Fisioter Bras 2021; 22(2):142-153
ARTIGO
ORIGINAL
Alterações
posturais e capacidade para o trabalho em acadêmicos do curso de odontologia de
uma instituição de ensino superior privada no sertão central cearense
Postural changes and work ability
of dentistry students in a private higher education institution in the state of
Ceará, Brazil
Paulo
Roberto Roseno Fernandes*, Mariza Maria Barbosa
Carvalho, Ft. M.Sc.**, Maria Mônica Siqueira de
Alencar Almeida***, Rayane Pereira de Queirós***, Thiago Brasileiro de
Vasconcelos, Ft., D.Sc.****, Alain Oliveira dos Santos,
Ft. M.Sc.*****
*Discente
do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Católica de Quixadá e Bolsista
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, **Docente do
Centro Universitário Católica de Quixadá, ***Discentes do Curso de Fisioterapia
do Centro Universitário Católica de Quixadá, ****Docente do Centro
Universitário Uninassau, Fortaleza, CE, *****Docente
do Centro Universitário Católica de Quixadá
Recebido
em 27 de julho de 2020; Aceito em 23 de abril de 2021.
Correspondência:
Paulo Roberto Roseno Fernandes, Rua Serafim Chaves,
741, 62930-000 Limoeiro do Norte CE
Paulo Roberto Roseno Fernandes:
paulofernandesfisio@gmail.com
Mariza Maria Barbosa Carvalho:
mariza@unicatolicaquixada.edu.br
Maria Mônica Siqueira de Alencar Almeida:
monicalsiq_02@outlook.com
Rayane Pereira de Queirós: raianepereira211@gmail.com
Thiago Brasileiro de
Vasconcelos:thiagobvasconcelos@hotmail.com
Alain Oliveira dos Santos: alain3iverson@hotmail.com
Resumo
A
profissão exerce influência nas condições de saúde dos trabalhadores, por isso
algumas práticas no trabalho exigem cuidado. Durante a realização das práticas
odontológicas, os acadêmicos e profissionais adquirem posições estáticas
desconfortáveis e inadequadas por períodos de longa duração. O objetivo deste
estudo foi avaliar as condições posturais e a capacidade para o trabalho em
graduandos do curso de Odontologia do Centro Universitário Católica de
Quixadá/CE. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, com
abordagem metodológica quantitativa. A população constituiu-se de 147 alunos do
curso de Odontologia da Unicatólica, de ambos os
gêneros, no período de 2019.2 a 2020.1. A coleta de dados deu-se por meio do
Índice de Capacidade para o Trabalho, e da avaliação postural através do
Instrumento de Avaliação Postural, com o auxílio do simetrógrafo.
Observou-se que desvios posturais estavam mais presentes no gênero feminino,
podendo se explicar pelo seu número mais expressivo, porém não foram
detectáveis relações entre a capacidade para o trabalho e as alterações
posturais. Foi possível concluir que mesmo com o quantitativo de alterações
posturais dos estudantes, apresentavam boa capacidade para o trabalho.
Palavras-chave: postura; estudantes de odontologia;
ergonomia.
Abstract
The profession influences the health conditions of
workers, so some practices at work require specific care. During the
performance of dental practices, students and professionals acquire
uncomfortable and inappropriate positions for long periods. The aim of this
study was to evaluate postural conditions and work ability in undergraduate
students of the Dentistry course at the Centro Universitário
Católica de Quixadá/CE,
Brazil. This was a cross-sectional, descriptive, and exploratory study, with a
quantitative methodological approach. The population consisted of 147 students
from the Unicatólica Dentistry course, of both
genders, in the period from 2019.2 to 2020.1. Data collection took place
through the Work Ability Index, and the postural assessment through the
Postural Assessment Instrument, with the aid of the symmetrograph.
Postural deviations were more present in the female gender, which can be
explained by their more expressive number, but no relationships were detected
between work ability and postural changes. It was possible to conclude that
even with the number of postural changes in the students, they had a good
capacity for work.
Keywords: posture, dentistry students,
ergonomics.
Posturas inadequadas nos ambientes de trabalhos
desencadeiam distúrbios em todos os sistemas do corpo humano, no sistema
muscular, ósseo, ligamentar, articular, vascular e sanguíneo, visto que estão
associados a movimentos repetitivos, causando dessa forma desde dores, fadiga
muscular, dentre outras anomalias musculoesqueléticas, dando-se início com a
restrição de movimentos, e subsequentemente para os diversos quadros e graus de
dor [1].
O profissional cirurgião dentista demanda de uma alta
aptidão física devido a vários fatores como, por exemplo, a complexidade dos
procedimentos cirúrgicos, o uso de instrumentos vibratórios durante os
procedimentos, a repetição excessiva de movimentos, além da manutenção estática
da postura inadequada por longos períodos durante o trabalho [2].
Levando
em conta que o alto risco de distúrbios
musculoesqueléticos em indivíduos que ainda estão
em formação profissional pode
comprometer suas carreiras, resultando, por exemplo, em sua
desistência precoce
da profissão, é importante entender as razões
pelas quais os estudantes
apresentam alta prevalência de distúrbios
musculoesqueléticos. Existem poucos
estudos publicados considerando as experiências e práticas
dos alunos em
relação à ergonomia, as condições
posturais e a saúde ocupacional. A obtenção
dessas informações pode orientar e auxiliar na
manutenção da boa saúde
ocupacional [3].
Durante a realização das práticas odontológicas, os
profissionais dentistas adquirem corriqueiramente posições estáticas
consideradas desconfortáveis por períodos de longa duração, e essas posições
inapropriadas requerem aproximadamente 50% de contração por parte dos músculos
do corpo para a manutenção estática e para resistir a força gravitacional que
age sobre a corpo [4].
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar as
condições posturais e a capacidade para o trabalho em graduandos do curso de
Odontologia do Centro Universitário Católica de Quixadá.
Tratou-se de um estudo transversal, descritivo e
exploratório, com estratégia metodológica quantitativa. A população do estudo
foi composta por (n = 147), graduandos do curso de Odontologia na Unicatólica que aceitaram participar da pesquisa assinando
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Tabela
I - Tamanho de
amostra para proporções
Este estudo respeita todos os aspectos éticos que envolvem
a pesquisa com seres humanos e foi aprovado no dia 05 de junho de 2019 pelo CEP
do Centro Universitário Católica de Quixadá, sob o número do parecer:
3.372.711.
A coleta de dados iniciou-se, apenas, posteriormente a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por parte dos
voluntários, concordando em participar da pesquisa.
Após sua autorização para realização da pesquisa, a coleta
de dados foi feita da seguinte forma.
1)
Para traçar o perfil sociodemográficos da população em estudo utilizou-se um
questionário constituído por dados pessoais e sociodemográficos (gênero, idade,
semestre, carga horária e peso). Resguardando os aspectos éticos, os discentes
foram identificados por códigos numéricos (ex. 1,2,3).
2)
Posteriormente sucedeu a aplicação do Índice de Capacidade para o Trabalho
(ICT). Trata-se de um questionário autoaplicável composto de 10 itens,
subdivididos em 7 categorias. E sua pontuação varia de 7 (pior
pontuação) a 49 pontos (melhor pontuação), ou seja, cada questão respondida é
creditada um escore e através de uma somatória de todos os escores resultará um
escore final [5].
3)
Em seguida, procedeu a avaliação postural através do Instrumento de Avaliação
Postural (IAP), vinculado com o auxílio do simetrógrafo
[6].
Os dados coletados foram codificados e transcritos
utilizando-se o software estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), versão 25.0 e o GraphPad Prim, versão 8.4.2 na análise estatística de qui-quadrado. Com os resultados compilados, através de
frequência simples e por alguns cruzamentos, foram analisados de forma
descritiva ou inferencial (de acordo com o teste de normalidade), utilizando
como significância estatística o valor de p < 0,05.
Participaram do estudo 147 acadêmicos (100%), que estavam
matriculados no curso de Odontologia do Centro Universitário Católica de
Quixadá/Unicatólica, que estivessem cursando
disciplinas clínicas. Dos 147 acadêmicos avaliados, 65,3% (n = 96), são do
gênero feminino e 34,7% (n = 51), do gênero masculino, com média de idade, peso
e altura de aproximadamente 22 anos, 67 kg e 1,65 m. Alguns participantes
ficaram omissos para relatar o peso 8,2% (n = 12), idade 0,7% (n = 1) e a
altura 9,5% (n = 14).
A distribuição dos participantes ocorreu entre o 4º e o 10º
semestres, 10,88% (n = 16) cursam o 4º semestre, 19,05% (n = 28) cursam o 5º
semestre, 10,2% (n = 15) cursam o 6º semestre, 16,33% (n = 24) cursam o 7º
semestre, 14,29% (n = 21) cursam o 8º semestre, 23,81% (n = 35) cursam o 9º
semestre e 5,44% (n = 8) o 10º semestre.
O total de dias dentro da Clínica Escola, 38,1% (n = 56)
têm aula durante 2 dias, 28,57% (n = 42) 3 dias, 17,69% (n = 26) 1 dia, e
15,65% (n = 23) ficam por 4 dias. Já no quantitativo de horas, 45,89% (n = 67)
passam em média 4 horas, 41,78% (n = 61) 3 horas, 9,59% (n =14), até 2 horas e
2,74% (n = 4) passam 1 hora.
Durante a avaliação postural, os que apresentaram maior
relevância no IAP foram: na vista anterior, cabeça e triângulo de Thales, na
vista lateral, seguimentos cervical e lombar da coluna, enquanto na vista
posterior, região escapular.
Na vista anterior, a cabeça de 29,25% (n = 43) dos homens e
52,38% (n = 77) das mulheres está com ela alinhada, já nas alterações com
inclinação para direita e esquerda, obteve-se 0,68% (n = 1), 5,44% (n = 8) e
4,77% (n = 7), 7,48% (n = 11), para homens e mulheres, respectivamente.
Na região de triângulo de Thales, os resultados mostraram
que o gênero masculino apresentou 26,53% (n = 39) de simetria, 4,77% (n = 7) e
3,40% (n = 5), de assimetria direita e esquerda, reciprocamente, já o feminino,
42,86% (n = 63) de simetria, 12,24% (n = 18) e 10,20% (n = 15), assimétricos a
direita e esquerda.
Na avaliação da coluna cervical, 30,62% (n = 45) e 55,78%
(n = 82), dos homens e mulheres. Com hiperlordose, obteve-se 3,40% (n = 5) e
9,52% (n = 14), para homens e mulheres, nos quadros de retificação apenas os
homens com 0,68% (n = 1) detinham esse quadro.
Na avaliação de coluna lombar, houve uma leve queda da
normalidade, considerando os demais dados supracitados, com 19,04% (n = 29) e
39,47% (n = 57) para homens e mulheres. Apresentaram alterações de hiperlordose
com valores de 9,52% (n = 14), para os homens e 19,73% (n = 29), para as
mulheres, já para retificação foram obtidos os dados de 5,44% (n = 8) e 6,80%
(n = 10), para homens e mulheres, respectivamente.
Nos quadros com alterações, com escapulas aladas direita e
esquerda 1,36% (n = 2) e 4,08% (n = 6), 3,40% (n = 5) e 1,36% (n = 2), de
homens e mulheres. No que confere a escapula retraída direita e esquerda, 0,68%
(n = 1) dos homens e mulheres cada um detinha alteração na direita, e com 1,36%
(n = 2) dos homens que detinham, contra nenhuma das mulheres avaliadas.
Os indicadores de capacidade para o trabalho dos acadêmicos
mostraram que os aspectos de saúde, estado físico e mental estão, com 1,36% (n
= 2) de baixa capacidade, 62,59% (n = 92) boa, 12,24% (n = 18) moderada e
23,81% (n = 35) ótima. Vale salientar que a média de pontuação foi de
aproximadamente 40 pontos com 12,2% (n = 18), ficando dentro da margem de 37 a
43 pontos da classificação de boa capacidade para o trabalho.
No Gráfico 1 na vista anterior de cabeça, os dados
apresentaram boa capacidade para o trabalho, 48,98% (n = 72) tinham cabeça
alinhada e 4,08% (n = 6), 9,52% (n = 14), inclinada a direita e esquerda,
respectivamente. Nos demais parâmetros do índice, para ótima capacidade, 21,77%
(n = 32) estava alinhada, 1,36% (n = 2) e 0,68% (n = 1) inclinada direita e
esquerda, respectivamente, com moderada capacidade, 10,20% (n = 15) alinhada,
0,68% (n = 1) inclinada a direita e 1,36% (n = 2) a esquerda, porém no que
apresentaram baixa capacidade, em apenas nos parâmetros de inclinada e
inclinada à esquerda obteve-se 0,68% (n = 1), cada, e inclinada a direita 0%.
Não houve relação estatisticamente significante entre as posturas da cabeça dos
participantes e seus resultados no índice do ICT (p = 0,38, Qui-Quadrado).
A comparação entre a relação dos participantes estudados e o ICT com algumas
alterações posturais foi realizado com base nas vistas anterior, lateral e
posterior.
Fonte: Autores, 2020
Gráfico
1 - Distribuição dos
acadêmicos de Odontologia da Unicatólica segundo a
relação entre postura da cabeça (vista anterior) e o ICT - 2019/2 e 2020/1
Ainda na vista anterior, o Gráfico 2 apresenta a comparação
com o Triângulo de Thales, com boa capacidade para o trabalho, onde 42,18% (n =
62) possuiam simetrias, contra assimétricos direita e
esquerda com 10,20% (n = 15) cada. Os que apresentaram ótima capacidade, 20,41%
(n = 30) estavam simétricos, 2,72% (n = 4) e 0,68% (n = 1) estavam com
assimetrias à direita e à esquerda, respectivamente. Com moderada capacidade,
6,12% (n = 9), estavam simétricos, 3,40% (n = 5) e 2,72% (n = 4) assimétricos à
direita e à esquerda, respectivamente. Novamente, os que apresentaram baixa
capacidade, apenas 0,68% (n = 1), apresentavam simetria e assimetria a direita
cada, e 0% assimetria a esquerda. No teste estatístico aplicado, não houve
relação significante entre o Triângulo de Thales dos participantes e seus
resultados no teste ICT (p = 0,12, Qui-Quadrado).
Fonte: Autores, 2020
Gráfico
2 - Distribuição dos
acadêmicos de Odontologia da Unicatólica segundo a
relação entre o Triângulo de Thales (vista anterior) e o ICT - 2019/2 e 2020/1
No Gráfico 3 na vista lateral, apresenta a comparação com a
coluna lombar, com boa capacidade para o trabalho, 36,73% (n = 54) estavam
normais, 17,69% (n = 26) e 8,16% (n = 12), apresentavam quadros de hiperlordose
e retificação, respectivamente. Com capacidade ótima, 14,97% (n = 22), estava
normal 5,44% (n=8), e 3,40% (n = 5) apresentavam graus de hiperlordose e
retificação, em moderada 6,12% (n = 9) mostravam normais, 5,44% (n = 8) com
hiperlordose e 0,68% (n = 1) retificado, por fim, com baixa capacidade, 0,68%
(n = 1), normal e 0,68% (n = 1), com hiperlordose, retificação 0%. Não houve
relação estatisticamente significante (p = 0,75, Qui-Quadrado).
Fonte: Autores, 2020
Gráfico
3 - Distribuição dos
acadêmicos de Odontologia da Unicatólica segundo a
relação entre a postura da coluna lombar (vista lateral) e o ICT - 2019/2 e
2020/1
O gráfico 4 compara as posturas da coluna cervical na vista
lateral, com a capacidade para o trabalho. Dos participantes, com postura
normal da cervical em normalidade foram 53,74% (n = 79), 8,16% (n = 12),
hiperlordose, e 0,68% (n = 1), retificação. Entre os que possuem ótima
capacidade, 21,09% (n = 31), com normalidade, 2,72% (n = 4) e 0% com
hiperlordose e retificação, respectivamente. Com moderada capacidade para o
trabalho, 10,88% (n = 16) estavam normais, 1,36% (n = 2), hiperlordose e 0%
retificação, já com baixa capacidade apresentaram percentuais de 0,68% (n = 1),
em normalidade e hiperlordose cada e 0% em retificação. Não houve relação estatisticamente
significante (p = 0,78, Qui-Quadrado).
Fonte: Autores, 2020
Gráfico
4 - Distribuição dos
acadêmicos de Odontologia da Unicatólica segundo a
relação entre a postura da coluna cervical (vista lateral) e o ICT - 2019/2 e
2020/1
O Gráfico 5 mostra a comparação entre a postura das
escapulas na vista posterior. Em boa capacidade para o trabalho, 52,38% (n =
77) detinham escapulas normais, 4,08% (n = 6), alada a direita, 3,40% (n = 5)
alada a esquerda, e 1,36% (n = 2) com escapulas retraídas a direita e esquerda
cada. Em ótima capacidade 22,45% (n = 33) estavam normais, 0,68% (n = 1) com
escapulas aladas direita e esquerda cada, e 0% detinham escapulas retraídas
direita e esquerda, em moderada 10,88% (n = 16) normais, os demais dados
mostraram-se iguais aos que apresentaram ótima capacidade, dados supracitados.
Além disso, os que apresentaram baixa capacidade, 1,36% (n = 2) estavam normais
e os demais parâmetros posturais apresentaram 0% de comparação com o índice de
capacidade. E mais uma vez, não houve relação significativa (p = 0,98, Qui-Quadrado).
Fonte: Autores, 2020
Gráfico
5 - Distribuição dos
acadêmicos de Odontologia da Unicatólica segundo a
relação entre a postura das escápulas (vista posterior) e o ICT - 2019/2 e
2020/1
Na pesquisa realizada com escolares com o mesmo instrumento
deste estudo, apresentou certos graus de semelhança, com quantitativos de
normalidade superiores de 50%, como na vista anterior das regiões de cabeça,
tronco, cristas ilíacas, quadril e joelhos. Apenas ombros e triângulo de Thales
divergiram, apresentando quantitativos de assimetrias acima de 59,5%.
Salientando, que no presente estudo, a região do triângulo de Thales também
apresentou alterações significativas [7].
Em um estudo foi utilizado uma interface tecnológica
composta por eletrodos que analisavam e incentivavam através de feedbacks os
estudantes de odontologia para corrigir os movimentos. Os participantes que
receberam o feedback, diminuíram significativamente a postura errônea adotada
sobretudo da região do pescoço e parte superior das costas. Assim, a tecnologia
que é cada vez mais presente em nossa realidade pode ser responsável por favorecer
a correção postural desses estudantes [4].
Com resultados mais significativos, realizado através do
RULA, instrumento que mensura a correlação de cargas no pescoço e dos membros
superiores através de diagramas e níveis, estudo mostrou que 64,7% dos
procedimentos realizados por estudantes de Odontologia estão associados com
riscos ergonômicos altos, contra 25,7% de riscos médios, sendo as áreas de
maior pontuação, o pescoço, tronco e pernas [8].
Assim, os autores afirmam que os profissionais dentistas
sofrem de uma variedade de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
com maior risco para aqueles mais velhos e do gênero feminino [9]. Ao
questionarem acerca dos conhecimentos de ergonomia, apenas um terço dos
estudantes, aproximadamente 39,0%, sabiam do que tratava a ergonomia [1].
Contudo, um estudo chamou atenção que a maioria dos alunos pesquisados, 87,2%,
fez afirmações corretas sobre ergonomia, porém esses percentuais diminuiam com o decorrer do curso, período em que aumenta
as cargas práticas [10].
O presente estudo buscou a correlação da condição postural
dos estudantes com o ICT destes. O ICT mensura a capacidade do trabalhador na
execução das suas tarefas, levando em consideração os aspectos da saúde do mesmo, sua capacidade física e mental. Assim sendo,
torna-se um importante indicador para manutenção desse trabalhador em seu
ambiente de trabalho, identificando tanto aspectos referentes às suas
atividades realizadas, como os prováveis prejuízos da sua condição de saúde,
para que ele consiga realizar suas atividades e manter seu bem-estar
psicossocial e as competências individuais [11].
Tomando como base o ICT, eles afirmaram que 53,3%, ou seja,
a maioria dos cirurgiões dentistas avaliados teve sua capacidade mensurada como
adequada, já que eles não utilizaram os termos próprios do índice e, dessa
forma, 46,7% dos profissionais tiveram a capacidade para o trabalho inadequada
[12]. Os índices de capacidade baixos estão relacionados com maiores chances
para o desenvolvimento de doenças musculoesqueléticas.
Durante as avaliações posturais, alguns dados tornaram-se
mais significantes, assim como para a literatura supracitada das regiões de
cabeça e triângulo de Thales, na vista anterior, coluna lombar e cervical na
vista lateral, e escapulas na vista posterior. Para tratar as correlações
infracitadas, foi utilizada a estatística inferencial, através do teste Qui-quadrado, com valor significativo de p < 0,05.
As comparações realizadas entre o ICT e os desvios
posturais, através do teste qui-quadrado, não
mostraram correlações, contudo os desníveis da postura estão presentes,
desencadeando o aparecimento de sintomas álgicos e consequentemente
desconfortos musculares.
Em virtude dos dados mencionados, com a utilização do instrumento
IAP, foi possível realizar as avaliações posturais nos estudantes, obtendo-se
dados significativos de alterações a níveis de posicionamento da cabeça, altura
do triângulo de Thales, modificações na região escapular, de coluna cervical e
lombar, que consonante a esse método avaliativo, buscou-se correlacionar com os
desvios posturais de ambos os gêneros. Dessa forma, foi possível observar
quantitativos mais significantes no gênero feminino.
Nas correlações realizadas com o instrumento ICT, juntamente
com os dados obtidos pelo IAP, observou-se a inexistência de relações
estatísticas nos dados apresentados entre as variáveis da população em estudo.
Contudo, tais dados não menosprezam as alterações posturais presentes, e sua
importância de sinalização para o desencadeamento de quadros patológicos
futuros, que necessitam ser devidamente investigados e, caso necessário, a
realização de processos intervencionistas.
Ademais, ainda em consonância com o ICT, foi possível
concluir que os mesmos, apesar de apresentarem alterações posturais
importantes, detinham uma boa capacidade para o trabalho que, segundo o próprio
instrumento, não é algo alarmante, apenas é necessário ficar atento, nesse
caso, às posturas assumidas durante a realização das práticas educativas e/ou
nos atendimentos aos pacientes que buscam o serviço de Odontologia.