ARTIGO ORIGINAL
Terapia manual na
qualidade de vida e no sintoma do zumbido
Manual therapy on quality of life and symptom of tinnitus
Thatiane Aline Cunha*,
Bruna Mastroldi dos Santos*, Ivan Luiz Pavanelli**,
Paulo Roberto Rocha Júnior***
*Universidade Paulista
de Assis/SP, **Escola Brasileira de Fisioterapia Manipulativa (EBRAFIM),
***Faculdade de Medicina de Marília/SP
Correspondência: Prof. Dr. Paulo
Roberto Rocha Júnior, Av. João Procópio da Silva, 211, casa 160 Jardim
Esmeralda 17516-740 Marília SP
Paulo Roberto Rocha
Júnior: prochajr@terra.com.br
Thatiane Aline Cunha:
donazzan_@hotmail.com
Bruna Mastroldi dos Santos: bruna_mastroldi@yahoo.com.br
Ivan
Luiz Pavanelli: ivanluiz_p@hotmail.com
Resumo
Este estudo teve por
objetivo analisar o efeito de um protocolo de terapia manual no sintoma e na
qualidade de vida de indivíduos com zumbido inespecífico. Durante a avaliação
os indivíduos foram submetidos ao Tinnitus
Handicap Inventory (THI), para identificar a
quantificação do impacto do zumbido na qualidade de vida, e a Escala Visual
Analógica (EVA) para identificar a intensidade do zumbido. Desenvolveu-se um
protocolo de terapia manual baseado na mobilização dos músculos esternocleidoocciptomastoideos e masseteres, movimento
circunferencial dos ossos temporais e técnica do “puxão de orelha”. A amostra
foi constituída por 11 pacientes, sendo 63,6% feminino e 36,3%. A idade média
dos participantes foi 71,6 anos. Verificou-se uma melhora significativa (p =
0,0002) para o THI e para o sintoma de zumbido (p = 0,0001). Conclui-se que a
terapia manual promoveu a melhora do sintoma de zumbido e da qualidade de vida
dos participantes do estudo.
Palavra-chave: zumbido, manipulações
musculoesqueléticas, fisioterapia, qualidade de vida.
Abstract
The
aim of this study was to analyze the effect of a manual therapy protocol on the
symptom and quality of life of individuals with non-specific tinnitus. During
the evaluation, the subjects were submitted to the Tinnitus Handicap Inventory
(THI), to identify the quantification of tinnitus impact on quality of life,
and the Visual Analogue Scale (VAS) to identify intensity of tinnitus. A manual
therapy protocol was developed based on the mobilization of the
sternocleidomastoid and masseter muscles, circumferential movement of the
temporal bones and the technique of the "pull of the ear". The sample
consisted of 11 patients, 63.6% female and 36.3%. The mean age of participants
was 71.6. There was a significant improvement (p = 0.0002) for THI and tinnitus
symptom (p = 0.0001). The manual therapy improved the tinnitus symptom and
quality of life of the participants.
Keywords: tinnitus, musculoskeletal manipulations, physiotherapy, quality of
life.
O ouvido humano tem por
função perceber o equilíbrio e transformar as ondas sonoras em sinais
elétricos, transmitindo esta informação ao cérebro, através do nervo auditivo.
O ouvido está localizado, na sua quase totalidade, no osso temporal,
posicionado na base e parede lateral do crânio [1].
Quanto sua a
biomecânica, o osso temporal gira sobre eixos localizados, externamente,
próximos dos canais auditivos externos. Como esses eixos correm diagonal e
anteriormente, causam rotação oscilante da escama temporal. O alargamento da
distância transversal entre as margens superiores das escamas temporais, junto
com o movimento anterior é referido como uma rotação externa dos ossos
temporais. Já na rotação interna dos temporais, os movimentos são invertidos: a
distância transversal entre as margens superiores dos ossos temporais diminui à
medida que estas margens se movem posteriormente [2].
Para Upledger [2], restrições de movimento dos ossos temporais
podem levar à problemas clínicos relacionados à audição, equilíbrio, dor e vagotonia.
O zumbido, sensação de
ruído dentro do ouvido, pode ser ocasionado por uma lesão, infecção ou uma
desordem do sistema auditivo e, em muitos casos, se relaciona com sistema
vestibular. Logo, frequentemente, pode estar acompanhado de vertigem [3-5].
A presença de zumbido
tem como consequência negativa a insônia, irritabilidade, dificultando sua vida
social, equilíbrio emocional, prejuízo nas atividades diárias, resultando em
crises de ansiedades e depressão, incluindo também perturbações na saúde,
alteração do comportamento e relacionamento interpessoal [5-8].
A fisioterapia, mais
especificamente a terapia manual, apropria-se de técnicas e manipulações
musculoesqueléticas que, possivelmente, podem aliviar o sintoma de zumbido.
Neste sentido, a osteopatia craniana tem por objetivo a liberação das restrições
dos ossos e das suturas cranianas, a fim de promover a mobilidade estrutural e
a flutuação, em níveis normais, do líquido cérebro-espinhal [9].
Person et al.
[4] destacam que não existe uma “receita pronta” para tratar o zumbido. Os
sucessos e fracassos ocorrem com qualquer profissional, mas a experiência e a
forma encorajadora com que se lida com o problema, refletirá no sucesso
terapêutico [10].
Deste modo, sabendo que
o temporal é um osso complexo que contém estruturas conjuntivas, vasculares e
nervosas pertinentes ao aparelho auditivo, e que possíveis disfunções
biomecânicas podem desencadear sintomas auditivos e vestibulares, propõem-se
este estudo com o objetivo de verificar a eficácia de um protocolo de terapia
manual com ênfase na sincronia dos ossos temporais no sintoma de zumbido
[2,4,5].
O objetivo do presente
estudo foi analisar o efeito da terapia manual na qualidade de vida e no
sintoma de zumbido inespecífico.
Trata-se de um estudo
de campo, quantitativo de caráter experimental. Esta pesquisa, por envolver
seres humanos, foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa com
seres humanos, com base na resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e
aprovada pelo mesmo (CAAE - 62604916.8.0000.5413).
Participaram do estudo
indivíduos usuários de uma Estratégia de Saúde da Família, com idade igual ou
superior a 18 anos, de ambos os sexos, com vertigem e/ou desequilíbrio e
zumbido de ouvido. Foram incluídos todos aqueles que estivessem de acordo com
as prerrogativas do estudo e assinarem o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Foram excluídos
indivíduos com doenças neurológicas e oncológicas diagnosticadas, disfunções do
aparelho locomotor, distúrbios cognitivos e intelectuais, bem como indivíduos
pouco participativos quanto à proposta de tratamento, bem como aqueles que não
se enquadrassem nos critérios de inclusão.
O questionário Tinnitus Handicap Inventory
foi desenvolvido por Craig Newman, em 1996, com o objetivo de avaliar e
diagnosticar a intensidade e a quantificação do impacto do zumbido na qualidade
de vida. Este questionário é composto de 25 perguntas, adaptado para a língua
portuguesa. Obtém-se um escore de zero a cem pontos, classificando o impacto do
zumbido na qualidade de vida em: leve (0-16), suave (18-36), moderado (38-56),
grave (58-76) e catastrófico (78-100) [11-13].
A intensidade do
zumbido foi avaliada por uma Escala Visual Analógica (EVA) num ambiente
silencioso. Na ficha de avaliação, foi traçado uma linha no tamanho de dez
centímetros. No início da linha foi marcado “ausência de zumbido” e no final da
linha, “zumbido insuportável”. O paciente graduará com uma caneta a intensidade
de seu zumbido nessa linha. Então, o examinador conferirá com uma régua a
respectiva pontuação [14].
O atendimento começa
com a observação do movimento craniossacral, com as
mãos sobre as orelhas do paciente, buscando a observação dos movimentos [2].
Em seguida, era
realizado a mobilização transversal dos músculos esternocleidoocciptomastoideos
direito e esquerdo, para obter a facilitação do movimento do osso temporal. Com
o paciente em decúbito dorsal, localizava-se o músculo esternocleidoocciptomastoideo
e realizava-se a mobilização transversal desde a origem até a inserção, em
seguida, realiza também o movimento contrário [2].
Logo, era aplicado a
digito pressão sobre os músculos masseteres direito e esquerdo, já que, quando
hipertônicos, restringem o movimento dos ossos temporais [2].
Em seguida, era
realizada a técnica do movimento circunferencial e técnica do “puxão de
orelha”. No movimento circunferencial, depois da extensão e flexão do toque,
sincroniza-se os movimentos dos temporais e realiza-se o Still Point. Durante o
Still Point, forças corretivas naturais próprias do nosso organismo promovem
uma profunda reorganização estrutural no ambiente onde funcionam o cérebro e a
medula espinhal. Depois era realizada novamente a técnica e a ausculta do
movimento para haver se há ainda a restrição ou não do movimento craniossacral [2]. A seguir, segue o detalhamento das
técnicas.
Técnica do movimento
circunferencial
Paciente deve estar
deitado em decúbito dorsal, deve inserir a ponta do dedo médio (bilateralmente)
no ouvido, colocar o quarto no processo mastoide e os dedos indicadores ficarão
em contato com o processo zigomático do osso temporal. Deve-se observar e
sentir os movimentos realizado em sincronia com o ritmo do sistema craniossacral do paciente. Quando detectar a restrições
deve-se induzir movimentos alternados, carregar o osso temporal para a rotação
externa e o outro para rotação interna. Quando houver a liberação do osso
temporal restrito, vai ocorrer a sincronia bilateralmente do movimento entre os
dois ossos temporais. Deve-se ficar alerta se caso o osso temporal parar no
meio ciclo. A técnica realizada será interrompida quando, apenas, ocorrer a
sincronização dos ossos temporais. Porém, antes e ser interrompida, deve-se
realizar Still Point, técnica que realiza uma parada após a técnica
circunferencial, onde, no momento, as forças de correção do corpo são ativadas.
Este momento em que é realizada a parada, há um relaxamento no movimento do
fluído e assim dando a nítida melhora do movimento sem restrições. A técnica é
indicada para restrição dos movimentos das suturas nas partes petrosas do osso
temporal, localizadas entre a sutura do osso temporal e do osso occipital [2].
Técnica do “puxão de
orelha”
Paciente deitado em
decúbito dorsal, pegar ambas as orelhas e iniciar ou realizar uma tração de
modo suave dos lóbulos da orelha posterior e lateral, até sentir a resposta do
movimento. A tração deve ser iniciada igualmente e bilateralmente, permitindo a
direção do movimento pelos padrões inerentes dos tecidos. Não se deve impedir
qualquer movimento. Se os ossos temporais não se moverem facilmente, aumente a
tração até que ocorra a liberação ou até quando ela seja percebida [2].
A técnica é indicada
para a compressão medial e disfunção dos ossos temporais, quando o movimento do
crânio se torna anormal. O movimento da técnica atinge, então, a parte petrosa
do osso temporal, liberando o movimento comprimido [2].
Para comparar os dados pré- e pós-avaliação foi utilizado o teste T Student pareado. Para todos os resultados foi adotado um
nível de significância de p < 0,05.
A amostra do estudo foi
de 11 pacientes, sendo 63,6% feminino e 36,3% do sexo masculino. A idade média
dos participantes foi de 71,6.
Foi observado que o
protocolo de terapia manual contribuiu significativamente (p = 0,0002) para a
qualidade de vida da amostra estudada, como demostrado na figura 1.
Figura 1 - Qualidade de vida
pré e pós avaliação da intervenção de terapia manual.
Quanto do protocolo de
terapia manual na intensidade do zumbido, foi identificado uma melhora muito
significativa (p=0,0001).
Figura 2 - Intensidade do
zumbido pré e pós avaliação da intervenção de terapia
manual.
O zumbido inespecífico
no ouvido pode estar associado a dor, podendo levar a uma dor irradiada para o
pescoço, dor intra-articular com espasmo muscular, sensação de tamponamento no
ouvido e que gera problema clínico como acometimento dos músculos
mastigatórios. Há relatos de caso que confirmam a associação do zumbido
inespecífico com pontos de gatilho miofascial. A síndrome da dor miofascial
pode ser aliviada com a técnica digito pressão para a desativação dos pontos de
gatilho miofascial e para o alívio parcial ou até total do zumbido
inespecífico. Após evidências clínicas, constataram que pessoas que tem o
sintoma do zumbido inespecífico, tem três vezes maior probabilidade de se
queixarem de dor miofascial [15-17].
A fisioterapia, através
da terapia manual e da osteopatia craniana, pode contribuir para o manejo do
zumbido inespecífico, com as mobilizações e equilíbrio dos ossos temporais.
Nestes recursos, desenvolvem-se técnicas manuais, mobilizações, manipulativas,
com o objetivo da sincronia dos ossos temporais e liberação miofascial dos
músculos masseteres [2,16].
A osteopatia craniana e
a terapia manual têm como propósito reestabelecer a mobilidade dos ossos
temporais e do movimento craniossacral, para a
liberação, desativação e relaxamento dos pontos de gatilho do músculo
mastigatório [19]. A osteopatia craniana, com técnicas mais sutis, facilita na
liberação das estruturas restritas entre ossos e suturas cranianas e da
flutuação do líquido cerebroespinhal, levando à
melhora do sintoma do zumbido inespecífico [18,19].
A terapia manual, com
técnicas e mobilizações manuais, promoveu a melhora no sintoma de zumbido
inespecífico e da qualidade de vida da população estudada.