Fisioter Bras 2021;22(6):809-23
ARTIGO
ORIGINAL
Prevalência
da síndrome da fragilidade e perfil clínico e sociodemográfico dos idosos
institucionalizados de Pindamonhangaba/SP
Prevalence of frailty syndrome and clinical and
sociodemographic profile of
institutionalized elderly
in Pindamonhangaba/SP
Stephanie
Pereira Ferreira*, Rafaela da Silva Palma*, Keyleytonn
Sthil Ribeiro**, Vânia Cristina dos Reis Miranda**,
Elaine Cristina Martinez Teodoro**, Elaine Cristina Alves Pereira**
*Fisioterapeuta,
Centro Universitário FUNVIC, **Fisioterapeuta, docente do Curso de Fisioterapia
do Centro Universitário FUNVIC
Recebido
em 12 de maio de 2020; aceito em 18 de julho de 2021.
Correspondência: Elaine Cristina Alves Pereira, Avenida
Cônego João Maria Raimundo da Silva, 217/162B, Vila Costa 12050-187 Taubaté SP
Stephanie
Pereira Ferreira: tefa-stephanie@outlook.com
Rafaela
da Silva Palma: rafaelaspalma@hotmail.com
Keyleytonn Sthil Ribeiro:
ksthilr@yahoo.com.br
Vânia
Cristina dos Reis Miranda: vcmiranda2@gmail.com
Elaine
Cristina Martinez Teodoro: teodoro.elaine18@gmail.com
Elaine
Cristina Alves Pereira: elainecapereira@gmail.com
Resumo
Introdução: A Síndrome da Fragilidade (SF) é a
resposta do organismo do idoso frente ao aumento da vulnerabilidade a
estressores que redundam em diminuição das reservas fisiológicas e desregulação
de múltiplos sistemas. Aspectos sociais e emocionais podem potencializar essa
vulnerabilidade, sendo a institucionalização do idoso um agente potencializador
desse quadro. Objetivo: Estimar a prevalência da SF e caracterizar o
perfil clínico e epidemiológico dos idosos institucionalizados de
Pindamonhangaba/SP. Métodos: Trata-se de um estudo observacional
transversal descritivo. Para tanto, foram incluídos 31 idosos de ambos os
sexos, residentes em duas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI)
do município de Pindamonhangaba/SP. A SF avalia: perda de peso não intencional,
autorrelato de exaustão ou fadiga, diminuição da
força muscular pela força de preensão palmar, lentidão na marcha e baixo nível
de atividade física. Resultados: A prevalência da SF em idosos
institucionalizados foi de 67,4%. Considerando os cinco itens que compõe a SF,
a perda de peso não intencional esteve presente em 61,9% dos idosos, o autorrelato de exaustão ou fadiga em 66,6%, o baixo nível
de atividade física em 66,6%, a lentidão na marcha em 71,4% e a diminuição da
força de preensão palmar em 95,2%. A maior prevalência de idosos frágeis esteve
entre os homens (41,9%), e as morbidades mais comuns foram: depressão (32,3%),
hipertensão arterial sistêmica (38,7%), sintomas musculoesqueléticos (67,7%),
alterações no equilíbrio (74,2%) e características sugestivas de alterações
cognitivas (83,9%). Conclusão: A prevalência da SF entre os idosos do
estudo foi alta com predomínio no sexo masculino. Destacou-se no perfil
clínico, também, a alta prevalência, as características sugestivas de
alterações cognitivas, a alteração do equilíbrio e risco de quedas e o
sobrepeso ou obesidade.
Palavras-chave: idoso; síndrome da fragilidade;
institucionalização.
Abstract
Introduction: The Fragility
Syndrome (FS) is the response of the elderly organism
facing the increase of vulnerability
to stressors that results in the decrease of
the physiological reserves and the dysregulation
of multiple systems. Social
and emotional aspects can enhance
this vulnerability, the institutionalization of the elderly
being a potentiating agent of this
picture. Objective: To estimate the
prevalence of the FS and characterize
the clinical and sociodemographic profile of the institutionalized
elderly from
Pindamonhangaba/SP. Methods: This is a descriptive
transversal observational study.
Thirty-one elderly of both sexes,
residents in two Long-Stay Institutions for the Elderly (LSIE) from the municipality
of Pindamonhangaba/SP were included. The FS evaluates: unintentional weight loss, self-report of exhaustion or
fatigue, decrease of
muscular strength by the hand grip
strength, slowness in the march and
low physical activity level. By these criteria
the elderly was classified as fragile, pre-fragile or robust (not
fragile). Results:
The prevalence of the FS in institutionalized elderly was 67.4%. Considering the five items that
compose the FS, the unintentional weigh loss was
present in 61.9% of the elderly, the
low physical activity level in 66.6%, the self-report of exhaustion or
fatigue in 66.6%, the slowness
in the march in 71.4% and the decrease
of the hand
grip strength in 95.2%. Most of the
fragile elderly were of the
male sex 41.9%, and the most common morbidities were: depression (32.3%), systemic arterial hypertension
(38.7%), musculoskeletal symptoms
(67.7%), change of balance
(74.2%) and features suggestive of cognitive
changes (83.9%). Conclusion:
The prevalence of FS among institutionalized elderly from Pindamonhangaba/SP was high, with a predominance of males. In the clinical profile, the high prevalence of characteristics suggestive of cognitive
alterations, alteration of balance, risk of falls and
overweight or obesity were highlighted.
Keywords: elderly; frailty; institutionalization.
Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no último trimestre de 2019,
16,2% da população brasileira era formada por cidadãos acima de 60 anos, e a
projeção de incremento desta proporção é de 33,7% de idosos em 2060 [1].
O
transcurso do envelhecimento do organismo é multifatorial e gradativo em suas
proporções biológica, psicológica, socioeconômica, cultural e espiritual. As
modificações investigadas no sistema demográfico mostram uma atenuação das
patologias infectocontagiosas, o que leva a uma ocorrência eminente de
enfermidades correlacionadas à idade avançada, na qual, em sua maior parte
comprometem o bem-estar e eficácia funcional dos cidadãos idosos. É primordial,
nessa sequência, analisar as particularidades do envelhecimento, sendo a
fragilidade um sinal significativo no estado de saúde do idoso [2].
Conforme
Fried et al. [3] a síndrome da fragilidade
(SF) é um fenótipo determinado pela diminuição de energia e está ligada a
modificações fisiológicas nos sistemas imunológico, musculoesquelético e
neuroendócrino que refletem, especialmente, no decréscimo da massa muscular, na
mudança do apetite e na condição inflamatória crônica.
A
prevalência da SF possui ampla variabilidade a depender do local onde é
investigada. Em estudos populacionais a prevalência da SF varia de 4,0% a
59,1%; em pacientes hospitalizados de 6,0% a 86,0% e entre os idosos
institucionalizados, de 19,0% a 75,6% [4]. Esta variação também ocorre quando
são utilizados diferentes instrumentos para o diagnóstico, como o Fenótipo de
Fragilidade, a Escala FRAIL-NH, o Indicador de Fragilidade de Tilburg e o
Indicador de Fragilidade de Groningen, que devem ser elegidos de acordo com a
população a ser investigada. Segundo estudo de Si et al. [5] comparando
os instrumentos para o diagnóstico da fragilidade, o Fenótipo de Fragilidade de
Fried et al. [3] apresenta boa propriedade
diagnóstica para idosos institucionalizados.
A
institucionalização do idoso é uma realidade que precisa ser considerada em
diversas pesquisas que investigam a saúde do idoso. Muitas famílias pelas
dificuldades ou impossibilidades de cuidarem de uma pessoa idosa fazem a opção
de procurarem instituições de longa permanência para poder ofertar os cuidados
necessários à saúde. No entanto, é importante ressaltar que o novo ambiente
pode representar um agente estressor, com constante relato de sensação de
abandono e solidão, potencializando a falta de motivação para atividades que
visam a manutenção da funcionalidade e impedem a instalação de patologias ou
síndromes como a SF [6].
Considerando
o aumento da expectativa de vida que redunda em crescimento da população idosa,
a queda funcional de múltiplos sistemas de forma concomitante durante o
envelhecimento, mais preponderante entre o grupo de pessoas com maior
vulnerabilidade social, e considerando ainda que a SF aumenta o risco de
quedas, hospitalizações, perdas funcionais e até mesmo óbito [7], conhecer o
perfil clínico e epidemiológico dos idosos que apresentam esta síndrome
permitirá identificar precocemente os indivíduos em risco e estabelecer planos
de ação para prevenção, tratamento e progressão do quadro.
Desta
forma, o presente estudo teve por objetivo estimar a prevalência da Síndrome da
Fragilidade (SF) e caracterizar o perfil clínico e epidemiológico dos idosos
institucionalizados de duas Instituições de Longa Permanência para Idoso (ILPI)
de Pindamonhangaba/SP.
Trata-se
de um estudo observacional transversal descritivo, cujas variáveis investigadas
foram: síndrome da fragilidade, características sociodemográficas (idade, sexo,
raça, estado civil, escolaridade, ocupação e renda), histórico de morbidade
(hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, cardiopatias, depressão,
sintomas musculoesqueléticos e obesidade), hábitos de vida (tabagismo, etilismo
e prática de exercícios físicos), cognição, funcionalidade multidimensional,
equilíbrio, uso de medicamentos e qualidade de vida.
Participaram
da pesquisa 31 idosos acima de 60 anos, de ambos os sexos, moradores de duas
Instituições de Longa Permanência para Idosos do município de
Pindamonhangaba/SP, compondo uma amostra por conveniência. Foram incluídos idosos
em condições físico-funcionais de deambulação, com ou sem auxílio de
dispositivos e com condições de realizar o movimento de preensão manual, e
excluídos os idosos que apresentavam dificuldade de fala, audição ou
compreensão, pela impossibilidade de responder à entrevista.
A
variável síndrome da fragilidade foi investigada pelo instrumento de
rastreamento autorreferido validado por Nunes et
al. [8]. Esse instrumento possui questões baseadas no fenótipo da
fragilidade segundo Fried et al.
[3] que
consideram os seguintes aspectos: 1) perda de peso não
intencional (> 3 kg);
2) fadiga relatada, que impeça o idoso de seguir adiante com
alguma atividade;
3) diminuição da força muscular, por meio da
percepção da redução da força
atual se comparada aos últimos 12 meses; 4)
redução da velocidade de caminhada,
relatado pela percepção de andar devagar atualmente, se
comparado aos últimos
12 meses; e 5) baixo nível de atividade física,
comparando a percepção do nível
atual de atividade física se comparada aos últimos 12
meses.
Para
confirmação do diagnóstico, utilizou-se a mensuração da força de preensão
palmar e o teste de caminhada. A avaliação da força de preensão palmar foi
realizada por meio do dinamômetro digital manual da marca CAMRY, modelo EH 101.
Foram obtidas três medidas com intervalo de um minuto entre elas, e o resultado
apresentado em quilograma/força (kg/f). Foi considerado o valor médio entre as
medidas e adotado os pontos de corte propostos por Fried
et al. [3]. Para a velocidade da caminhada foi avaliado o tempo em
segundos que o idoso gasta para percorrer 4,6 metros. A distância real
percorrida foi de 8,6 metros, no entanto, para avaliação deste quesito, foram
desconsiderados os dois metros iniciais e os dois finais, considerando como
velocidade da marcha a média entre três medidas. Para tanto, se utilizou o
cronômetro digital disponível no aparelho de telefone celular da marca Apple,
modelo 5S e considerou-se como lenta, a marcha superior a 6 segundos para
distância de 4,6 metros.
Os
idosos foram classificados conforme os critérios de Fried
et al. [3], considerando-se idosos frágeis aqueles que preenchiam três
ou mais itens, pré-frágeis os que preenchiam um ou
dois itens e robustos ou não frágeis, os que não preenchiam nenhum item.
Para
a investigação das demais variáveis foi criado um roteiro para a coleta de
dados elaborado pelos pesquisadores, contendo questões sobre as características
sociodemográficas e investigação do perfil clínico, que incluía questões
relacionadas a: hábitos de vida, histórico de morbidade, funcionalidade,
equilíbrio, uso de medicamentos e qualidade de vida. Para avaliação de algumas
variáveis optou-se pela utilização de instrumentos validados e traduzidos para
o português como a Escala de Depressão Geriátrica (GDS), o Questionário Nórdico
de Sintomas Ostomusculares, Timed
Up & Go Test (TUGT), Performance - Oriented Mobility Assessment
(POMA), Escala de Equilíbrio de BERG; Questionário Genérico de Qualidade de
Vida – Short Form (SF-36), Mini-Exame
do Estado Mental (MEEM) e Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa.
A
fim de complementar as informações sobre o perfil clínico, foram retirados dos
prontuários médicos o resultado de exames laboratoriais ou de imagens
realizados no último mês.
A
coleta de dados aconteceu nas duas ILPI selecionadas em um período de 30 dias e
contou com seis pesquisadores treinados e calibrados. Primeiramente os
pesquisadores tiveram acesso aos prontuários médicos dos residentes e extraíram
todas as informações relevantes sobre características sociodemográficas,
história de morbidade, resultados de exames médicos e uso de medicamentos.
Em
seguida os pesquisadores foram agrupados em duplas, se dirigiram até o quarto
do idoso selecionado e realizavam o convite para pesquisa. Em caso de aceite, a
avaliação era iniciada pela entrevista, que teve em média duração de 30
minutos.
A
entrevista começou pelo questionário MEEM, e caso o idoso demostrasse
dificuldade para compreender ou responder as questões, era automaticamente
excluído da pesquisa. Em seguida foi aplicado o questionário sobre qualidade de
vida (SF-36), para verificar a percepção atual deste componente, dando
sequência a todos os outros instrumentos validados ou questões elaboradas pelos
pesquisadores que inicialmente investigavam aspectos físicos, e em sequência a
pesquisa de aspectos psicológicos.
Após
a entrevista, o paciente se colocou em pé para a realização de testes e
posteriormente passou por antropometria, com duração média de 20 minutos.
Os
dados foram analisados por meio de medidas de tendência central e dispersão
(média e desvio padrão), e apresentados em tabelas e gráficos, utilizando o
programa Microsoft Office Excel, versão 10.
Aspectos
éticos
O
presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do UniFUNVIC -Centro Universitário FUNVIC e aprovado com o
número de protocolo 3.596.759. As duas ILPI envolvidas assinaram um termo de
autorização para realização do estudo e todos os participantes assinaram por
meio de grafia ou impressão da digital do polegar direito, o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram
avaliados 31 idosos residentes das ILPI de Pindamonhangaba, destes, 14 (45,2%)
do sexo feminino e 17 do sexo masculino (54,8%), com faixa etária entre 63 e 98
anos e média de idade de 78 anos (DP ± 8,9 anos). Em sua maioria eram da raça
branca (71,0%), viúvos (51,6%), aposentados (80,6%) e estudaram até o ensino
fundamental I ou II (45,3%), como apresentado na tabela I.
Tabela
I – Características
sociodemográficas de 31 idosos residentes nas Instituições de Longa Permanência
para Idosos de Pindamonhangaba/SP, 2019
Considerando
as morbidades associadas, a tabela II apresenta em ordem crescente as mais
prevalentes, com destaque para os sintomas musculoesqueléticos e as
características sugestivas de alterações cognitivas, que estiveram presentes em
mais da metade dos idosos que participaram do estudo, 67,7% e 83,9%
respectivamente.
Tabela
II – Morbidades
associadas de 31 idosos residentes nas Instituições de Longa Permanência para
Idosos de Pindamonhangaba/SP, 2019
*CSAC
= Características Sugestivas de Alterações Cognitivas
Com
relação aos hábitos de vida, 51,6% (16) praticavam algum tipo de atividade
física como caminhada, exercícios resistidos ou dança, 9,7% (3) eram tabagistas
atuais e 3,2% (1) etilistas atuais. Chama a atenção, que 35,5% (11) eram
tabagistas pregressos, e essa mesma proporção também se declarou etilista
pregresso.
A
respeito do uso de medicamentos, todos os idosos faziam uso de algum fármaco e
destes, 80,6% (25) utilizavam quatro ou mais medicamentos, caracterizando a polifarmácia.
Para
avaliação da obesidade, utilizou-se o critério preconizado pela Organização
Mundial da Saúde, o Índice de Massa Corporal (IMC) [9], caracterizado pela
razão do peso (kg) dividido pela altura ao quadrado (m²). Entre os participantes,
71,0% (22) tinham sobrepeso ou obesos e 25,8% eram eutróficos.
Para
avaliação do equilíbrio e possível risco de quedas foram utilizados os
instrumentos de BERG, POMA e TUGT, que segundo Karuka
et al. [10] são complementares considerando suas limitações individuais.
Assim, entre os idosos avaliados 55,0% (17) apresentaram alteração de
equilíbrio e risco de quedas pela escala de BERG, 67,0% (21) pelo POMA e 71,0%
(27) pelo TUGT. Entre os idosos com risco de quedas, 58,8% (10) eram mulheres.
Em
se tratando da qualidade vida, foi realizada uma média de pontuação no
questionário SF-36, em que valores mais próximos de 100 indicaram melhor estado
geral sobre o domínio avaliado e valores mais próximos de zero, um pior estado
geral. São eles em ordem crescente de pontuação: limitação por aspectos físicos
(42,6 pontos), capacidade funcional (48,5 pontos), dor (64,4 pontos), estado
geral de saúde (68,7 pontos), vitalidade (70,2 pontos), aspectos sociais (75,5
pontos), limitação por aspectos emocionais (70,4 pontos) e saúde mental (76,9
pontos). Os idosos deste estudo descreveram percepções de melhor estado geral
para o domínio saúde mental e pior estado geral para o domínio limitação por
aspectos físicos.
Síndrome
da fragilidade
Entre
os participantes do estudo, 67,7% foram classificados com fenótipo de frágil. A
maior prevalência esteve entre os homens, 41,9%, e os componentes da síndrome
que mais apareceram entre os idosos considerados frágeis foram a fraqueza
muscular (95,2%) e lentidão da marcha (71,4%), como pode ser observado nas
tabelas III e IV.
Identificar
a prevalência de cada característica que compõe a SF poderá indicar o
componente que merece maior atenção na elaboração de um plano de tratamento
fisioterapêutico focado na prevenção da síndrome da fragilidade.
Tabela
III – Prevalência do
fenótipo da fragilidade segundo sexo, em 31 idosos institucionalizados,
Pindamonhangaba/SP, 2019
Tabela
IV – Prevalência de
cada característica que compõe o fenótipo da fragilidade dos grupos de idosos
categorizados em Frágeis e Pré-Frágeis, segundo os
critérios de Fried et al. [3], Pindamonhangaba/SP,
2019
O
presente estudo encontrou alta prevalência da SF entre os idosos
institucionalizados de Pindamonhangaba, principalmente entre o sexo masculino.
Dentre os componentes do Fenótipo da Fragilidade destacam-se com maior
prevalência tanto na categoria Frágil quanto na Pré-Frágil,
a fraqueza muscular. Entre as morbidades descritas no perfil clínico dos
participantes, chama atenção as características sugestivas de alterações
cognitivas, os sintomas musculoesqueléticos, o IMC indicativo de sobrepeso ou
obesidade e as alterações do equilíbrio como um importante preditor para o
risco de quedas.
O
presente estudo identificou maior prevalência de fragilidade no sexo masculino,
embora a literatura aponte o sexo feminino como de maior risco para desenvolver
essa morbidade [4,11-13]. Um dos possíveis motivos deste achado, provavelmente
está relacionado ao número equilibrado de residentes do sexo masculino e
feminino nas ILPI de Pindamonhangaba, acompanhado do fato de muitas mulheres
terem sido excluídas da pesquisa por apresentarem demência ou outras patologias
que interferiam na compreensão e comunicação, o que as impediam de responder
aos questionamentos, além das exclusões por limitações físicas que
impossibilitavam a realização de testes físicos específicos da pesquisa.
Entre
os componentes da fragilidade, destacam-se a diminuição da força muscular e a
lentidão da marcha. Ambos se relacionam intrinsecamente e correspondem a
alterações fisiológicas do envelhecimento, no entanto, quando aparecem de forma
acentuada, representam importantes preditores de morbidades que diminuem a
qualidade de vida e podem alterar a sobrevida do idoso. Segundo Guedes et
al. [11], o envelhecimento por si contribui para o aparecimento de diversas
patologias, entre elas a sarcopenia, que é a diminuição da massa e do
comprimento muscular, do número de motoneurônios, do
aumento da complacência tendínea que reduz a
capacidade de transmissão de força ao osso, tendo como consequência a redução
da força muscular global, principalmente nos membros inferiores.
Essas
alterações no sistema musculoesquelético acontecem em ambos os sexos e um dos
responsáveis são os esteroides sexuais (estrogênio nas mulheres e testosterona
nos homens). Eles estimulam a produção de massa óssea e muscular durante a puberdade
e meia idade e geram reserva para fase da senescência, quando suas
concentrações séricas diminuem consideravelmente [14]. Entretanto, os hábitos
de vida como a prática de atividade física, uma alimentação rica em cálcio,
proteínas, sais minerais e vitaminas, além da exposição saudável ao sol
contribuem para que esta reserva seja adequada e suficiente para um
envelhecimento saudável. Quando isso não ocorre, há o aparecimento da
sarcopenia que está associada a importantes alterações na funcionalidade do
idoso, sendo uma delas a lentificação da marcha que aumenta expressivamente o
risco de quedas [13].
O
risco de quedas pode ser observado por meio de testes específicos para
avaliação do equilíbrio estático e dinâmico e conforme identificado, no presente
estudo, esteve presente em 74,2% dos participantes. Deve-se considerar que o
envelhecimento progressivo resulta em modificações fisiológicas nos sistemas
responsáveis pelo controle corporal e equilíbrio e, neste sentido, além das
mudanças no sistema musculoesquelético, acentuam o quadro de lentificação da
marcha, de alterações no equilíbrio e de risco de quedas, também as mudanças
que ocorrem nos sistemas visual e vestibular. É importante compreender como
estes dois sistemas se alteram no processo de envelhecimento e dedicar a eles
avaliações mais específicas, se necessário.
No
sistema visual acontece a diminuição do campo visual, da discriminação das
cores, e da noção de profundidade, o tamanho da pupila diminui, reduzindo a
capacidade de se recuperar da exposição da luz e de se adaptar ao escuro,
podendo ter maior prejuízo na presença de patologias como a catarata [15]. No
sistema vestibular, a principal consequência é a deterioração do reflexo
vestíbulo-ocular, que ao ser afetado leva à desvios na marcha pelo
desequilíbrio quando há rotações de tronco [16].
Neste
sentido, vale ressaltar que o ganho de força muscular por si só poderá não
resultar na melhora da velocidade da marcha, mas deve ser trabalhado em
conjunto com outros objetivos que envolvam diferentes sistemas.
Considerando
os três instrumentos utilizados para identificar o risco de quedas entre os
idosos (BERG, POMA e TUGT), 58,8% (10) dos participantes que apresentaram
escores compatíveis com risco de quedas eram mulheres. Assim como entre os
idosos das ILPI de Pindamonhangaba, a literatura também descreve maior
prevalência entre as mulheres, pois estas apresentam maior expressão nos
fatores de risco como a redução da massa e da força muscular, e a lentificação
da marcha [17]. Guedes et al. [11] em seu estudo populacional no Brasil,
verificaram que 88,8% dos idosos frágeis possuem diminuição da velocidade da
marcha, sendo mais acentuado entre as mulheres em virtude das alterações
musculares associadas a biomecânica da pelve. Por apresentar um formato mais
amplo, a pelve feminina influencia o movimento do quadril no plano frontal, o
aumento de sua inclinação favorece também o aumento dos movimentos de adução e
rotação interna do quadril, além do valgo de joelho, que contribui para uma
menor amplitude e menor cadência.
A
lentificação da marcha encontrada em 71,4% dos idosos frágeis que participaram
do presente estudo, segundo a literatura, podem ter em sua gênese uma ligação
com as alterações de equilíbrio, que contribuem para o aumento do risco de
quedas, e que está diretamente relacionada ao aumento do risco de morte entre
os idosos, chegando a ser duas vezes maior entre os idosos institucionalizados
se comparado aos idosos da comunidade [18-20].
Segundo
Ofori-Asenso et al. [7], a fragilidade está
associada ao aumento do risco de mortalidade por todas as causas e, exatamente
por isso, existe a necessidade de se realizar rastreamentos adequados em
diferentes locais como a atenção primária, ambulatórios especializados, instituições
de longa permanência e hospitais, identificando os principais fatores de risco.
Hanlon et al. [21] em estudo
populacional identificaram que idosos com quatro ou mais morbidades possuem
alto risco para o desenvolvimento da fragilidade, sendo as mais comuns o
diabetes, a depressão, as demências e a obesidade. O presente estudo, embora
com idosos institucionalizados e de caráter descritivo, também identificou alta
prevalência de depressão, sobrepeso ou obesidade e características sugestivas de
alterações cognitivas, levantando a hipótese de possíveis associações que devem
ser investigadas em posteriores estudos analíticos sobre fatores de risco.
Considerando
a alta prevalência de características sugestivas de alterações cognitivas
identificadas por meio do MEEM (83,9%) entre os idosos de Pindamonhangaba, é
importante considerar sua relação, segundo a literatura, com a fraqueza
muscular e a lentificação da marcha, componentes do Fenótipo da Fragilidade.
Segundo
Brigola et al. [22] dois componentes do
fenótipo da fragilidade estão intimamente relacionados às alterações
cognitivas: o primeiro a fraqueza muscular e segundo, a lentidão da marcha. Os
diferentes fatores pelos quais eles se relacionam são: estresse oxidativo
próprio do envelhecimento, desregulação hormonal, principalmente relacionada a
redução dos androgênios e aumento da resistência insulínica, processos
inflamatórios, acúmulo neurotóxico da proteína
beta-amiloide no cérebro, perda de neurônios da substância negra, uso excessivo
de medicamentos e sintomas depressivos.
Alguns
idosos institucionalizados possuem uma história marcada pela dificuldade de
gerenciar sua vida sozinhos e por isso a opção de residir em uma instituição
onde possam contar com profissionais para ajudar nas tarefas dia a dia, sem
demandar atenção da família ou dos amigos de forma constante. Porém, muitos
chegam às ILPI abandonados por suas famílias ou sem qualquer ente familiar vivo
ou próximo, sendo a única opção disponível. Tanto em uma situação quanto em
outra, a institucionalização representa um grande desafio, pois o idoso
abandona seu lar, precisa se adaptar a um novo ambiente, com novas rotinas,
compartilhando espaços com pessoas desconhecidas, e passa a não realizar mais
atividades básicas do cotidiano [23].
Como
não se envolve com as atividades de vida diária AVD, associado ao sedentarismo
e a uma alimentação inapropriada, pobre em nutrientes importantes para um
envelhecimento saudável, o idoso gradativamente vai aumentando sua dependência
e diminuindo sua capacidade funcional. As limitações físicas desenvolvidas
pelos residentes das ILPI são agravadas pela dificuldade de convívio social e
sensação de solidão, redundando em alterações psicológicas como a ansiedade e a
depressão, que contribuem para o déficit cognitivo, potencializam o
aparecimento da SF e consequentemente levam a diminuição da qualidade de vida
[24].
Entre
os idosos de Pindamonhangaba, 76,9% apresentaram características sugestivas de
alterações cognitivas e 32,3% sintomas depressivos, o que sugere a existência
de importantes fatores de risco para fragilidade. No entanto, quando
questionados sobre a qualidade de vida, o domínio relacionado à percepção da
saúde mental teve a maior pontuação, ou seja, a maioria dos idosos consideraram
como boa, o que denota a dificuldade de percepção da realidade. Já os domínios
sobre limitações físicas e capacidade funcional foram os que receberam menor
pontuação, corroborando de forma clara com os resultados ruins encontrados nos
testes para força muscular e velocidade da marcha, que são preditores de
incapacidade funcional segundo o fenótipo de fragilidade.
Vale
ressaltar que a fraqueza muscular e a lentidão da marcha, componentes da
fragilidade, segundo os critérios de Fried et al.
[3], são completamente modificáveis se adotados programas de atividade física
regular, principalmente envolvendo exercícios de fortalecimento, com duração de
uma hora, frequência de três vezes por semana e período mínimo de 10 semanas,
associados a uma alimentação rica em leite, peixe, frango, ovos e bebidas
comerciais de suplementação nutricional [25]. Para um programa mais completo,
que tenha abrangência sobre a maior parte dos fatores de risco para
fragilidade, sugerem-se intervenções relacionadas ao treinamento cognitivo e ao
tratamento psicológico, sendo assim eficaz também na reversão de quadros de pré-fragilidade, impedindo a progressão da síndrome [26].
A
principal limitação do presente estudo foi o número de participantes. O
município de Pindamonhangaba possui apenas duas ILPI, ambas incluídas na
pesquisa, no entanto, muitos idosos não puderam participar do estudo por se
enquadrarem nos critérios de exclusão, principalmente os residentes do sexo
feminino.
A
prevalência da SF entre os idosos institucionalizados de Pindamonhangaba/SP foi
alta com predomínio no sexo masculino. Destacou-se no perfil clínico, também, a
alta prevalência, as características sugestivas de alterações cognitivas, a
alteração do equilíbrio e risco de quedas e o sobrepeso ou obesidade.
Agradecimentos
A
todos os gestores e funcionários das duas Instituições de Longa Permanência
para Idosos que autorizaram a realização do estudo e contribuíram para sua
execução.
Conflito
de interesse
Não
há conflitos de interesse
Contribuição
dos autores
Orientadora
da pesquisa:
Elaine Cristina Alves Pereira; Coleta dos dados e discussão dos resultados:
Stephanie Pereira Ferreira, Rafaela da Silva Palma e Keyleytonn
Sthil Ribeiro; Elaboração dos resultados:
Vânia Cristina dos Reis Miranda; Revisão dos resultados, discussão:
Elaine Cristina Martinez Teodoro.
Fonte
de financiamento
Não
há fontes de financiamento