EDITORIAL
COVID-19: O que todos
devemos saber!
Marco Orsini
Médico, PhD pela UFRJ,
Professor Adjunto da Universidade de Vassouras e Pesquisador do Departamento de
Medicina da Universidade Iguaçu
orsinimarco@hotmail.com
Toda vez que eclode uma
doença infecciosa, independente de agente patógeno, existem sempre duas
respostas. No caso do vírus, especificamente quando ocorre invasão celular, a
célula sinaliza que seu mecanismo de ação já está combalido ‘dominado’ e
dispara o mecanismo de apoptose (suicídio programado) - tal mecanismo para
qualquer célula corpórea. Em adição, a resposta imunológica exacerbada, ou
seja, a utilização de um enorme grupo de células de defesa maior que o agente
agressor, provoca um desequilíbrio da resposta imunológica (tempestade
inflamatória).
O COVID-19 tem mostrado
em pouco tempo que parece “conhecer” todas as cadeias de ‘sinalização’ que se
associam ao sistema imune. Essa resposta em cascata relaciona-se com a presença
de citocinas liberadas pelos linfócitos B, ativadas por macrófagos que,
posteriormente, processam antígenos do vírus em questão. Tal informação é
rapidamente repassada para o linfócito T.
Em resumo, não somente
a parte ‘citopática’ do linfócito T quanto à produção
de citocinas aos anticorpos do linfócito B fazem eclodir uma ebulição
inflamatória. Independente dessas colocações se observarmos a replicação viral
existem três tipos de material genético do vírus. Existem vírus do tipo DNA,
RNA positivo e RNA fita negativo. O COVID-19 é um vírus RNA fita positivo, ou
seja, ele não precisa ser transformado em fita RNA negativo para depois ser mutado para DNA e, conseqüentemente,
em RNA positivo.
Chama atenção o
imediatismo de replicação viral pelo ribossomo citoplasmático, muito rico no
reticulo endoplasmático rugoso. O CODIV-19 possui uma ’replicase’
que faz parte de seu próprio núcleo. Indubitavelmente, podemos considerá-lo
como um patógeno autônomo de material genético. A maquinaria, após sofrer
infecção, começa a dar sinais de fragilidade e associar o “botão” de start para
“morte” programada.
Os fisioterapeutas,
além dos médicos que lidam com pacientes internados por CODIV-19, devem ter em
mente a ação das citocinas, dos pneumócitosII e da
ACE II, principais gatilhos para tal cascata. Os enfermos graves são, em sua
maioria, “sépticos” e “inflamados”.
Eventualmente me
perguntam se o CODID-19 trata-se de um vírus pulmonar. Obvio que não – é uma
doença sistêmica. Entretanto relembremos que o vírus atinge os pneumócitos do tipo II (células do tipo pneumócitos,
encontradas no parênquima pulmonar e exuberante nos alvéolos). Essas produzem e
secretam surfactantes, um tipo de substância composta de fosfolipídeo
e proteínas, que reduzem a tensão superficial alveolar e impedem a aproximação
das moléculas de água e, conseqüentemente, o colabamento dos alvéolos pulmonares.
Possuo como autor,
fascínio por dois tipos de sistemas do nosso organismo: o sistema nervoso
central (que é único – essas subdivisões que o desmembram em (periférico,
autonômico e vegetativo) são didáticas e pouco provocativas quando não
associadas, além do imunológico, esse fantástico. Faço referência ao sistema
imune do metazoário (organismo superior) – altamente sofisticado. Possuímos um
mecanismo de defesa tanto inato como adquirido que nos fez chegar, lutar,
sobreviver até os dias atuais. Sistema esse que o COVID-19 parece ter a chave
de toda a engrenagem de sinalização.
Retornando
ao processo
inflamatório, desculpem-me por ser prolixo e reminiscente, mas
esse é um
universo ainda não explorado. Por exemplo, a
infecção do sistema nervoso
central é uma particularidade do SNC (Encefalite\Mielite),
seguida ou associada
à inflamação. A infecção da
pneumonia, no parênquima pulmonar, seguida ou
associada de inflamação. No coração, a
infecção/inflamação expressadas pela
miocardite.
Em resumo, entender o
processo inflamatório, é um conhecimento que perpassa as infecções agudas,
subagudas e crônicas, embora não gostemos da titulação fornecida às infecções
subagudas, pois são agudas ou crônicas.
Um último questionamento
que gostaria de levantar aqui faz referência ao termo “degenerativo”. Tal termo
não deveria mais ser utilizado em nosso meio. O que é degenerativo? Devemos ter
uma causa para tal. Caso contrário, desde que nascemos estamos degenerando. Por
exemplo, a aterosclerose já é considerada uma doença inflamatória. Os fatores
de risco considerados desfavoráveis para a COVID-19 são as doenças
inflamatórias crônicas e o comportamento individual de nosso sistema imune à
agressão viral. Podemos citar diabetes, asma, DPOC, hipertensão, obesidade e
aterosclerose. Creio que o maior exemplo de doença inflamatória crônica é a
obesidade. Todos esses mecanismos levam a destruição tecidual. Acabamos
utilizando uma epigrama de que todos os caminhos nos levam a Roma, ou seja, vários
mecanismos levam à morte celular, contemplando nesse cenário a própria apoptose
celular (suicídio celular programado).
Esse, que tanto
falamos, pode ser considerado um vírus ‘simples’, entretanto conhecedor de
vários caminhos do sistema imune e central que ainda desconhecemos; mas
certamente iremos bloqueá-lo – até que venha um novo.
Gostaria de agradecer a
escrita desse editorial para todos os fisioterapeutas pelo belíssimo trabalho e
profissionalismo e, obviamente, pelas correções dos ilustres Professores de
Medicina, Dr. Carlos Henrique Melo Reis e Acary Souza
Bulle Oliveira, extraordinários neurologistas em
atividade que conheço. Um carinho ao grande fisioterapeuta Mauricio Sant’Anna
Júnior e Cristiane Baez Garcia – figuras de
excelência em tudo que fazem – com mistura de amor e competência. Que tal
pandemia sirva para união de nossos pares e profissões, pois precisamos muito
de vocês. Com Carinho, Marco Orsini.