Fisioter Bras.
2023;24:(4):448-61
REVISÃO
Benefícios
da equoterapia no tratamento do transtorno do espectro autista
Benefits of equotherapy in
the treatment of autistic spectrum disorder
Aline
Silva Ramos¹, Gleice Dayana Gomes Reis², Enelly Silva
Lopes Domingues2, Camila Cibele dos Santos Holanda Ramos3
1Universidade Federal do Amapá, Macapá,
AP, Brasil
2Faculdade Estácio de Macapá, AP, Brasil
3Escola Técnica Madre Tereza em Macapá, AP,
Brasil
Recebido
em: 11 de fevereiro de 2021; Aceito em: 10 de maio de 2023.
Correspondência: Aline Silva Ramos, E-mail:
alineramos@hotmail.com
Como citar
Ramos AS, Reis GDG, Domingues
ESL, Ramos CCSH. Benefícios da equoterapia no tratamento do transtorno do
espectro autista. Fisioter Bras. 2023;24(4):448-61. doi:10.33233/fb.v24i4.4355
Resumo
Introdução: O Transtorno do Espectro Autista (TEA)
é um distúrbio do desenvolvimento neurológico que afeta domínios de comunicação
social, comportamento, cognição e percepção motora. Objetivo: Identificar os
benefícios da equoterapia para pessoas com TEA, sua forma de realização e o
perfil dos indivíduos que participaram dos estudos. Métodos: Revisão
Integrativa da Literatura, quanti-qualitativa, utilizando os DeCS “Terapia Assistida por Cavalos’’ e “Hipoterapia’’,
separadamente, nas bases Bireme e Periódicos CAPES; e “Equine-Assisted
Therapy’’ e “Hippotherapy’’,
separadamente, na PEDro, sendo selecionadas
publicações de 2015 a 2019, em português, espanhol e inglês, com 8 obras
selecionadas. Resultados: Sete (7) estudos apontaram efeitos
estatisticamente significativos, nos aspectos social/comportamental, físico,
comunicativo, cognitivo/educacional, taxa de autismo, atividades diárias,
empatia, apego animal e engajamento. Dois (2) estudos indicaram benefícios não
estatisticamente significativos nos aspectos social/comportamental, físico,
comunicação e cognitivo/educacional. Um (1) estudo apontou resultados benéficos
qualitativos para aspecto físico. Conclusão: A Equoterapia, em suas
variadas formas de utilização, associada ou não a outros recursos terapêuticos,
pode proporcionar benefícios sociocomportamentais,
físicos, comunicativos, cognitivos/educacionais, taxa de autismo, atividades
diárias, empatia, apego animal e engajamento a pessoas com TEA.
Palavras-chave: transtorno do espectro autista;
transtorno autístico; terapia assistida por cavalos;
hipnose.
Abstract
Introduction: Autism
Spectrum Disorder (ASD) is a neurological development disorder that affects
domains of social communication, behavior, cognition and motor perception. Objective:
To identify the benefits of equine therapy for people with ASD, its form of
realization and the profile of the individuals who participated in the
research. Method: Integrative Literature Review, quantitative and qualitative,
using the DeCS “Horse Assisted Therapy” and “Hypotherapy”, separately, in the Bireme and CAPES journals
databases; and “Equine-Assisted Therapy’’ and “Hippotherapy’’, separately, at PEDro, with selected publications from 2015 to 2019, in
Portuguese, Spanish and English, with 8 selected works. Results: Seven
(7) studies showed statistically significant effects in the social/behavioral,
physical, communicative, cognitive/educational aspects, autism rate, daily
activities, empathy, animal attachment and engagement. Two (2) studies
indicated non-statistically significant benefits in the social/behavioral,
physical, communication and cognitive/educational aspects. One (1) study
pointed out qualitative beneficial results for physical appearance. Conclusion:
Hippotherapy, in its various forms of use, associated or not with other
therapeutic resources, can provide socio-behavioral, physical, communicative,
cognitive/educational benefits, autism rate, daily activities, empathy, animal
attachment and engagement with people with ASD.
Keywords: autistic spectrum disorder;
autistic disorder; hypnosis; equine-assisted therapy.
A
perda da socialização, linguagem e cognição dificultam a interação social das
crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) [1]. Também acontecem
prejuízos psicomotores e no desenvolvimento de noções de espaço, comprometendo
a compreensão do corpo, percepção das funções de cada parte corporal,
resultando nos distúrbios do desenvolvimento do esquema corporal, que é base do
desenvolvimento motor, cognitivo e social [2].
Ao
longo dos anos, o interesse pelos estudos de pacientes com TEA tratados através
da equoterapia vêm crescendo gradativamente [3]. A terapia assistida por
equinos, também conhecida por terapia assistida por cavalos, equoterapia ou
hipoterapia, é um tratamento que utiliza o cavalo como principal terapeuta,
ajudando no desenvolvimento de habilidades motoras e comportamentais de
indivíduos portadores de deficiências físicas ou mentais [4].
O
termo equoterapia foi criado pela ANDE-Brasil (Associação Nacional de
Equoterapia), em 1989, no entanto, essa prática só foi reconhecida no Brasil
pelo Conselho Nacional de Medicina em 1997, desenvolvendo as práticas
terapêuticas que envolvem o cavalo [5].
Ao
realizar atividades ao ar livre, a equoterapia favorece ao praticante uma
ligação à natureza, proporcionando melhor execução nos exercícios propostos,
satisfação ao montar no cavalo, comunicação entre o cavaleiro e animal e
estímulo ao desenvolvimento corporal. A pessoa possui três fases de contato com
o cavalo: a fase de aproximação, observa-se o cavalo, seu tamanho, movimentos
que ele realiza, sua beleza; a fase de descoberta, ainda no solo, quando se
passa a um contato físico direto com o cavalo, seguido do ato de montar; e a
fase educativa, mostra-se à criança que ela voltará a ver o animal e que o
término da sessão é necessário [6].
O
tratamento equoterápico favorece as crianças com TEA
um alinhamento do centro de gravidade homem/cavalo, possibilitando, então, o
acionamento do sistema nervoso, resultando nos objetivos motores, como ajuste
do tônus, mobilidade da pelve e das articulações da coluna, equilíbrio,
consciência corporal, força muscular, coordenação motora e no controle de
cabeça e tronco [7]. Também ajuda nas habilidades de atenção e linguagem,
favorecendo uma melhora na expressão [8].
Além
de todos esses fatores, a equoterapia possibilita experiências de liberdade,
autonomia, segurança, sensação de comando do cavalo e, com isso,
desenvolvimento das funções emocional, física e mental [9].
Este
estudo teve por objetivo, então, investigar os benefícios da equoterapia para
pessoas com TEA nos aspectos físico, comportamental, social e cognitivo, bem
como a forma de utilização desta terapia e o perfil dos indivíduos que têm
feito uso dela.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura, quanti-qualitativa, tendo como
cenário os bancos de dados Bireme/BSV (Biblioteca Virtual em Saúde), Periódicos
CAPES e PEDro (Physiotherapy
Evidence Database),
buscando artigos científicos e trabalhos acadêmicos de conclusão de graduação
ou pós-graduação, publicados entre 2015 e 2019, em português, inglês e
espanhol, que fossem do tipo pesquisa de campo clínica ou experimental,
disponíveis integralmente e gratuitamente e abordando o assunto “Efeitos da
Equoterapia em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista” no título ou
resumo, partindo de busca utilizando os DeCS “Terapia
Assistida por Cavalos’’ e “Hipoterapia’’, separadamente, nas bases BVS e
Periódicos CAPES; e “Equine-Assisted Therapy’’ e “Hippotherapy’’,
separadamente, na PEDro. Os critérios de exclusão
foram materiais repetidos, corrompidos, de acesso impossibilitado ou que não
respondessem a, no mínimo, 50% dos objetivos determinados para este estudo.
A
coleta dos dados aconteceu em maio de 2020, seguindo sete etapas: 1) elaboração
do tema e da pergunta norteadora, 2) definição dos critérios de inclusão e
exclusão, 3) elaboração do instrumento de análise das publicações selecionadas,
composto pelas informações a serem extraídas destas, 4) seleção das publicações
nas bases científicas, 5) avaliação dos estudos selecionados, 6) discussão dos
resultados encontrados, 7) apresentação da revisão/síntese do conhecimento
obtido.
Para
elaboração da questão norteadora que constituísse uma pergunta clara, válida e
aplicável, voltada para resolver questões clínicas atuais, baseada em
evidências, foi utilizado o método PICO (População-P, Intervenção-I; Controle
ou comparação-C; e Desfecho-O)
O
tema desenvolvido foi Efeitos da Equoterapia em indivíduos com Transtorno do
Espectro Autista (TEA). A questão norteadora, então, foi: Quais os efeitos que
a Equoterapia, ou Terapia Assistida por Cavalos, tem gerado em diferentes
aspectos da vida de indivíduos com TEA? Assim, P correspondeu a indivíduos com
TEA; I, a Equoterapia e suas variantes; C, a indivíduos que não receberam
Equoterapia; e O, aos diferentes aspectos da vida (físico, cognitivo, emocional
e social).
Um
total de 8 (oito) referências foram selecionadas e analisadas, seguindo as
etapas de seleção mostradas no fluxograma a seguir.
Figura
1 – Fluxograma de
etapas da coleta de dados
Para
avaliar a qualidade metodológica das publicações,
tomou-se como referência a classificação
de trabalhos científicos com base no desenho empregado na
geração de evidência
proposta por Melnyk e Fineout-Overholt
[10] descrita no quadro 1.
Quadro
1 – Nível de
evidências em trabalhos científicos
A
análise de dados foi feita a partir dos totais absolutos e percentuais de
respostas obtidas para as questões levantadas, bem como a partir da análise e
exposição descritiva dos textos encontrados das publicações originais.
As
oito publicações selecionadas, com seus autores, ano de publicação, títulos,
objetivos, aspectos metodológicos e resultados estão listadas na Tabela I,
abaixo, juntamente com seu escore de avaliação. A Tabela II mostra a análise
quantitativa dos resultados.
Tabela
I – Publicações
selecionadas, objetivos, métodos e resultados
Tabela
II – Quantificação
dos benefícios identificados pelos estudos
Fonte:
Dados dos autores (2020)
Pode-se
perceber, então, que os benefícios estatisticamente significativos mais
relatados foram os de caráter social/comportamental, mencionados por 5 estudos;
seguidos dos de âmbito físico, citados por 3 estudos; seguidos dos relativos à
comunicação, cognição/educação e taxa de autismo, cada um citado por 2 estudos;
além de outros aspectos, como melhora das atividades diárias, empatia e apego
animal, cada um referido por 1 artigo.
Além
dos resultados estatisticamente significativos, também foram relatados efeitos
positivos, porém não estatisticamente significativos, na comunicação (2
estudos), nos âmbitos social/ comportamental, físico e
cognitivo/educacional (1 estudo cada), além de 1 referência de melhora no
engajamento.
Resultados
benéficos relatados qualitativamente incluíram o aspecto físico em 1 estudo, e
não foram identificadas melhoras significativas nos aspectos
social/comportamental e cognitivo/educacional em 2 estudos, e nos aspectos
comunicação e atividades diárias em 1 estudo cada.
Os
aspectos mais estudados foram os físicos (6 estudos), seguidos dos
sociais/comportamentais e dos cognitivos/educacionais (5 estudos), e os
aspectos menos investigados foram a taxa de autismo (2 estudos) e comunicação
(4 estudos), atividades diárias, empatia, engajamento e apego animal foram
investigados, cada um, por apenas 1 estudo, classificados como “Outros”.
Características
metodológicas dos estudos
Os
estudos analisados foram todos ensaios clínicos controlados, sendo 3
randomizados e 4 não randomizados. Nesses estudos, as amostras foram compostas
por homens e mulheres, com predominância masculina, incluindo principalmente
crianças e adolescentes (5 a 16 anos), com 1 estudo que incluiu 1 indivíduo de
19 anos e 1 indivíduo de 31 anos. As amostras utilizadas variaram de 5 a 67
participantes, com 3 estudos de amostra de 5 a 10 indivíduos, 3 artigos com
amostra entre 15 e 26 indivíduos, e 2 estudos com amostra de 45 e 67
participantes.
Tais
dados concordam com Caicedo [17] que já relatava que
homens são mais propícios a desenvolverem desordens neurológicas do que as
mulheres, apesar disso, ainda não se sabe com propriedade o que leva a esse
achado, e com Ayala [18] que já referia que a equoterapia pode trazer
benefícios para indivíduos autistas de qualquer faixa etária, contudo, as
crianças apresentam maior facilidade de adaptação e aceitação da terapia em
relação aos adultos. Em um estudo realizado por Gonzalez [19], os participantes
possuíam entre 08 e 31 anos, e foi possível constatar que durante as sessões os
indivíduos adultos apresentaram maior dificuldade de participação e interação
social se comparado às crianças.
Os
programas de equitação terapêutica aplicados tiveram um total de sessões que
variou de 5 a 96 sessões, durando 5 semanas a 1 ano, em sua maioria com
frequência de 1 sessão/semana, com tempo de sessão variando de 30 minutos a 3
horas, em sua maioria durando de 45 minutos a 1 hora, porém nem sempre o tempo
era totalmente utilizado para equitação.
As
atividades incluídas nos programas envolviam desde contato inicial com o
cavalo, por meio de fala, toque e outras atitudes, atividades de cuidado ao
animal e ao estábulo, montarias individuais e em equipe, com trajetos e
estímulos diversos, treinos posturais, de coordenação, equilíbrio,
flexibilidade, pistas visuais, comunicação com outros alunos e professores,
além de variadas atividades não relacionadas diretamente à equitação, como
atividades educacionais.
No
estudo realizado por Bender e Guarany [20], o
ambiente é descrito como um local a céu aberto, afastado do centro urbano, com
grande ventilação e grande quantidade de árvores, havendo um picadeiro grande e
coberto onde os cavalos ficavam quando não estavam ao ar livre. Havia ainda
duas áreas para a realização da montaria que eram cercadas com uma cerca de
madeira, uma das áreas possuía chão de areia e outra com o chão de grama que
promovia intensidades diferentes na sessão. Através das sessões da equoterapia
os participantes tinham a oportunidade de exercer várias funções que iam além
da montaria. No estudo de Souza-Santos et al. [11], os mesmos foram
conduzidos durante 72 sessões que tinham 1 hora de duração, esse tempo era
dividido entre o manejo de cuidados com o animal, como alimentação e higiene,
preparo do cavalo para montaria até o momento em que de fato começavam a
cavalgar.
No
estudo realizado por Harris e Williams [16], que teve a duração de 7 semanas
com 45 minutos por sessão, os autores descrevem que os participantes iniciaram
a terapia montando, acompanhados de um equitador, e aos poucos, conforme iam
adquirindo confiança, começavam a cavalgar com o auxílio somente de um guia.
Além disso, os mesmos eram responsáveis por alimentar, escovar a crina, corpo e
calda, além de auxiliar na higiene dos cavalos e organizar os materiais após o
término das sessões.
Resultados
estatisticamente significativos
Os
resultados estatisticamente significativos mais encontrados nestes estudos foram
os sociais ou comportamentais, mencionados pelo Artigo A1, que referiu
diferença significativa no aspecto participação social na escala WHODAS entre
os grupos Dança e Dança + Equitação, mesmo não o tendo observado no grupo de
Equitação isolada; pelo Artigo 3, no escore de comportamento adaptativo geral;
pelo A4, a partir do resultado do Teste de Psicoterapia Assistida com o Cavalo;
e pelo A8, no aspecto hiperatividade da escala ABC-C.
Comprovação
estatística no âmbito físico foi observada no A3, no quesito estabilidade
postural; no A4, nos quesitos equilíbrio e tônus muscular; e no A5, com
melhorias diversas na marcha. As melhorias de comunicação incluíram comunicação
receptiva (A3) e escore comunicação no Teste de Psicoterapia Assistida com o Cavalo
(A4).
Os
benefícios cognitivos/educacionais envolveram atenção (A4) e habilidades
mentais (A5); enquanto a Taxa de Autismo melhorou significativamente nos
estudos A1 a A8, e outros efeitos positivos foram significativos, como melhora
nos escores de mudança na participação em atividades diárias (A3), escore EQ
relativo a empatia (A6) e apego animal, especialmente nos aspectos bom
relacionamento com o animal de estimação e atitude atenciosa para com seu
animal de estimação (A7).
Resultados
com tendência positiva, mas sem significância estatística
Também
foram encontrados tendência de resultados positivos relacionados
às
intervenções, porém sem significância
estatística, nos âmbitos da comunicação,
envolvendo grandes melhoras clinicamente significativas no
conteúdo de
comunicação receptiva de ouvir e assistir e seguir
instruções (A3) e
comunicação no MOPI (A8); social/cognitivo, com aumento
moderado a grande,
clinicamente significativos, no lazer de baixa demanda e na
interação social
(A3); no âmbito físico, para movimentação
física no MOPI (A8); e na área
cognitiva/educacional, no quesito atenção e
adesão, além do engajamento, do
MOPI (A8).
A
intervenção não mostrou efeitos positivos nos aspectos Independência Funcional
(A1), participação na mobilidade comunitária, lazer de alta demanda, doméstica
e educacional (A3), comportamento adaptativo e sistematização (A6) e
irritabilidade (A8).
Dias
[7] já afirmava que crianças autistas, quando estimuladas de forma frequente e
contínua, desenvolvem seus potenciais e habilidades, ainda que com
dificuldades.
Através
da Equoterapia, Castilho et al. [6] referem que as crianças têm
possibilidades de adquirir afinidades e apego pelo cavalo, o que facilita a
terapia, principalmente para aquelas que têm dificuldade de socializar. Segundo
Barbosa e Muster [21], com a hipoterapia, a criança
tem oportunidade de se sentir segura e confiante, uma vez que os cavalos são
animais não verbais, o que proporciona maior sensação de liberdade e segurança,
sem medo de ocorrer crítica ou contestações a respeito de seu comportamento.
No
estudo de Gomez et al. [22], foi observado que, após 24 sessões de
Equoterapia, os participantes demonstravam diminuição considerável dos
episódios de agressividade. No experimento de Aceituno
[23], é descrito que os participantes apresentaram grande melhora dos sintomas
gerais do autismo, os mesmos se adaptavam melhor ao ambiente conforme as
sessões iam acontecendo e apresentavam menos episódios de variação de humor.
Ferraz
et al. [24] também demonstraram, através de seu estudo, segundo relatos
dos familiares, que após a prática da Equoterapia as crianças tornaram-se mais
afetuosas e passaram a interagir mais com os membros da família. Garcia et
al. [25] referem que, através desta terapêutica, os participantes de seu
estudo passaram a desenvolver sua afetividade, interação, comunicação com
pessoas fora do convívio familiar.
Navarro
[26] faz uma comparação, através de seus estudos, que, antes das sessões de
hipoterapia, os participantes tinham grandes dificuldades de fala, de
concentração e compreensão das informações que eram repassadas. Após sete meses
de intervenção, estes já eram capazes de pronunciar algumas palavras, como o
nome do animal e do instrutor, já conseguiam ouvir as instruções com atenção e
desenvolveram habilidades de organização espacial.
No
estudo realizado por Cruz [27], no qual o Centro de Equoterapia funcionava em
conjunto com a escola, o participante foi acompanhado durante um ano, totalizando
52 sessões, e ao término do estudo o sujeito apresentava grandes mudanças em
seu rendimento escolar, melhor convivência e participação de outras atividades,
além da melhoria de comunicação, com destaque para a grande motivação que o
mesmo sentia para comparecer às sessões.
Além
disso, em estudo realizado por Ajzenman et al.
[5], concluiu-se que, após 12 semanas de equoterapia, os participantes
apresentaram melhorias no tônus muscular e equilíbrio. Da mesma forma, no
experimento realizado por Bouzo-Gonzaléz e Pino-Juste
[9], verificou-se que os participantes melhoraram consideravelmente a
capacidade de relaxamento muscular e de coordenação motora, o que resultou em
uma caminhada mais eficaz na sua cinemática.
Todos
os ensaios clínicos analisados referiram melhorias em diferentes aspectos da
vida de crianças, adolescentes e jovens-adultos com Transtorno do Espectro
Autista, com efeitos estatisticamente significativos nos aspectos
social/comportamental, físico, comunicativo, cognitivo/educacional, taxa de
autismo, atividades diárias, empatia, apego animal e engajamento. Benefícios
quantitativos não estatisticamente significativos foram encontrados nos
aspectos social/comportamental, físico, comunicativo e cognitivo/educacional, e
relatos qualitativos foram feitos também no âmbito físico, confirmando relatos
de outros estudos científicos com diferentes desenhos metodológicos, com
diferentes características clínicas.
Esperamos,
com este estudo, estimular profissionais da saúde, pais e responsáveis por
crianças, jovens e adultos com TEA, bem como a comunidade em geral, a conhecer
mais acerca da equoterapia e as muitas contribuições que estudos científicos
têm demonstrado que esta terapia pode trazer, bem como estimular para que mais
serviços possam oferecer essa modalidade de tratamento em nosso estado, com
profissionais especializados para tal.
Conflito
de interesses
Declaramos
que não há conflitos de interesse entre as autoras.
Fontes
de Financiamento
Não
houve financiamento externo para desenvolvimento da pesquisa.
Contribuição
dos autores:
Concepção
e desenho da pesquisa:
Ramos AS, Reis GDR, Domingues ESL; Coleta de dados: Ramos AS, Reis GDR,
Domingues ESL; Análise e interpretação dos dados: Ramos AS, Ramos CCSH; Redação
do manuscrito: Ramos AS, Ramos CCSH; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Ramos AS, Ramos CCSH