ARTIGO ORIGINAL
Avaliação manual da
mobilidade e tonicidade diafragmática em cantores líricos profissionais e
não-cantores
Manual
evaluation of mobility and diaphragmatic tonicity in professional lyrical
singers and non-singers
Tati Helene, Ft., M.Sc.*, Cristina Prota, M.Sc.**, Angelica Castilho Alonso, Ft., D.Sc.***
*Fisioterapeuta
autônoma em Fisioterapia em Performance e Cantora Lírica Profissional nos
teatros Palácio das Artes - Belo Horizonte, Theatro
São Pedro - São Paulo, Theatro da Paz - Belém, Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Teatro Adamastor -
Guarulhos, Teatro Malibran - Venezia (Itália), Theatro Municipal José de Castro Mendes - Campinas, Sala
Cecília Meireles - Rio de Janeiro, Sala São Paulo - São Paulo, Teatro Pedro
Calmon - Brasília, Theater Rigiblick
- Zurich (Suíça), **Coordenadora e Docente do curso de Fisioterapia do Centro
Universitário das Américas, ***Docente do Programa de Mestrado Ciências do
Envelhecimento da USJT e pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do
IOT-HC- FMUSP
Recebido em 31 de julho
de 2020; aceito em 8 de outubro de 2020.
Correspondência: Tati Helene, Rua Genebra 177/82, São Paulo SP
Tati Helene:
tatihel@gmail.com
Cristina Prota: cristinaprota@hotmail.com
Angelica Alonso Castilho:
angelicacastilho@msn.com
Resumo
Introdução: Durante sua carreira
o cantor lírico sofre grande demanda e consequente alteração da coordenação dos
músculos respiratórios, porém não se sabe se estas exigências podem alterar a
mobilidade e tonicidade no principal músculo da respiração, o diafragma. Objetivos:
Avaliar e comparar a tonicidade e a mobilidade do diafragma de cantores líricos
profissionais e de não-cantores. Participaram do estudo 15 cantores líricos
profissionais em plena carreira e 24 adultos não-cantores com idades e IMCs equivalentes. Métodos: Duas avaliações foram
empregadas: para avaliar a mobilidade costal foi utilizada a parte referente a
avaliação desse parâmetro da Manual Evaluation of the Diaphragm
Scale (MED Scale); para
avaliar a tonicidade diafragmática a avaliação descrita por Rial e Pinsach em 2015. Resultados: Os resultados mostraram
que a distribuição da avaliação manual do diafragma no grupo dos cantores
apresentou distribuição significativamente diferente, tendo p < 0,05, com
relação à tonicidade bilateral do diafragma, apresentando maior hipertonicidade em relação ao grupo controle, e que não
houve diferenças significativas em relação à mobilidade. Conclusão: Os
gestos artísticos usados pelos cantores líricos profissionais afetam a
tonicidade do diafragma.
Palavras-chave: diafragma, tono
muscular, canto.
Abstract
Introduction: The professional lyrical singers during their careers suffer great
demand and consequent alteration of the coordination of the respiratory
muscles, however it is not known if these requirements can alter the mobility
and tonicity in the main muscle of the breath, the diaphragm. Objectives:
To evaluate and compare diaphragm tonicity and mobility of professional lyric
singers and non-singers. The study included 15 professional lyric singers in
their full careers and 24 non-singing adults of equivalent ages and BMIs. Methods:
Two forms of manual evaluation of the diaphragm were used: to assess costal
mobility, the part of the manual evaluation to evaluate this parameter was used
the Manual Evaluation of the Diaphragm Scale (MED Scale); and to evaluate the
diaphragmatic tonicity the evaluation described by Rial and Pinsach
in 2015. Results: The results showed that the distribution of the manual
evaluation of the diaphragm in the group of singers presented a significantly
different distribution, with p < 0,05, in relation to the bilateral
diaphragm tonicity, presenting them with greater hypertonicity in relation to
the control group, and that there were no significant differences regarding
mobility. Conclusion: The artistic gestures used by professional lyric
singers affect the tone of the diaphragm.
Keywords: diaphragm, muscle tonus, singing.
Apesar da crença
popular em uma facilidade inata para o canto, a realidade é que um cantor
lírico profissional treina não só seu aparelho fonador
mas todo o seu corpo para ser capaz de produzir determinados sons. Sua rotina
de treino e vida regrada é tão intensa e rigorosa [1] que podemos compará-la à
dos atletas de alto rendimento [2]. Ambas as áreas de atuação envolvem treinos
e demandas corporais no limite que o corpo humano pode atingir, por isso Quarrier já nomeou todos os artistas performáticos como
atletas, e aos músicos de artistas da música em 1993 [3]. Em função disso,
passaremos aqui a nomear os artistas líricos estudados como “atletas da voz”
[4].
Desde a criação da
ópera no século XVII até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram, tanto no
que se refere aos gestos artísticos usados pelos atletas da voz, quanto com
relação às habilidades expressivas exigidas e o tempo de carreira previsto para
um cantor profissional tem hoje em dia.
Atualmente, a atividade
didática desta arte está mais baseada na anatomia do que no empirismo original.
Otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos passaram a buscar aprimoramento
técnico cada vez maior na voz cantada profissional [5], com o objetivo de
fornecer aos estudantes maiores condições de prevenir e tratar os efeitos
deletérios desta prática artística.
Sabe-se hoje que os
atletas da voz alteram a coordenação normal da caixa torácica e do abdome
durante o canto, com a provável finalidade de evitar o retorno do diafragma à
posição relaxada, mantendo assim as costelas elevadas, o que gera uma
específica pressão subglótica [6], necessária para
uma eficiente produção vocal, por exercer considerável influência no nível de
pressão do som, na frequência fundamental e nas ressonâncias do aparato vocal
[7-9]. No canto lírico, o diafragma é o músculo primário dos gestos artísticos
da produção sonora [10], participando tanto na inspiração, que é seu movimento
fisiológico [11], quanto na expiração, durante a fonação [12].
Esta grande demanda e
alteração da coordenação que sofrem os músculos respiratórios de um cantor
lírico suscita o questionamento sobre se, após anos de carreira profissional,
podem ser criadas alterações de mobilidade e tonicidade no diafragma destes
atletas da voz. Woodring e Bogner
em 1998 [13] já apresentaram um estudo de caso em que observaram uma elevada
hipertrofia diafragmática em um cantor lírico profissional, tendo a espessura
deste músculo, avaliada via tomografia computadorizada, passado largamente o
limite máximo de normalidade.
Os métodos mais
utilizados para avaliar a força dos músculos respiratórios são a mensuração das
pressões respiratórias máximas por manovacuometria, a
ultrassonografia diafragmática, o sniff test e a avaliação manual [14]. No presente estudo será
utilizada a avaliação manual, por ser esta uma estratégia apropriada para a
medição da tonicidade e mobilidade do músculo em questão, além de acessível
para aplicação clínica [15].
Os principais autores a
descreverem a avaliação manual do diafragma foram os argentinos Cuello A em 1980 e, com Cuello G
e o brasileiro Aquino E, em 2013; os espanhóis Rial T e Pinsach
P em 2015 e os italianos Bordoni, Morelli, Morabito e Sacconi em 2016 e
2017. Cuello aborda a avaliação manual com a
finalidade de medir as forças diafragmáticas e intercostais no uso clínico da
fisioterapia respiratória, ou seja, com um olhar de busca pela deficiência e/ou
dessincronia diafragmática ou outras alterações
provenientes de patologias respiratórias [16,17]. Rial e Pinsach
[18] descrevem como a avaliação manual do diafragma pode ser feita por um
terapeuta ou em si próprio, abordando principalmente a avaliação de graus
hipertônicos do diafragma que costumam ser mais presentes em atletas e que suas
consequências deletérias incluem incontinência urinária, fraqueza do assoalho
pélvico, lombalgia, prolapsos, hérnias lombares, entre outros. Bordoni et al. [15,19], no entanto, abordam em dois
estudos a importância da avaliação manual do diafragma como uma excelente
ferramenta para diversas abordagens fisioterapêuticas, desde a avaliação
respiratória até a postural, a análise da percepção da dor, entre outros, sendo
essencial para fisioterapeutas respiratórios, terapeutas manuais, e
especializados em RPG [14].
Ao fisioterapeuta cabe
analisar as questões posturais do cantor lírico assim como dores, tensões,
assimetrias estruturais, e qualquer efeito deletério que acometa os sistemas
corporais devido à sua atividade profissional como cantor lírico [20].
Infelizmente a pesquisa
desse grupo particular de atletas da voz e suas especificidades com olhar
fisioterapêutico é praticamente inexistente. Somente encontramos os seguintes
trabalhos voltados à fisioterapia e o canto lírico profissional: Mauro Banfi, de 2013 [20], sobre as alterações posturais
decorrentes do canto lírico observadas em sua prática clínica e a técnica de
Voice Massage®, descrita como uma técnica de terapia
manual voltada especificamente para cantores, porém apenas no original em
finlandês [21]; o estudo de Staes et al. de
2011 [22] sobre fisioterapia para otimizar postura e parâmetros vocais, mesmo
que seu grupo de estudo seja composto apenas por estudantes e não por
profissionais do canto lírico; e alguns estudos não especificamente
fisioterapêuticos mas que procuram avaliar o sistema músculo esquelético: o de Sataloff, de 1981 [23], o de Johnson e Skinner 2009 [24] e
o estudo de Amato, de 2008 [25]. Esta lacuna justifica a necessidade de
desenvolvimento de trabalhos como o presente estudo.
Este trabalho tem o
objetivo de avaliar e comparar a tonicidade e a mobilidade do diafragma de
cantores líricos profissionais e de não-cantores.
Trata-se de um estudo
transversal controlado, a partir das normas da Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos aprovado pelo comitê
de ética da Universidade São Judas Tadeu sob o número de parecer 3.327.706.
Os participantes, de
ambos os sexos, foram divididos em dois grupos: cantores líricos profissionais
(G1) e Grupo Controle, composto de não-cantores (GC).
Figura 1 - Fluxograma do
processo de seleção de amostra de cantores líricos profissionais e controle.
Os critérios de
inclusão na pesquisa foram os seguintes: para o grupo G1 o participante tinha
que ser cantor lírico em nível profissional a pelo menos 10 anos; para o grupo
GC, não exercer esta atividade, seja como profissional ou amador, possuindo IMC
e idade semelhante ao de participantes do grupo G1; e para ambos os grupos: não
ter sofrido qualquer doença que interferisse no tônus muscular e/ou na
mobilidade diafragmática.
Os critérios e exclusão
na pesquisa foram para ambos os grupos ter sofrido qualquer doença ou
intervenção cirúrgica que alterasse o tônus muscular e/ou a mobilidade
diafragmática, e para o grupo GC não possuir idade ou IMC semelhante aos
participantes do G1, impossibilitando seu pareamento com o G1 (Figura 1).
Os voluntários foram
contatados diretamente pela pesquisadora e convidados a participar da pesquisa.
Após assinatura do TCLE, os voluntários responderam um questionário com
questões relativas à identificação (dados pessoais e sociodemográficos) e
depois foram submetidos a avaliação manual do diafragma.
Avaliação manual do
diafragma
A avaliação manual do
diafragma foi feita pelo mesmo avaliador em ambos os grupos, sem o conhecimento
deste sobre o grupo ao qual pertencia cada participante. Foi realizada em três
etapas: Etapa 1 e 2 - avaliação da mobilidade diafragmática, pela Manual Evaluation of the
Diaphragm Scale (MED Scale) [15,19] e Etapa 3 - avaliação da tonicidade
diafragmática conforme a avaliação descrita por Rial e Pinsach,
2015 [18].
Etapa 1 e 2 - A
avaliação manual do diafragma foi feita com o paciente em decúbito dorsal, com
os joelhos fletidos e pés apoiados na maca. Para avaliar a mobilidade do
diafragma o terapeuta avaliou: 1) o movimento costal durante a respiração, que
consiste em lateralização do gradil costal durante a inspiração com direção
caudal e o oposto durante a expiração, com as mãos do avaliador gentilmente
apoiadas sobre as laterais das bordas costais; 2) a excursão diafragmática
durante a respiração, que deve abaixar durante a inspiração e elevar durante a
expiração, com as mãos posicionadas anteriormente às bordas costais, com os
polegares abaixo das costelas na margem costal inferior e os outros dedos
apoiados gentilmente nas costelas superiores [15]. A gradação quanto à
mobilidade diafragmática foi avaliada conforme a MED Scale
- Manual Evaluation of the Diaphragm Scale
que classifica cada um dos lugares de avaliação e seus lados separadamente em 5
gradações distintas sendo: 1 - Sem restrição de movimento, 2 - Leve restrição
de movimento, 3 - Média restrição de movimento, 4 - Severa restrição de
movimento ou 5 - Sem movimento [19].
Etapa 3 - Para avaliar
a tonicidade do diafragma, o terapeuta colocou os dedos sem o polegar logo
abaixo das bordas costais e tentou inserir os dedos sob as costelas [19]. A
escala de avaliação usada foi de 3 possíveis gradações, sendo elas: 1 - Normal,
quando os dedos do avaliador conseguiram uma penetração de uma ou duas falanges
sem nenhum desconforto ao participante, 2- Hipertonia moderada, quando o
avaliador teve dificuldade de introduzir os dedos e/ou o participante sente
desconforto e 3 - Hipertonia severa, quando os dedos do avaliador não
conseguiram entrar e/ou a tentativa causou desconforto ao participante [18].
Análise estatística
Os dados foram
analisados no programa SPSS versão 20.0 e apresentados por meio de média,
mediana, desvio padrão, frequência e porcentagem. Às variáveis categóricas foi
aplicado o teste qui-quadrado. Inicialmente
aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk e como não houve distribuição normal, para a
comparação entre os grupos, foi aplicado o teste de Mann-Whitney. Para a
correlação das variáveis demográficas, mobilidade e tonicidade diafragmática do
grupo dos cantores foi usado o Coeficiente de correlação de Spearman.
Para todas as análises estatísticas, o nível de significância adotado foi de
5%.
Foram 54 participantes
na pesquisa, sendo 16 no G1 (Grupo dos cantores) e 38 no GC. Foram excluídos:
um do G1 e seis do GC por cantarem amadoramente, terem estudado canto
formalmente, ou possuírem alguma alteração física que pudesse alterar a
tonicidade ou mobilidade diafragmática; também foram excluídos do GC: quatro
por terem acima de 60 anos, três por terem abaixo de 25 anos e um por ter IMC
de 18,2 abaixo do normal. Ficaram no final, então, 15 participantes no grupo
dos cantores e 24 no grupo controle.
Tabela I - Caracterização da
amostra de cantores líricos profissionais e controle.
Teste U Mann-Whitney; Fem = feminino; Masc = masculino;
IMC = índice de massa corporal; Ma = mediana; M =
média; DP = desvio padrão.
Na comparação
intragrupo do grupo dos cantores em relação aos sexos não houve diferenças
estatísticas (Tabela III).
Tabela II - Comparação entre
os grupos de cantores líricos e controles na avaliação da mobilidade e da
tonicidade do diafragma.
*p
Tabela III - Comparação entre
os sexos dentro do grupo dos cantores líricos na avaliação da mobilidade e da
tonicidade do diafragma.
Teste qui-quadrado; *p ≤
0.05; D =
Direito; E = Esquerdo; F = Frequência
Tabela IV - Correlação entre
variáveis demográficas (tempo de canto, idade e IMC) e os dados coletados
(mobilidade e tonicidade diafragmática) no grupo dos cantores líricos.
*p
Houve correlação
moderada positiva entre IMC e mobilidade costal D (r = 0,605; p = 0,01) e E (r = 0,605; p = 0,01); excursão do diafragma D (r =
0,738; p
O diafragma é o
principal músculo da respiração e, como tal, é muito usado pelos atletas da
voz, em seus gestos artísticos, para o controle do som produzido. A grande
demanda que esse músculo sofre durante esta atividade laboral parece ser a
razão pela qual os participantes do grupo dos cantores líricos profissionais apresentaram
significativa diferença na tonicidade diafragmática em relação aos do grupo
controle, sendo o presente estudo o primeiro, de nosso conhecimento, a abordar
essa avaliação neste grupo tão específico.
O
diafragma é
responsável por 80% do trabalho respiratório e, por isso,
é conhecido como o
principal músculo da respiração. Possui,
porém, outras funções: através da
modulação da pressão intra-abdominal participa da
estabilização postural,
auxilia na micção, defecação e no parto, e
é importante para a função cardíaca
e para o fluxo linfático [26]. Rial e Pinsach sugerem
algumas consequências possíveis da hipertonia do diafragma: cintura abdominal
proeminente e alterações no assoalho pélvico, que podem facilitar o
aparecimento de hérnias, prolapsos e incontinência urinária [18]. Alterações no
diafragma podem também propiciar hérnias de hiato [20], uma das causas da
Doença do Refluxo Gastroesofágico, doença esta com
maior prevalência entre cantores profissionais do que a média da população
[27]. Os autores relatam uma prevalência estatisticamente mais alta de azia,
regurgitação, tosse e voz rouca em cantores líricos profissionais do que a
amostra da população, com taxas de prevalência ajustadas de 1.60 (intervalo de
confiança de 95% [IC], 1,32– 1,94), 1,81 (IC95%, 1,42-2,30), 1,40 (IC95%
1,18-1,67) e 2,45 (IC95% 1,97-4,04), respectivamente.
A partir desta
constatação, novos estudos se fazem necessários para avaliar se a hipertonicidade diafragmática dos cantores afeta de forma
deletéria estas outras funções do diafragma, seja do ponto de vista de saúde e
qualidade de vida, seja do rendimento performático do artista no palco. A
avaliação manual do diafragma pode ser usada clinicamente para aferir a
tonicidade diafragmática nos atletas da voz e a partir disso podem ser pensados
tratamentos possíveis para essas alterações. Apesar de não ser o foco deste
estudo, destaca-se que os estudos da técnica hipopressiva
mencionam como um dos seus benefícios a diminuição da hipertonia diafragmática
[18], podendo ser associada esta ação com a liberação miofascial do diafragma
[28].
A
correlação moderada
positiva entre IMC e mobilidade costal bilateral, excursão
diafragmática
bilateral e tonicidade do diafragma esquerdo, aponta-nos para as
alterações da
função respiratória com relação ao
aumento de peso, não apresentando correlação
com o tempo de canto ou a idade do indivíduo. A obesidade gera
alterações da
região tóraco-abdominal que levam à limitação da
mobilidade diafragmática e do movimento costal, sendo ambas essenciais para uma
boa mecânica ventilatória [29]. Panizzi et al.
em 2004 [30] já apontaram em seu estudo uma tendência para a diminuição da
mobilidade torácica em indivíduos com IMC acima do normal. Esse achado pode
indicar que, para os atletas da voz, seja importante um controle em relação ao
peso, para que não haja aumento, para além do que a própria atividade laboral
já propicia, das chances de alterações na mobilidade, excursão e tonicidade do
diafragma.
Limitações do estudo
Nossa hipótese em
relação à mobilidade costal não se comprovou, esperava-se que esta também se apresentasse alterada no grupo dos cantores
líricos profissionais, até por consequência da hipertonia presente. A diferença
entre os grupos, no entanto, teve um p muito próximo de 0,05. Apenas no grupo
dos cantores, e especificamente nos participantes do gênero masculino deste
grupo, foram encontradas distribuições de mobilidade costal sem movimento,
sendo 37,5% dos participantes masculinos a apresentá-la. Esses dados nos chamam
a atenção e nos levam a questionar as limitações deste estudo, pois apontam
para uma tendência à diminuição da mobilidade costal no grupo dos atletas da
voz.
Nossa principal
limitação foi o número de participantes do grupo dos cantores líricos
profissionais. Por ser um grupo muito específico, existe uma dificuldade em
reunir um número maior de participantes, que permitiria que pudéssemos
eventualmente observar as alterações na mobilidade costal com relevância
estatística.
Novos estudos se fazem
essenciais para esclarecer essa possibilidade de alteração na mobilidade costal
dos atletas da voz, particularmente nos do gênero masculino, com um número de
participantes maior.
Os gestos artísticos
usados pelos cantores líricos profissionais afetam a tonicidade do diafragma. A
partir dos dados encontrados nos atletas da voz, novos estudos se fazem
necessários para avaliar as consequências desta hipertonicidade
diafragmática, para poder avaliar se ela interfere de forma deletéria sobre
outras funções do diafragma, seja do ponto de vista de saúde e qualidade de
vida, seja do rendimento performático do artista no palco. Não foi possível
determinar se a mobilidade diafragmática também é alterada, sendo necessários
mais estudos para aprofundar essa questão.