REVISÃO
Cinesioterapia aplicada
após a cirurgia no tendão da mão: estudo de qualidade metodológica
Kinesiotherapy applied after hand tendon surgery: methodological quality
study
Tatiana Araújo da
Silva*, Camila Lemos*, Higo da Silva Lopes**,
Hércules Lázaro Morais Campos, Ft., M.Sc.***
*Graduanda do 5°
período de Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas UFAM, Instituto de
Saúde e Biotecnologia ISB, Coari/AM, **Graduando do 8° período de Fisioterapia
da Universidade Federal do Amazonas UFAM, Instituto de Saúde e Biotecnologia
ISB, Coari/AM, ***Docente da Universidade Federal do Amazonas UFAM, Instituto
de Saúde e Biotecnologia ISB, Coari/AM, Mestre em Fisioterapia, Doutorando em
Saúde Coletiva
Recebido em 31 de
janeiro de 2020; aceito em 20 de abril de 2020.
Correspondência: Tatiana Araújo da
Silva, Rua Travessa Raimundo Mota, Coari AM
Tatiana Araújo da Silva:
tatyassara@gmail.com
Camila Lemos:
lemoscamila2502@gmail.com
Higo da Silva Lopes:
higo.lopes17@gmail.com
Hércules Campos:
herculeslmc@hotmail.com
Resumo
Introdução: As lesões nos tendões
flexores (FTI) atingem as mãos e apresentam um desafio para a equipe
multidisciplinar. Objetivo: Buscou-se em ensaios clínicos a aplicação da
cinesioterapia em recuperar a função das mãos após lesão tendinosa. Métodos:
Para a construção deste estudo foi realizada uma revisão da literatura baseada
em artigos, que abordavam a temática de cinesioterapia aplicada a cirurgia no
tendão da mão. Resultados: Os estudos encontrados aplicaram a
cinesioterapia com programas de exercícios e mobilização articular em jovens e
adultos que passaram por cirurgia no tendão da mão, auxiliando na recuperação
funcional de acordo com a zona acometida. Conclusão: A cinesioterapia
deve ser aplicada para recuperação funcional da mão após lesões tendinosas, no
entanto, há uma enorme escassez quanto às publicações de ensaios clínicos bem
conduzidos que direcionem o trabalho do fisioterapeuta.
Palavras-chave: cinesioterapia,
cirurgia, tendão, reabilitação.
Abstract
Introduction: Flexor tendon injuries of the hands is a challenge to the
multidisciplinary team. Objective: The aim of the clinical trials was to apply
kinesiotherapy to recover hand function after tendon injury. Methods: A
literature review was performed based on articles that addressed the theme of
kinesiotherapy applied to hand tendon surgery. Results: The studies
found applied kinesiotherapy with exercise programs and joint mobilization in
young and adults who underwent surgery on the tendons of the hand, assisting in
functional recovery according to the affected area. Conclusion:
Kinesiotherapy should be applied for functional recovery of the hand after
tendon injuries, however, there is a huge shortage of publications on
well-conducted clinical trials that guide the physiotherapist's work.
Keywords: kinesiotherapy, surgery, tendon, rehabilitation.
As lesões nos tendões
flexores (FTI) são geralmente ocasionadas nas mãos e apresentam um desafio para
a equipe multidisciplinar [1]. As lesões dos tendões da mão são classificadas
de acordo com a zona que definirá também o comprometimento e recuperação
funcional desse membro, a zona I refere-se as lesões distais com a inserção do
tendão flexor superficial; já a zona II tem início do túnel osteofibroso,
polias fibrosas no nível da articulação metacarpo falangeana até a inserção dos
tendões superficiais; a zona III abrange a borda distal do ligamento anterior
do carpo no início do túnel osteofibroso; na zona IV
inclui o próprio túnel do carpo; a zona V compreende a porção do tendão do
antebraço em seu terços distais e médios e a zona VI que corresponde a porção
muscular dos flexores no terço médio e proximal do antebraço, porque ele
considera corretamente que uma lesão no nível muscular também significa perda
de flexão distal dos dedos [2]. FTI na zona II são mais graves, pois afetam a
função de preensão e seu tratamento acaba tornando-se complexo [1].
Anualmente mais de
320.000 casos de lesão no tendão são relatados nos Estados Unidos tendo como
principal causa o trauma ou exercícios excessivos [3]. Além de afetar
consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes, até o presente momento não
existem soluções eficazes para as lesões tendíneas e
cerca de 30 a 40% dos pacientes continuam apresentando complicações, como
limitações dos dedos [4].
Segundo a Sociedade
Brasileira de Cirurgia da Mão (2019), as lesões na mão são partes do corpo mais
afetadas por acidentes de trabalho e esse fator tem crescido consideravelmente
no Brasil a cada ano e tem colocando o país em 4º lugar no ranking, ficando atrás
da China, Índia e Indonésia [5]. Além disso, a lesão na mão tem ocupado uma
grande porcentagem entre os serviços de emergência prestados pelos serviços de
cirurgia plástica [6].
A Fisioterapia atua em
conjunto para reabilitação da lesão do tendão da mão, pois o resultado que
acomete os tendões flexores depende da combinação bem-sucedida de uma correta
cirurgia e de um protocolo supervisionado por um fisioterapeuta que tenha
experiência em lesões nas mãos e a total cooperação do paciente e familiares
[7].
Realizou-se uma revisão
integrativa da literatura em ensaios clínicos que aplicaram cinesioterapia em
jovens e adultos com cirurgia no tendão da mão, buscando os programas de
exercícios terapêuticos mais eficazes para a prática clínica.
Estratégia de pesquisa
e seleção dos estudos
Este estudo foi
realizado a partir de uma revisão da literatura em ensaios clínicos dos dias 25
de setembro de 2019 até o dia 26 de outubro. Utilizaram-se as seguintes
palavras-chaves em inglês: “Tendon surgery hand physiotherapy”,
“Tendon surgery hand therapeutic exercise”, "Tendon surgery hand kinesiotherapy",
"Tendon surgery hand treatment", "Tendon surgery hand dressing” “Tendon surgery hand rehabilitation" e “Tendon surgery hand physical therapy”,
nas bases de dados PEDro, Pubmed
e Scielo, e os maiores números de estudos encontrados
foram em inglês nos bancos de dados da Pubmed. A
identificação e seleção dos estudos foram de acordo com os títulos e resumos
envolvendo as palavras-chave. Notou-se que muitos outros estudos não se
caracterizavam com os critérios de inclusão para avaliação, formalizando assim
uma nova revisão de texto completa para a elegibilidade usando os critérios de
inclusão/ exclusão.
Avaliação metodológica
dos estudos
Alguns estudos que
cumpriram os critérios de inclusão e não constavam nota foram avaliados por
mais de um examinador de forma independente quanto à qualidade metodológica da
escala PEDro, a mais usada na área da reabilitação.
Essa escala foi desenvolvida pela Physiotherapy Evidence Database constituindo
uma pontuação total de até 10 pontos, incluindo 11 critérios de avaliação.
Esses critérios estão baseados da seguinte maneira: 1) Os critérios de
elegibilidade foram especificados; 2) Os sujeitos foram aleatoriamente
distribuídos por grupos (num estudo cruzado, os sujeitos foram colocados em
grupos de forma aleatória de acordo com o tratamento recebido (1 ponto); 3) A
alocação dos sujeitos foi secreta (1 ponto); 4) Inicialmente, os grupos eram
semelhantes no que diz respeito aos indicadores de prognósticos mais
importantes (1 ponto); 5) Todos os sujeitos participaram de forma cega no
estudo (1 ponto); 6) Todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-no
de forma cega (1 ponto); 7) Todos os avaliadores que mediram pelo menos um
resultado-chave fizeram-no de forma cega (1 ponto); 8) Mensurações de pelo
menos um resultado-chave foram obtidas em mais de 85% dos sujeitos inicialmente
distribuídos pelos grupos (1 ponto); 9) Todos os sujeitos a partir dos quais se
apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de
controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise
dos dados para pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento”
(1 ponto); 10) Os resultados das comparações estatísticas intergrupos foram
descritos para pelo menos um resultado-chave (1 ponto); 11) O estudo apresenta
tantas medidas de precisão como medidas de variabilidade para pelo menos um
resultado-chave (1 ponto); que correspondem a 11 critérios.
Os detalhes
metodológicos do estudo estão descritos no fluxograma abaixo (figura 1). Após
avaliação utilizando a escala PEDro, os estudos
apresentaram baixa qualidade metodológica, apesar disso eles permaneceram no
estudo, pois são escassos os estudos referentes a cinesioterapia aplicada após
cirurgia de tendão da mão.
Figura 1 - Fluxograma do
processo de seleção de estudos.
Os estudos encontrados
aplicaram a cinesioterapia com programas de exercícios e mobilização articular
em jovens e adultos que passaram por cirurgia no tendão da mão, auxiliando na
recuperação funcional de acordo com a zona acometida. A descrição dos estudos
na qual contém a zona acometida, o efeito terapêutico da intervenção e a nota
metodológica pela PEDro estão descritos no quadro
abaixo.
Tabela I - Programas de exercícios terapêuticos para
adultos com lesão na mão. Resumo de evidências. (ver PDF em anexo)
Os ensaios clínicos
apresentaram pacientes com lesões tendinosas com idade que variou de 15 a 75
anos. Em geral, todos os pacientes que participaram dos estudos tiveram a zona
de lesão da mão classificada, a mais prevalente no estudo de Spark et al. [9] foi a zona V com (40%) dos
participantes sendo acometidos pela lesão. Porém, nos estudos de Farzad et al. [8] houve uma predominância maior na zona
2, entretanto, no estudo de Rigó et al. [10]
não teve uma relevância entre as zonas, apenas uma variação entre as zonas de I
a III.
Os resultados clínicos
encontrados revelam que as aplicações da cinesioterapia com programas de
exercícios ativos, passivos controlados, resistidos e com mobilização são
eficazes para pacientes com cirurgia no tendão da mão seja ele de duração de
curto ou longo prazo. Todos estes estudos apresentaram protocolos de exercícios
terapêuticos dos tipos ativo passivo e controlado e resistidos, entre estes
incluem exercícios de flexão passiva, extensão ativa e flexibilidade, todos
proporcionaram resultados positivos imediatos aos pacientes [8-10].
Segundo Rigó et al. [10] e Farzad et
al. [8], a fisioterapia da mão com exercícios imediatos e mobilização para
jovens e adultos durante 12 semanas após cirurgia no tendão da mão, mostrou-se
eficaz para ganho de ADM (amplitude de movimento) e ganho de força, pois a
mobilização precoce diminui as aderências.
Kleinert projetou uma
combinação que envolve a ação da flexão passiva do dedo, extensão ativa e talas
dinâmicas com uso de elástico tração Kleinert et
al. [11]. Entretanto, esse regime foi modificado devido a incorporação de
polias na palma da mão com intuito de redirecionar elásticos [12].
Estudos de Farzad et al. [8] reforçam a importância do
exercício terapêutico e a mobilização precoce, após cirurgia no tendão. A
mobilização precoce do tendão pode ser de forma ativa ou passiva, os protocolos
de mobilização passiva precoce são descritos de forma clara por Klienert [13] e a mobilização ativa precoce pode ser
realizada tanto por flexão ativa ou colocando passivamente o tendão em reparo
de flexão e mantendo ativamente na posição (coloque e segura) [13]. Porém, há fraca
evidência de que a mobilização ativa precoce ganha movimentos superiores,
mantendo dessa forma uma baixa aceitação de ruptura do tendão [14].
Rigó et al. [10]
abordam que o movimento ativo controlado é mais benéfico do que o passivo após
fratura do tendão e relata que tem poucas evidências sobre mobilização na mão.
A extensão passiva controlada sem uso de borracha estava dentro do regime de
movimento passivo, porém Klienert [11] projetou uma
combinação de flexão passiva do dedo, extensão ativa e talas dinâmicas com uso
de elástico e tração. Esse regime foi modificado para incorporar polias na
palma da mão para redirecionar elásticos [12]. Percebeu-se que os exercícios
prescritos e a mobilização dos tendões da mão após cirurgia, proporcionam
melhores resultados levando a recuperação funcional da mão.
Há de fato uma escassez
de bons estudos sobre o papel da cinesioterapia na recuperação de lesões
tendinosas da mão. O papel da cinesioterapia na recuperação da mão é essencial
e o fisioterapeuta se vale de recursos como os exercícios ativos, passivos
controlados, resistidos e com mobilização a curto e longo prazo. No entanto,
faltam estudos que padronizem essas técnicas e descrevam detalhadamente como
elas devem ser aplicadas.