ARTIGO ORIGINAL
Estudo transversal da
capacidade funcional e força muscular em setuagenários institucionalizados
Transversal study of functional capacity and muscle strength in
institutionalized elderly
Maria da Penha Laprovita Oliveira*, Marco Orsini**, Fábio
Augusto d´Alegria Tuza*, Paulo Henrique de Moura*, Aryanne Nunes Magalhães da Silva*, Bárbara Ventura da Silva*,
Aluana Santana Carlos*, Joana da Costa Pinto d’Avila*, Adalgiza Mafra Moreno*
*Universidade Iguaçu
UNIG, Nova Iguaçu/RJ, Grupo de Pesquisa em Saúde e envelhecimento UNIG,
**Programa de Mestrado em Ciências Aplicadas em Saúde, Universidade de Vassouras,
Universidade Iguaçu UNIG/RJ, Programa de Mapeamento Cerebral e Funcionalidade
UFPI
Correspondência: Profª
Adalgiza Mafra Moreno, Universidade Iguaçu - UNIG, Nova Iguaçu RJ, Rua
Tabajaras, 27/506, 24220-030 Niterói RJ
Adalgiza Mafra Moreno:
adalgizamoreno@hotmail.com
Maria da Penha Laprovita Oliveira: mariadapenhalaprovitao@gmail.com
Marco Orsini: orsinimarco@hotmail.com
Fábio Augusto d´Alegria Tuza: fabiotuza@gmail.com
Paulo Henrique de Moura:
phenriqmoura@ig.com.br
Aryanne Nunes Magalhães da
Silva: aryne.nunes@gmail.com
Bárbara Ventura da
Silva: barbara.ventura7@hotmail.com
Aluana Santana Carlos:
aluanasc@gmail.com
Joana da Costa Pinto d’ Avila: joanacpdavila@gmail.com
Resumo
Introdução: As pessoas estão
envelhecendo cada vez mais no Brasil e no mundo. Estudos apontam que o processo
de envelhecimento populacional é acompanhado com o aumento de ocorrência de
morbidade e incapacidade. Diferentes condições podem ser apresentadas pelo
envelhecimento, como: diminuição da capacidade funcional, diminuição da força e
da massa muscular, entre outros. Objetivo: Investigar a redução da
capacidade funcional, secundária a redução de força muscular de membros
inferiores em idosos institucionalizados em duas instituições de longa
permanência (ILPI) no município de Nova Iguaçu (RJ/Brasil). Métodos:
Trata-se de um estudo transversal, exploratório de caráter quantitativo em duas
IAPI em Nova Iguaçu/RJ/ no período do mês de julho e agosto de 2017, em que
foram selecionados 60 idosos de ambos os sexos (34 homens e 26 mulheres), com
faixa etária ≥ 60 anos. Os voluntários foram avaliados quanto a
capacidade funcional e a força muscular. Para a capacidade funcional, foi
utilizado a escala de Barthel. Para o teste de força,
o presente estudo usou para forma de avaliação a escala de Medical Research Council (MRC). Resultados:
Os resultados mostraram que 61,7% dos idosos são classificados como
independentes pelo índice de Barthel. Na escala de
MRC, 95% dos idosos apresentaram fraqueza muscular. Conclusão:
Concluímos que a maior proporção de idosos institucionalizados foram
considerados independentes, porém, apresentaram quadro de fraqueza muscular.
Palavras-chave: envelhecimento, força
muscular, autonomia, escala Medical Research Council, escala de Barthel.
Abstract
Introduction: People are aging more and more in Brazil and worldwide. Studies show
that the process of population aging is accompanied by increased occurrence of
morbidity and disability. Different conditions can be presented by aging, such
as: decreased functional capacity, decreased strength and muscle mass, among
others. Objective: To investigate the reduction of functional capacity,
secondary to the reduction of muscular strength of lower limbs in elderly
institutionalized in two institutions in the municipality of Nova Iguaçu/RJ
Brazil. Methods: This is a quantitative exploratory study in two elderly
institutions at Nova Iguaçu during the period of July and August 2017, with 60
elderly men and women (34 males and 26 females), age range ≥ 60 years.
The volunteers were assessed for functional capacity and muscle strength. For
functional capacity, the Barthel scale was used. For strength testing, the
present study used the Medical Research Council (MRC) scale for evaluation. Results:
The results of the present study showed that 61.7% of the elderly are
classified as independent by the Barthel index. In the MRC scale, 95% of the
elderly presented muscular weakness. Conclusion: We concluded that the
most proportion of institutionalized elderly was considered independent but
presented a picture of muscular weakness.
Keywords: ageing, muscular strength, autonomy, Medical Research Council scale,
Barthel scale.
O envelhecimento é
caracterizado por várias alterações no corpo humano e no metabolismo, que
potencialmente produzem menor capacidade individual de adaptação ao ambiente
[1]. O processo de envelhecimento populacional tem sido observado mundialmente,
e isso não tem sido diferente no Brasil, pois o perfil demográfico tem mudado,
principalmente nas últimas décadas [2].
Estudos apontam que
este processo é acompanhado com o aumento de ocorrência de morbidade e
incapacidade [3,4]. Segundo Camarano e Kanso [5]
estima-se que em 2020, no Brasil, 14% das pessoas tem mais de 60 anos, sendo 4
milhões delas com 80 anos ou mais.
Apesar do crescente
aumento do envelhecimento populacional, diferentes condições podem ser
apresentadas pelo envelhecimento, como: redução da capacidade funcional,
redução da capacidade cognitiva, presença de doenças crônicas degenerativas,
déficits de equilíbrio, aumento do número de quedas, diminuição da força e da
massa muscular [6-8].
A capacidade funcional
reduzida consiste na falta de habilidades para prestar autocuidado pelos idosos
que, ao se tornarem dependentes de parentes ou cuidadores, produzem custos
sociais, familiares e de saúde que devem ser investigados [1].
As incapacidades
relacionadas a saúde apresentadas pelos idosos, juntamente com fatores
demográficos e sociais, estão entre os motivos de idosos estarem residindo em
ILPI [8].
As instituições de
longa permanência são organizações sociais com atividades dirigidas por
regimentos e regulamentada pelo governo, com cunhos assistenciais e
filantrópicos em tutelar os idosos [9].
O estudo de Da Silva e
Santos [10] afirma que a ILPI tem a função básica de assistência geronto-geriátrica, integrando um sistema continuado de
cuidados, além de oferecer moradia especializada. Equipe interdisciplinar
constituída de médico, enfermeiro, técnicos de enfermagem, psicólogo,
assistente social, fisioterapeuta, educador físico, nutricionista cuidadores e
serviços gerais, estão empregadas nas instituições, oferecendo toda a assistência
necessária aos idosos em diferentes condições apresentadas no envelhecimento
[10]. Identificar a prevalência da fragilidade e seus fatores associados pode
ajudar a implementar intervenções adequadas precoces para melhorar a qualidade
de vida dos idosos [11,12].
Os idosos
institucionalizados apresentam diminuição da capacidade funcional no processo
de envelhecimento. A capacidade funcional é definida como a habilidade de
manter as condições físicas e mentais necessárias nas atividades de vida diária
de forma independente e autônoma [13]. Estudos descrevem que o declínio da
capacidade funcional em idosos pode estar associada a diminuição de força,
levando a perda progressiva da independência funcional, aumento do risco de
fraturas, aumento do risco de quedas, diminuição da qualidade de vida, bem
como, o aumento de doenças e possível mortalidade em idosos [14-17].
Atualmente, a
literatura aponta a importância da avaliação do nível de força e de capacidade
funcional dos idosos, sendo um ponto fundamental para determinação do risco de
dependência, de complicação ou de doenças crônicas. Para isso, existem
diferentes maneiras de se avaliar força muscular e capacidade funcional em
indivíduos idosos, tanto do ponto de vista clínico como do ponto de vista
laboratorial que variam de testes físicos (ex: teste
de força muscular manual e teste de caminhada de 6 minutos) a uso de
questionários como o Medical Research Council (MRC) e escala de Barthel
[18,19].
Neste contexto,
observando que a perda de força muscular e da capacidade funcional podem levar
a agravos na saúde dos idosos, o presente estudo tem como objetivo: investigar
a redução da capacidade funcional, secundária a redução de força muscular de
membros inferiores em idosos institucionalizados em duas ILPI no município de
Nova Iguaçu/RJ.
Trata-se de um estudo
transversal, exploratório de caráter quantitativo em duas IAPI em Nova
Iguaçu/RJ no período do mês de julho e agosto de 2017, onde foram selecionados
60 idosos de ambos os sexos (34 homens e 26 mulheres), com faixa etária de 76,5
± 8,3 anos, (média e desvio padrão). Participaram do estudo como critérios de
inclusão: idosos com idade ≥ 60 anos, moradores em uma das IAPI
selecionadas no estudo, lúcidos e cooperativos. Foram excluídos idosos com
alterações cognitivas, cardiorrespiratórias, desordens psiquiátricas,
patologias neurológicas com comprometimentos motores e idosos com fraturas não
consolidadas.
A pesquisa foi
realizada seguindo as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa
envolvendo seres humanos, determinadas na Resolução nº. 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde, sendo solicitada autorização institucional com projeto
previamente submetido ao comitê de ética e pesquisa da Universidade Iguaçu e autorizado
sob número do CAAE 76736417900008044 de acordo com o termo de autorização.
Todos os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para participar da pesquisa.
Os voluntários foram
avaliados quanto a capacidade funcional e a força muscular, para a capacidade
funcional, foi utilizado a escala de Barthel. Essa
escala mede a independência funcional no cuidado pessoal, mobilidade, locomoção
e eliminações. A independência funcional é avaliada em dez tarefas: alimentação,
banho, vestuário, higiene pessoal, eliminações intestinais, eliminações
vesicais, uso do vaso sanitário, passagem cadeira-cama, deambulação e escadas
[20].
O valor da pontuação
desse índice varia de 0 a 100, em intervalos de cinco pontos sendo, 0
dependente total, cinco dependentes parcial e 10 independente. Ao final do
questionário os voluntários com notas inferiores a 20 possuem dependência
total, com pontuação de 20 a 35 dependência grave, pontuação de 40 a 55
dependência moderada, as pontuações mais elevadas indicam maior independência
[20,21].
Para a avaliação da
força, foi utilizada a escala de Medical Research Council (MRC) com o intuito de observar o desempenho
dos membros inferiores. Os voluntários foram orientados pelas pesquisadoras a
realizar movimentos de membros inferiores bilateralmente em extensão de
quadril, flexão de quadril, adução de quadril, abdução de quadril, extensão de
joelho e flexão de joelho com a ação da gravidade, de acordo com o grau de
força muscular e amplitude de movimento, e foram estimulados verbalmente
durante todo o procedimento.
Os valores de
referência foram avaliados de acordo com o grau de força através da escala de
MRC que variam de 0 a 5 pontos, sendo 0, sem nenhuma contração e 5, força
normal. Além da pontuação recebida para a graduação de força exercida, os
voluntários receberam uma pontuação por cada movimento realizado que varia de 0
(tetraparesia completa) a 60 (força muscular normal). Os voluntários com
pontuação menor que 48 possuíam fraqueza muscular.
As variáveis gênero,
faixa etária, índice de Barthel e escala de MRC foram
expressas descritivamente utilizando o nº de participantes e o percentual
referente. Os dados para ambos os índices apresentaram distribuição não
paramétrica pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Os
índices de Barthel e a escala de MRC dos idosos
institucionalizados foram correlacionados através do teste não paramétrico de
correlação de Spearman (r) [5], o nível de
significância adotado foi p < 0,05.
Participaram do estudo
60 idosos com idade de 76 ± 8 anos (média e desvio padrão). A maioria dos
idosos era do sexo masculino (56,7%) seguido por 43,3% do sexo feminino. Quanto
as classificações dos resultados apresentados pelo índice de Barthel, os resultados do presente estudo mostraram que
61,7% dos idosos são independentes, 11,7% apresentaram dependência leve, 13,3%
dependência moderada e 13,3% dependência grave. Os resultados da escala de MRC
mostrou que 95% dos idosos apresentaram resposta de fraqueza muscular (tabela
I).
A comparação entre
gênero e a escala de Barthel, dos 37 idosos
institucionalizados independentes, 25 eram do sexo masculino e 12 do sexo
feminino. Em dependência leve, 4 eram masculinos e 3 femininos. Em dependência
moderada, 4 eram masculinos e 4 femininos. Dependência grave, 1 era masculino e
7 femininos (tabela II, gráfico 1).
O índice de correlação
de Spearman mostrou positividade moderada entre o
índice de Barthel e a escala de MRC nos idosos
institucionalizados com (r = 0,574; p = 0,001) (gráfico 2).
Os avaliadores tiveram
dificuldades quanto a aplicação da escada de MRC, em que 8 participantes
desistiram em realizar movimentos de flexão e/ou extensão de joelho e/ou
quadril, e 2 participantes não quiseram participar da aplicação da escala de
MRC.
Tabela I - Características
descritivas: faixa etária, gênero, nível de dependência e grau de força.
Tabela II - Relação entre
resultado de Barthel e gênero em idosos
institucionalizados.
Gráfico 1 - Diagrama de box plot para dependência funcional pela escala de Barthel dividida por gênero em idosos institucionalizados.
Gráfico 2 - Correlação de Spearman (Pontuação da escala de MRC vs. Pontuação do
índice de Barthel) em idosos institucionalizados.
Os principais
resultados deste estudo foram: (i) a maior parte dos idosos institucionalizados
apresentam quadro de independência funcional; (ii) a
independência funcional foi maior no sexo masculino em idosos
institucionalizados; (iii) todos os idosos
institucionalizados que participaram na escala de MRC apresentaram quadro de
fraqueza muscular; (iv) a correlação entre o índice
de Barthel e a escala de MRC foi moderadamente
positiva entre as variáveis.
A institucionalização
vem sendo considerada uma alternativa em idosos que apresentam diminuição da
capacidade funcional, bem como a dependência do mesmo [22). A avaliação da
capacidade funcional em idosos institucionalizados é um importante indicativo
da qualidade de vida [23]. No presente estudo, observou-se que 61,7% dos idosos
institucionalizados eram independentes e 38,3% apresentaram dependência funcional.
Diferentemente dos estudos de Dantas et al. [18] e Reis e Torres [24]
que mostraram que a maior parte dos idosos eram dependentes, encontramos maior
independência em idosos avaliados.
Estudo de Dantas et
al. [18] avaliou o desempenho funcional em 164 idosos residentes em
Instituições de Longa Permanência, em Recife-PE, Brasil. Neste estudo
observaram que 70% dos idosos eram dependentes para as atividades de vida
diária, e todos eram dependentes para as atividades instrumentais [18]. O
estudo de Reis e Torres [24] avaliou a capacidade funcional em 60 idosos
institucionalizados e observou que 70% foram classificados como dependentes.
Estudo transversal com
598 indivíduos com 60 anos ou mais avaliou a prevalência de incapacidade e
fatores associados em idosos, analisando as atividades básicas e instrumentais
da vida diária. Os autores concluíram que a associação entre a incapacidade
relacionada a questões básicas e atividades instrumentais estava associada ao
aumento da idade [25].
Estudos apontam que a
força é um fator importante quanto a melhora da capacidade funcional em idosos
[19,26]. Coutinho et al. [26] realizou um estudo quase experimental com
o objetivo de verificar o efeito do treinamento de força na capacidade
funcional em idosos institucionalizados. Os idosos foram avaliados pelos testes
de capacidade funcional e submetidos a treinamento da força por um período de
12 semanas. Observou-se que o programa de treinamento de força por um curto
período melhorou o desempenho das atividades da vida diárias dos idosos
institucionalizados.
Estudo de Scarabottolo et al. [19] analisou a associação entre
um programa de exercício físico sistemático e a capacidade funcional em 30
idosos institucionalizados, sendo 16 homens e 14 mulheres, distribuídos em
grupo controle e grupo treinamento. Foram realizados os exercícios durante 12
semanas, sendo que a capacidade funcional foi avaliada antes e após a
intervenção, por meio de testes de levantar e sentar
da cadeira (força de membros inferiores), força de membro superior, timed up and
go e força de preensão manual. Os resultados do estudo mostraram melhora
significativa nos testes de força do membro superior e de levantar
e sentar da cadeira, demonstrando eficácia na melhora de algumas das capacidade
funcionais dos idosos institucionalizados [19].
Em nosso estudo, foi
realizada a avaliação da força muscular pela escala de MRC, onde 95% dos idosos
institucionalizados apresentaram fraqueza muscular. Na análise de correlação
entre o índice de Barthel e a escala de MRC, o
resultado mostrou correlação positiva e moderada. Poderíamos inferir que esses
pacientes se beneficiariam de treinamentos específicos, como os descritos por Scabottolo et al. [19] e Coutinho et al.
[26].
A Organização Mundial
da Saúde descreve que envelhecimento saudável é um processo de desenvolvimento
e manutenção da capacidade funcional que permite o bem-estar na idade avançada.
A capacidade funcional é a habilidade da pessoa de realizar atividades diárias
do seu cotidiano; garantindo sua autonomia. [27,28]. Dessa forma, o
envelhecimento é um processo sofisticado, acompanhado pela redução da
capacidade fisiológica geral, portanto, o aumento e manutenção da capacidade
funcional e força, através de programas de exercícios são fundamentais para a
melhora da qualidade de vida, para idosos com independência e com dependência
funcional, tanto institucionalizados quanto não institucionalizados.
Dentre as limitações do
estudo destacam-se a desistência e a dificuldade de alguns idosos na realização
de testes para escala de MRC, em que três idosos desistiram em realizar a
extensão de quadril e flexão de joelho, cinco desistiram de realizar a flexão
de joelho e um desistiu em realizar a extensão de quadril, apresentando resultados
incompletos quanto a escala de MRC.
Concluímos que a maior
proporção de idosos institucionalizados, foram considerados independentes para
a realização das atividades básicas e instrumentais de vida diária, observando
os resultados apresentados no índice de Barthel.
Contudo, uma parcela importante dos idosos apresentam comprometimentos da
capacidade funcional e força.