REVISÃO
Efeitos da técnica
manipulativa articular na lombalgia: uma revisão de literatura
Effects of articular manipulative technique in low back pain: a
literature review
Bruno Gonçalves Dias
Moreno*, Tamara Martins da Cunha*, Vitória Dias Ferreira*, Kelvin Anequini Santos*, Cármino Sérgio Gasparini*, Paulo Roberto
Rocha Júnior**
*Escola Brasileira de
Fisioterapia Manipulativa (EBRAFIM), **Faculdade de Medicina de Marília/SP
Correspondência: Bruno Gonçalves Dias
Moreno, Rua Berlim, 34 Qd F2 Golden Park Residence 15135-820 Mirassol SP
Bruno Gonçalves Dias
Moreno: bruno@ebrafim.com
Tamara Martins da Cunha:
tamara_1601@hotmail.com
Vitória Dias Ferreira:
vitoriadiasferreira@live.com
Kelvin Anequini Santos: kanequini@gmail.com
Cármino Sérgio
Gasparini:carminogasparini@gmail.com
Paulo Roberto Rocha
Júnior: prochajr@terra.com.br
Resumo
O objetivo do presente
estudo é revisar a literatura sobre a manipulação articular manual (MAM) e seus
efeitos em indivíduos com lombalgia. Trata-se de uma revisão de literatura,
realizada pela seleção de artigos nas bases de dados Periódico da CAPES, Scielo e PubMed Central,
publicados nos últimos 5 anos (2015-2019). A pesquisa foi limitada à língua
portuguesa e inglesa, com estudos realizados em humanos, foram excluídos
resumos de dissertações ou teses acadêmicas, artigos de revisão e de opinião.
Os desfechos considerados foram: efeito da manipulação na dor lombar aguda ou
crônica, na qualidade de vida, na amplitude de movimento da coluna (ADM) e na
incapacidade. A seleção dos artigos foi inicialmente através da apreciação dos
títulos e em seguida dos resumos, que tinham potencial relevância, assim na sequência
foi analisado cautelosamente em relação a elegibilidade através da leitura do
artigo completo. E esta revisão foi realizada por meio de dois revisores
independentes. Diante das buscas foram encontrados 102 artigos, desses, apenas
8 foram incluídos no estudo. Os resultados obtidos nesta revisão descrevem
efeitos positivos da técnica MAM em sintomas de lombalgias, como dor, ADM e
incapacidade, entretanto seus efeitos em QV permaneceram sem conclusões
específicas neste caso.
Palavras-chave: dor lombar,
manipulação musculoesquelética, manipulação da coluna.
Abstract
The
aim of the present study was to review the literature on manual joint
manipulation and its effects on individuals with low back pain. This is a
literature review, carried out by selecting articles from the CAPES, Scielo and PubMed Central databases published in the last 5
years (2015-2019). The research was limited to Portuguese and English, with
studies carried out in humans, abstracts of academic dissertations or theses,
review and opinion articles were excluded. The outcomes considered were effect
of manipulation on acute or chronic low back pain, quality of life, spinal
range of motion (ROM) and disability. The selection of the articles was
initially through the appreciation of the titles and then of the abstracts,
which had potential relevance, so in the sequence it was carefully analyzed in
relation to the eligibility by reading the full article. This review was
carried out by two independent reviewers. In view of the searches, 102 articles
were found, of these, only 8 were included in the study. The results obtained
in this review describe positive effects of the MAM technique on symptoms of
low back pain, such as pain, ROM and disability, however its effects on QOL
remained without specific conclusions in this case.
Keywords: lumbar
pain, musculoskeletal manipulation, manipulation spinal.
A dor lombar é a causa
mais comum de incapacidade laborativa nas pessoas abaixo de 45 anos e a segunda
razão mais comum para visitas a quiropraxistas e
osteopatas [1,5]. Lombalgia não específica e dor na perna relacionada a ciatalgia com déficit neurológico podem ser subdivididas
em: aguda, definida como dor que restringe as atividades diárias e pode durar
de 1 dia a 12 semanas; e crônica ou persistente, definida como dor que
restringe as atividades diárias por mais de 12 semanas [3,6].
Um terço dos casos de
dor lombar aguda pode se tornar crônico e levar à incapacidade. Na maioria dos
casos crônicos (estimados em 85-95%), um diagnóstico definitivo, isto é,
infecção, neoplasia, osteoporose, artrite, fratura, radiculopatia
ou processos reumáticos inflamatórios, é descartado [6,7].
A dor lombar está entre
as doenças médicas mais comuns e um importante problema de saúde pública.
Aproximadamente, 50% dos adultos norte-americanos em idade de trabalho tem dor
lombar [8]. Atualmente é sabido que a maioria das dores lombares é causada pelo
“mau uso” ou “uso excessivo” das estruturas da coluna (resultando em entorses e
distensões), esforços repetitivos, excesso de peso, pequenos traumas,
condicionamento físico inadequado, erro postural, posição não ergonômica no
trabalho e osteoartrose da coluna [9].
No que engloba o
tratamento da lombalgia a manipulação articular manual (MAM) da coluna
vertebral, aborda uma ampla variedade de condições musculoesqueléticas [6,10].
Elaborada em alta velocidade e baixa amplitude é um tratamento reconhecido na
dor lombar crônica [2,11]. Alguns trabalhos relatam resultados positivos da
MAM, tais como a melhora da mobilidade articular, a diminuição da dor e dos
espasmos musculares [6,12,13].
Nesse sentindo, o
presente estudo tem como objetivo revisar as evidências cientificas disponíveis
sobre a MAM e seus efeitos quando aplicada em indivíduos com lombalgia,
analisando quanto aos resultados nesses sujeitos.
Trata-se de uma
pesquisa de revisão de literatura, realizada na base de dados online: Periódico
da CAPES, Scielo e PubMedCentral,
no período de fevereiro de 2019. As palavras-chave usadas em
várias
combinações foram: “dor lombar”,
“manipulações musculoesqueléticas”,
“manipulações da coluna” e “dor
aguda”, como também em suas versões na
língua
inglesa.
A pesquisa foi limitada
à língua portuguesa e inglesa, com estudos realizados em humanos que foram
publicados nos últimos 5 anos (2015-2019). Foram excluídos resumos de
dissertações ou teses acadêmicas, artigos de revisão e de opinião. Estudos que
não utilizaram a técnica manipulativa como intervenção não foram incluídos,
tais como tratamentos farmacológicos e outros isolados. Os desfechos
considerados foram: efeito da manipulação na dor lombar aguda ou crônica (DLa e DLc, respectivamente), na
qualidade de vida (QV), na amplitude de movimento da coluna (ADM) e na
incapacidade.
A seleção dos artigos
foi inicialmente através da apreciação dos títulos e em seguida dos resumos,
que tinham potencial relevância, assim na sequência foi analisada
cautelosamente em relação a elegibilidade através da leitura do artigo
completo. E esta revisão foi realizada por meio de dois revisores independentes
(TMC e VDF).
Diante das buscas foram
encontrados 102 artigos. Desses, relevantes à revisão, apenas 8 foram incluídos
no estudo. Na Figura 1, mostra como foi realizado a seleção.
Figura 1 – Fluxograma de
inclusão dos estudos.
As descrições resumidas
dos artigos incluídos na revisão encontram-se na tabela I, em ordem
cronológica.
Tabela I – Resumo dos
estudos incluídos na revisão.
MAM = Manipulação
articular manual; EMG = eletromiografia; QV = qualidade de vida; ADM =
amplitude de movimento.
Esta pesquisa de
revisão de literatura teve como objetivo concentrar as evidências cientificas
mais relevantes sobre a manipulação articular na lombalgia, quanto a seus
efeitos fisiológicos na percepção da dor, da ADM, da incapacidade e da QV.
No que diz respeito a
dor, a maior parte dos estudos mostram uma melhora após a manipulação
articular. No estudo de Shokri et al. [14],
avaliaram 20 pacientes com lombalgia, proveniente de hérnia lombar, a qual
aplicaram uma manipulação na articulação sacro-ilíaca, que apresentaram melhora
da dor percebida, através da escala numérica da dor, a partir da quinta sessão,
com um mês de tratamento.
Em contrapartida,
somente uma pesquisa mostrou desfecho diferente da maioria dos demais, foi o
estudo realizado por Jacobson et al. [7], em que a dor não diminuiu
significativamente. Mas segundo alguns autores, a melhora da dor se dá pela
diminuição da tensão de músculos relacionados a disfunção lombar como, quadrado
lombar, iliopsoas e isquiotibiais.
Além disso, Moehlecke et al. [15], afirma que a técnica
manipulativa tem efeito fisiológico rápido, causando alterações química,
mecânicas e térmicas, gerando uma resposta-reflexo de analgesia, através do
estado de facilitação central da medula espinhal que influencia os neurônios
aferentes proprioceptivos. Assim, há uma diminuição na atividade eletromiográfica dos músculos paravertebrais
lombares persistente até 30 minutos após a manipulação, no local e
circunscrito, mas não sistêmica [13,16].
Quanto a ADM, todos as
pesquisas que tiveram esse parâmetro avaliado, observaram um aumento. Esse
resultado está relacionado a melhora da mobilidade articular, através do
relaxamento muscular pós-manipulação [14,15]. Um estudo realizado
anteriormente, mostrou que em duas sessões/semana durante 6 meses, em pacientes
com lombalgia crônica não específica restaurou o movimento em todos os planos
anatômicos da coluna lombar [7].
A incapacidade de
realização das atividades de vida diárias (AVD) de um sujeito com lombalgia
aguda pode ser decorrente da dor e da baixa ADM, que pode causar limitações
parciais, temporárias e recorrentes [15]. As evidências mostram que a manipulação
reduz imediatamente e a curto prazo a incapacidade autopercebida.
A exemplo, do estudo feito por Schneider et al. [8], que comparou a MAM
com os cuidados médicos usuais, como medicamentos analgésicos,
anti-inflamatórios e orientações. Nele resultou que a MAM foi estatisticamente
superior para diminuição da incapacidade funcional, na lombalgia aguda e
subaguda.
E em apenas um único
artigo avaliou a QV, através do Questionário de Qualidade de Vida SF-36, a qual
concluiu que a DLc geralmente é de baixa intensidade,
o que interfere pouco nos aspectos emocionais [15]. Ou seja, a MAM não melhora
e nem piora a QV, é estatisticamente insignificante.
Em relação as
limitações deste presente estudo, os critérios metodológicos escolhidos na
seleção dos artigos não representam todas as evidências disponíveis na área,
mas constituem uma amostra atualizada. Nesta revisão foi possível perceber que
em algumas pesquisas não ficou clara a descrição do local ou das técnicas de
MAM, gerando dúvidas sobre sua metodologia e exclusão dos dados.
De forma geral, os
ensaios clínicos sobre MAM, desenvolvem critérios metodológicos onde é
realizada a técnica manipulativa em um ponto específico da coluna lombar ou
isso é feito de forma inespecífica [13,15,16]. É importante destacar que as
lombalgias são provocadas por diferentes fatores, em diferentes pacientes
[6,7]. Independente da interpretação final de cada estudo, cada paciente deve
ser investigado de forma individual e suas disfunções diagnosticadas conforme as
condições clínicas apresentadas, portanto entender o efeito de uma técnica
manipulativa em pacientes com lombalgia não significa poder associa-la sempre
como uma forma de tratamento, ou não.
Outro ponto para
reflexão, a ser considerado, é que nem sempre uma técnica de tratamento pode ou
deve ser aplicada onde um paciente apresenta seus sintomas. Interdependência
regional é o termo que tem sido utilizado para descrever observações clínicas,
relacionadas a diferentes regiões do corpo, principalmente com distúrbios
musculoesqueléticos. Existe uma crescente base literária demonstrando que as
intervenções aplicadas a uma determinada região anatômica podem influenciar o
resultado e a função de outras regiões do corpo, que aparentemente poderiam não
estar relacionadas [14].
Tensegridade, a relação entre
forças de tensão e tração tecidual, é a base teórica que amplia o conceito de interdependencia regional, considerando que a propagação
das forças de mecanotransdução celular são essenciais
para estimular ações bioquímicas intracelulares. A base fisica
das doenças muitas vezes é ignorada pela medicina na genética molecular,
entretanto muitos problemas que levam pacientes a processos de dor e morbidade
resultam de alterações na estrutura ou na mecânica dos tecidos [15].
Os resultados obtidos
nesta revisão descrevem efeitos positivos da técnica MAM em sintomas de
lombalgias, como dor, ADM e incapacidade. Porém, seus efeitos em QV,
permaneceram sem conclusões específicas neste caso. Finalmente,
independentemente dos resultados de qualquer pesquisa nesta área, deveremos
considerar sempre a individualidade e especificidade de cada diagnóstico
clínico e disfuncional, para que o planejamento terapêutico atinja as reais
necessidades do paciente.