ARTIGO ORIGINAL
Descrição do coping religioso/espiritual de pacientes neurológicos e sua
correlação com a capacidade funcional e depressão
Description of the religious/spiritual coping of neurological patients
and correlation with functional capacity and depression
Andressa Sampaio
Pereira*, Isabella Cristina Leoci**, Silas de
Oliveira Damasceno***, Caroline Nunes Gonzaga***, Alice Haniuda
Moliterno***, Guilherme Yassuyuki
Tacao****, Augusto Cesinando
de Carvalho*****
*Residência
em
Fisioterapia Neurológica pelo Programa de Residência em
Reabilitação Física
pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” Campus de
Presidente Prudente/SP, **Discente do Programa de
Pós-Graduação Lato Sensu,
Especialização em Fisioterapia 12ª
Edição. Área de concentração em
Fisioterapia
Aplicada à Neurologia pela Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita
Filho” Campus de Presidente Prudente/SP, ***Discente do Programa
de
Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia.
Residência em Fisioterapia
Neurológica pelo Programa de Residência em
Reabilitação Física pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” Campus de Presidente
Prudente/SP, ****Pós-Graduação Stricto Sensu em
Fisioterapia da Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente/SP,
*****Docente do Departamento de Fisioterapia da Faculdade de
Ciências e
Tecnologia – Unesp. Presidente Prudente/ SP
Recebido em 21 de
novembro de 2019; aceito em 19 de maio de 2020.
Correspondência: Andressa Sampaio
Pereira, Rua Roberto Símonsen, 305 - Centro
Educacional 19060-900 Presidente Prudente/SP
Andressa Sampaio
Pereira: andressa_fisio2013@hotmail.com
Isabella Cristina Leoci: bela_leoci@hotmail.com
Silas de Oliveira
Damasceno: silas.damasceno10@hotmail.com
Caroline
Nunes Gonzaga: caa_nunes_11@yahoo.com.br
Alice Haniuda Moliterno:
ftalice.m@gmail.com
Guilherme Yassuyuki Tacao:
guilhermetacao@yahoo.com.br
Augusto Cesinando de Carvalho: augusto.cesinando@unesp.br
Resumo
Introdução: A relação entre a
espiritualidade/religiosidade e as doenças está cada vez mais em evidência,
dessa forma a prática da religião em hospitais tem sido associada a um menor
risco de depressão, o que pode favorecer um melhor enfrentamento das
dificuldades da doença através do coping religioso
e/ou espiritual (CRE). Objetivo: Correlacionar o coping
religioso e/ou espiritual com a capacidade funcional e a depressão de hemiparéticos e parkinsonianos submetidos a fisioterapia em
grupo no formato de circuito de treinamento. Métodos: Foram analisados
28 indivíduos, participantes de um programa de circuito de treinamento T. Para
a avaliação foram utilizadas as escalas Dynamic
Gait Index, Inventário de Depressão de Beck,
Escala de Depressão Geriátrica e CRE breve (CREb). Resultados:
O score médio atingido na Inventário de Depressão de Beck e Escala de Depressão
Geriátrica apontou uma depressão leve no grupo hemiparético,
já no grupo de Parkinson não apresentou índices de depressão. O Dynamic Gait Index
acusou risco de queda no grupo hemiparético, obtendo
uma diferença significativa quando comparado ao grupo de Parkinson (p<0,05).
Ambos os grupos tiveram índice CRE positivo moderado. Conclusão: Pode-se
afirmar que as doenças incapacitantes apresentam maior relação com a
espiritualidade/religiosidade que as doenças neurológicas progressivas em
atendimento de circuito de treinamento.
Palavras-chave: espiritualidade,
depressão, doença de Parkinson, paresia, exercícios em circuitos.
Keywords: spirituality, depression, Parkinson's disease, paresis, circuit
exercises.
As disfunções
neurológicas podem resultar em problemas físicos e emocionais na vida de um
indivíduo [1,2], tendo significações diferenciadas para cada um. O acidente
vascular encefálico (AVE) é uma das lesões mais incapacitantes do mundo [3],
descrito como uma síndrome neurológica de início súbito oriundo de uma
interrupção de fluxo sanguíneo, o que ocasiona lesão no sistema nervoso
central, a qual pode culminar em deficiências motoras, sensitivas, mentais,
perceptivas, linguagem, além de outros fatores secundários [4]. Além das
doenças incapacitantes, como o AVE, nas disfunções neurológicas entram também
as doenças progressivas, como a doença de Parkinson (DP) que é uma doença
neurodegenerativa que leva a diversos sinais motores, como o tremor de repouso,
rigidez, bradicinesia, instabilidade postural, além de manifestações
secundárias [5]. Todos esses fatores contribuem para grandes sofrimentos
relacionados ao processo patológico, que muitas vezes são acompanhadas de
isolamento e crises de depressão [6], assim o cuidado com a espiritualidade
passa a ser fundamental [7].
A relação entre a
espiritualidade/religiosidade (ER) e a doença está cada vez mais em evidência
nas pesquisas clínicas, apontando indicadores positivos e/ou negativos na saúde
[6,8]. Estudos mostram que a prática da ER em hospitais tem sido associada a um
menor risco de depressão e suicídio, e este método complementar pode favorecer
um melhor enfrentamento das dificuldades adversas da doença através do coping religioso e/ou espiritual (CRE) [6,9,10].
Existem pontos a serem considerados dentro
dessa estratégia de enfrentamento, uma vez que existem variáveis como o CRE
positivo (CREp)
que está relacionado a comportamentos
práticas saudáveis de fé, esperança e
sensação de proteção divina, e o CRE
negativo (CREn) que envolve atitudes e comportamentos
relacionados com o sofrimento e repercussões prejudiciais desencadeadas pela
doença como uma forma de punição divina [9].
A espiritualidade é um
sistema de crenças que melhora a capacidade de suportar diversos sentimentos
através da propensão humana de se conectar com algo maior que si próprio,
podendo ou não incluir a participação de uma religião. Já a religião é a
prática de tradições sagradas, levando em consideração o patrimônio cultural,
os dogmas e as doutrinas, mas, mesmo assim, existe uma expressão parcial da
espiritualidade [7,9]. Assim, a religiosidade e a espiritualidade estão
relacionadas, mas não são sinônimos [7].
Tendo em vista isso, os
profissionais da área da saúde deveriam se aprofundar nos assuntos referentes a
espiritualidade dos seus pacientes como mais um aspecto do atendimento.
Entretanto, é visto que as pesquisas referentes a correlação do CRE com
indivíduos com câncer e/ou ambiente hospitalar é crescente, mas ainda não se
tem estudos comprovando se há uma correlação com a depressão e capacidade
funcional em pacientes com doença neurológica, seja ela progressiva ou
incapacitante.
Objetivos
Correlacionou-se o CRE
com a capacidade funcional e a depressão dos hemiparéticos
e parkinsonianos submetidos a fisioterapia de grupo no formato de circuito de
treinamento (FGCT).
Analisaram-se 28
indivíduos, independente do sexo, participantes do programa FGCT desenvolvido
no Centro de Atendimento de Fisioterapia e Reabilitação (CEAFIR) da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Faculdade de
Ciências e Tecnologia (FCT), campus de Presidente Prudente. A pesquisa foi
composta pelo Grupo Hemiparéticos (GH) e o Grupo
Parkinsonianos (GP).
Critérios de inclusão
geral
Pacientes de ambos os
sexos; idade superior a 18 anos; encaminhamento médico constatando o
diagnóstico clínico; capazes de realizar marcha com ou sem auxílio de órtese e
ter habilidade para realizar teste de caminhada e ausência de déficits
cognitivos avaliados pelo Mini Exame do Estado Mental (ponto de corte para
indivíduos analfabetos 18/19 e para indivíduos com instrução escolar 24/25)
[11].
Critérios específicos
para GH
Hemiparesia unilateral;
tempo de lesão maior que 6 meses; apresentar diferença na mobilidade dos
membros inferiores (lado parético e não parético) determinados pelo teste Lower Extremity Motor Coordination Test (LEMOCOT) [12]. Os critérios de
exclusão foram pacientes com dupla hemiparesia, afasia sensitiva ou condições
de saúde adversas, tais como outras doenças neurológicas ou ortopédicas não
relacionadas ao AVC.
Critérios específicos
para GP
Pacientes com pontuação
de 1,2 ou 3 no Hoehn e Yahr
[13]. Os critérios de exclusão foram: condições de saúde adversas, tais como
outras doenças neurológicas ou ortopédicas não relacionadas ao Parkinson.
Todos os voluntários
foram informados sobre os objetivos e procedimentos do estudo e após
concordarem com a participação assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa FCT-UNESP
(CAAE:81658317.0.0000.5402).
Desenho do estudo
Trata-se de um estudo
observacional transversal que foi desenvolvido a partir de dados obtidos de uma
amostra de conveniência de pacientes hemiparéticos e
parkinsonianos em atendimento de FGCT delineado para avaliar o coping religioso e ou espiritual e correlacioná-lo com a
capacidade funcional e a depressão desses pacientes.
Antes de iniciar as
avaliações todos os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido. Posteriormente, os pacientes foram submetidos a uma entrevista individual
para coleta de dados pessoais, como nome completo, data de nascimento,
profissão, escolaridade, religião, entre outros e foi realizada avaliação
utilizando-se as escalas Dynamic Gait Index (DGI) [14], Inventário de Depressão de Beck
(BDI) [15], Escala de Depressão Geriátrica (EDG) [16] e CRE breve (CREb) [17] que estão descritas abaixo.
Instrumentos e escalas
de avaliação
1) CREb:
Escala traduzida, validada e adaptada para a cultura brasileira com 49 itens,
cujos objetivos estão relacionados ao grau de enfretamento da doença e seus
desdobramentos na busca de conforto espiritual, intimidade com Deus e a busca
do bem-estar físico, psicológico e emocional. Os itens estão relacionados aos
fatores de CREp somando 34 itens e quanto mais
elevado o valor, maior é o uso do CREp. Já os fatores
de CREn somam 15 itens e quanto mais elevado o valor,
maior a sua utilização. O CRE total (CREt) de
estratégias pela pessoa para o enfrentamento de estímulos estressores, foi
obtido utilizando a média entre o índice CREp e a
média da inversão das respostas aos itens do CREn.
Para análise do CREb foi utilizado o seguinte padrão:
nenhuma ou irrisória (1,0 a 1,5); baixa (1,51 a 2,5); média (2,51 a 3,5); alta
(3,51 a 4,5); altíssima (4,51 s 5,0), e quanto maior seu valor, maior é a
utilização do CREp. Também é visto o CRE razão (CREr), que é a percentagem do CREn
em relação ao total do CREp, obtido pela simples
divisão entre os dois. A razão pode variar entre 0,2 e 5,0 ressaltando que,
quanto maior a razão, maior é a utilização do CREn em
relação ao CREp. As respostas dos itens foram dadas
em escala do tipo Likert de cinco pontos, que
variavam de 1- nem um pouco; 2- um pouco; 3- mais ou menos; 4- bastante e 5
muitíssimo [17].
2) A EDG é um dos
instrumentos mais frequentemente utilizados para o rastreamento de depressão em
idosos. A escala utilizada tem 15 itens e é composta por perguntas fáceis de
serem entendidas, tem pequena variação nas possibilidades de respostas e pode
ser autoaplicada ou aplicada por um entrevistador
treinado. Pontuações com valores ≥ 5 determina a presença de sintomas
depressivos [16].
3) O BDI é um
instrumento composto por 21 itens que dizem respeito a níveis de gravidade
crescentes de depressão. O escore total é resultado da soma dos itens individuais,
podendo alcançar o máximo de 63 pontos. A pontuação final é classificada em
níveis mínimo, leve, moderado e grave, indicando assim a intensidade da
depressão [15].
4) O DGI avalia a
capacidade do indivíduo de realizar mudanças na marcha de acordo com as tarefas
propostas, como mudanças de velocidade da marcha, contornar e passar por cima
de obstáculos, realizar movimentos com a cabeça durante a marcha e subir e
descer degraus. Essa escala é dividida em 8 tarefas que devem ser classificadas
de 0 a 3, sendo 3 normal, 2 comprometimento leve, 1
comprometimento moderado e 0 comprometimento grave, que ocorre quando o
indivíduo não consegue realizar a tarefa com segurança. A pontuação total é
obtida pela soma dos resultados de cada item, sendo a pontuação máxima de 24
pontos. Um escore de 19 pontos ou menos prediz risco para quedas em idosos
[14].
Descrição do
treinamento da FGCT
As estações foram
compostas por 14 tipos de exercícios diferentes, sendo três minutos em cada
estação e duas vezes na semana por um período de 55 minutos cada sessão. As
estações da FGCT foram montadas no CEAFIR, os exercícios estão descritos na
tabela I.
Tabela I - Descrição dos
exercícios executados nas estações.
*Estação; Fonte: Os
Autores.
Análise dos dados
Estatística descritiva
foi utilizada para caracterização dos pacientes e os dados apresentados na
forma de médias, desvio-padrões e valores percentuais. Para verificar a
normalidade dos dados, foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk; para comparar os
dados de cada paciente, e os valores obtidos nas avaliações funcionais foi
utilizado o teste T-student para amostras pareadas,
considerando significante o valor de p ≤ 0,05 e o teste de correlação de
Pearson foi usado para correlacionar o enfrentamento religioso/espiritual com a
capacidade funcional e a depressão dos hemiparéticos
e parkinsonianos considerando significante o valor de p ≤ 0,05. Para a
análise estatística, foi utilizado o software Statistical
Software for Social Sciences (SPSS Inc. Chicago,
IL) versão 18.0.
Foram avaliados
inicialmente 35 pacientes, mas apenas 28 (20 homens e 8 mulheres) foram
incluídos no estudo, sendo 14 do GP (13 homens e 1 mulher) e 14 do GH (7 homens
e 7 mulheres). Todos do GH apresentaram diferença nos valores do LEMOCOT entre
o lado não parético para o lado parético, e todos do GP ficaram entre as
pontuações de 1,2 ou 3 no Hoehn e Yahr.
As características dos grupos estão apresentadas na tabela II.
Tabela II - Características
dos participantes submetidos a FGCT.
N = número de
participantes; M = média; DP = desvio padrão; MEEM = Mini
exame do estado mental.
Na tabela III se
encontra a análise comparativa das pontuações para as variáveis depressão,
escala funcional e CRE-b.
Tabela III - Análise
comparativa dos participantes do estudo.
Fonte = Dados da
pesquisa. DP = desvio padrão; BDI = Inventário de Depressão de Beck; EDG =
Escala de Depressão Geriátrica; DGI = Dynamic Gait Index; CREp = Coping Religioso Espiritual positivo; CREn
= Coping Religioso Espiritual negativo; CREr = Coping Religioso
Espiritual razão; CREt = Coping
Religioso Espiritual total
O score médio atingido
na BDI e EDG apontou uma depressão leve com pontuação de 11,1 ± 10,42 e 5,2 ±
3,37 respectivamente no GH, já o GP não apresentou índices de depressão; o DGI
acusou risco de queda no GH, uma vez que obteve um score médio de 15,7±4,76,
obtendo uma diferença significativa quando comparado ao GP (p < 0,05).
Nas variáveis do CRE-b,
foi observado que houve um maior uso do CREn no GH 1,89 ± 0,64 quando comparado
ao GP 1,42 ± 0,37, gerando uma diferença significativa entre os dois grupos (p
< 0,05). Apesar disso, ambos os grupos tiveram CREp
moderado, conforme demonstrado na tabela III.
A correlação entre as
variáveis do CRE com a mobilidade funcional e a depressão nos grupos podem ser
visualizados na tabela IV.
Tabela IV – Correlações entre
CREb e escala funcional e de depressão do GP e GH.
*valores de (p<0,05);
r = valores de correlação. BDI = Inventário de Depressão de Beck; EDG = Escala
de Depressão Geriátrica; DGI = Dynamic Gait Index; CREp = Coping Religioso Espiritual positivo; CREn
= Coping Religioso Espiritual negativo; CREr = Coping Religioso
Espiritual razão; CREt = Coping
Religioso Espiritual total. Fonte: Dados da pesquisa.
A análise mostrou
correlação entre o CREn e a EDG moderada e significativa
(r = 0,707 p < 0,05) no GH, permitindo afirmar que o CREn
está associado ao aparecimento de quadros depressivos nos hemiparéticos.
Demonstrou-se que os
grupos em reabilitação ambulatorial apresentaram um CREp
moderado; apesar disso, o CREt foi baixo no grupo
parkinsoniano e médio no grupo hemiparético,
demonstrando que este grupo teve uma maior aproximação com a religiosidade e
espiritualidade; todavia o CREn foi maior e
significante nele quando comparado ao grupo parkinsoniano, o que mostra que
apesar da aproximação religiosa e espiritual, houve uma maior associação da
doença com possíveis punições divinas por algo realizado no passado.
Os pacientes
depressivos têm uma maior tendência de utilizar o CREn,
o que pode afetar sua aderência terapêutica e, consequentemente, na sua
recuperação, uma vez que se sentem culpados pelo estresse que estão passando,
resultando em maior morbilidade e mortalidade [8,18]. Existe uma associação da
depressão pós AVC com a localização da lesão na região frontal anterior
esquerda [19], e neste estudo, foi visto que no grupo hemiparético
mais de 70% foram diagnosticados com lesão na região frontal anterior esquerda,
o que pode ter influenciado no maior CREn [20].
A depressão que foi acusada
no grupo hemiparético é uma perturbação psiquiátrica
bastante reportada em pacientes neurológicos [19,21], além disso, este grupo
também mostrou um maior risco de queda, implicando num maior CREn. Esse resultado mostra que esses fatores podem ter sido
cruciais para a obtenção do impacto negativo na recuperação clínica [19-23],
apesar da FGCT oferecer efeitos positivos para ganhos funcionais e sociais
[24,25], vimos que existem outros fatores que precisam ser considerados, e que
as doenças que mais debilitam os indivíduos, geralmente, são as que podem
intensificar mais o desejo de aproximação com a religião e procura pelo consolo
espiritual.
Alguns estudos revelam
que a idade mais avançada, como visto no grupo parkinsoniano, contribui para
maior risco de depressão [26,27], todavia neste grupo foi notado um CREp moderado e CREn irrisório,
mostrando um bom enfrentamento e sem evidências de depressão. Esses resultados
podem estar relacionados ao bom Hoehn Yahr [28], já que as incapacidades funcionais ainda não os
limitam viver independentemente, sugerindo baixa implicação do CREn, já o grupo hemiparético é
evidente uma imagem corporal assimétrica [29], o que é mostrado como um fator
relevante para o aparecimento de quadros depressivos.
Faz-se necessário
atender esses indivíduos de uma maneira mais holística. A literatura tem dito
que o envolvimento da religiosidade e espiritualidade pode ser capaz de
atribuir desfechos de saúde física e emocional, atenuando possíveis declínios
cognitivos e aparecimento da depressão, o que contribui para atenuar os
agravantes decorrente da doença repercutindo na melhora da qualidade de vida
[30,31].
Todos os participantes
deste estudo explanaram a importância da religião e se diziam espirituais, e
estudos relatam que níveis mais elevados de espiritualidade, vivenciam melhor a
saúde e se adaptam com mais facilidade ao estresse [32,33]. Além disso, foi
visto que o risco de suicídio é menor em pessoas que utilizam o CRE no
desenvolver de uma doença [34].
Este foi o primeiro
estudo a avaliar o enfrentamento diante da doença de pacientes neurológicos
ambulatoriais. Apesar disso, são necessários mais estudos envolvendo o CRE em
parkinsonianos em fase mais avançada e o comportamento de hemiparéticos
utilizando abordagens de aspectos religiosos e espirituais associados, a fim de
verificar valores do uso do CRE associado a capacidade funcional e depressão,
além de entender melhor esse tipo de abordagem por parte dos profissionais
[35], e se o CREn está relacionado ao aparecimento da
depressão frente a incapacidade física ou se é a depressão que influencia no
aparecimento do CREn.
O resultado deste
estudo permitiu afirmar que as doenças incapacitantes podem ser mais agressivas
que as doenças neurológicas progressivas, uma vez que os hemiparéticos
apresentaram maior déficit da capacidade funcional com aumento do risco de
queda, índice de depressão leve apontando uma correlação positiva moderada com
o CREn, o que mostra uma maior proximidade desses
pacientes com a ER como forma de enfrentamento de suas incapacidades.