EDITORIAL
Reabilitação de
pacientes sobreviventes ao COVID-19: O próximo desafio
Marco Orsini1,2,
Jacqueline Stephanie Fernandes do Nascimento1, Nicolle dos Santos
Moraes Nunes1, Janie Kelly Fernandes do
Nascimento1, Renata Rodrigues Teixeira de Castro1, Marco
Antônio Alves Azizi1, Mauricio de Sant’ Anna Jr3
1Universidade Iguaçu,
Escola de Medicina, RJ, Brasil
2Universidade de Vasssouras, RJ, Brasil
3Instituto Federal,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, RJ, Brasil (IFRJ)
Correspondência: Mauricio de Sant Anna
Jr, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro,
Campus Realengo, Rua Professor Carlos Wenceslau, 343 Realengo 21715-000
Marco Orsini: orsinimarco@hotmail.com
Jacqueline Stephanie
Fernandes do Nascimento: jac.fn@hotmail.com
Nicolle dos Santos
Moraes Nunes: nicolle.nunes_@hotmail.com.br
Janie Kelly Fernandes do
Nascimento: janiekelly@hotmail.com
Renata Rodrigues
Teixeira de Castro: castrorrt@gmail.com
Marco Antônio Alves Azizi: marcoazizi@gmail.com
Mauricio
de Sant’ Anna Jr: mauricio.junior@ifrj.edu.br
Em dezembro de 2019, um
surto de pneumonia de etiologia desconhecida foi relatado em Wuhan, província
de Hubei, China. A maioria desses casos estava epidemiologicamente relacionada ao mercado atacadista de
frutos do mar de Huanan [1]. A inoculação do líquido
obtido por lavagem broncoalveolar de pacientes com
essa pneumonia levou ao isolamento de um novo coronavírus,
inicialmente chamado 2019-nCov, e posteriormente denominado síndrome
respiratória aguda grave pelo coronavírus 2
(SARS-CoV-2) [2].
Devido ao aumento do
número de casos de COVID-19 em todo o mundo, foi decretado pela Organização
Mundial da Saúde, um estado de pandemia. O COVID-19 é uma doença que pode
causar uma importante lesão pulmonar, exigindo hospitalização para uso de oxigênio
e, no último caso, internação em unidade de terapia intensiva com uso de
ventilação mecânica invasiva [2,3].
Pacientes que
sobrevivem ao evento agudo causado pelo COVID-19 costumam sofrer os efeitos
deletérios de uma internação prolongada, como: alterações cognitivas,
depressão, ansiedade, alterações de mobilidade, além de alterações
cardiovasculares e pulmonares.
Como essa condição é
real em todo o mundo, qual será nosso próximo desafio? Este é um segundo
momento da pandemia e que merece ser tratado com a mesma atenção pelas
autoridades e que levou a Organização Pan-Americana da Saúde a publicar um
documento intitulado Rehabilitation considerations during the COVID-19 outbreak [4].
Este documento deixa
claro o papel da reabilitação no acompanhamento a longo prazo de pacientes com
COVID-19.
Muitos foram os relatos
descrevendo o processo de reabilitação em pacientes sobreviventes ao COVID-19,
em atendimento ambulatorial. Yang e Yang [5] publicaram um artigo de revisão
mencionando os benefícios da reabilitação pulmonar para pacientes afetados pelo
COVID-19. Sheehy [6] também expressou sua opinião
sobre a importância da reabilitação em sobreviventes do COVID-19, no entanto,
vale ressaltar que esses dois autores (assim como outros que não foram
mencionados aqui) ainda estavam no campo de hipóteses e elucubrando
alternativas.
De todos os artigos
publicados presente até o momento sobre essa temática, um que merece destaque é
elegante trabalho realizado por Liu et al. [7] pelo fato de ser pioneiro
em alguns apontamentos. Os autores descreveram os efeitos de um programa de
reabilitação com duração de seis semanas em pacientes sobreviventes ao COVID-19
e observaram melhoras significativas na função pulmonar, por meio da
espirometria, melhora da capacidade funcional mensurada através do teste de
caminhada de seis minutos, além de melhoria na qualidade de vida através do
questionário SF-36, atividades da vida diária através da Medida de
Independência Funcional (MIF).
Cabe ressaltar que, em
relação à reabilitação de pacientes sobreviventes do COVID-19, as informações
começam a ser organizadas para facilitar o desempenho dos profissionais de
saúde. Com base nessa premissa, o de Stanford Hall para a reabilitação
pós-COVID-19 [8] realizado por pesquisadores do Reino Unido reúne até agora as
melhores evidências para a condução da reabilitação nesse novo cenário que se
apresenta a todo o mundo. O documento abrange recomendações para: reabilitação
pulmonar, cardiovascular, neuromusculoesquelética e
neurológica, sem deixar de lado as recomendações médicas e psicológicas,
diretamente relacionadas à reabilitação.
A reabilitação sempre
foi descrita como um processo multidisciplinar e, em pacientes sobreviventes ao
COVID-19, devido ao fato de ser uma condição clínica e funcional de recente
descoberta, será extremamente importante para os profissionais trocarem o
máximo de informações possíveis, para que os indivíduos retomem as suas
atividades diárias, o mais próximo possível do que eram anteriormente.
O documento Rehabilitation considerations
during the COVID-19 outbreak [4] é enfático ao afirmar que os esforços do
governo para oferecer reabilitação aos pacientes que sobrevivem ao COVID-19
devem ser os mesmos realizados quanto a oferta de leitos hospitalares.
Além dos centros de
reabilitação, dos programas ambulatoriais, dos atendimentos domiciliares, a
pandemia nos mostrou uma potencialidade pertinente ao momento atual, a telessaúde, incluindo telemedicina e tele-reabilitação.