Fisioter Bras 2021;2294):516-35
ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
cardiovascular e emocional de acadêmicos do curso de fisioterapia do Centro
Universitário Funvic
Cardiovascular and emotional
profile of physical therapy students at the Funvic
University Center
Marcella
de Paula Gonçalves*, Elaine Cristina Martinez Teodoro**, Vania Cristina dos
Reis Miranda**
*Discente
do Curso de Fisioterapia do UniFUNVIC – Centro
Universitário FUNVIC, Pindamonhangaba, SP, **Docentes do Curso de Fisioterapia
do UniFUNVIC – Centro Universitário FUNVIC,
Pindamonhangaba, SP
Recebido
em: 29 de junho de 2020; Aceito em: 14 de junho de 2021.
Correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro,
Avenida Osvaldo Aranha, 1961 Vila Zélia 12606-000 Lorena SP
Marcella de Paula Gonçalves: marcellapaulag@hotmail.com
Elaine Cristina Martinez Teodoro:
teodoro.elaine18@gmail.com
Vânia Cristina dos Reis Miranda: vcrmiranda2@gmail.com
Resumo
Introdução: Na sociedade moderna o estresse mental
e emocional tem se tornado um dos maiores problemas a ser enfrentado, e nos
jovens, durante a vida acadêmica, há uma série de fatores que influenciam de
forma direta ou indireta sua qualidade de vida e que podem desencadear diversos
sinais neuroendócrinos e atuar de forma negativa no convívio social e lazer do
indivíduo, além de serem fatores de risco para o desenvolvimento de doenças do
sistema circulatório. Objetivo: Avaliar os fatores de risco
cardiovasculares e os níveis de estresse, ansiedade e depressão de jovens
acadêmicos do curso de Fisioterapia do UniFUNVIC -
Centro Universitário FUNVIC. Métodos: Foi realizada uma pesquisa quantitativa,
em um estudo descritivo exploratório, no qual foram avaliados 58 estudantes de
ambos os sexos, matriculados no segundo, terceiro e quarto anos de
Fisioterapia. Foi aplicada a Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS),
além de uma avaliação física com dados antropométricos, cardiovasculares e
informações sobre o estado de saúde. Resultados: 74,1% dos estudantes
apresentam pelo menos um fator de risco cardiovascular, sendo o sedentarismo o
mais relatado pelos voluntários (71%), os demais fatores investigados como
maior Índice de Massa Corpórea e Relação Cintura/Quadril, Hipertensão Arterial
Sistêmica, histórico familiar de doença cardiovascular e tabagismo estavam
presentes em uma pequena porcentagem dos estudantes. A amostra foi composta de
81% de mulheres, as quais apresentaram maiores pontuações nas subescalas de
estresse, ansiedade e depressão comparado aos homens, e o estresse foi a
alteração emocional mais observada entre os estudantes. Conclusão: A
maioria dos estudantes apresentaram pelo menos um fator de risco
cardiovascular, sendo o sedentarismo o mais presente, e a alteração emocional
observada em sua maioria foi o estresse.
Palavras-chave: estudantes; cardiovascular; estresse;
epidemiologia.
Abstract
Introduction: In modern
society, the mental and emotional stress has become a major problem to be
faced, and in young people, during the academic life, many factors may
influence directly or indirectly in the quality of life and can trigger many
neuroendocrine signs and act in a negative way in the social and leisure life
of the individual. Besides, there are risk factors for the development of
diseases that affects the circulatory system. Objective: To assess the
cardiovascular risk factors and levels of stress, anxiety, and depression of
university students of Physical Therapy course, at the UniFUNVIC
- FUNVIC University Center. Methods: A quantitative study was carried out in a
descriptive, exploratory study in which 58 students of both sexes enrolled in
the second, third and fourth years of Physical Therapy were evaluated. The Anxiety,
Depression and Stress Scale (EADS) was applied, as well as a physical
evaluation with anthropometric, cardiovascular and health information. Results:
74.1% of the students have at least one cardiovascular risk factor, and a
sedentary lifestyle as reported by volunteers (71%), the other factors
investigated as higher body mass index and waist/hip ratio, hypertension,
family history of cardiovascular disease and smoking were present in a small
percentage of students. The sample consisted of 81% of women who had higher
scores on subscales of stress, anxiety and depression compared to men, and the
stress was the most emotional changes observed among students. Conclusion:
Most students have at least one cardiovascular risk factor, being the most
frequent sedentary lifestyle, and emotional changes observed was stress.
Keywords: students; cardiovascular; stress;
epidemiology.
As Doenças Cardiovasculares (DCV), primeira causa de morte
no Brasil, são aquelas que afetam não somente o coração, mas também artérias,
veias e vasos capilares, ou seja, o sistema circulatório como um todo [1].
No ano de 2012 houve 1.137.024 internações por conta desta
classe de patologias. A faixa etária em que predominam esses eventos cardíacos
é de adultos acima de 30 anos de idade, responsáveis por 20% das mortes no
Brasil [2]. Porém, a prevalência de alterações no sistema circulatório, como o
aumento da pressão arterial, cresceu nos últimos anos na população mundial em
jovens adultos com 18 anos ou mais [3].
As principais DCV que são passíveis de uma maior atenção
são aquelas que afetam as artérias coronárias, responsáveis por irrigar o
coração, e as que atingem as artérias do cérebro [1]. Apesar da relevância das
doenças isquêmicas do coração e cerebrovasculares, seus fatores de risco são
possivelmente modificáveis, quando há alteração nos hábitos de vida [4].
Mesmo com o avanço técnico científico e com o conhecimento
acerca do controle dos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardíacas
e cerebrovasculares, as mortes decorrentes dessas patologias continuam
crescentes [4].
Sabe-se que os fatores de risco para as DCV são
classificados em não modificáveis, como no caso da etnia e histórico familiar,
e modificáveis, ou ainda os evitáveis, os que podem ser controlados ou até
mesmo tratados [5]. Dentre tantos, pode-se citar como de maior prevalência:
consumo de bebida alcoólica, hipercolesterolemia, diabetes, hipertensão
arterial, sedentarismo, obesidade, tabagismo [1] e o estresse excessivo [5].
Na sociedade moderna, o estresse tem sido considerado um
dos maiores problemas [6]. A apreensão frente a esse fator de risco, se dá ao
fato de que 90% da população sofre de estresse e, como é sabido, esse fator
está atrelado diretamente à causa de doenças do sistema circulatório, que estão
entre os principais motivos de morte no Brasil [7].
Nos jovens, durante a vida acadêmica, fatores como mudar-se
da casa dos pais, enfrentar as responsabilidades de morar sozinho, períodos de
estudo em tempo integral e a intensa necessidade de adquirir novos
conhecimentos [8] desencadeiam diversos sinais neuroendócrinos, como aumento da
frequência cardíaca, picos hipertensivos, declínio de atenção e memória,
ansiedade [7] que atuam de forma negativa no convívio social e lazer do
indivíduo [8].
Além dos sinais neuroendócrinos que indicam um estado
estressor do organismo, a ansiedade e problemas emocionais levam a fatores de
risco para DCV, devido à adoção de hábitos ruins como tabagismo, alimentação
inadequada, falta de atividade física, entre outros. E o estresse agudo gera
uma diminuição no fluxo sanguíneo, e a nutrição do coração fica comprometida
[1].
Vale salientar que atualmente os jovens estudantes possuem
um maior acesso às informações se comparado às décadas passadas, logo, é
possível afirmar que mesmo com todo esse acesso ao conhecimento frente aos
fatores de risco de doenças cardíacas, não há uma mudança evidente nos hábitos
de vida dessa geração [9].
Assim, com a preocupação de investigar esses fatores de
risco para monitorar os possíveis focos com potencial para desenvolverem
doenças cardiovasculares, um questionário contendo informações com os
principais fatores de risco cardiovasculares foi aplicado em um grupo de
universitários, assim como a Depression Anxiety Stress Scale (DASS),
um método avaliativo criado por Lovibond e Lovibond [10] com a função de medir e diferenciar os
sintomas de estresse, depressão e ansiedade, também considerados fatores de
risco cardiovasculares.
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar os fatores
de risco cardiovasculares e os níveis de estresse, ansiedade e depressão de
jovens acadêmicos do curso de Fisioterapia do UniFUNVIC
- Centro Universitário FUNVIC, em Pindamonhangaba.
Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa
exploratória descritiva das variáveis obtidas como resultado dos fatores de
risco cardiovasculares, tais como sedentarismo, tabagismo, HAS, Índice de Massa
Corpórea (IMC), Relação Cintura/Quadril (RCQ), histórico familiar, níveis de
ansiedade, depressão e estresse.
Para a pesquisa foram incluídos alunos do curso de
Fisioterapia do Centro Universitário FUNVIC, localizado no município de
Pindamonhangaba/SP, os quais foram convidados a participar da pesquisa em
horários agendados de segunda a sexta-feira, e que não interferiram no período
de aulas, sob a supervisão da professora orientadora do estudo.
O estudo foi composto por uma amostra consecutiva por
conveniência de acordo com os indivíduos convidados a participar da pesquisa e
que se enquadraram nos critérios de inclusão, caracterizando, assim, uma
amostra não probabilística.
Critérios
de inclusão e exclusão
Critérios de inclusão: Apresentar entre 17 e 40 anos e
estar matriculado no curso de Fisioterapia Centro Universitário em questão.
Critérios de exclusão: Não preencher corretamente o
questionário, não realizar o exame físico completo, não comunicar todas as
informações investigadas na pesquisa sobre seu estado de saúde.
Procedimento
de campo
Primeiramente este estudo foi encaminhado à Coordenadora do
Curso de Fisioterapia do UniFUNVIC, solicitando a
autorização para o campo de pesquisa por meio do Termo de Autorização. O
projeto também foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
por intermédio da Plataforma Brasil, o qual foi aprovado sob o número de
protocolo 85760218.3.0000.8116.
Após aprovação do CEP foi realizado o convite verbal nas
salas de aula e no Centro Clínico do Centro Universitário FUNVIC aos alunos do
curso de Fisioterapia para participarem da pesquisa, e aqueles que se
enquadraram aos critérios de inclusão foram selecionados para participarem
efetivamente do estudo.
Posteriormente os voluntários selecionados passaram por uma
entrevista com perguntas sobre seus dados pessoais, informações
antropométricas, informações sobre a presença de patologias e medicações em
uso, além da aplicação das Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS).
Também foram coletados os dados de Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Pressão
Arterial Diastólica (PAD), IMC e RCQ. Todas as informações sobre o experimento
e os objetivos da pesquisa foram apresentadas aos voluntários e todas as
dúvidas foram sanadas sobre os procedimentos realizados. Posteriormente foi
obtido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos
voluntários. Todos os dados coletados foram mantidos em sigilo.
Análise
de dados
Os dados foram organizados em um banco de dados do software
Microsoft Excel versão 2016, descritos e apresentados por medidas de tendência
central e dispersão (média e desvio padrão) e por meio de porcentagens em
tabelas e gráficos.
Resultados
Foram avaliados 58 estudantes do curso de Fisioterapia do UniFUNVIC, sendo 47 (81,0%) do sexo feminino e 11 (19,0%)
do sexo masculino com idade entre 19 e 41 anos, e média de 23,4 anos (DP 5,14).
Pode-se observar que a média de idade dos homens (26,1 anos) era maior que das
mulheres (22,7 anos). Dos 62 voluntários selecionados, não houve casos de
desistência, entretanto 4 indivíduos foram excluídos por não se enquadrarem nos
critérios de inclusão.
Algumas características dos estudantes matriculados foram
listadas de forma mais detalhada na tabela I. Estão descritos o número e a
porcentagem dos estudantes quanto à idade, sexo e semestre em que estão
matriculados.
Observa-se que a maior parte dos estudantes tem menos de 26
anos (81%), são do sexo feminino (81%) e estão no último ano do curso de
fisioterapia (53,5%). Alunos com idade entre 36 e 41 anos são minoria (3,5%),
assim como os alunos do sexo masculino (19%).
Os universitários foram avaliados quanto à presença de
alguns fatores de risco cardiovascular como IMC, RCQ, histórico familiar,
pressão arterial, tabagismo e sedentarismo, que estão listados na tabela II.
Tabela
II - Fatores de
risco cardiovasculares dos estudantes do curso de Fisioterapia do UniFUNVIC - Centro Universitário FUNVIC (N = 58),
Pindamonhangaba, SP, 2018
O sedentarismo foi o fator de risco mais encontrado entre
os universitários, já que 70,7% relataram não realizar nenhum exercício físico
regular, 12,1% realizavam pelo menos 3 vezes na semana, 10,3% mais de 3 vezes
na semana e 6,9% menos de 3 vezes na semana.
Quanto ao índice de massa corpórea (IMC), foi observado que
19% dos alunos estão na faixa de sobrepeso e 6,9% estão abaixo do peso. Já os
demais fatores não apresentaram um número expressivo de participantes com
alterações, como na relação cintura/quadril e nem na porcentagem de tabagistas.
A figura 1 ilustra a diferença do IMC entre homens e mulheres avaliados
Figura
1 - Classificação do
índice de massa corpórea entre os sexos em porcentagem (N = 58),
Pindamonhangaba, SP, 2018
Outro parâmetro avaliado foi a classificação da relação
cintura/quadril, segundo Gharakhanlou et al.
[11], a qual homens com RCQ < 0,90 são classificados como peso normal,
0,90-0,99 como sobrepeso e acima de 1,0 obesos. E as mulheres são classificadas
em < 0,80; 0,80-0,84 e ≥ 0,85 como peso normal, sobrepeso e obesidade,
respectivamente. Dos voluntários, 18,9% apresentaram alto risco de doença
cardiovascular devido a uma RQC < 1,0, sendo todos do sexo masculino. Esse
parâmetro sugere maior risco de DCV em relação às mulheres que estiveram abaixo
da zona de risco.
Dentre os estudantes, 13,8% se enquadraram no perfil de
hipertensos. Dos hipertensos, 8,6% eram do sexo feminino e 5,2% do sexo
masculino, com alteração da PAS e/ou PAD, sendo que a média da PAS foi 115,5 mmHg
(DP 13,4) e da PAD foi de 76,9 mmHg (DP 8,0), dentro dos padrões de
normalidade.
Os alunos classificados como hipertensos apresentaram
alterações nas pressões sistólicas (5,2%) e diastólicas (12,1%). Daqueles que
apresentaram PAS alterada, 2 alunos (3,4%) também estavam com PAD elevada em
associação. E apenas um aluno (1,7%) apresentou isoladamente a PAS modificada.
Dos indivíduos pré-hipertensos,
todos apresentaram alterações apenas na pressão arterial sistólica. Porém, a
maioria dos estudantes de Fisioterapia apresentaram pressão arterial dentro dos
parâmetros de normalidade.
Na figura 2 estão demonstrados outros fatores avaliados
como a presença de patologias diagnosticadas e em tratamento pelos estudantes,
segundo seus relatos. Pode-se observar quais os grupos de doenças mais comuns
entre os universitários do curso de Fisioterapia.
Figura
2 - Índice de
patologias diagnosticadas encontradas entre os alunos do 2º, 3º e 4° ano em
Pindamonhangaba, SP, 2018
Dos voluntários com doenças cardíacas, 2 (3,4%) relataram
ter histórico familiar de falecimento (parentes de até 1º grau) por doenças
cardiovasculares, sendo um do sexo feminino e outro masculino.
Dentre as patologias gerais, 27,3% dos homens e 6,4% das
mulheres apresentaram doenças cardiovasculares diagnosticadas. Em
contrapartida, os indivíduos do sexo masculino não apresentaram doenças
respiratórias ou emocionais, mas 6,4% das mulheres possuíam transtornos
emocionais e 2,1% doenças respiratórias. O transtorno emocional mais encontrado
foi a ansiedade.
Os níveis de estresse, ansiedade e depressão desses
estudantes foram avaliados e as médias estão demonstradas na figura 3, com
maior média observada no estresse, com 7,9 (DP 4,9) pontos.
Figura
3 - Média da
pontuação encontrada entre os alunos segundo a EADS-21 (N = 58),
Pindamonhangaba, SP, 2018
No geral, a pontuação média para a ansiedade foi 4,6 pontos
(DP 4,4) e 4,9 pontos (DP 4,6) para depressão, de um total de 21 pontos na
EADS-21. O sexo feminino apresentou uma média de 8,3 pontos (DP 5,0) para
estresse, enquanto os homens obtiveram uma média de 6,3 pontos (DP 4,5), no
subitem ansiedade e depressão as mulheres apresentaram 4,7 (DP 4,1) e 5,0
pontos (DP 4,7), respectivamente. Portanto, as mulheres apresentaram maiores
médias nos itens estresse, ansiedade e depressão quando comparadas aos homens.
As doenças que afetam o sistema cardíaco estão entre os
principais motivos de mortes no mundo, e é possível observar que entre os
jovens adultos o índice de ao menos um fator de risco presente vem crescendo, o
que poderá gerar agravantes cardíacos a longo prazo nesta população [12]. Por
isso, estudos com jovens universitários vêm sendo feitos, e diversos são os fatores
de risco para DCV encontrados nessa população. Entretanto, esses dados ainda
são subestimados, necessitando de maior atenção dos pesquisadores [12].
Diante deste quadro, este estudo vem auxiliar no
conhecimento desta população quanto ao risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. E foi possível observar que 74,1% dos estudantes de
Fisioterapia do Centro Universitário FUNVIC, Pindamonhangaba/SP apresentam pelo
menos um fator de risco cardiovascular.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) [13] recomenda que o
acompanhamento dos fatores de risco para doenças como as do sistema
cardiovascular deve acontecer o mais precocemente possível, visto que vem sendo
observada uma maior prevalência de obesidade e doenças crônicas entre os indivíduos
mais jovens.
O perfil dos estudantes do curso de Fisioterapia do Centro
Universitário FUNVIC foi semelhante ao encontrado na literatura quanto a idade
e prevalência de gênero. Em relação a faixa etária, o perfil dos estudantes
equiparou-se ao encontrado em uma pesquisa realizada com universitários do
Ceará com diferentes nacionalidades, na qual a maioria dos alunos apresentaram
idades entre 18 e 24 anos [12]. A prevalência do sexo feminino em relação ao
sexo masculino destaca-se em diversos estudos [12,14,15]. Segundo dados do
censo de ensino superior do INEP de 2016, o sexo feminino é a maioria
matriculada em cursos de graduação presenciais e a distância [16].
A Higher Education Policy Institute (HIPE) [17] da Grã-Bretanha pesquisou os motivos
pelos quais as mulheres são a maioria no mundo acadêmico, e descobriu-se que as
razões são diversas, entre elas o melhor desempenho no ensino fundamental e
médio, a busca por melhor remuneração em relação aos homens e devido as
profissões mais ocupadas por mulheres necessitarem de diploma universitário.
Quanto às características antropométricas da população
acadêmica do curso de Fisioterapia, o IMC foi investigado, assim como a RCQ. Ao
analisar o perfil dos acadêmicos quanto aos valores de IMC, observou-se que
estes estavam no padrão de normalidade. Morales et al. [18], após uma
pesquisa com 326 universitários chilenos, identificaram uma média do IMC de
24,3 kg/m² (DP 4,1), sendo esse um indicativo de que a maioria dos estudantes
apresentam valores dentro da faixa ideal. Esse dado corrobora o encontrado no
presente estudo, no qual os estudantes apresentaram uma média de 23,0 kg/m² (DP
4,3). Vieira et al. [8] avaliaram 164 estudantes do curso de medicina de uma
universidade privada, e encontraram uma média do IMC de 23,8 kg/m2,
valor muito semelhante ao apresentado neste estudo.
Mas foi possível também observar que havia uma pequena
porcentagem (1,8%) de estudantes com IMC abaixo dos níveis de normalidade. Este
quadro pode ser explicado pela alimentação inadequada desta população e
transtornos com a própria imagem corporal. Fonseca et al. [19]
verificaram que mulheres e homens mesmo com IMC baixo ou normal omitiam
refeições e faziam dietas para manter o padrão estético da magreza. Miranda et
al. [20] concluíram que 20% das mulheres que apresentaram IMC baixo ou normal
relataram insatisfação corporal de leve a moderada, justificando a busca pelo
padrão de magreza que influencia diretamente no índice de massa corpórea. Gasparetto et al. [21] analisaram 112 alunos, sendo
10% de cada um dos cursos: nutrição, enfermagem, fisioterapia e educação
física, e puderam identificar que, apesar da média geral se apresentar dentro
da normalidade (24,04 kg/m2), houve uma pequena porcentagem de
estudantes com níveis indicativos de baixo peso (2,7%). Assim como Urrego et al. [15] também observaram que 9% dos
alunos estavam na classificação de baixo peso. Baixos índices de IMC não fazem
parte do grupo de fatores de risco para desenvolver doenças cardiovasculares,
entretanto, podem ter alguma ligação com doenças como bulimia, anorexia ou
desnutrição [22].
Já os valores de IMC classificados como sobrepeso e
obesidade na população geral investigada foi de 19% e 5,2%, respectivamente. No
estudo de Pires e Mussi [23], essa prevalência de
sobrepeso foi de 26% e de obesidade I e II foi 4,5% em estudantes ingressantes
e concluintes de um curso de enfermagem. Apesar da baixa porcentagem de
estudantes com excesso de peso, iniciativas como esta, para identificar fatores
de risco cardiovasculares, são de extrema importância para triagem e iniciar um
acompanhamento o mais precoce possível [24].
Quando o IMC foi analisado separadamente pelo gênero, o
sexo masculino apresentou maior porcentagem de sobrepeso e obesidade em relação
ao feminino, os quais 27,3% estavam com sobrepeso e 9,1% com obesidade. Fato
também observado por Bernardes et al. [25], os quais averiguaram que
39,2% dos homens e apenas 16,1% das mulheres mostraram-se acima do peso. Assim
também, Santos et al. [26] destacaram que a população masculina apresentou o
dobro do percentual de casos com IMC acima dos valores de referência.
Segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico [27] em 2017, constatou-se
que 54% da população brasileira apresentava excesso de peso, e entre os homens
essa porcentagem foi maior, 57,3%, sendo 36,3% com IMC acima de 25 kg/m² e
10,2% de obesos, na faixa etária de 18 a 24 anos.
A prevalência dos fatores de risco para desenvolvimento de
obesidade e consequentemente de DCV são maiores entre os homens visto que o
sexo feminino exibe, com maior frequência, comportamentos de proteção e cuidado
com a saúde [28]. O consumo de bebidas alcoólicas, tabaco, carne com excesso de
gordura, e hábitos alimentares inadequados são as principais razões para a
ocorrência de doenças cardiovasculares entre os homens [29]. A ingesta de
refrigerantes, doce, sal e substituição de refeições principais por lanches
também são mais frequentes no sexo masculino, comprovando o maior índice de
obesos nessa população [28].
No que diz respeito à relação cintura quadril, sabe-se que
é um importante parâmetro antropométrico para medição da gordura abdominal,
sendo um fator de risco para DCV, pois o acúmulo de gordura nesta região
aumenta as chances do desenvolvimento de hipercolesterolemia, DM, HAS e
aterosclerose [30]. Neste estudo, 18,9% dos homens apresentaram RCQ acima do
recomendado, significando alto risco para doenças cardiovasculares, enquanto o
sexo feminino não obteve médias consideráveis anormais, demonstrando que neste
quesito, os homens são mais propensos a DCV. O estudo de Carvalho et al. [31]
observou maior RCQ nos universitários do sexo masculino, como também
apresentado neste estudo. Entretanto, a literatura apresenta valores contrários
ao encontrado, mulheres com maior índice da RCQ [15].
Maiores valores de IMC e RCQ em homens podem ser explicados
pelo estilo de vida adotado pela maioria dos homens, com maior consumo de bebidas
alcoólicas, por exemplo. Apesar da escassez de estudos que permitam essa
correlação, o consumo de álcool parece estar associado ao aumento de
adiposidade corporal e obesidade abdominal, pois a energia que fornece se soma
ao valor energético diário e aumenta o apetite [32,33].
Outra característica é o sedentarismo. Há maior obesidade
abdominal em homens sedentários, já que a inatividade física adotada por muitos
universitários leva a um menor gasto energético e consequentemente maior
acúmulo de gordura e com pior distribuição corporal [32].
A Hipertensão Arterial é um fator de risco determinante
para as DCV. Na população jovem (≥ 18 anos), estima-se que 25,5% e 20,7%
das mulheres e homens, respectivamente, apresentam Pressão Arterial (PA) com
valores acima do ideal. É sabido que ao ingressarem em uma universidade os
jovens enfrentam diversas mudanças em seu estilo de vida que podem colaborar
para o surgimento de HAS entre outras doenças crônicas [9].
A média da Pressão Arterial Sistólica (PAS) dos
universitários neste estudo foi de 115,5 mmHg (DP 13,4) e da Pressão Arterial
Diastólica (PAD) foi de 76,9 mmHg (DP 8,0), ou seja, a maioria dos estudantes
encontraram-se dentro dos parâmetros de PA ideais. Resultados semelhantes foram
encontrados por Urrego et al. [15] e Morales et
al. [18] com médias de 109,9 mmHg da PAS e 69,9 mmHg da PAD, e 114,9 mmHg
de PAS e PAD 71,3 mmHg, respectivamente. Dos voluntários que apresentaram
hipertensão (13,8%), 8,6% eram do sexo feminino e 5,2% do sexo masculino. Os
alunos hipertensos exibiam alterações pressóricas na PAS (5,2%) e PAD (12,1%).
Sousa et al. [9] correlacionaram a PAS e PAD de 550
voluntários da Universidade Federal do Piauí com diferentes variáveis.
Verificou-se que os homens (21,5%), jovens com idades entre 26-51 anos (12,2%)
possuíam PA alta. A alta pressão arterial verificada pode ser em decorrência do
estilo de vida adotado com maior consumo de cigarros e álcool [9]. Porém no
presente estudo não foi observado maior consumo de cigarro entre os estudantes.
Além disso, o excesso de peso está fortemente relacionado com o aumento da
pressão arterial [34]. A porcentagem encontrada para alunos tabagistas (3,4%) e
etilistas (1,7%) não foram consideráveis, assim como em um estudo realizado na Universidade
Federal do Piauí com 206 estudantes. Carvalho et al. [31] também
observaram menor prevalência de tabagismo entre os universitários, sendo de
4,3%. A baixa frequência do uso de cigarro entre essa população é um fator
positivo, pois sabe-se que o tabagismo, assim como a HAS e a dislipidemia são
fatores que comprometem os vasos sanguíneos e consequentemente favorecem a
aterosclerose [35].
O sedentarismo é um dos precursores para várias doenças
como DM, obesidade, DCV, entre outros. A atividade física auxilia não somente
na prevenção de diversas patologias, mas também atua na saúde mental do
indivíduo evitando a depressão e proporcionando a sensação de felicidade [2]. O
estilo de vida sedentário entre os jovens universitários é cada vez mais evidente.
A falta de tempo livre devido aos estudos propicia uma diminuição na prática de
atividade física [2]. A inatividade física mostrou-se presente em 70,7% dos
estudantes avaliados, apenas 12,1% relataram realizar atividades pelo menos 3
vezes na semana, 10,3% mais de 3 vezes por semana e 6,9% menos de 3 vezes por
semana. Torquato et al. [36] realizaram uma pesquisa com 550 estudantes
universitários, os quais 71,7% eram sedentários, assemelhando-se a esta
amostra.
Torquato et al.
[36] e Mielke et al. [37]
reconheceram que o sexo feminino é menos ativo que o sexo masculino, assim como
observado entre os estudantes de Fisioterapia do presente estudo, no qual 36,4%
dos homens eram sedentários e 78,7% das mulheres não praticavam nenhuma
atividade física. No estudo de Torquato et al. [36], 71,3% das mulheres
disseram não praticar atividade física, em contrapartida apenas 28,7% dos
homens relataram ser inativos. Mendes Netto et al. [38] também
encontraram o mesmo resultado. Em tal caso, 21,3% do sexo feminino e 63,6% do
sexo masculino praticavam atividade física ao menos 1 vez na semana.
Costa et al. [39] chamaram a atenção para alguns
casos em que o sedentarismo entre alunos de Fisioterapia de uma universidade
privada estava relacionado com aspectos emocionais alterados. Sabe-se que o
estresse, a ansiedade e a depressão são fatores de risco para DCV, que
associados a inatividade física aumentam as chances de desenvolver patologias
cardiovasculares [40].
Acadêmicos ativos tendem a apresentar menor propensão à
depressão do que aqueles não ativos, assim como as relações sociais e
ambientais são melhores naqueles que praticam atividades físicas [41]. O
estresse, quando elevado, desencadeia algumas sensações, como perda do
bem-estar, cansaço mental, falta de concentração, déficit na memória recente,
instabilidade emocional, além de patologias por baixa imunidade [42]. Segundo a
psicopatologia, a depressão e a ansiedade fazem parte de um conjunto de
perturbações mentais [42].
Visto isso, os alunos estudados neste estudo apresentaram
pontuações superiores para o quesito estresse na escala EADS, com uma média de
7,9 pontos, quando comparada aos níveis de ansiedade e depressão com 4,6 pontos
e 4,9 pontos, respectivamente, de um total de 21 pontos. Pinto et al.
[42] também observaram que os níveis de ansiedade e depressão na população
jovem adulta portuguesa foram baixos, ou seja, a autoestima, tristeza, perda de
interesse ou prazer, sentimento de culpa, alterações no sono ou apetite, por
exemplo, não estão reduzidos.
O sexo feminino apresentou maiores níveis de estresse,
ansiedade e depressão se comparadas aos homens, assim como encontrado no estudo
de Galeazi [43] no qual apresentaram média de 8,2
pontos na EADS. Vizzotto et al. [44] relataram
em seu estudo que os homens atingiram maiores médias nos itens estresse,
ansiedade e depressão em relação às mulheres, divergindo do presente estudo.
Por outro lado, Luz [45] observou que a sintomatologia encontrada nas variáveis
estresse, ansiedade e depressão predominam no sexo feminino. As hipóteses para
tal fato são os fatores hormonais, maior responsabilidade diante da vida e
excesso de trabalho [45]. Além disso, mulheres tendem a expressar mais seus
sentidos e se envolvem mais pela vida de outras pessoas do que os homens [46].
No estudo de Pinto et al. [42] obtiveram-se níveis
de estresse que sugeriram baixo risco para problemas na saúde mental dos
indivíduos pesquisados. Entretanto, o estresse foi o fator mais evidenciado com
o maior número de respostas para os itens que se aplicaram pelo menos uma vez
em sua vivência, assim como nos acadêmicos do curso de Fisioterapia do Centro
Universitário FUNVIC.
Os resultados de maior estresse entre a população universitária
podem ser explicados pelas diversas modificações do ambiente habitual do
sujeito, como: a mudança de casa e a saudade da família, amigos, namorado (a),
a necessidade de fazer novas amizades, estudar, cuidar de si mesmo, da renda,
divisão de tarefas e espaços com colegas de quarto e trabalho associado ao
estudo. Todas essas novas experiências diminuem a capacidade de resistência do
organismo devido à falta de equilíbrio entre a adaptação de mudanças do meio e
o suporte psíquico do indivíduo [43].
Apesar dos níveis de ansiedade e depressão neste estudo
serem considerados dentro da normalidade, o estudo de Liu, Ping
e Gao [47] apresenta escores de ansiedade dos estudantes universitários nos
três primeiros anos ligeiramente superior ao limiar considerado normal da
EADS-21, indicando que, apesar dos estudantes, em geral, serem considerados
mentalmente saudáveis em relação à depressão e estresse, seus níveis médios de
ansiedade estavam além do normal. Também observaram que 38 a 43% dos universitários
apresentavam níveis de ansiedade acima do normal. O quadro levou os autores a
reforçar que faculdades e universidades precisam dar atenção especial a
estudantes psicologicamente prejudiciais e, com esforços conjuntos, formularem
políticas de saúde mental na prevenção, detecção e tratamento de distúrbios
psiquiátricos em universitários, já que isso pode refletir não apenas no
sucesso acadêmico e profissional desses jovens, mas também no desenvolvimento
da sociedade como um todo. Martins et al. [48], em seu estudo,
observaram que apesar da alta prevalência de escores normais para depressão,
ansiedade e estresse, houve indivíduos acometidos por essas condições, sendo
maior para depressão e estresse.
As alterações emocionais dos jovens universitários, que
representa a saúde mental dos mesmos, principalmente para os ingressantes, são
consideradas problema de saúde pública no âmbito internacional, pois são mais
vulneráveis pelo momento de transição em que vivem [49]. Por isso, a
investigação da saúde mental de estudantes universitários tem sido objeto de
pesquisa atualmente, entre subgrupos de estudantes e suas relações com a idade,
sexo, carga de estudo e desempenho acadêmico [50].
No presente estudo procurou-se investigar não somente o
perfil emocional dos estudantes de fisioterapia, mas também os fatores de risco
cardiovascular. Porém, para uma avaliação mais apurada desses fatores de risco
dos universitários, parâmetros como glicemia de jejum, colesterol total, LDL e
HDL colesterol também deveriam ser analisados para conhecer melhor o perfil dos
universitários de Pindamonhangaba e fazer um melhor monitoramento desta
população.
O presente estudo permitiu concluir que 74,1% dos
estudantes do curso de Fisioterapia do UniFUNVIC possuem
pelo menos um fator de risco cardiovascular, sendo o fator mais evidenciado o
sedentarismo.
Quanto aos demais fatores investigados como hipertensão
arterial, IMC, RCQ, tabagismo e histórico familiar, a maior parte dos alunos
apresentou parâmetros dentro da normalidade. Porém, quanto ao IMC, foi
observado que o grupo de estudantes que apresentou alteração deste parâmetro
teve maior porcentagem de sobrepeso em relação à obesidade e a RCQ foi maior
entre os homens.
Quanto ao perfil emocional dos alunos foi evidenciada a
presença de estresse, preferencialmente no sexo feminino.