ARTIGO ORIGINAL
Avaliação da qualidade
de vida, capacidade funcional e força da musculatura respiratória em pacientes
com insuficiência cardíaca
Evaluation of quality of life, functional capacity and strength of
respiratory and muscles in patients with heart failure
Fernanda Foureaux Scariot, Ft., M.Sc.*, Marília Mendes Rodrigues**, Beatriz Grassmann Gomes de Souza**, Fernanda Cristina de Lima***,
Kelly Christina de Faria Nunes, M.Sc.****, Lays Magalhães Braga, M.Sc.****
*Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) **Discente do curso de fisioterapia do Centro
Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), ***Educadora física, discente do
curso de Pós graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM),****Docente do Centro Universitário de Patos de Minas
(UNIPAM), *****Docente do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM)
Recebido em 29 de julho
de 2020; aceito em 1 de setembro de 2020.
Correspondência: Fernanda Foureaux Scariot, Rua Manila,
90/1306 bloco 2, bairro Estrela Dalva, 30575010 Belo Horizonte MG
Fernanda
Foureaux Scariot fefoureaux@hotmail.com,
Marília Mendes Rodrigues
mariliamendes@unipam.edu.br
Beatriz Grassmann Gomes de Souza beatrizggs@unipam.edu.br
Fernanda Cristina de
Lima nandaclima2017@gmail.com
Kelly Christina de Faria
Nunes kellyfaria@unipam.edu.br
Lays Magalhães Braga
laysbraga@unipam.edu.br
Resumo
A insuficiência
cardíaca (IC) é uma síndrome clínica, via final comum de diversas doenças
cardíacas. O estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida, a capacidade
funcional e a força muscular respiratória em pacientes com IC classe funcional
I e II. Tratou-se de um estudo observacional transversal, com amostra composta
por 20 indivíduos com faixa etária entre 58 e 82 anos, em acompanhamento
clínico no Centro Clínico de Especialidades Médicas de Patos de Minas. Após a
realização dos testes, foi observado em relação à qualidade de vida que o
domínio mais comprometido foi o de limitação por aspectos físicos. Não houve
limitação na capacidade funcional e na força muscular respiratória, devido aos
indivíduos realizarem acompanhamento fisioterapêutico. A IC gera um impacto
negativo sobre a qualidade de vida e que a fisioterapia é indispensável no
acompanhamento e prognóstico desta população.
Palavras-chave: Fisioterapia,
insuficiência cardíaca, músculos respiratórios, qualidade de vida.
Abstract
Heart
failure (HF) is a clinical syndrome, the common end-stage of several heart
diseases. The study aimed to evaluate the quality of life, functional capacity
and respiratory muscle strength in patients with HF functional class I and II.
This was a cross-sectional study, with a sample of 20 individuals aged between
58 and 82 years, under clinical follow-up at the Clinical Center of Medical
Specialties of Patos de Minas. After performing the
tests, it was observed in relation to the quality of life that the most
compromised domain was that of limitation by physical aspects. There was no
limitation in the functional capacity and in the respiratory muscle strength,
due to the individuals performing physiotherapeutic follow-up. It is concluded
that HF has a negative impact on the quality of life and that physical therapy
is essential in the monitoring and prognosis of this population.
Keywords: Physical therapy, heart failure, respiratory muscles, quality of life.
A insuficiência
cardíaca (IC) é caracterizada por disfunções do sistema cardiovascular
resultando na incapacidade em bombear o sangue em quantidade suficiente para
suprir as necessidades do corpo. Pode ser decorrente de qualquer condição
cardíaca que reduza a eficácia do bombeamento sanguíneo adequado pelo coração,
entretanto, a diminuição do fluxo sanguíneo coronariano resulta na redução da
contratilidade do músculo cardíaco sendo na maioria das vezes a principal causa
deste bombeamento sanguíneo inadequado [1]. A IC é uma síndrome clínica que
está relacionada às doenças cardiovasculares crônicas não transmissíveis.
Atualmente é responsável por elevados custos hospitalares e apresenta alta taxa
de mortalidade [2,3].
De acordo com dados do
Sistema Único de Saúde [4], em 2012, ocorreram 26.694 óbitos por IC no Brasil e
para o mesmo ano, das 1.137.572 internações por doenças do aparelho
circulatório, em torno de 21% foram devidas à IC. Estima-se que em 2025, o
Brasil será considerado o sexto maior país com população de idosos e que a IC
será a primeira causa de óbitos por doenças cardiovasculares do mundo [5].
Na IC ocorre redução do débito cardíaco
(DC), da oferta de oxigênio e da perfusão tecidual. No início, os pacientes
apresentaram manifestações clínicas frente ao esforço físico e, com a
progressão e agravamento da doença, essas manifestações também ocorrem no
repouso caracterizando perda progressiva da capacidade funcional e da Qualidade
de vida (QV) desses indivíduos [6].
Os principais sintomas
da IC, dispneia e intolerância ao esforço, são utilizados para estratificar os
pacientes com IC em classes funcionais [7] de acordo com a New York Heart Association (NYHA) e recomendações da Sociedade
Brasileira de Cardiologia [6]. As quatro classes funcionais são definidas como:
Classe Funcional I – ausência de sintomas (dispneia) durante atividades
cotidianas. A limitação para esforços é semelhante à esperada em indivíduos
normais; Classe Funcional II – sintomas desencadeados por atividades
cotidianas; Classe Funcional III – sintomas desencadeados em atividades menos
intensas que as cotidianas ou pequenos esforços; Classe Funcional IV – sintomas
em repouso [8].
A intolerância ao
esforço físico presente nessa população deve-se, em grande parte, às alterações
musculares específicas, tais como: diminuição de fibras musculares oxidativas
do tipo I, aumento das fibras glicolíticas do tipo IIb,
diminuição do número de mitocôndrias e perda de massa muscular [7]. Ocorre um
desequilíbrio entre síntese e degradação proteica que pode resultar em caquexia
cardíaca. A consequência disso é uma redução da capacidade funcional [9,10].
Os pacientes com IC
frequentemente apresentam função pulmonar anormal, caracterizada por padrão
ventilatório restritivo [11]. A presença de cardiomegaliaé
um dos fatores que contribui para esse achado devido à
restrição que o
coração aumentado impõe à expansão
dos pulmões [12]. A redução da capacidade
pulmonar total e da pressão inspiratória (PImáx) e
expiratória máxima (PEmáx) são proporcionais à
gravidade e evolução da doença [11].
Os pacientes ficam cada
vez mais hipoativos, levando a um maior desuso da musculatura esquelética e à
perda de força e de massa muscular, causando redução da mobilidade geral. Essas
complicações podem contribuir para o aumento da intolerância ao esforço físico,
diminuição da QV e aumento da morbidade e mortalidade dessa população [13],
assim como aumento dos custos de saúde [14].
Diante do exposto, os
objetivos do presente estudo foram avaliar a QV, a capacidade funcional e a
força da musculatura respiratória em pacientes com IC classe funcional NYHA I e
II assim como conhecer o perfil sociodemográfico e clínico destes pacientes.
Tratou-se de um estudo
transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro
Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), na cidade de Patos de Minas/MG. A
amostra foi selecionada por conveniência, constituída por 20 pacientes com
diagnóstico clínico de IC, triados do ambulatório de cardiologia do Centro
Clínico de Especialidades de Patos de Minas.
Foram incluídos no
estudo pacientes com diagnóstico clínico de IC classe funcional NYHA I e II,
faixa etária entre 52 anos e 82 anos de ambos os gêneros com o tratamento
medicamentoso otimizado, que obtiveram 18 pontos no Mini Exame do Estado Mental
e que concordaram em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE). Foram excluídos pacientes que apresentaram arritmias não controladas,
SpO2 < 92% em ar ambiente, infecção pulmonar ou de vias aéreas superiores
nos últimos 30 dias e limitações cognitivas, neurológicas ou ortopédicas impeditivas
à realização dos testes e protocolos propostos.
Após esclarecimentos
dos objetivos da pesquisa e assinatura do TCLE, os dados dos participantes
foram coletados individualmente na Clínica de Fisioterapia do UNIPAM.
Inicialmente, foi aplicado o MEEM. Esse exame foi proposto inicialmente por Folstein et al. [15], em 1975, e traduzido para a
versão brasileira por Bertolucci et al. [16], e Lourenço e Veras [17].
Tem como objetivo avaliar funções cognitivas específicas, contendo questões agrupadas
em sete categorias: orientação temporal, orientação espacial, registro de três
palavras, atenção e cálculo, recordação das três palavras, linguagem e
capacidade construtiva visual. As tarefas são pontuadas e o escore máximo é de
30 pontos, sendo zero pontos indicativo de maior grau de comprometimento
cognitivo dos indivíduos, e 30 pontos correspondendo a melhor capacidade
cognitiva. Os pontos de corte sugeridos são de 13 para analfabetos, 18 para
escolaridade baixa/média e 26 para alta escolaridade.
Em seguida, para os
indivíduos com escore > 18 no MEEM, foi realizada a avaliação
semiestruturada para a categorização da amostra, contendo informações gerais de
idade, índice de massa corpórea (IMC) e tabagismo.
Para avaliar a QV, os
voluntários responderam o questionário SF-36 (Short Form
Health Survey), um instrumento de avaliação da QV
de fácil administração multidimensional formado por 36 questões perfazendo oito
componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da
saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. O
SF-36 apresenta um score final de 0 a 100, no qual zero corresponde a pior
estado geral de saúde e 100 o melhor estado de saúde [18]. Este questionário
foi traduzido em português e validado no Brasil [19].
Para avaliar a
capacidade funcional, foi realizado o teste de caminhada de seis minutos (TC6M)
seguindo as orientações da American Thoracic
Society [20]. Os pacientes foram orientados a caminhar em um corredor
demarcado de 30 metros, no maior ritmo tolerado e poderiam parar para descansar
se sentissem necessidade e deveriam retomar a caminhada tão logo estivessem
aptos para isso. Foram dados estímulos verbais com frases padronizadas, como
“você está indo bem, mantenha este ritmo” e “dê o máximo de si” conforme
padrões da ATS (2002). Os critérios de interrupção foram: angina, dispneia
importante, fadiga de membros inferiores, tontura, sudorese profusa e palidez.
Através do oxímetro (Choicemmed), foi verificada a
frequência cardíaca (FC) e a SpO2 sendo aferida no repouso, a cada
dois minutos durante o teste, ao final do teste e após dois minutos de
recuperação. A pressão arterial foi aferida no repouso, imediatamente ao
término do teste e após dois minutos de recuperação, utilizando estetoscópio (Littmann) e esfigmomanômetro (PAMED). A escala subjetiva de
esforço de Borg [21], foi utilizada como auxílio para
verificar o grau de cansaço dos pacientes.
Para mensurar a força
da musculatura respiratória foi utilizada a manovacuometria.
Se trata de um método simples, reprodutível que utiliza o aparelho manovacuômetro para mensurar a pressão inspiratória máxima
(PImáx) e a pressão expiratória máxima (PEmáx) [22,23]. Para esta avaliação foi utilizado o
equipamento analógico Wika. O paciente foi
posicionado em sedestação, com os braços ao longo do
corpo, utilizando um clipe nasal para permitir apenas a respiração oral durante
a realização do teste. Os pacientes foram orientados a colocar o bocal entre os
dentes cerrando os lábios e a realizar um esforço inspiratório máximo, a partir
do volume residual (VR), no bocal e contra a via aérea ocluída, sendo observada
a maior deflexão obtida no aparelho (PImáx). De forma
semelhante, foi realizado o esforço expiratório máximo, a partir da capacidade
pulmonar total (CPT), contra a via aérea ocluída, obtendo-se o valor da PEmáx. Foram realizados três testes para cada parâmetro
sendo considerado o maior valor. Em seguida, foram efetuados os cálculos da PEmáx e PImáx em função da idade
e sexo, sendo o valor encontrado por meio deste cálculo considerado como o
valor predito para identificar se, de acordo com a idade e o sexo, a força dos
músculos respiratórios estavam fracos ou não [24].
A análise estatística
dos dados foi conduzida por meio do Software Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS versão 23.0, SPSS Inc., IL, USA). A
normalidade dos dados foi testada por meio do teste Shapiro-Wilk. Para a
análise descritiva dos dados foram obtidos média ± desvio padrão para variáveis
contínuas e para variáveis categóricas números absolutos e frequências (%). Foi
empregado o Teste t Student e o nível de
significância adotado foi de 5% (p < 0,05).
A amostra foi
constituída por 20 pacientes, sendo 10 (50%) do gênero masculino e 10 (50%) do
gênero feminino. A média de idade dos pacientes é de 63,30 ± 5,44 anos. A
categorização da amostra foi descrita na Tabela I.
Tabela I - Características
clínicas e demográficas de 20 pacientes com IC, NYHA I e II apresentadas como
valores médios (± DP) ou valores absolutos (%).
DP = Desvio Padrão. N =
número da amostra. % = porcentagem. IMC = Índice de Massa Corporal.
Na tabela II, são
demonstrados os valores obtidos e previstos dos testes realizados no estudo.
Observou-se que os valores da PImáx obtida comparado
aos valores da PImáx predita (p= 0,197) e os valores
da PEmáx obtida vs os
valores da PEmáx predita (p= 0,060) não foram
estatisticamente significativos.
A distância percorrida
no TC6M foi maior, comparada ao valor previsto (446,10 ± 159,27 metros vs 405,65 ± 101,03 metros), obtendo um resultado não
significativo na comparação das médias (p = 0,757).
Tabela II - Valores obtidos e
previstos dos testes realizados na pesquisa.
PImáx = Pressão Insíratória Máxima; PEmáx =
Pressão Expiratória Máxima; Valor de p: significância.
Os dados da QV avaliada
pelo SF-36 estão apresentados na Tabela III. Observou-se que o domínio mais
comprometido foi o de aspectos físicos com média de 31,2 ± 34,2 e o menos
comprometido o de aspectos sociais com média de 61,6 ± 27,23.
Tabela III - Qualidade de vida
pelo questionário de qualidade de vida SF-36.
DP = Desvio Padrão.
Ao realizar os testes
propostos em pacientes com IC não foram observadas diferenças estatisticamente
significantes entre os valores preditos e obtidos da PImáx
e PEmáx assim como da CF. Contudo observou-se um
impacto negativo sobre a QV destes pacientes, com maior comprometimento no
domínio de limitação por aspectos físicos. Acredita-se que os achados do
presente estudo possam ter sido influenciados pela classificação funcional NYHA
do I e II dos indivíduos, em que os sintomas são manifestados com pouca
frequência e menor intensidade. Além disso pode ter sido também pelo perfil da
amostra que conta com indivíduos que estão inseridos em programas de
reabilitação cardiovascular (RCV).
A RCV tem como
principal objetivo propiciar uma melhora dos componentes da aptidão física,
tanto aeróbico quanto não aeróbicos (força/ potência muscular, flexibilidade,
equilíbrio), algo que exige a combinação de diferentes modalidades de
treinamento e melhora a capacidade funcional [25].
Na tentativa de
explicar o fato de que na amostra não houve limitação da capacidade funcional,
avaliada por meio do TC6M, Nogueira et al. [26], analisando o mesmo
teste, descreve que a média da distância caminhada é mais elevada do que a
relatada na literatura, e que isto pode ser atribuída ao fato da população
estudada apresentar menor gravidade (82,6% em CF II - NYHA) e do exame ter sido
realizado sob incentivo verbal (teste estimulado).
Os resultados obtidos
são compatíveis com os dados da literatura e corroboram os estudos de Rocha et
al. [27], em que foram estudados 21 pacientes, sendo 66% brancos, 62%
homens, com média de idade de 60 ± 11 anos, 38% diabéticos e com dislipidemia e
57% com hipertensão arterial, com insuficiência cardíaca isquêmica (33%) e não
isquêmica (67%), nas classes funcionais II (90%) e III (10%) da NYHA, com
fração de ejeção = 0,35 ± 0,058, utilizando-se o teste de caminhada de 6
minutos (TC6M) e o teste ergométrico (Bruce modificado). Foi utilizado para
análise no TC6M a distância total percorrida, sendo o paciente submetido a três
testes com intervalos de 20 minutos. Foi comparado o valor de distância média
alcançada no TC6M com a distância percorrida no teste ergométrico; o consumo de
oxigênio máximo (VO2) e o equivalente metabólico máximo (MET) do TE.
Os resultados mostraram que houve significativas correlações positivas entre a
distância percorrida no TC6M e a distância percorrida no teste de esforço (p =
0,0001; r = 0,76); e entre o VO2 máximo (p = 0,001; r = 0,68) e o
MET máximo (p = 0,001; r = 0,68) neste grupo de pacientes.
Fernandes et al.
[28] avaliaram a capacidade funcional de indivíduos sedentários e comparou o
desempenho nos testes com e sem acompanhamento com as distâncias preditas pelas
equações de Enright e Sherrill
em 28 estudantes universitários, de ambos os sexos na faixa etária entre 20 e
30 anos. Foram encontradas diferenças significativas entre a distância predita
e a percorrida no primeiro e no segundo teste, nas duas formas de padronização,
no sexo feminino (p < 0,001). Não houve diferença significativa entre as
distâncias percorridas no primeiro e segundo teste em ambos os sexos: p = 0,175
(masculino) e p = 0,992 (feminino).
Baptista et al.
[29] avaliaram 87 pacientes, com o objetivo de avaliar a utilidade do teste de
caminhada de seis minutos como indicador prognóstico de qualidade de vida em
pacientes submetidos a revascularização do miocárdio. Foram avaliadas as
características clínicas, TC6M e questionário para avaliação de QV, o
questionário SF-36. Os pacientes foram avaliados no pré-operatório e divididos
em dois grupos, conforme a distância percorrida no TC6M: grupo que caminhou
mais de 350 metros e grupo que caminhou menos de 350 metros. Foi observado que
a QV era inferior no grupo < 350 metros em relação ao grupo > 350 metros,
no período pré-operatório, nos domínios: capacidade funcional, aspectos
físicos, estado geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais. A qualidade de
vida melhorou em ambos os grupos.
No presente estudo, a
qualidade de vida foi verificada por meio do SF-36, o domínio mais comprometido
foi o de aspectos físicos e o menos comprometido foi o de aspectos sociais. Ao
observar um maior comprometimento de limitação por aspectos físicos, os
resultados encontrados na literatura corroboram os deste estudo, Mesquita et
al. [30] defendem a ideia de que os pacientes cardiopatas sofrem alterações no seu
estilo de vida, limitando determinadas atividades de vida diária (AVD) devido a
dispneia e fadiga.
Em conseguinte, no
estudo de Nogueira et al. [31], a QV medida pelo SF-36 encontrou-se
alterada em quase todos os domínios, com maior comprometimento no aspecto
físico, que avalia como a saúde física interfere nas AVD e atividades do
trabalho, mostrando dessa forma que a limitação funcional imposta pela doença
está associada à piora da QV.
Além dos fatores
fisiológicos envolvidos na diminuição da capacidade do indivíduo para realizar
atividades físicas diárias, existem os fatores psicológicos como o medo e a
ansiedade, relacionados ao estado de saúde alterado, que levam a pessoa a
momentos de introspecção e depressão. Nesses momentos, o paciente tende a
permanecer a maior parte do tempo deitado e a diminuir todas as suas atividades
cotidianas [32].
Neste estudo,
observou-se que os aspectos físicos e o estado geral de saúde representam as
dimensões mais comprometidas nos pacientes que participaram deste estudo, com a
média de 31,2 e 42,2, respectivamente. Esses resultados são similares aos encontrados
no estudo de Witham et al. [33], no qual foi
identificado comprometimento dos aspectos físicos em pacientes portadores de
doença arterial coronariana e em pacientes idosos com insuficiência cardíaca.
Os dados obtidos se
assemelham aos de Gonçalves et al. [34] que avaliaram 24 indivíduos de
ambos os sexos na faixa etária entre 23 e 77 anos submetidos à cirurgia de
revascularização do miocárdio com o objetivo de avaliar a qualidade de vida por
meio da aplicação do questionário MOS SF-36. O questionário foi aplicado em
três momentos: antes, no 5º dia do pós-operatório e dois meses após a cirurgia.
Foi observada queda dos seguintes parâmetros: funcionamento do organismo;
limitação por distúrbios físicos; vitalidade e dor após a cirurgia, havendo
recuperação significativa dois meses após. Os autores concluíram que o
questionário MOS SF-36 permite avaliar os benefícios da reabilitação cardíaca
fase I a qual proporcionou autoconfiança e retorno às atividades diárias.
Pimenta et al.
[35] realizaram uma pesquisa com 87 aposentados para avaliação da QV, como
método foi utilizado a versão brasileira do questionário SF-36. Concluíram que
o questionário SF-36 foi um instrumento adequado, de aplicação relativamente
rápida e de fácil uso para avaliação dessa variável em aposentados. A QV na
amostra estudada foi associada ao estilo de vida dos pacientes e aponta para a
necessidade de ações que contribuam de forma positiva para melhorar o estilo de
vida nesta nova fase da vida.
No estudo de Laguardia et al. [36], foram entrevistados 12.423
homens e mulheres brasileiros selecionados aleatoriamente em áreas urbanas e
rurais das cinco regiões brasileiras, e a informação coletada incluiu o SF-36
como uma medida de qualidade de vida relacionada à saúde. Obtiveram como
resultado que os escores dos homens brasileiros foram maiores que os das
mulheres nos oito domínios e duas medidas componentes do SF-36. Os brasileiros
tiveram pontuação mais baixa que suas respectivas contrapartes internacionais
em quase todos os domínios e medidas componentes do SF-36, à exceção do estado
geral de saúde (USA), dor (GB) e vitalidade (Austrália, USA e Canadá).
No presente estudo, por
meio da avaliação da força da musculatura respiratória, observou-se fraqueza
dos músculos inspiratórios e expiratórios, no entanto, os valores da PI Máx (p= 0,197) e PEmáx (p= 0,060)
não foram estatisticamente significativos.
Almeida, Bertucci e Lima [37] realizaram uma pesquisa com 41
indivíduos voluntários, tendo como critério de inclusão faixa etária de 20 a 59
anos, ambos os sexos, índice de massa corpórea 18 a 29,9 kg/m2. Foi
observado nos resultados de comparação entre as médias dos diferentes métodos p
> 0,001 para a PImáx e PEmáx.
A média da PImáx a partir do VR e CRF foi, respectivamente,
de 96,10 e 78,78 cm H2O, com um DP de respectivamente 32,70 e 27,50
cm H2O. Entre PEmáx, a partir da CPT e
CRF, notou-se, respectivamente, média de 115,37 e 93,90 cmH2O, com
um DP de, respectivamente, 37,95 e 33,08 cmH2O.
No estudo de Ruas et
al. [38], o objetivo foi de avaliar o pico de fluxo expiratório (PeakFlow), força muscular respiratória (FMR), função
pulmonar, tolerância ao exercício (TC6M), comorbidades e grau de dispneia em
indivíduos com hipertensão arterial. Realizou-se espirometria, PeakFlow, FMR e o TC6M, em 49 participantes. Observou-se
que os valores obtidos foram significativamente menores que os previstos para a
PeakFlow (403 ± 76 vs 333 ±
122l/min), PEmáx (79 ± 5 vs
67 ± 25cmH2O), PImáx (81 ± 5 vs 54 ± 25cmH2O), para distância percorrida no
TC6M (485 ± 56 vs 409 ± 102m) e para as variáveis espirométricas.
Silva et al. [39]
avaliaram 43 pacientes, com o objetivo de correlacionar a qualidade de vida,
capacidade funcional e força muscular respiratória de pacientes com IC. Foram
avaliadas a classificação funcional pela NYHA, qualidade de vida pelo
questionário Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire (MLHFQ),
e PImáx e PEmáx. Foi
encontrada correlação negativa para PImáx e PEmáx com NYHA (rs = -0,478, rs = -0,490, respectivamente), e MLHFQ com a PImáx (rs = -0,393).
A literatura descreve
que a redução da força muscular respiratória em pacientes com IC pode estar
ligada a fadiga e a dispneia durante o esforço ou na realização das atividades
de vida diária, explica que a diminuição da força muscular respiratória e da
função pulmonar pode ser consequência da redução da massa muscular. Esse fato
pode acarretar também a densidade dos capilares e a atividade das enzimas
oxidativas, que poderia ser o principal fator responsável pela atrofia do
diafragma [40].
Nesses pacientes a
rápida fadiga ao realizarem suas atividades de vida diária é causada pela
diminuição da força muscular respiratória o que os tornam menos funcionais.
Assim, a fisioterapia tem papel importante para o retorno à função e a
qualidade de vida [41]. No entanto, para confirmar os nossos resultados é
necessário ampliar a amostra incluindo as classes funcionais NYHA III e IV.
Diante do exposto,
concluiu-se que os participantes do estudo com IC classe funcional NYHA I e II
apresentam redução da QV com maior comprometimento no domínio aspectos físicos,
porém a força da musculatura respiratória e a CF não se mostraram
significativamente reduzidas em relação aos valores preditos. Acredita-se que
os resultados encontrados possam ter sido influenciados pelo perfil da amostra
que conta com indivíduos classe funcional NYHA I e II e que estão inseridos em
programas de reabilitação cardiovascular. Os achados da pesquisa corroboram a
importância do acompanhamento fisioterapêutico de indivíduos com IC em que o
treinamento específico para os músculos respiratórios e o treinamento aeróbico
podem melhorar os sintomas, o prognóstico e a QV destes indivíduos.