REVISÃO
Terapia assistida por
animais nos cuidados paliativos
Animal assisted therapy in palliative care
Michele Mendes Coelho
Lima*, Carla Lopes Rodrigues Leotty*, Magda Patrícia Furlanetto**
*Fisioterapeuta, Centro
Universitário Ritter dos Reis (UniRitter),
**Orientadora, Professora do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter)
Recebido em 16 de
dezembro de 2019; aceito 8 de abril de 2020.
Correspondência: Michele Mendes Coelho
Lima, Rua Professor Guerreiro Lima 345 Partenon 91530190 Porto Alegre RS
Michele Mendes Coelho
Lima: michele.m.coelho@hotmail.com
Magda Patrícia Furlanetto: magdafurlanetto@hotmail.com
Carla Lopes Rodrigues Leotty: carlaleotty@gmail.com
Resumo
Introdução: Segundo definição da
Organização Mundial da Saúde, Cuidados Paliativos (CP) é uma abordagem que
promove a qualidade de vida de pacientes e familiares, que enfrentam doenças
ameaçadoras da continuidade da vida e requer a atuação de uma equipe
multidisciplinar. Sendo assim diversas terapias alternativas estão sendo exploradas,
entre elas a Terapia Assistida por Animais (TAA), uma intervenção com objetivo
de desenvolver e melhorar aspectos sociais, físicos, emocionais e cognitivos,
desenvolvida junto ao profissional da saúde, utilizando um animal como
facilitador. Objetivo: Verificar quais benefícios podem ser atribuídos
aos pacientes em CP, através da TAA. Métodos: Revisão integrativa de
literatura realizada através de busca nas bases de dados PubMed,
BVS, Science Direct, Cochrane Library e PEDro, entre
os anos de 2009 a 2019. Resultados: Foram incluídos 6 artigos conforme
os critérios de elegibilidade. A população mostrou-se principalmente com
adultos hospitalizados. Foi avaliado comportamento, humor, emoções, ansiedade,
estresse, FC, PA e dor. Contudo, os métodos de avaliação foram empíricos na
maioria dos estudos, sendo considerados metodologicamente fracos e apenas um
moderado. Conclusão: Quanto aos benefícios produzidos pela TAA em
pacientes em CP, observou-se resposta positiva nas funções físicas, emocionais
e psicológicas. Contudo mais pesquisas são necessárias com níveis maiores de
evidência científica.
Palavras-chave: terapia assistida por
animais, terapia facilitada por animais, cuidados paliativos.
Abstract
Introduction: As defined by World Health Organization, palliative care (PC) is an
approach that promotes quality of life for patients and their families, who
face life-threatening diseases and require the performance of a
multidisciplinary team. Thus, several alternative therapies are being explored,
among them Animal-Assisted Therapy (AAT), an intervention aimed at developing
and improving social, physical, emotional and cognitive aspects, developed with
the health professional, using an animal as a facilitator. Objective: To verify
which benefits can be attributed to patients in PC through AAT. Methods:
Integrative review of literature in the databases Pubmed,
BVS, Science Direct, Cochrane Library and PEDro,
between the years 2009 and 2019. Results: Six articles were included according
to the eligibility criteria. The population was mainly hospitalized adults.
Behavior, mood, emotions, anxiety, stress, HR, BP and pain were evaluated.
However, the methods of evaluation were empirical in most studies, being considered
methodologically weak and only one moderate. Conclusion: Regarding the
benefits produced by AAT on patients in PC, a positive response was observed in
physical, emotional and psychological functions. Yet more research is needed
with higher levels of scientific evidence.
Keywords: animal assisted therapy, animal facilitated therapy, palliative care.
Nas últimas décadas,
observa-se um envelhecimento da população e, consequentemente, o aumento da
incidência de câncer e de outras doenças crônicas. O avanço terapêutico e
tecnológico fez com que muitas enfermidades mortais se tornassem doenças
crônicas, levando a longevidade de seus portadores. No entanto, apesar do
acúmulo de conhecimento de pesquisadores, a morte continua sendo um fato,
ameaçando o ideal de restauração da saúde e preservação da vida, para o qual os
profissionais são preparados [1]. Desta forma, o envelhecimento da população,
apesar de ser um dos maiores triunfos da humanidade, tornou-se um grande
desafio [2,3].
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), dos 58 milhões de mortes por ano no mundo,
34 milhões são por doenças crônico-degenerativas incapacitantes e incuráveis. O
Brasil assiste a um milhão de óbitos por ano, dos quais 650 mil deles por doenças
crônicas [4]. Neste âmbito, o papel dos cuidados paliativos (CP) tem assumido
novas dimensões. Segundo a definição da OMS de 2002 e reafirmada em 2017, é uma
abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e familiares, que
enfrentam doenças ameaçadoras da vida, prevenindo e aliviando o sofrimento,
através da identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e de outros
problemas de natureza física, psicossocial e espiritual [5].
Estima-se que em 2005,
mais de 1,2 milhão de pessoas e suas famílias receberam tratamento paliativo
nos EUA, onde a medicina paliativa já era uma especialidade reconhecida [5]. No
Brasil, no entanto, é recente a normatização. O Ministério da Saúde publicou no
dia 23 de novembro de 2018, uma resolução que normatiza a oferta de CP como
parte dos cuidados continuados integrados no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS) [6]. A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) é uma sociedade
multiprofissional criada em 2005 com o objetivo de promover o seu desenvolvimento
no Brasil e realizou recentemente um levantamento sobre os serviços de CP
disponíveis no país, encontrando até agosto de 2018, 177 serviços de CP e a
análise deste mapeamento evidencia que mais de 50% dos serviços de CP do país
iniciaram suas atividades na década de 2010, demostrando que esta assistência
ainda é recente no país [5]. Por se tratar de uma abordagem complexa e que tem
como objetivo atender a demanda do paciente e da família prioriza a presença de
enfermeiros, psicólogos, médicos, assistentes sociais, farmacêuticos,
nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais,
dentistas e assistentes espirituais [7].
Neste contexto, o papel
do fisioterapeuta consiste em, a partir de uma avaliação específica,
estabelecer um programa de tratamento adequado com utilização de recursos,
técnicas e exercícios, objetivando, por meio de abordagem multiprofissional e
interdisciplinar, alívio do sofrimento, da dor e outros sintomas estressantes
[1]. Diversas terapias alternativas estão sendo exploradas, entre elas a
Terapia Assistida por Animais. Estudos como o de Mims
e Waddell apontam os benefícios das Intervenções
Assistidas por Animais (IAAs) e relatam que, após
acariciar um animal de terapia, houve a liberação de endorfina, fazendo com que
as pessoas se sentissem melhor, diminuindo a sensação de dor, depressão e
solidão [8]. Também foi observado por Odendaal e Meintjes que acariciar um cão ou gato estimulou a produção
de ocitocina [9]. Um outro estudo descobriu que o medo dos pacientes em
tratamento médico reduziu 37% após uma sessão do TAA [10].
Intervenções assistidas
por animais (IAA) são intervenções estruturadas e orientadas que incorporam
animais na saúde, educação e serviço humano com a finalidade de ganhos
terapêuticos e melhor saúde e bem-estar [11]. São classificadas em três
categorias: Atividades assistidas por animais (AAA) que se trata do
desenvolvimento de atividades de entretenimento, recreação e motivação;
Educação assistida por animais (EAA) que atua junto do educador para a promoção
da aprendizagem, do desenvolvimento psicomotor e psicossocial e a Terapia
Assistida por Animais (TAA) que se trata de uma intervenção direcionada, com
objetivo de desenvolver e melhorar aspectos sociais, físicos, emocionais e
cognitivos desenvolvida com profissional da saúde [12].
Diante dos benefícios
conhecidos da interação homem-animal, este estudo busca verificar a efetividade
da TAA no cuidado com o paciente portador de doença ameaçadora da vida, tendo
como objetivo revisar sistematicamente os estudos publicados nos últimos 10
anos a respeito do impacto dos animais em pacientes em cuidados paliativos.
Trata-se de uma revisão
integrativa de literatura realizada através de busca bibliográfica digital em
artigos científicos publicados em revistas impressas e eletrônicas entre os
anos de 2009 a 2019, nas bases de dados eletrônicas PubMed,
BVS, Science Direct, Cochrane Library e PEDro. Foram
selecionados estudos com idioma de publicação em português, espanhol e inglês
em diferentes estratégias para assegurar uma busca abrangente conforme disposto
no Tabela I. Pesquisas manuais também foram realizadas com base nas referências
dos estudos incluídos. A questão norteadora deste estudo foi verificar quais benefícios
podem ser atribuídos aos pacientes em cuidados paliativos através da terapia
assistida por animais. Esta pergunta foi capaz de gerar descritores referentes
à população, tipo de intervenção de interesse e o contexto.
Tabela I - Descritores e operadores booleanos utilizados na busca em bases de dados.
A avaliação da
qualidade dos estudos foi realizada através da escala Downs
& Black que foi desenvolvida com intuito de preencher lacunas na avaliação
de estudos que não sejam ensaios clínicos randomizados. Esta escala é
reconhecida como “metodologicamente forte” e é mais flexível que outras, já que
permite avaliar de forma credível, um maior leque de tipos de estudo. Tem
também a vantagem de ser possível avaliar e destacar as
potenciais forças e fraquezas dos estudos em avaliação. Foram
considerados metodologicamente fortes os trabalhos que
apresentassem escore igual ou superior a 80% da pontuação máxima,
escores entre 60 e 80% como moderados e aqueles inferiores a 60% foram
considerados metodologicamente insatisfatórios (fracos). Para o presente
estudo, as questões referentes aos ensaios clínicos (8,9,14,15,23,24,26,27) não
foram utilizadas. Deste modo, foram considerados 19 itens da escala original,
fornecendo uma pontuação máxima de 20 pontos, visto que a pergunta 5 permite
pontuação de 0 a 2 [13].
Na busca inicial, foram
encontradas 53 referências no total. 25 artigos na base de dados BVS, na
Science Direct 13, no PubMed 13, na Biblioteca
Cochrane 2 artigos e na base de dados PEDro não foram
localizados estudos com os termos utilizados. A figura 1 representa o
fluxograma de pesquisa relatado e, dos 6 selecionados, 3 revisões [14-16], 2
estudos de coorte [17,18] e 1 relato de experiência [19], descritos no presente
trabalho.
Figura 1 - Fluxograma de
seleção dos estudos. Prisma, 2009 [20].
Características dos
estudos incluídos
Foram encontrados
estudos sobre TAA e CP na maioria das publicações internacionais. A população
mostrou-se principalmente adultos hospitalizados. O número de participantes
variou de 10 a 52 pacientes. Nestes estudos também são abordados fatores como o
tipo e tempo de intervenção, animal utilizado, bem como a implicação da
presença do animal nos aspectos físicos e emocionais dos participantes. Desta
forma, foram objetos desta revisão 6 artigos listados na Tabela II,
caracterizados por autor e ano, tipo de estudo, tamanho amostral, público alvo,
número e tipo de instituições pesquisadas e o local de realização do estudo.
Tabela II - Fontes bibliográficas
identificadas, tipo de estudo, características de amostra, número de
instituições pesquisadas e local de realização do estudo.
N/I = Não informado; CP =
Cuidados Paliativos.
Avaliação do risco de
viés dos estudos
No que se refere às
pontuações obtidas por meio da Escala Metodológica Downs
and Black [13], os estudos incluídos obtiveram média
de 9,5 ± 2,81 considerando a pontuação máxima de 20 pontos. Dentre os critérios
metodológicos que mais apresentaram falhas, alude-se à omissão das
características dos pacientes perdidos durante o seguimento do estudo, não
detalhamento das distribuições dos principais fatores de confusão, a ausência
de testes estatísticos e de grupo controle nas amostras, o déficit de
representatividade da população de interesse, aspectos estes relacionados à
validade interna (viés) e externa dos estudos. Dos 6 trabalhos analisados, 1
artigo apenas obteve uma pontuação entre 60 e 80%, sendo considerado como
metodologicamente moderado de acordo com os critérios descritos, os outros 5
artigos obtiveram escores inferiores a 60%, portanto foram considerados
metodologicamente insatisfatórios (fracos) (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Percentual obtido
por meio da escala Downs and
Black para os trabalhos selecionados.
Análise dos desfechos
Os resultados obtidos
em relação aos métodos de avaliação, análise dos desfechos, resultados e
principais conclusões dos estudos selecionados estão dispostos na Tabela III.
Tabela III - Resultados
obtidos em relação aos métodos de avaliação, análise dos desfechos, resultados
e principais conclusões. (ver PDF em anexo).
Foram objetos desta
revisão 6 artigos, caracterizados por três revisões da literatura, dois estudos
de coorte e um relato de experiência que avaliaram comportamento, humor,
emoções, ansiedade, estresse, FC, PA e dor. Em termos metodológicos, de acordo
com o Check list Downs and Black, apenas um
dos artigos avaliados apresenta escore moderado, o restante com escore
considerado insatisfatório. Poucos critérios foram atendidos. Dentre os
indicadores de qualidade ausentes, destacam-se a descrição objetiva dos fatores
de confusão; relatos de eventos adversos importantes ao estudo; o número de
participantes não ser representativo do universo analisado; relato de perdas e
se tal fato foi levado em consideração; a impossibilidade do cegamento para os
participantes; testes estatísticos e grupo controle nas amostras. Todos estes
fatores põem em risco os achados de alguns estudos, os quais devem ser
analisados com cautela.
Dentre os estudos
apresentados nesta revisão o cão foi o animal mais utilizado como instrumento
terapêutico. Isso corrobora as informações disponíveis na literatura sobre TAA.
Kobayashi [21] associa isso ao fato de que o cão apresente natural afeição
pelas pessoas, é adestrado facilmente, cria respostas positivas ao toque e
possui uma grande aceitação por parte das pessoas. Porém, existe uma confusão
entre os termos “cão de terapia” e “cão de serviço”, uma vez que esses termos
são distintos [8]. Os animais de serviço são treinados individualmente para
trabalhar ou realizar tarefas para pessoas com deficiências. Os exemplos
incluem cães-guia para deficientes visuais, cães ouvintes para pessoas surdas ou
cães treinados para fornecer assistência de mobilidade ou comunicar alertas
médicos. De acordo com o Americans with Disabilities Act (ADA), esses animais são permitidos para acompanhar
uma pessoa com deficiência em quase qualquer lugar que o público em geral seja
permitido, incluindo restaurantes, empresas e aviões. Já os animais de terapia
não podem entrar em empresas com políticas “sem animais de estimação” ou
acompanhar seus manipuladores na cabine de um avião, independentemente de sua
designação de animais de terapia. Em ambos os casos, podem proporcionar
benefícios físicos, psicológicos e emocionais àqueles com os quais eles
interagem, sejam ambientes hospitalares, de assistência médica e/ou escolas
[11].
Quatro dos seis estudos
incluídos nesta revisão apresentam uma amostra de adultos ou idosos em cuidados
paliativos [15,17-19]. Sabe-se que, de fato, a maioria das mortes podem ser
potencializadas pelo envelhecimento da população e ocorrerem em geral por
doenças crônicas ou de progressão lenta com períodos alternados de crise até
resultar na morte [22,23]. Porém, quando a patologia em questão é o câncer,
estudos com adolescentes e crianças mostram que mesmo sendo uma doença
possivelmente curável em casos de diagnóstico precoce e tecnologias mais avançadas,
ainda, assim, aproximadamente 25% deste público não consegue obter remissão e
cura. Tal fato culmina, por várias vezes, a inclusão de faixas etárias mais
jovens, em programas de cuidados paliativos [24]. Recentemente, pesquisadores
relataram a melhora psicológica e emocional do convívio homem e animal de
estimação, sendo observada uma melhor qualidade de vida. Neste mesmo estudo,
foi igualmente observada uma diminuição das tensões entre os membros da
família, com aumento da compaixão, inclusive no convívio social, comprovando a
eficácia da TAA em diferentes ambientes e entre pacientes de todas as idades
[25,26]. Estes dados corroboram os resultados demonstrados no presente estudo
no qual a presença de um animal, independente da faixa etária do paciente,
mostrou melhora em suas funções fisiológicas e emocionais.
No estudo analisado com
melhor, porém moderado, rigor metodológico desta revisão, Schmitz et al.
[17] sugerem que os pacientes podem se beneficiar potencialmente da TAA em
termos de comunicação, respostas emocionais positivas, relaxamento físico ou
motivação para ativação física, sendo um complemento valioso e prático para o
trabalho terapêutico interdisciplinar de cuidados paliativos no ambiente
hospitalar. O estudo de Cardoso et al. [7] corrobora estas informações e
demonstra a importância da equipe multiprofissional para garantir qualidade de
vida e conforto ao paciente e sua família. Fülber
[27], entretanto, sugere que a companhia animal pode estar associada com a
aquisição de doenças no ambiente hospitalar e ressalta a importância de
considerar riscos e complicações que as zoonoses podem acarretar para pacientes
e instituições.
No estudo realizado com
idosas institucionalizadas foram observados benefícios diretos como a melhora
de humor, além da facilitação da comunicação e interação com o grupo agregando
benefícios não apenas às participantes, mas também aos profissionais envolvidos
[28]. Nesta mesma linha, Caetano [29] se refere a TAA como uma terapia que
auxilia na descontração do ambiente hospitalar, na melhoria das relações
interpessoais e na facilitação da comunicação entre pacientes, familiares e
equipe de saúde, promovendo uma melhor relação. Em uma revisão da literatura
realizada por Lima [30], são apresentados achados que concluem que a Terapia
Assistida por Animais é uma técnica utilizada com pacientes diversos e que
apresentam benefícios físicos, emocionais e mentais, incluindo entre outros,
estímulo e motivação em atividades físicas.
Os estudos incluídos na
revisão da literatura de Gilmer et al. [14]
identificaram uma redução na PA e FC de crianças submetidas a algum tipo de
intervenção com os animais. As atividades incluíam acariciar, tocar e escovar o
cão ou, simplesmente, a presença do animal no ambiente ambulatorial durante um
exame físico. Da mesma forma, Vaccari & Almeida constatam que, além dos
efeitos psicológicos, há diminuição da frequência cardíaca e da pressão
arterial [31]. Harper et al. [32] demonstram que pacientes submetidos à artroplastia total de quadril ou de joelho obtiveram
menores níveis de dor após acariciar e conversar com um cão durante 15 minutos
na internação. A TAA também facilitou o retorno da vigilância e da atividade
após a anestesia, atuando na melhora da percepção da dor, resposta pré-frontal
e cardiovascular adaptativa quando aplicada em crianças nos pós-cirúrgico
imediato (2 horas PO) em um contato de 20 minutos com um cão [33].
Neste mesmo contexto,
diversos estudos confirmam os achados deste estudo [14,15,18], sugerindo que a
TAA é efetiva para diminuição de sintomas diversos, em especial, a dor. Quatro
dos estudos incluídos na presente revisão avaliaram sintomas psicológicos,
durante as intervenções, apresentando resultados favoráveis na melhora do humor
e redução do estresse e ansiedade [14-17]. Em uma revisão sistemática sobre
Intervenções Assistidas por Cães na área da saúde, de 18 artigos incluídos, 6
deles examinaram o estresse e o humor e, em suma, sugerem que este tipo de
intervenção pode reduzir o estresse e afetar positivamente o humor [34].
Como limitações, este
estudo apresenta número amostral baixo, especialmente pelo fato de que grande
parte do acompanhamento de pacientes em CP é realizada em ambiente hospitalar
e, considerando a escassez de trabalhos realizados, deve-se observar os riscos
de infecções pela presença de animais neste ambiente e a pouca preparação das
equipes para esse tipo de intervenção. Ainda assim, apesar da qualidade
metodológica dos estudos não apresentar boas evidências, todos os estudos
apresentados nesta revisão citaram diversos benefícios da TAA em diferentes
áreas sugerindo que há uma concordância entre os profissionais da área da saúde
sobre a potencialidade da ação benéfica do contato dos pacientes em CP e
animais. Além disso, poucos estudos utilizaram escalas adequadas de avaliação,
testes estatísticos ausentes, bem como a falta de ensaios clínicos,
especialmente os randomizados e controlados onde informações importantes como
tempo de acompanhamento, frequência da intervenção e propriedade do animal não
sejam omitidos.
Como principais achados
deste estudo, foram observadas diversas respostas positivas nas funções física,
emocional e psicológica dos pacientes em CP com o uso da TAA. Entre estes,
encontram-se diminuição da ansiedade e estresse, percepção da dor, melhora do
humor e das relações interpessoais e na facilitação da comunicação entre
pacientes, familiares e equipe de saúde, levando assim a uma sensação de
bem-estar. Contudo, mais pesquisas são necessárias, com maiores amostras e com
níveis maiores de evidência científica. Além disso, a realização de
intervenções de TAA em CP, onde o fisioterapeuta se mostre mais presente dentro
da equipe multidisciplinar, utilizando o animal como um facilitador para resultados
terapêuticos pode ser ampliado.