ARTIGO
ORIGINAL
Fotobiomodulação como
uma nova abordagem para o tratamento de traumas mamilares: um estudo piloto, randomizado
e controlado
Photobiomodulation as a new approach for the treatment of nipple traumas: a pilot study,
randomized and controlled
Angélica Rodrigues de
Araújo, Ft., D.Sc.*, Ana
Luiza Valério do Nascimento, Ft.**, Fernanda Souza da Silva, Ft., D.Sc.***, Juliana Moreira Camargos,
Ft.****, Marina Sarti Muradas, Ft.****, Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria, Ft.**
*Professora
do curso de Fisioterapia da PUC Minas, **Especialista em Fisioterapia aplicada
em Neurologia, PUC Minas, ***Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade
de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), ****Especialista em Fisioterapia
na Saúde da Mulher, PUC Minas
Recebido em 20 de
dezembro de 2011; aceito em 1 de outubro de 2012.
Endereço
de correspondência:
Angélica Rodrigues de Araújo, Centro Clínico de Fisioterapia PUC Minas, Av. 31 de Março, 500, prédio 46, 30535-600 Belo Horizonte
MG, E-mail: angelica@bios.srv.br; Ana Luiza Valério do Nascimento:
annaluizavn@yahoo.com.br; Fernanda Souza da Silva: nandasouzafisio@yahoo.com.br;
Juliana Moreira Camargos: jumcamargos@yahoo.com.br;
Marina Sarti Muradas: marinasarti@hotmail.com;
Natasha Valeska Maia Gonçalves de Faria:
natasha.puc@globo.com
Resumo
Objetivo: Avaliar a eficácia
de um dispositivo fototerápico desenvolvido especificamente para o tratamento
dos traumas mamilares. Material e métodos:
Quatro puérperas foram aleatoriamente alocadas em dois grupos: controle
(n = 4 mamas) e experimental (n = 4 mamas). O grupo
controle recebeu somente orientações de cuidados com as mamas e sobre técnicas
adequadas à amamentação. O grupo experimental (n = 4 mamas) recebeu,
além das orientações, as aplicações fototerápicas por meio do protótipo fotobiomodulador (varredura de 880-904 nm
e fluência de 4 J/cm²) durante 6 semanas. Foram
avaliados: a área da lesão mamilar, a dor (Escala Visual Numérica) e a
Qualidade de Vida (SF-36). Resultados:
As lesões mamilares das participantes foram inicialmente classificadas como
fissuras pequenas e médias. No grupo controle, 50% das lesões cicatrizaram completamente;
as demais reduziram de tamanho. No grupo experimental, o percentual de
cicatrização foi de 100%. O percentual de redução no tamanho das lesões
mamilares foi de 54,5% no grupo controle e de 74,1% no grupo experimental. A
diferença observada entre os grupos foi estatisticamente significativa
(p = 0,036). A intensidade da dor reduziu satisfatoriamente em ambos
os grupos. A média da redução da intensidade da dor no grupo controle foi de
73,6% e no experimental de 81,5% (p = 0,116). Conclusão: Os resultados deste estudo demonstraram que o protótipo fotobiomodulador foi eficaz no tratamento dos traumas
mamilares.
Palavras-chave: doenças mamárias,
aleitamento materno, fototerapia, cicatrização.
Abstract
Objective: To evaluate
the effectiveness of a specifically designed device for phototherapy treatment
of nipple trauma. Methods: Four women
were randomly assigned to two groups: control (n = 4 breasts) and
experimental (n = 4 breasts). The control group received only the
guidelines of the breast care and appropriate techniques for breastfeeding. The
experimental group (n = 4 breasts) received guidelines care and
phototherapy applications through luminous prototype (880-904 nm and fluence of 4 J/cm²) for 6 weeks. The area of nipple injury,
pain (Visual Numerical Scale) and quality of life (SF-36) were assessed. Results: The participants of nipple
injuries were classified as small and medium size. In the control group 50% of
the lesions healed completely and the others reduced in size. In the
experimental group the percentage of healing was 100%. The percentage reduction
in the size of nipple trauma was 54.5% in the control group and 74.1% in the
experimental group. The difference between groups was statistically significant
(p = 0,036). Pain intensity satisfactorily reduced in both groups.
The average reduction in pain intensity in the control group was 73.6% and
81.5% in the experimental (p = 0,116). Conclusion: The results of this study demonstrated that the
luminous prototype was effective in the treatment of nipple traumas.
Key-words: breast
diseases, breast feeding, phototherapy, wound healing.
Cuidados inadequados
no período gestacional e puerperal são fatores predisponentes ao surgimento de
problemas mamários, dentre os quais tem grande destaque os traumas mamilares
(fissuras e rachaduras) [1]. Essas lesões caracterizam-se como uma solução de
continuidade da pele na região do mamilo e estão altamente relacionadas à
inflamação da camada superior da derme [2]. Podem ser circulares ou
longitudinais e de tamanhos variados. A lesão circular localiza-se geralmente
na junção mamilo-areolar; a lesão longitudinal pode ser encontrada em qualquer
local do mamilo, vertical ou horizontalmente, dividindo-o em dois [3].
Os
traumas mamilares
são causados pela má posição da
criança em relação à mama, pelo
número e
duração inadequados das mamadas e pelo mecanismo de
sucção incorreto [1].
Normalmente aparecem entre a 2ª e 3ª semanas
pós-parto, sendo causa frequente
de dor mamária e de interrupção precoce da
amamentação [2-4], situações
prejudiciais tanto à saúde materna quanto à do
lactante.
O desmame precoce
traz prejuízos ao bebê, uma vez que o fornecimento de
nutrientes essenciais, de fatores de crescimento e de componentes imunológicos
presentes na composição do leite materno deixarão de ser ofertados. Para
a mãe, a interrupção da amamentação dificulta o processo de involução uterina,
aumenta o risco de sangramento após o parto, da incidência de câncer de ovário
e de mama, além de não proporcionar uma boa interação mãe-filho [5].
Atualmente, a
abordagem terapêutica dos traumas mamilares tem focado no reforço às
orientações de cuidados com a mama e às técnicas adequadas para amamentação
[6,7]. Essas medidas, entretanto, tem um caráter muito mais preventivo do que
curativo, não sendo, na maioria das vezes, suficientes para potencializar o
fechamento da lesão mamilar. Nesses casos, há a necessidade de técnicas mais
efetivas, pois quanto mais rápido ocorrer a
cicatrização, menores serão as chances do desmame precoce [4].
Riordar e Nichols [8] e Potter [9] relatam que apesar do melhor
tratamento para as lesões mamilares ainda ser a prevenção, estratégias que
sejam efetivas em tratá-las também são de extrema importância, pois quanto mais
rápido ocorrer a cicatrização, maiores serão as
chances de retorno à prática da amamentação e menores serão os riscos de
complicações maternas secundárias, como por exemplo, a mastite e os abscessos.
Dentre as condutas
comumente utilizadas para o manejo das fissuras e das rachaduras mamilares,
destaca-se a aplicação tópica de fármacos [10]. Essa terapia, além de muitas
vezes não apresentar resultados satisfatórios, tem como desvantagem a
necessidade de interrupção do ato de amamentar durante o período de tratamento
[8,9]. Nesse contexto, a acupuntura, as compressas quentes e frias [11] e o
ultrassom terapêutico [12] são citados pela literatura como outras opções para
o tratamento dos traumas mamilares. Os resultados dessas terapias, entretanto,
são ainda controversos [13,14].
Uma alternativa
potencialmente promissora para o tratamento das lesões mamilares é a
fototerapia. Esse recurso utiliza ondas eletromagnéticas na faixa espectral do
vermelho ao infravermelho próximo, que são aplicadas nos tecidos através de
dispositivos luminosos de baixa potência, como o LASER (Light Amplification by
Stimulated of Radiation) e o LED (Light
Emitting Diode).
Diversos trabalhos demonstram a eficácia desse recurso no aprimoramento da
cicatrização de feridas [15-20] e no controle da dor [21,22]. Esses efeitos,
entretanto, ainda são pouco investigados no tratamento dos traumas mamilares.
Os resultados
positivos dos trabalhos em que a luz é utilizada para o tratamento das lesões
mamilares [23,24], juntamente ao fato dessa terapia ser
confortável, de custo relativamente baixo e principalmente não levar a
interrupção da amamentação, tornam a fototerapia uma opção interessante para o
manejo das fissuras e rachaduras do mamilo.
O objetivo deste
estudo foi avaliar a eficácia de um dispositivo fototerápico desenvolvido
especificamente para o tratamento dos traumas mamilares.
Amostra
Quatro mulheres
puérperas, residentes na região metropolitana de Belo Horizonte, participaram
do estudo. Todas as participantes apresentavam diagnóstico médico de lesões
mamilares bilateral, caracterizadas como fissuras e ou rachaduras do mamilo.
Desta forma, oito mamas (n = 8) foram incluídas na pesquisa.
Para participarem do
estudo as mulheres deveriam apresentar trauma mamilar não infectado e ter idade
entre 18 e 35 anos. Como critérios de exclusão considerou-se:
1) presença de feridas infectadas (mastite) e/ou ingurgitamento mamário; 2)
história prévia de câncer; 3) uso de outras modalidades terapêuticas que
pudessem interferir na cicatrização das lesões e/ou no quadro álgico; 4)
história de fotossensibilidade; 5) déficit cognitivo.
As participantes
selecionadas para o estudo foram previamente esclarecidas sobre os
procedimentos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Procedimentos
e randomização
Este trabalho
trata-se de um estudo piloto, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (CAAE 0130.0.213.000-05/CAAE 0239.0.213.000-07).
As mamas foram
aleatorizadas por meio de um sorteio feito pela própria participante, para um
dos dois grupos de tratamento: controle (n = 4 mamas) e experimental (n = 4
mamas). O grupo controle foi formado pelas mulheres que receberam orientações
sobre cuidados com as mamas e técnicas adequadas para a amamentação. O grupo
experimental foi constituído pelas mulheres que receberam, além das
orientações, aplicações fototerápicas por meio de um dispositivo desenvolvido
especialmente para o tratamento de traumas mamilares. Ambos os grupos foram
acompanhados por seis semanas consecutivas.
Todas as
participantes foram submetidas a uma avaliação inicial, realizada por um
profissional cego quanto aos grupos de tratamento. A avaliação teve como
objetivos caracterizar a participante (idade, cor, número de filhos,
escolaridade, tipo de parto, experiência prévia com amamentação, tempo de
puerpério) e, especialmente, o mamilo (cor e tipo – protuso,
semiprotuso, invertido, pseudoinvertido
ou hipertrófico). Após a avaliação, as participantes eram encaminhadas para dar
início às intervenções, conforme seu grupo de tratamento.
Orientações
Todas as
participantes do estudo receberam orientações individuais sobre cuidados com as
mamas e técnicas adequadas para a amamentação. As participantes foram
orientadas para não usar cremes, sabonetes ou qualquer tipo de pomada ou
substância nos mamilos; utilizar sutiã com alças largas e firmes para ajudar na
sustentação das mamas; permanecer em posição confortável, com o corpo do bebê
totalmente voltado para o seu durante a amamentação; segurar a mama em “C” para
auxiliar a pegada do bebê na mama; esperar que o bebê esvazie a primeira mama
oferecida e só então passar para a mama contralateral; colocar a ponta do dedo
mínimo no canto da boca do bebê para auxiliar a retirada do mesmo da mama.
As informações foram
passadas verbalmente e reforçadas por um folder educativo na avaliação inicial,
na 3a e na 6a semanas do estudo, sempre por um mesmo profissional, cego quanto
ao grupo de tratamento da participante.
Fototerapia
Um dispositivo fotobiomodulador (patente PI0905068-0A2) foi desenvolvido
utilizando-se diodos emissores de luz, também conhecidos pela sigla em inglês
LED (Light Emitting
Diode), acoplados a uma peça anatomicamente
ajustada ao formato da mama humana (Figura 1). Os parâmetros utilizados para as
aplicações fototerápicas foram: área total de emissão de 1,44 cm²; modo de
emissão contínuo; potência de saída 10 mW; comprimento
de onda infravermelho (varredura de 880 – 904 nm);
fluência de 4 J/cm² e tempo de aplicação de 10 minutos/sessão.
O tratamento
fototerápico foi realizado três vezes por semana, em dias alternados, durante
seis semanas consecutivas, totalizando 18 sessões. Para as aplicações, o
dispositivo fotobiomodulador foi posicionado sobre a
mama, especificamente na região do mamilo, de forma que a radiação emitida
incidisse perpendicularmente na ferida. Previamente às aplicações, resíduos de
leite no mamilo eram retirados com auxílio de uma gaze. Para evitar a exposição
direta da luz aos olhos, óculos de proteção foram utilizados pelas
participantes e pelo terapeuta durante todo o período de aplicação do
dispositivo luminoso.
Figura
1 - Dispositivo fotobiomodulador
utilizado para o tratamento de traumas mamilares: aplicação em uma das
participantes do estudo.
Tamanho
e classificação das fissuras mamilares
As fissuras mamilares
foram medidas nas 1a, 3a, 6a, 9a,
12a, 15a e 18a sessões utilizando-se um
paquímetro digital Black Bull© e classificadas, no início e no
término do estudo de acordo com Pereira et al. [25].
Segundo os autores, o mamilo pode ser considerado quanto a sua integridade como
íntegro ou fissurado. Nesse último caso, a fissura pode ser classificada como
pequena (menor ou igual a 3 mm), média (menor ou igual
a 6 mm) ou grande (maior que 6 mm).
As medidas e a
classificação das fissuras foram realizadas por um pesquisador previamente
treinado para a realização dos procedimentos.
Dor
A intensidade da dor
foi avaliada utilizando a Escala Visual Numérica (EVN). A EVN foi aplicada nas
1a, 4a, 7a, 10a, 13a, 16a
e 18a sessões, sempre por um mesmo indivíduo, cego em relação ao
grupo de tratamento da participante. No grupo experimental, a avaliação da
intensidade dor antecedia a aplicação da fototerapia.
Qualidade
de vida
O impacto da presença
das fissuras e rachaduras mamilares na qualidade de vida das participantes foi
avaliado por meio do Questionário SF-36 (versão resumida), aplicado na primeira
(pré-tratamento), terceira (9a sessão) e última
(pós-tratamento) semanas do estudo.
Análise
estatística
Os dados obtidos foram
analisados descritivamente. A mediana das dimensões relativas (%) e absolutas
(mm) do tamanho das lesões e dos níveis de dor foi considerada para as
análises. O percentual de redução semanal no tamanho das lesões foi comparado
entre os grupos e as mudanças foram analisadas utilizando-se o Wilcoxon Signed Ranks Test. O nível de significância estatística foi
definido como p < 0,05.
A idade média das
mulheres participantes do estudo foi de 28 anos (mínima de 18 anos; máxima de
35 anos). O tempo de puerpério variou de 9 a 90 dias. O tipo de mamilo
apresentado foi predominantemente protuso e a maioria
das puérperas (3) relataram ter experiência prévia com a amamentação.
As lesões mamilares
das participantes foram inicialmente classificadas como fissuras pequenas e
médias. A média pré-tratamento do tamanho das
fissuras no grupo controle foi de 3,6 ± 2,6 mm e de 3,8 ± 1,7 mm no grupo
experimental. No grupo controle, 50% das lesões (2/4) evoluíram para
cicatrização completa; as demais reduziram de tamanho, passando de fissuras
médias para pequenas. No grupo experimental, o percentual de cura foi de 100% (4 mamilos classificados como íntegros pós-tratamento). Na
Figura 2 estão apresentadas a média do tamanho das fissuras nos grupos controle
e experimental, no início e no fim dos tratamentos.
Figura
2 - Tamanho médio das fissuras mamilares (mm)
nos grupos controle e experimental, pré e
pós-tratamento.
O percentual de
redução no tamanho das lesões mamilares foi de 54,5% no grupo controle e de
74,1% no grupo experimental. A diferença observada entre os grupos foi
estatisticamente significativa (Wilcoxon’s Test; p = 0,036).
Os percentuais de redução no tamanho das fissuras por semana e total em cada um
dos grupos podem ser visualizados na Figura 3.
Figura
3 - Percentual de redução no tamanho das
fissuras ao longo e no final dos tratamentos, nos grupos controle e
experimental.
A intensidade da dor
reduziu satisfatoriamente nos grupos controle e experimental. A média da
redução no grupo controle foi de 73,6% e no experimental de 81,5% (Wilcoxon’s Test: p = 0,116). Na Figura 4 é possível
visualizar os valores médios da intensidade da dor nos grupos controle e
experimental, no início e no fim dos tratamentos.
Figura
4 - Intensidade média da dor (EVN) nos grupos
controle e experimental, pré e pós-tratamentos.
Os domínios avaliados
pelo SF-36 estão representados na Figura 5. Dentre os vários domínios
avaliados, os que apresentaram maior impacto no grupo controle foram o aspecto
físico e a dor, enquanto no grupo experimental foi somente a dor. Em todos os
domínios investigados, o grupo experimental tendeu a apresentar a média inicial
dos scores mais altas e melhores do que as apresentadas pelo grupo controle.
Essa tendência se manteve em relação à média final dos scores. A maioria dos
domínios apresentou melhora satisfatória ao longo do estudo, tanto no grupo
controle quanto no experimental.
Figura
5 - Domínios avaliados pelo Questionário SF-36
nos grupos controle e experimental, pré e
pós-tratamentos.
A lesão mamilar é um
problema comum durante o período puerperal [1]. Essas lesões estão comumente
associadas à dor, ao desmame precoce e principalmente ao aumento do risco para
o desenvolvimento de mastite [4].
As intervenções realizadas no presente
trabalho, orientações e fototerapia, foram ambas capazes de promover a redução
no tamanho das lesões mamilares. Entretanto os resultados encontrados foram
significativos apenas para o grupo em que o dispositivo luminoso foi aplicado.
A melhora observada no grupo controle pode ser justificada pela adesão às
orientações de cuidado com a mama. Essa intervenção possibilita a retirada de
fatores que predispõem à ocorrência de fissuras mamilares, principalmente o
posicionamento e a pega inadequados do lactente [1,3,4].
Os melhores resultados observados no grupo experimental em relação ao processo
de cicatrização das lesões mamilares devem-se à aplicação da fototerapia.
Segundo a literatura, a luz na faixa espectral do vermelho ao infravermelho é
capaz de favorecer o reparo tecidual [16-20,26]. Esse benefício é consequente
aos efeitos fisiológicos da luz, dentre os quais se destacam: o estímulo à
síntese de ATP e de fatores de crescimento, o aumento da proliferação de
fibroblastos e da produção de colágeno [27].
A produção de novos
ATP ocorre rapidamente após a radiação tecidual com a luz, favorecendo a atividade
metabólica dos fibroblastos [13,28-30]. Os fibroblastos secretam fibronectina, proteoglicanos e
fibras colágenas (principalmente do tipo III). Franek
et al. [31] relatam que a fototerapia é
capaz de induzir a um aumento significativo dos índices de produção de colágeno
tipo III, 72 horas após o tratamento. Posteriormente, ocorre o processo de
remodelagem e fortalecimento do tecido neoformado e a
proporção de colágeno tipo I aumenta em relação ao colágeno tipo III. O
estímulo fototerápico favorece o processo de remodelagem e o desenvolvimento da
força tênsil [29,31], justificando a melhor
cicatrização observada no grupo experimental.
Outros importantes efeitos da fototerapia
que também podem justificar sua ação sobre o processo cicatricial são o
estímulo à microcirculação e à neovascularização [32]. Esses efeitos contribuem
para um melhor aporte de elementos nutricionais à lesão que, associados
principalmente ao incremento da produção de ATP, proporcionam um aumento na
velocidade mitótica das células, facilitando a multiplicação celular e a
formação de tecido de granulação [31].
As ações da luz sobre
os tecidos humanos são mediadas pela absorção da energia luminosa (fótons) no citocromo mitocondrial. Uma vez absorvida a luz, eventos
fotoquímicos e fotofísicos primários irão ocorrer na
mitocôndria, promovendo reações bioquímicas e/ou biofísicas. Alguns dos efeitos
gerados na mitocôndria em resposta à absorção da luz são mudanças no estado
redox e aceleração na transferência de elétrons, aumento da produção de
superóxido e a geração de oxigênio molecular [23,30,33].
Diversos estudos
demonstram que a terapia com luz é eficaz também na promoção de analgesia [21,22,29,33]. O estímulo à microcirculação local e as
alterações induzidas sobre as aferências nociceptivas e sobre o sistema nervoso central são algumas
das principais justificativas fisiológicas para o uso de dispositivos luminosos
na modulação da dor [34]. Segundo a literatura, a luz é capaz de induzir a
aumentos dos níveis de B-endorfina no fluido espinhal e da excreção urinária de
glicocorticóides e serotonina [29,33]. A diminuição
da liberação de substâncias alogênicas tais como
bradicinina, acetilcolina e prostaglandina-2, e um complexo mecanismo de
bloqueio eletrolítico das fibras nervosas são propostos como teorias para
explicar os efeitos induzidos pela terapia luminosa no controle da dor [29,33].
No presente estudo, o grupo tratado com a
terapia luminosa obteve maior percentual de redução na intensidade da dor
(81,5%) quando comparado com o grupo controle (73,6%). A diferença observada
entre os grupos não atingiu, entretanto, limites de significância estatística
(p = 0,116). O fato de a dor ser uma experiência multidimensional e
subjetiva e o instrumento utilizado para sua avaliação (EVN) discriminar apenas
a intensidade da dor podem ter contribuído para esse
achado.
Os efeitos
cicatrizantes e analgésicos da luz sobre os tecidos são dependentes dos
parâmetros luminosos de tratamento, principalmente do comprimento de onda (nm) e da fluência (J/cm2) [34]. No presente
estudo, os parâmetros luminosos utilizados (comprimento de onda infravermelho;
fluência de 4 J/ cm²) assemelham-se aos
encontrados na literatura. Ortiz et al. [17] e Simunovic et al.
[34] relatam que a aplicação da fototerapia no comprimento de onda
infravermelho promoveu incremento na proliferação de fibroblastos, aumento do
tecido epitelial, aumento da rede capilar, redução do tamanho das lesões
cutâneas e alívio da dor. Alguns autores citam que quando o objetivo da
intervenção luminosa incluir a potencialização da ação da bomba de sódio e
potássio, o estímulo à produção de ATP, o restabelecimento do potencial de
membrana, o aumento do metabolismo e da proliferação celular, fluências menores
que 10 J/cm2 e potência de 50 W ou menor devem ser utilizadas [35].
Estudos demonstram que fluências de 4 J/cm² promovem a
dinamização do processo cicatricial de tecidos biológicos [19,28] e efeitos
analgésicos [21,22,29,33].
Os resultados
encontrados nos domínios do questionário de qualidade de vida SF-36 sugerem que
as intervenções realizadas foram eficazes em promover melhoras na qualidade de
vida em ambos os grupos. Essa melhora pode estar relacionada à diminuição da
intensidade da dor e do tamanho das lesões mamilares, visualizados nos grupos
controle e experimental. No grupo controle, a melhora da qualidade de vida,
entretanto, não reflete a cura das fissuras. Nesse grupo apenas 50% das lesões
mamilares evoluíram para uma cicatrização completa. Potter [9] relata que
apesar do melhor tratamento para as lesões mamilares ainda ser a prevenção,
estratégias que sejam efetivas em tratá-las também são de extrema importância,
pois quanto mais rápido ocorrer a cicatrização,
maiores serão as chances de retorno à prática da amamentação e menores serão os
riscos de complicações maternas secundárias a estas lesões, como, por exemplo,
o desenvolvimento da mastite e dos abscessos. Nesse contexto, o tratamento
fototerápico utilizado no presente estudo destaca-se das orientações por ter
favorecido o fechamento completo das fissuras mamilares em todas as
participantes do grupo experimental.
O protótipo
desenvolvido para o tratamento das lesões mamilares mostrou-se prático, pois
foi confeccionado respeitando o formato anatômico para encaixe na mama humana
feminina. O conforto oferecido à paciente e ao terapeuta, a facilidade de
manipulação e a higienização do equipamento, a acoplagem adequada à área de
tratamento e a facilidade de transporte e acomodação no ambiente terapêutico
dinâmico, juntamente com os resultados positivos encontrados neste estudo
sugerem que esse dispositivo é uma alternativa promissora para o tratamento das
fissuras e rachaduras do mamilo.
Novos estudos são,
entretanto, necessários para avaliar a reprodutibilidade dos resultados
observados em uma amostra de tamanho maior e validar a eficácia do dispositivo fotobiomodulador para o tratamento das fissuras mamilares.
Os resultados do
presente trabalho sugerem que o protótipo emissor de ondas eletromagnéticas na
faixa espectral do infravermelho próximo, desenvolvido especificamente para o
tratamento de traumas mamilares, foi um instrumento eficaz para o tratamento
clínico das lesões mamilares das puérperas participantes deste estudo. A
aplicação deste protótipo proporcionou a aceleração do processo de cicatrização
nas lesões das lactentes que foram submetidas a esta aplicação.
Agradecemos à equipe
do Laboratório de Bioengenharia da UFMG, em especial Sara Del Vecchio e
Maurício Ferrari Santos Corrêa, e à Bios Serviços e
Comércio pelo auxílio no desenvolvimento do protótipo luminoso.