REVISÃO
Métodos preventivos na
saúde do trabalhador
Preventive methods in workers' health
José
Ronaldo Veronesi Junior, Ft., D.Sc.
Fisioterapeuta do
Trabalho, Ergonomista, Perito Judicial, Doutor em
Ciências Biomédicas e CEO do IEDUV
Correspondência: José Ronaldo Veronesi Junior, Instituto Educacional Veronesi
- IEDUV, Sala 401, torre A, Centro Empresarial, Av. João Palácio, 300, Eurico
Sales 29160-161 Serra ES
Trabalho apresentado na
I semana científica do IEDUV – I Seminário de Perícia Fisioterapêutica pelo
Método Veronesi, Vitória/ES, 17 a 20 de janeiro de
2019 (Prof. Dr. Francisco Rebelo, Universidade de Lisboa; Prof. Dr. José Ronaldo
Veronesi Junior, IEDUV/ Faculdade Delta; Prof. Msc. Cristiane de Oliveira Veronesi,
IEDUV/ Faculdade Delta;Prof. Dra. Lisandra Vanessa Martins, UFES)
José Ronaldo Veronesi Junior: veronesi@ieduv.com.br
Resumo
Introdução: Hoje, o trabalho é
necessário para manter as condições da vida humana, é um fator importante para
manter o bem-estar psicossocial do indivíduo. O acidente laboral é um problema
de saúde social, sendo que o Brasil é o quarto país em número de óbitos
relacionados ao trabalho no mundo. Objetivo: Analisar as formas de
métodos preventivos na saúde do trabalhador. Métodos: Foi realizado uma
revisão da literatura sobre os principais métodos de prevenção na saúde do
trabalhador. Resultados: Foram encontrados muitos estudos consistentes
referentes a vários métodos preventivos, como ginástica laboral, treinamento e
fortalecimento funcional, ergonomia, rodízio de função, sistemas semi-automatizados, ambulatório de fisioterapia,
ambulatório médico, pausas fisiológicas, e apoio social. Conclusão: A
partir dessa revisão podemos concluir que o sistema de prevenção de doenças na
saúde ocupacional é multifatorial e tem que estar em sintonia e harmonia para
que o mesmo funcione de forma a conquistar a suas expectativas.
Palavras-chave: ginástica laboral, ergonomia,
saúde ocupacional
Abstract
Introduction: Today, work is necessary to maintain the conditions of human life, is
an important factor to maintain the individual's psychosocial well-being. Labor
accident is a social health problem, and Brazil is the fourth country in number
of work-related deaths in the world. Objective: To analyze the forms of
preventive methods for the worker health. Methods: A literature review
was carried out on the main prevention methods in worker health. Results:
Many consistent studies have been found regarding various preventive methods,
such as gymnastics, functional training and strengthening, ergonomics, role
rotation, semi-automated systems, physiotherapy outpatient clinic, medical
outpatient clinic, physiological breaks, and social support. Conclusão: From this review we can conclude that the
system of prevention of diseases in occupational health is multifactorial and
must be in tune and harmony so that it works in order to achieve its
expectations.
Key-words: gymnastics, ergonomics,
occupational health
A palavra trabalho vem
do latim, tripalium, que significa um instrumento de
tortura usado pelos romanos para obrigar os escravos a trabalhar. O sofrimento
foi dando lugar ao esforçar, lutar até chegar a
palavra trabalhar [1]. Hoje, o trabalho é necessário para manter as condições
da vida humana, é um fator importante para manter o bem-estar psicossocial do
indivíduo, que pode estar sujeito a riscos e perigos das condições de trabalho
e o ambiente de trabalho é um fator importante para manter ou destruir a saúde
do trabalhador [2].
O valor do trabalho é a
crença de que o trabalho tem o poder de promover a ascensão social, de que é
com o fruto do trabalho que satisfaremos nossas necessidades materiais e, com
isso, ganharemos estabilidade econômica para realizar as necessidades
espirituais [1].
Segundo estudos de Lima
[3], foi verificado que o acidente laboral é um problema de saúde social, sendo
que o Brasil é o quarto país em número de óbitos relacionados ao trabalho no
mundo. Os fatores que contribuem para o comprometimento da saúde do trabalhador
são diversos, como os ligados a biotecnologias, a doenças crônicas, e até a
novas doenças de várias origens. Atualmente, diversas medidas estão sendo
tomadas para melhorar a saúde ocupacional, tais como a NR-32 e a capacitação de
novos profissionais de saúde.
Para resolver o
problema dos distúrbios musculoesqueléticos relacionados com o trabalho, é
importante desenvolver a melhoria das medidas de prevenção primária, por meio
das condições de trabalho, fornecendo orientações de saúde e treinamento
adequados. Além disso, é preciso estabelecer medidas para a prevenção
secundária, tratamento e realocação dos empregados afastados por tempo
prolongado [4].
A prevenção das
LER/DORT é realizada por meio de um conjunto de ações, desde um planejamento
organizado das atividades de trabalho, um ambiente de trabalho ergonômico, uma
ótima preparação psicológica e músculo-esquelética
dos trabalhadores e horários de laser [5]. Dentre as medidas preventivas temos:
aplicabilidade da ergonomia nos aspectos físicos, organizacional e cognitiva;
mecanização no processo produtivo em atividades de grande sobrecarga
biomecânica, preparação tecidual como fortalecimento muscular (musculação,
musculação terapêutica, pilates, treinamento
funcional), Fisioterapia ambulatorial para prevenção primária e secundária de
problemas osteomusculares, pausas, micropausas,
rodízio de tarefas (Job Rotation),
relaxamento psicofisiológico (ginástica laboral).
Segundo a ABNT ISO/TS
[4] o estabelecimento de medidas preventivas primárias, principalmente medidas
para melhorias das cargas de trabalho sobre o sistema musculoesquelético
(CTME), apoio social, pausas com locais apropriados para descanso,
envolvimentos dos trabalhadores nos processos preventivos, são considerados
como a solução com melhor relação custo-benefício e melhora a qualidade de vida
no trabalho. Convém que um monitoramento individual dos níveis das CTME e dos
problemas de saúde dos trabalhadores seja estabelecido para verificar a
eficácia ou insuficiência das medidas de redução de riscos. As estatísticas de
licenças médicas relativas à CTME, à produtividade e à incidência de doenças
musculoesqueléticas também são úteis para a avaliação da eficácia das medidas
de redução de risco [5].
Segundo estudos de Tompa [6] que fez uma revisão sistemática de intervenções
ergonômicas no local de trabalho com avaliações econômicas em setor de
manufatura, mostrou fortes evidências encontradas em resultados financeiros das
intervenções ergonômicas nessas atividades industriais.
Estudos de Zhou [7]
avaliou a correlação entre doença musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho
e comportamento de segurança em trabalhadores de linha de montagem. Este estudo
avaliou 826 trabalhadores e concluiu que os comportamentos de segurança foram
os fatores preponderantes para a causa das doenças musculoesquelética
relacionada ao trabalho, e que a postura de trabalho e os hábitos de
manipulação devem ser transmitidos como forma preventiva.
O objetivo desse estudo
foi pesquisar os principiais métodos preventivos de doenças osteomusculares
adotados nas empresas.
A presente pesquisa foi
de revisão bibliográfica, onde foi pesquisado os seguintes temas: prevenção de
doenças osteomusculares e métodos preventivos de doenças osteomusculares, esses
foram colocados em buscadores nos sites de pesquisa: Pubmed
pelo link https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed
; Portal Saúde Baseada em Evidência pelo link http://psbe.ufrn.br ; Bireme pelo
portal https://bvsalud.org ; a pesquisa se deu de março a junho de 2019.
Os resultados
encontrados serão apresentados em tópicos de acordo com a temática.
Método preventivo:
aplicabilidade da ergonomia
A ergonomia é
relativamente recente no mundo moderno. Embora o termo tenha sido cunhado no
século passado, apenas no início deste século, falou-se em alguma coisa prática
decorrente da ergonomia, no caso, a mudança na escola de arquitetura francesa
decorrente da assimilação e colocação em prática do conceito de ergonomia
aplicada ao interior e construções. Na história do trabalho, a aplicação da
ergonomia é muito recente, e somente pode-se falar de “ergonomia aplicada ao
trabalho” a partir dos anos 50, com o projeto da cápsula espacial
norte-americana [2].
Ergonomia é um conjunto
de ciências e tecnologia que busca a adaptação confortável e produtiva entre o
homem e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de trabalho
às características do ser humano. A essência da ergonomia busca adaptar o
ambiente ao homem, porém com estes anos de atuação dentro da ergonomia, vejo
que além de adaptar o ambiente ao homem, temos de adaptar o homem ao ambiente,
pois não adianta termos um posto de trabalho ergonômico se não temos
trabalhadores com condições comportamentais para utilizá-los [2].
“Ergonomia é a
disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres
humanos e outros elementos de um sistema, é a profissão que aplica teorias,
princípios, dados e métodos, a projetos que visam aperfeiçoar o bem-estar
humano e a performance global dos sistemas. A ergonomia visa adequar sistemas
de trabalhos às características das pessoas que neles operam. Nos projetos de
sistemas de produção, a ergonomia faz convergir os aspectos de segurança,
desenvolvimento e de qualidade de vida, por meio da sua metodologia específica,
a análise ergonômica do trabalho.
De maneira geral, os
domínios de especialização da ergonomia são:
A ergonomia é o estudo
da adaptação do trabalho ao homem e foi definida como “o conjunto de
conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de
instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de
conforto, segurança e eficiência” [2].
Conforme o item 17.1 da
NR (Norma Regulamentadora) 17, temos:
“Esta Norma
Regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições
de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Conforto
significa que o trabalho proporciona do início ao fim conforto físico e mental
ao trabalhador; segurança tem a conotação de que o trabalho não gera risco de
adoecimento nem acidente; desempenho eficiente traduz-se em que o trabalho
propicia que o trabalhador desempenhe normalmente seu trabalho em toda sua
vida, possibilitando que realize sua atividade de forma fácil, mas também que
não adoeça e consiga desempenhar sua atividade por toda vida" [8].
A Análise Ergonômica do
Trabalho deve ser elaborada de acordo com as diretrizes estabelecidas pela
NR-17 referentes à Portaria no 3.751 de 23 de novembro de 1990 do Ministério do
Trabalho, e se propõe a partir da análise de uma demanda, que pode ser da
consequência da concepção de equipamentos ou da melhoria do ambiente do
trabalho (demanda preventiva), do número elevado de doença ou acidente do trabalho
(demanda de saúde), das reclamações de sindicato dos trabalhadores (demanda
social), da notificação de auditores fiscais do trabalho ou das ações civis
públicas (demanda legal).
A Análise Ergonômica do
Trabalho é parte integrante das normas regulamentadoras devendo estar
articulada com as demais normas de Segurança e Medicina do Trabalho, em
particular com o Programa de Controle Médico e de Saúde Ocupacional - PCMSO e o
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA.
Como base legal, a
ergonomia é baseada nos seguintes normativas e instruções:
Segundo os estudos de Hyeda [19] em sua revisão sistemática que concluiu que as
ações ergonômicas são importantes para reduzir o impacto das doenças crônicas
não transmissíveis e seus fatores de risco nas empresas, por meio das
intervenções nos postos de trabalho, na organização laboral, no cuidado à saúde
integral do trabalhador e na promoção do autoconhecimento e autocuidado à saúde.
O Sistema de Gestão em
Ergonomia compreende em um conjunto de estratégias de prevenção, controle,
avaliação e resolução de interveniências inerentes às diferentes atividades
ocupacionais. É um conjunto de ferramentas gerenciais e métodos organizados para
apoiar as decisões a serem tomadas por uma empresa em relação ao risco de suas
atividades laborais, capaz de identificar precocemente os riscos ou agravos à
saúde do trabalhador e fornecer ferramentas de
atuação em diversos níveis, tanto primário como secundário e terciário [5].
Método preventivo:
ambulatório de fisioterapia do trabalho
A Fisioterapia do
Trabalho é uma especialidade profissional da Fisioterapia, reconhecida pelo
COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional por meio da
Resolução nº 351, de 13 de junho de 2008 do COFFITO [6]. A Resolução 465 de 20 de maio de 2016 que disciplina a
especialidade de Fisioterapia do Trabalho, no seu Art. 3º Para o exercício da
Especialidade Profissional em Fisioterapia do Trabalho é necessário o domínio
das seguintes Grandes Áreas de Competência:
Na execução de suas
competências o Fisioterapeuta do Trabalho ainda poderá:
a) Determinar
diagnóstico e prognóstico fisioterapêutico; b) Planejar e executar medidas de
prevenção e redução de risco; c) Prescrever e executar recursos terapêuticos
manuais; Utilizar recursos de ação isolada ou
concomitante de agente cinesiomecanoterapêutico, massoterapêutico, termoterapêutico,
crioterapêutico, fototerapêutico,
eletroterapêutico, sonidoterapêutico,
aeroterapêutico entre outros.
Segundo Prall [10], fez uma revisão sistemática sobre a atuação do
Fisioterapeuta nas empresas. Com o surgimento de distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho e o alto custo associado aos trabalhadores
acidentados, os fisioterapeutas estão em uma posição única para ajudar os
empregadores a lidar com essas preocupações por meio de programas
multidisciplinares de prevenção de lesões, educação, ergonomia, tratamento no
local e retorno ao trabalho. Esta revisão da literatura sugere que a
participação em ergonomia e tratamento fisioterapêutico no local de trabalho
tem um efeito positivo na diminuição dos distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho, diminuindo os custos associados a essas lesões,
aumentando produtividade do trabalho, diminuindo o absenteísmo e melhorando o
presenteísmo entre os trabalhadores.
Método preventivo:
rodízio de função (job rotation)
Convém que as tarefas e
operações de trabalho possibilitem que haja variações suficientes tanto físicas
quanto mentais. Isso significa um trabalho completo, com variação suficiente de
tarefas (por exemplo, um número adequado de tarefas organizacionais, uma
combinação apropriada de ciclos de tarefas longos, médios e curtos, e uma
distribuição equilibrada de tarefas simples e complexas), autonomia suficiente,
oportunidades para interação, informação e aprendizado [11].
Segundo estudos de
Jones [12] a rotação de tarefas (job rotation) é usada para diminuir o risco de lesões no local
de trabalho e melhorar a satisfação no trabalho. As estratégias de rotação de
trabalho têm sido usadas há anos como uma intervenção administrativa para
reduzir o risco de distúrbios musculoesqueléticos. Acredita-se que os
benefícios da rotação de trabalho ocorram por meio de mudanças na variabilidade
da atividade muscular [13].
Os estudos de Jeon [14] investigou os tipos de rotação favorecida dos
trabalhadores por idade e compara as médias entre os escores subjetivos e reais
em produtividade, qualidade e distúrbios osteomusculares. Os sujeitos da
pesquisa foram 422 unidades de linha de montagem na Hyundai Motor Company. O levantamento de 422 unidades teve como foco a
preferência dos trabalhadores por 11 tipos diferentes de rotação e escores
subjetivos para os benefícios percebidos de cada tipo, ambos pela idade dos
trabalhadores. Em seguida, pontuações reais em índices relacionados à produção
foram traçadas ao longo de um período de cinco anos. Os resultados sugerem que
diferentes tipos de rotação levam a resultados diferentes em produtividade,
qualidade de produto e distúrbios osteomusculares. Os trabalhadores tendem a
perceber a rotação do trabalho como um método útil para aumentar a satisfação,
a produtividade e a qualidade do produto mais do que os dados reais de produção
sugerem. A rotação de trabalho foi especialmente eficaz na prevenção de
distúrbios osteomusculares para trabalhadores com menos de 45 anos, enquanto
seus efeitos não foram claros para os trabalhadores com 45 anos ou mais.
Segundo Padula [15] que fez uma revisão sistemática referente aos
impactos dos programas de rotação de trabalho nos distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho. Os resultados mostraram que a rotação de trabalho não
pareceu reduzir a exposição de fatores de risco físicos, más, no entanto,
existem correlações positivas entre a rotação de trabalho e maior satisfação no
trabalho entre os trabalhadores. O treinamento dos trabalhadores foi descrito
como um componente crucial de um programa bem-sucedido de rotação de empregos.
Os estudos relataram uma série de parâmetros usados para implementar e medir
programas de rotação de tarefas. Estudos mais rigorosos são necessários para
entender melhor o impacto total da rotação de empregos na produção e na saúde.
Dessa forma os artigos
mostram que o Rodízio de Função tem fatores benéficos mas ainda se faz
necessário um estudo minucioso desse programa para que esse seja realmente
eficiente, com isso recomenda-se um estudo contínuo, se possível com
instrumentação científica como Eletromiografia de superfície, sensores
inerciais, goniometria (se possível digital),
termografia para buscar critérios técnico científico para organização do
rodízio eficiente.
Método preventivo:
atividade física e fortalecimento muscular
O estudo de Van Eerd [16] foi dado por um processo de revisão sistemática
desenvolvido pelo Institute for Work
& Health e uma síntese de melhores evidências adaptadas sobre os métodos
preventivos de doenças ocupacionais. Foram pesquisados seis bancos de dados
eletrônicos (janeiro de 2008 até abril de 2013), resultando em 9909 referências
não duplicadas. Desses estudos, 26 eram de alta qualidade e qualidade média
relevantes para nossa questão de pesquisa foram combinados com 35 da revisão
original para sintetizar as evidências em 30 diferentes categorias de
intervenção. Houve forte evidência para uma categoria de intervenção, o
treinamento de resistência, levando à recomendação: A implementação de um
programa de exercícios de treinamento de resistência muscular (musculação,
musculação funcional, Pilates, treinamento funcional) baseado no local de
trabalho, pode ajudar a prevenir e gerenciar as doenças ocupacionais e os
sintomas. A síntese também revelou evidências moderadas para baixo de programas
de alongamento durante o trabalho.
Segundo os estudos de Knapik [17], que fez uma revisão sistemática da literatura
examinando a influência do treinamento físico no desempenho do transporte de
carga. Diversas bases de dados bibliográficas, listas de referências e outras
fontes foram exploradas para encontrar estudos que examinaram quantitativamente
os efeitos do treinamento físico no tempo que os indivíduos levam para
completar uma distância fixa carregando uma carga externa. Meta-análise indicou
que grandes efeitos de treinamento de resistência eram aparentes quando o
treinamento de resistência progressiva foi combinado com treinamento aeróbico e
quando esse treinamento foi realizado pelo menos 3 vezes por semana, por pelo
menos 1 hora por treino, durante pelo menos 4 semanas. Esta revisão indica que
combinações de modos específicos de treinamento físico podem melhorar
substancialmente o desempenho do transporte de carga.
Os vários estudos
revisados apontam os aspectos positivos da prática de exercícios físicos na
prevenção de doenças coronárias e outras doenças degenerativas, bem como
influências positivas sobre o bem-estar psicológico e social dos indivíduos que
praticam algum tipo de esporte ou atividade física. A vida moderna tem levado a
maioria das pessoas a uma vida sedentária com poucas atividades físicas, o que
torna a prática de exercícios necessária para a promoção da saúde. O combate ao
sedentarismo é, portanto, um problema de saúde pública e deve ser abordado
pelas instituições governamentais de saúde. Por outro lado, a prática de
atividades físicas pode e deve ser incentivada a partir do trabalho, uma vez
que esse canal atinge muitos indivíduos. Apesar da pouca efetividade desses
programas, segundo os estudos revisados, eles continuam sendo uma proposta
interessante e podem produzir efeitos positivos no combate ao sedentarismo e
suas consequências. Deve-se entender a prática de exercícios físicos como
benéfica quando realizada pela livre vontade dos indivíduos, em situações de
sua escolha, sem constrangimentos, por períodos de pelo menos três vezes por
semana com duração de aproximadamente uma hora cada sessão [18].
Método preventivo:
ginástica laboral
Os primeiros registros
da prática da Ginástica Laboral são de 1925. Neste ano, na Polônia, operários
se exercitavam com uma pausa adaptada a cada ocupação particular. Alguns anos
depois, esta ginástica foi introduzida na Holanda e na Rússia. No início da década
de 60, ela começou a ser praticada na Alemanha, na Suécia, na Bélgica e no
Japão. Os Estados Unidos adotaram a Ginástica Laboral em 1968 [19].
Mas foi no Japão em
1928, que segundo Mendes [20], que a Ginástica Laboral teve sua origem conhecida,
ela era aplicada diariamente nos funcionários dos correios, visando à descontração
e ao cultivo da saúde. Após a 2o Guerra Mundial este hábito passou a ser
difundido por todo o Japão.
Dentre as medidas de
enfrentamento e prevenção dos distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (LER/DORT), a introdução de programas de ginástica laboral passou a
ser comum nos ambientes de trabalho, em especial nos ambientes
industrializados; apesar da falta de estudos epidemiológicos que comprovem seus
resultados enquanto método de prevenção [21].
Segundo Silva [22],
como o nome indica, Ginástica Laboral é a realização de exercícios físicos no
ambiente de trabalho, durante o horário de expediente, para promover a saúde
dos funcionários e evitar lesões de esforços repetitivos e doenças
ocupacionais. Além de exercícios físicos, a Ginástica Laboral consiste em
alongamentos, relaxamento muscular e flexibilidade das articulações. Apesar da
prática da Ginástica Laboral ser coletiva, ela é moldada de acordo com a função
exercida pelo trabalhador.
A Ginástica Laboral é
uma atividade física realizada no ambiente de trabalho, de curta duração. Suas
atividades são fundamentadas basicamente nos exercícios de alongamento, relaxamento
e consciência corporal, compensando as estruturas solicitadas durante o
trabalho, contribuindo para a melhora da qualidade de vida do trabalhador [23].
A ginástica laboral tem
sido classificada, por diversos autores, de formas diferentes, gerando certa
confusão com relação aos seus objetivos de execução. Observar-se-á, nesta
revisão, as diferentes opiniões de autores referentes à ginástica laboral
classificada em 4 tipos: preparatória, compensatória, de relaxamento e
corretiva.
1. Ginástica laboral
preparatória: Atividade física realizada antes de se iniciar o trabalho,
aquecendo e despertando o funcionário, com objetivo de prevenir acidentes de
trabalho, distensões musculares e doenças ocupacionais [24].
2. Ginástica
compensatória: Tem sido definido por Kolling
[25], um dos precursores da ginástica laboral no Brasil, como a ginástica que
tem por objetivo, precisamente, trabalhar os músculos que estão sendo
utilizados com mais frequência na jornada de trabalho e relaxar os músculos que
estão em contração durante a maior parte da jornada de trabalho. Partindo desse
ponto de vista, fica claro que em um programa de ginástica laboral
compensatória é necessário fortalecer os músculos mais fracos, ou seja, os
menos usados durante a jornada de trabalho, além de alongar os mais
solicitados, proporcionando, dessa forma, compensação dos músculos agonistas
para com os antagonistas de forma equilibrada. Assim sendo, exercícios físicos
realizados durante ou após a jornada de trabalho atuam de forma terapêutica,
diminuindo o estresse através do alongamento e do relaxamento [26]. Sendo da
mesma opinião, Mendes [20] e Oliveira [27] definem ginástica compensatória como
exercícios físicos praticados durante o expediente de trabalho, normalmente
aplicando-se uma pausa ativa de 3 a 4 horas após início do expediente, tendo
como objetivo aliviar a tensões e fortalecer os músculos do trabalhador.
Bastante diversa é a
maneira como comumente se desenrolam os programas de ginástica laboral. Os
programas propõem atividades obrigatórias, em situações inadequadas e por
períodos de curta duração (10 a 12 minutos cada sessão). Além disso, não
existem evidências conclusivas sobre a efetividade dos programas de Ginástica
Laboral, nem como incentivo a prática de esportes, nem como um método de
promoção da saúde nos locais de trabalho. Algumas evidências positivas existem,
mas são raras e pouco generalizáveis, o que não justifica o grande número de
empresas que vem empregando esse método na prevenção de LER/DORT [28].
Método preventivo:
pausa fisiológica para recuperação tecidual
O programa de pausa
fisiológica é fundamental em qualquer processo laboral, visto que as pausas
psicofisiológicas está prevista na Norma Regulamentadora do Trabalho, a NR17 no
item 17.6.3. - Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou
dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a
partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: b)
devem ser incluídas pausas para descanso. Segundo estudos de Blasche [29] as pausas para descanso são eficazes para
evitar um acúmulo de fadiga durante o trabalho. Dessa forma o estudo reforça a
importância que o descanso pode evitar o acúmulo de fadiga e angústia durante
um dia de trabalho. Esse estudo mostra a importância da autonomia do
trabalhador na busca do descanso ideal para cada um, onde quanto mais pausas no
trabalho for possível maior a garantia do descanso como forma de evitar a
fadiga e as doenças do trabalho. Segundo Veronesi [8]
as pausas é o tempo de recuperação tecidual como citado pela NBR ISO 11228-3
[30], que recomenda que as estas devem ser dada em no mínimo 8 minutos para que
ocorra a recuperação tecidual decorrente aos movimentos repetitivos de membros
superiores. Segundo estudo de Yung [31] a fadiga
neuromuscular cumulativa pode resultar da exposição ao trabalho fisicamente
exigente, como o trabalho repetitivo e / ou sustentada com recuperação
insuficiente, onde mostra a necessidade de pausas para esta recuperação
tecidual. Para ocorrer a revitalização tecidual, com a retirada das toxinas
celulares e nutrição tecidual, a pausa deve ser feita a cada hora trabalhada, e
esta deve ser entre 8 a 10 minutos, segundo os estudos de Colombini
[32]. Esta pausa tem que ser dada efetivamente, onde o trabalhador tem que
parar e descansar os grupos musculares em especial dos membros superiores Veronesi
[8]. Segundo a NBR ISO 11228-3 a cada hora
trabalhada com atividade repetitiva de membros superiores, deva ter uma
pausa
de 8 a 10 minutos para recuperação tecidual, sendo que a
hora anterior a
refeição e a hora antes do final do turno, já
terá a recuperação da refeição e
o descanso, respectivamente, isso sem considerar hora extra
evidentemente.
Método preventivo:
apoio social
Um sistema de Apoio
Social, que é orientado como forma preventiva importante pela ABNT ISO/TS 20646
[4], onde a empresa possa oferecer benefícios para todos os trabalhadores como:
berçário, auxílio creche, restaurante, vale alimentação, vale transporte,
brinde de natal, empréstimo social, previdência privada, seguro de vida, ticket
combustível, plano de saúde médico e odontológico, bolsa de estudos para
graduação, pós graduação e estudos de idiomas. As empresas também podem fazer
convênio com academias, supermercados, restaurantes, farmácias e outros para
que seus funcionários possam ter descontos. A presença de apoio social tem sido
associada aos níveis de saúde, pois elevado grau de apoio funciona como um
agente de proteção frente aos riscos de doenças induzidas pelo estresse, pois
alivia os níveis deste em situações de crise, inibindo o desenvolvimento de
doenças. O apoio social baixo, seja proveniente da família, amigos ou de
relações no local de trabalho, afeta diretamente o sistema de defesa do corpo,
relacionando-se ao processo saúde-doença e aumentando a suscetibilidade para a
enfermidade [33].
Método preventivo:
realidade virtual para treinamento comportamental
Em muitos ramos da
indústria, especialistas em segurança ocupacional identificaram algumas causas
principais de lesões de trabalhadores relacionadas com o uso de modernas
máquinas e sistemas eletro-mecânicos: treinamento
inadequado, experiência de trabalho insuficiente e monotonia das tarefas frequentemente
realizadas repetidamente [34]. À medida que o comportamento humano é
responsável pelas principais causas dos acidentes, muitas pesquisas tratam a
questão da segurança de uma maneira muito mais pró-ativa,
sendo que os planos de segurança são dados pelos métodos de comportamento
humano [35]. Nesse sentido a Realidade Virtual (VR) pode reduzir o tempo e os
custos, e levar a aumentos de qualidade, no desenvolvimento de um produto e de
um processo como comportamento laboral [36]. O poder imersivo da Realidade
Virtual tem o potencial de reintroduzir e ampliar a aprendizagem em pessoa que
já possui um aprendizado consolidado e muitas vezes viciado. A realidade
virtual (VR) permite observações altamente detalhadas, medições de
comportamento precisas e manipulações ambientais sistemáticas em circunstâncias
laboratoriais controladas [37]. A simulação da realidade virtual cria um estado
de "imersão" que se aproxima da situação real, permitindo a medida
controlada de respostas psicofisiológicas e comportamentais [38].
Segundo estudos de
Carvalho [39] que realizou uma análise de um programa de gestão da saúde do
trabalhador em uma empresa de manufatura no Brasil, que incluiu desde a etapa
de avaliação admissional com exame médico e cinético funcional, capacitação
muscular com os recém contratados com exercícios específicos de acordo com a
solicitação de cada setor com a preparação da cadeia muscular exigida
(treinamento funcional), clínica de fisioterapia para atendimentos precoces
atuando como prevenção secundária e terciária no controle das doenças
osteomusculares. O resultado foi redução de 42,70% do absenteísmo osteomioarticular após a implantação do programa, Redução
do impacto financeiro para a empresa direta com redução do valor pago ao
funcionário sem que ele produza e indiretamente com o funcionário afastado sem
reposição de mão de obra. Economia em média de R$ 69.540,50 com tratamento
fisioterapêutico externo utilizando Plano de Saúde. Redução de custos diretos e
indiretos para a empresa que fechou o ano com uma redução de aproximadamente R$
420.000,00 no FAP (Fator Acidentário de Prevenção).
A presente pesquisa
mostrou que não existe um método preventivo capaz de isoladamente reduz de
maneira eficiente as doenças osteomusculares. Desta forma as empresas a partir
da Análise Ergonômica do Trabalho que conseguirem implantar o máximo de métodos
possíveis de forma integrada terão melhores resultados na prevenção de doenças
osteomusculares.