REVISÃO
Recursos
fisioterapêuticos na cicatrização de feridas
Physical therapeutic resources in wound healing
Isabela Rodrigues Montagnani*, Vanessa Mieko
Tanaka*, Lucas Kenzo Ishikawa Ono*, Daniel Reinke
Lourenço*, Maria Luísa Akemi Suetake*,
Gisela Rosa Franco Salerno, D.Sc.**
*Graduando de
Fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), **Professor
responsável pela disciplina de Fisioterapia em Dermatofuncional
da UPM
Recebido em 17 de julho
de 2020; aceito em 28 de setembro de 2020.
Correspondência: Gisela Rosa Franco
Salerno, Av. Santo Antônio, 561/152 Vila Osasco 06086-070 Osasco SP
Isabela Rodrigues Montagnani: isamontagnani@gmail.com
Vanessa Mieko Tanaka: vanessa1999_21@hotmail.com
Lucas Kenzo Ishikawa
Ono: lucaskenzo.ishikawa28@gmail.com
Daniel Reinke Lourenço: daniel.reinkelou@gmail.com
Maria Luísa Akemi Suetake:
maluakemi@hotmail.com
Gisela Rosa Franco Salerno:
gisela.franco@mackenzie.br
Resumo
Introdução: A pele é um
órgão do corpo humano que fica bastante exposto ao meio externo, fazendo com
que sofra lesões mais facilmente, estas podem tornar-se cicatrizes não
estéticas e que levam tempo para se recuperar. Objetivo: Investigar as
principais técnicas fisioterapêuticas que auxiliam na recuperação da lesão
cutânea. Métodos: Revisão de literatura realizada através das
plataformas Pubmed, Scielo
e Google acadêmico, selecionando artigos publicados entre os anos de 2010 a
2020, considerando as palavras-chave: cicatrização, modalidades de fisioterapia
e lesão cutânea. Resultados: Foram levantados 15 artigos, identificando
as modalidades: ultrassom terapêutico, massagem, laserterapia,
ledterapia, microcorrente e
terapia compressiva. Conclusão: A laserterapia
é o recurso mais indicado para o tratamento de feridas cutâneas.
Palavras-chave: cicatrização,
Fisioterapia, úlcera de pele.
Abstract
Introduction: The Skin is an organ of the human body that is quite exposed to the
external environment, making it easier to suffer injuries, these can become
non-aesthetic scars that take time to recover. Objective: To investigate
the main physical therapy techniques that assist in the recovery of skin
lesions. Methods: Literature review conducted through the Pubmed, Scielo and Google Scholar
platforms, selecting articles published between 2010 and 2020, considering the
keywords: healing, physical therapy modalities and skin injury. Results:
Fifteen articles were collected, identifying the modalities: therapeutic
ultrasound, massage, laser therapy, ledtherapy,
microcurrent and compressive therapy. Conclusion: Lasertherapy
is the most indicated resource for the treatment of the wound healing.
Keywords: wound healing, Physical therapy modalities, skin ulcer.
Por ser um órgão mais
exposto ao meio externo e com função de proteção, a pele fica suscetível as
lesões, por esse motivo, quando ocorre algum tipo de trauma, inicia-se imediatamente
o processo de cicatrização [1].
O processo de
cicatrização é o processo biológico que ocorre com o objetivo de reparar o
tecido lesado, desenvolvendo-se em três etapas: Fase inflamatória (iniciada
logo após a lesão, são liberados hormônios vasoconstritores que têm como
objetivo diminuir a perda de sangue), a granulação (etapa de epitelização, reparação do tecido e do epitélio, formação
de tecidos de granulação e deposição de colágeno) e a remodelação (fase mais
longa, ocorre aumento da tensão do tecido e redução do eritema, finalizando com
a redução da cicatriz) [2]. Existem três tipos de cicatriz classificadas com
base na quantidade de tecido lesado, são elas: cicatriz por primeira intenção,
onde há perda tecidual e não tem presença de tecido de granulação, sendo
geralmente uma cicatriz cirúrgica e controlada, tendo um tempo menor de
cicatrização. A cicatriz por segunda intenção, tem maior perda de tecido,
deixa-se que a ferida se granule sozinha, apenas cobrindo com um revestimento
limpo e esterilizado, possui grande quantidade de tecido de granulação e pode
ocasionar cicatrizes hipertróficas ou queloideanas. E
a cicatriz por terceira intenção, casos de lesões contaminadas, onde a ferida
também é limpa e coberta, mas, o paciente retorna alguns dias depois para o
fechamento definitivo [3].
Existem alguns fatores
que podem influenciar na cicatrização, como a alteração da oxigenação, devido a
alterações circulatórias, infecção prolongada da lesão, podendo levar a
cronificação dela; além da idade avançada, diabetes e obesidade [4].
Quando a cicatrização
não ocorre de forma perfeita, poderá gerar cicatrizes hipertróficas ou queloideanas. Basicamente essas alterações no relevo das
cicatrizes está relacionado ao acúmulo de fibroblastos e aumento do depósito de
colágeno. As alterações hipertróficas apresentam redução no período de um ano o
que não acontece com a queloideanas, necessitando de
intervenção médica [5]. Também existem recursos da fisioterapia que ajudam na
cicatrização.
Hoje em dia faz-se uso
de algumas técnicas que visam promover uma cicatriz mais estética, entre elas
existem algumas técnicas médicas como a dermoabrasão
[6] e silicone gel [7] e escleroterapia de safena
[8]. Já entre as técnicas fisioterapêuticas estão o ultrassom, no qual as ondas
ultrassônicas são absorvidas pelo tecido gerando aquecimento, auxiliando o
processo de cicatrização [9], a laserterapia, que
também promove calor além de aumentar a produção de colágeno por meio da fotoestimulação [10] a massagem, que também promove o
aquecimento da região e melhora a elasticidade do tecido [11], a terapia
compressiva que aumenta o retorno venoso [12], a microcorrente
que regula a bioeletrecidade do tecido aumenta a
síntese de colágeno e proliferação de fibroblastos [13] e a ledterapia,
que atua contra micróbios e substâncias inflamatórias e melhorado a síntese de
ATP, colágeno e elastina [14].
Sendo assim a proposta
desse artigo é investigar as principais técnicas fisioterapêuticas utilizadas
na cicatrização.
Esta revisão de
literatura foi realizada por meio das plataformas de pesquisa Pubmed, Google acadêmico e Scielo,
com publicações em inglês e português entre os anos de 2010 a 2020, que
focassem em métodos não invasivos e lesões cutâneas, nos formatos de artigos
originais, revisões integrativas de literatura, sistemáticas e bibliográficas,
pesquisa, relato de caso, artigo experimental e estudo observacional, com as
palavras chave em português: cicatrização, fisioterapia, úlcera de pele e em
inglês: wound healing, Physical therapy, skin ulcer.
Foram encontrados 2676
artigos com as palavras-chave relatadas anteriormente. Após a leitura dos
resumos, 2660 foram excluídos por não possuírem relação com lesões cutâneas,
serem inferiores a 2010 e não incluírem recursos fisioterapêuticos em seus
estudos. Foram selecionados 14 artigos, sendo colocados em uma tabela com os
seguintes tópicos: Título do artigo, autor, objetivo, procedimentos e
resultados (Quadro 1).
Quadro 1 – Artigos
selecionados. (ver anexo em PDF)
A cicatrização ocorre
por meio de processos biológicos em etapas [1]. Este processo algumas vezes
pode acarretar alguns tipos de cicatriz dependendo do tipo de lesão [3], que
podem converter-se em cicatrizes hipertróficas ou queloideanas.
Estas podem ser tratadas por intervenção médica ou fisioterapêutica [5].
O laser é formado
através da amplificação de luz por emissão estimulada da radiação. Faneli et al. [15] estudaram o efeito do laser no
tratamento de cicatrizes, avaliando a qualidade de vida e o nível de satisfação
dos sujeitos submetidos ao tratamento dermatológico. Foram incluídos 85
indivíduos com idade entre 18 e 80 anos, de ambos os sexos. Os sujeitos do
estudo utilizaram o laser de CO2 fracionado de onda 10600 nm para cicatriz, cicatriz de acne, fotorrejuvenescimento
e estrias. A melhora das cicatrizes foi avaliada através de registros
fotográficos, que demonstraram que o tratamento contribuiu para a redução de
rugas e manchas pigmentadas, além de demonstrar uma incidência muito baixa de
efeitos adversos e alto nível de satisfação.
Entretanto, para
processo de reparo tecidual, alterações vasculares, celulares, proliferação
tecidual e de fibroblastos, síntese e deposição de colágeno ocorre em uma
cascata de reações. Em seu estudo, Andrade et al. [10] realizaram uma
pesquisa com laser HeNe, aplicado na dose de 4 J/cm2,
em feridas cutâneas, encontrou melhores efeitos na produção de colágeno tipo
III. Demonstrando ser a laserterapia de baixa
potência capaz de promover a síntese, deposição de colágeno e contração de
feridas, ou seja, doses entre 3-6 J/cm2 são mais eficazes que doses acima de 10
J/cm2.
Corroborando, Lins et
al. [22] em estudo com laser de baixa potência no período pós-operatório de
feridas, identificaram-no eficaz, pois permite aumentar a velocidade de
cicatrização, promovendo bioestimulação que interfere
diretamente no processo de reparo.
A microcorrente,
de acordo com Martelli et al. [13], atua
aumentando a síntese de colágeno, proliferação de fibroblastos, permeabilidade
da membrana celular e regula a bioeletrecidade do
tecido e concluiu a partir de suas pesquisas em artigos publicados entre 1997 e
2014 que o uso da microcorrente é uma técnica
eficiente sendo usada de forma isolada ou podendo ser associada a outros
recursos, reduzindo a dor e inflamação.
Em outro estudo Polachini et al. [17] compararam os efeitos da laserterapia de baixa e intensidade e da microcorrente. Participaram do estudo 9 indivíduos
acometidos com ulceras cutâneas, separados em 3 grupos, um grupo de microcorrentes que utilizou os parâmetros em modo contínuo
em 130 Hz e 300 microamperes por 30 min, outro de laserterapia, também em modo contínuo com potência de 300mw
e densidade de energia de 4 J/cm² e o último com as duas terapias associadas
nos mesmos parâmetros, porém aplicados em dias alternados. Todos os grupos
participaram de 15 sessões e a melhora das feridas foi avaliada através de registros
fotográficos. O estudo concluiu que as duas terapias tanto associadas como
isoladas foram efetivas.
A ledterapia
é uma nova tecnologia que pode ser usada para a fototerapia e consiste em um
semicondutor que emite luz sem trazer danos à pele. Silva et al. [14]
realizaram um estudo para verificar a eficácia da ledterapia
na cicatrização de feridas em ratos Wistar. Foram
utilizados oito ratos divididos em dois grupos de quatro, dos quais apenas um
grupo recebeu o tratamento com o recurso citado, 24 horas após a lesão, durante
10 minutos por 15 dias, por toda a área da ferida. Os resultados foram avaliados
por meio de registros fotográficos. Este estudo concluiu que a ledterapia possui efeitos muito positivos na cicatrização
cutânea por aumentar a neovascularização, mas ressalta a importância de mais
estudos em seres humanos.
Avaliou-se também as possibilidades
de aplicação da ledterapia na cicatrização de leões
cutâneas no estudo de Dourado et al. [21], considerando que este recurso
tem menor custo em relação à laserterapia e com menor
risco de afetar a visão. Após pesquisa concluiu que é a ledterapia
é uma boa alternativa quando não há possibilidade de utilização da laserterapia, já que tem efeitos semelhantes e sem feitos
colaterais.
A terapia compressiva
pode ser obtida com o uso de meias ou bandagens e essas podem ser classificadas
em elásticas (meias elásticas) ou inelásticas (bota de Unna)
e ter uma ou mais camadas. Leal et al. [4] realizaram uma revisão
sistemática de literatura na qual foi mostrado que o uso de bandagem com
compressão foi mais eficaz que a bandagem sem compressão (as Bandagens com
multicamadas contribuem para a cicatrização das úlceras venosas) e foi mostrado
que o uso da meia elástica e cirurgia corretora do fluxo sanguíneo estão
associadas à prevenção da reincidência das úlceras.
Barbosa et al.
[25] realizaram uma revisão de publicações sobre úlceras venosas. Após a
avaliação de estudos, constatou-se que possuem divergências e dúvidas no que se
refere ao tratamento, porém algumas condutas são sugeridas, como: o tratamento
da estase venosa, utilizando o repouso e a terapia compressiva com terapia
tópica. O artigo concluiu com os resultados que existe a necessidade de
realização de cursos de especialização em tratamento de feridas como forma de
se alcançar mais conhecimento e habilidade para se prestar assistência aos
portadores de úlceras venosas.
Avaliou-se também as
aplicações da bota Unna, um tipo de terapia
compressiva, em lesões venosas em um estudo de Cardoso et al. [18] no
qual se observou que a bota Unna apresentou
resultados inferiores quando comparado com as bandagens elásticas tanto simples
como de duas camadas, já que levou mais tempo para promover a cicatrização,
apesar de esta levar vantagem em relação ao custo, já que a bota Unna seria uma alternativa de menor custo de TC. Concluiu
então que a melhor técnica de aplicação da terapia compressiva ainda é a
bandagem multicamada.
O aparelho terapêutico
de ultrassom é um equipamento que produz ondas sonoras, que quando em contato
com o organismo causam efeitos fisiológicos que podem ser benéficos para o
tratamento de feridas. Korelo et al. [9]
realizaram pesquisas que consideraram US pulsado de baixa frequência, US de
baixa frequência sem contato e US de alta frequência. O resultado desta
pesquisa mostrou que entre as formas de aplicação do ultrassom, o NCLFU (Noncontact Low Frequency Ultrasound) foi a
maneira mais eficaz de aplicação em relação ao reparo tecidual utilizando a
mesma dosimetria do HFU (High-frequency Ultrasound).
Para o tratamento de
úlceras venosas, os autores Ponte et al. [16] avaliaram o uso da terapia
com ondas ultrassonoras com 3 Mhz de frequência no modo pulsado. Os pacientes
tinham de 65 até 88 anos de idade, e os resultados apresentaram uma melhora na
condição das úlceras.
Em outro estudo, Meyer et
al. [24] realizaram um experimento com ratos, com o objetivo de observar a
eficácia do tratamento da cicatrização pela terapia de ultrassom de baixa
frequência com o parâmetro de 12 MHz. Ao final da pesquisa, o grupo de ratos em
que foi usado o ultrassom apresentou uma melhora significativa em relação ao
tempo da cicatrização, provando que a técnica usada é eficaz.
Shin et al. [20]
avaliaram a eficácia da massagem cicatricial no pós-operatório, considerando o
tipo de cicatriz, protocolo, duração, resposta ao tratamento e localização da
cicatriz. O protocolo variou de 10 minutos duas vezes ao dia a 30 minutos duas
vezes por semana e de uma sessão até 6 meses de tratamento. Concluiu que foi
eficaz para a maioria das cicatrizes, apesar de os protocolos não corroborarem
e não existir tantas evidências na literatura.
As principais técnicas
utilizadas para melhora da cicatrização são a microcorrente,
a massagem, ledterapia, ultrassom e o laser
terapêutico. Todavia o laser terapêutico é mais comumente citado nas
literaturas e mostrou-se mais eficaz do que os demais recursos por ser o que
mais aumenta a velocidade de cicatrização, devido aos seus efeitos bioestimulantes, além de possuir um tempo de aplicação
menor. De acordo com os estudos avaliados, também possui menor risco de
infecção já que não precisa entrar em contato com a ferida. Apesar de ser um
recurso mais caro é o mais utilizado para o tratamento de feridas cutâneas.