensão muscular, aumentar ou manter
força muscular, e estimular o fluxo de sangue no músculo. O aumento da força
muscular com eletroestimulação [13]. O baixo escore dos estudos aqui revisados
revela a necessidade de intervenções mais robustas, como ensaios randomizados e
controlados.
Conforme dados encontrados
neste estudo, foi possível observar uma forte correlação entre o treinamento e
recrutamento dos músculos abdominais no tratamento de IU no pós-parto. Em dois
estudos incluídos nesta revisão, Dumoulin et al.
[8,9] certificaram que o protocolo de exercícios da musculatura do assoalho
pélvico (MAP) com adicional de treinamento abdominal não obteve efeito
significativo em comparação ao tratamento convencional de treinamento dos
músculos do assoalho pélvico (TMAP) no tratamento conservador da IU em mulheres
nó pós-parto.
Todavia, em um estudo eletromiográfico em indivíduos saudáveis conduzido por Sapsford e Hodges [21] foi
demonstrado que a contração do músculo TrA, ativa uma
co-contração da MAP. Com base neste estudo, eles
recomendam que o treinamento de MAP seja realizado indiretamente por meio da
contratação do transverso do abdômen (TrA) ao invés
da própria MAP [22]. Da mesma forma, Korelo et al.
[23] e Pereira et al. [24] encontraram resultados positivos de co-ativação dos músculos transverso abdominal, oblíquo
interno e MAP, mostrando que o treinamento abdominal influencia no
fortalecimento do assoalho pélvico. No entanto, ambos foram investigados em
mulheres nulíparas. Alguns autores relatam que o sinergismo entre o MAP e o TrA são uma parte intrínseca do complexo fisiológico da
musculatura abdominal e propõem o treinamento concomitante [25].
Neste contexto, Gluppe et al. [10] realizaram o treinamento da MAP
de forma inversa, ou seja, para recrutamento do músculo transverso abdominal e
os resultados não surtiram o efeito desejado, pois demonstraram que a
associação MAP e TrA não obteve melhora
significativa. Cabe ressaltar que este estudo, objeto desta revisão, obteve o
mais alto escore na avaliação de risco de viés, sendo considerado o resultado
mais confiável em termos metodológicos.
Um estudo recente de Theodorsen et al. [26] investigou o efeito agudo do
treinamento do MAP, TrA, bem como a contração
combinada de ambos na distância inter-retos (DIR) em
puérperas que apresentavam DRA. Em seu estudo transversal, constatou-se que a
contração do MAP e TrA aumenta a DRA. Ainda nessa
mesma análise, constataram, através de analise ultrassonográfica, que alguns
exercícios que promove, a ativação do TrA e oblíquos
internos aumentaram a DRA. Trata-se do exercício “drawing-in”,
que consiste na contração do transverso do abdome associada a aspiração
diafragmática com abertura das costelas inferiores. O estudo observou que tanto
a contração de MAP quanto a contração de TrA
aumentaram significativamente a DIR, tanto 2 cm acima quanto 2 cm abaixo da
cicatriz umbilical em mulheres pós-parto que apresentavam DRA. A contração do TrA aumentou a DIR significativamente mais do que a
contração da MAP e o maior aumento foi verificado durante a contração combinada
da MAP e da TrA.
Os resultados do estudo
de Theodorsen et al. [26] mostraram que
exercícios tradicionalmente prescritos com o objetivo de ativar o TrA e a MAP a fim de reduzir a DRI acabaram por aumentá-la
e, desta forma, soam como um alerta na definição de exercícios para a reabilitação
abdominal. Nesta mesma linha, Rett et al. [2]
garantem que uma DRA acima de 2,5 cm pode ser considerada prejudicial, pois
interfere na capacidade da musculatura abdominal de estabilização do tronco e
em funções como postura, parto, defecação, além da contenção visceral e
estabilização lombar. Assim sendo, a fisioterapia no pós-parto imediato e
tardio visa melhorar a tonicidade dos músculos abdominais e levar informações à
puérpera sobre os riscos da DRA e a importância da continuidade dos exercícios,
pois a extensão da diástase tem influência direta na escolha do método de
tratamento [27,28].
Segundo Sancho et
al. [28] faltam dados sobre a eficácia dos exercícios abdominais durante a
gravidez e no período pós-parto. Em seu estudo, foi realizada a análise de
imagens ultrassonográficas bidimensionais da parede abdominal registradas em
repouso e na posição final de três exercícios abdominais. As medidas de DIR em
repouso, acima e abaixo do umbigo, foram comparadas entre dois grupos, parto
vaginal e parto cesáreo, e medidas acima e abaixo do umbigo em ambos os grupos
foram realizadas. Assim como Theodorsen et al.
[26], também constataram que a magnitude da DIR no puerpério não é afetada pela
via de parto e que a DIR aumentou durante os exercícios drawing-in
(vácuo abdominal) porém, diminuiu durante os exercícios de “crunch”
abdominal, que é realizado em decúbito dorsal com joelhos flexionados, flexão
de tronco e contração isométrica do transverso. Corroborando estes achados, a
revisão realizada por Benjamin et al. [29] concluiu que, devido à baixa
qualidade e escassez de estudos, exercícios não específicos podem ou não ajudar
a prevenir ou reduzir a DRA em gestantes e puérperas. No entanto, esta questão
continua em aberto.
De acordo com os
resultados obtidos na presente revisão, foi possível observar que ainda não há
consenso sobre qual reabilitação abdominal pode ser mais eficaz de acordo com
os desfechos. Os resultados do estudo sugerem que os fisioterapeutas devem ser
cautelosos ao prescrever exercícios específicos para mulheres pós-parto que
apresentem DRA e IUE, pois são necessários mais ensaios clínicos randomizados (ECRs) de alta qualidade para investigar o efeito de
diferentes exercícios abdominais.
Constatou-se nos
achados da presente revisão que são necessários mais estudos para elucidar
quais exercícios abdominais são mais eficazes para o tratamento de DRA e
recrutamento de musculatura abdominal, bem como quais tipos de ativação
abdominal são mais efetivos para tratar IUE. Além disso, são necessários mais
estudos sobre técnicas de reabilitação abdominal para que se possa gerar
recomendações a fim de obter protocolos de tratamento na prática clínica. Há
necessidade de ECRs de qualidade para investigar o
efeito de diferentes modalidades terapêuticas para a região abdominal no
tratamento e comparação dos resultados. A ausência de mais estudos é aqui
apontada como uma das limitações deste trabalho, tornando indispensável o
desenvolvimento de mais intervenções.