Fisioter Bras 2022;23(2):305-18
ARTIGO ORIGINAL
Preparação cognitiva
comportamental do assoalho pélvico com balão vaginal para o parto
Behavioral cognitive preparation of the pelvic floor with vaginal
balloon for childbirth
Camila Alcântara Fernandes*,
Isabela Lima Cavalcante*, Ana Clara Nunes Soares*, George Alberto da Silva
Dias, D.Sc.**, Nazete dos
Santos Araújo, M.Sc.***, Erica Feio Carneiro Nunes, D.Sc.****, Gustavo Fernando Sutter
Latorre, Ft., M.Sc.*****
*Acadêmica de
Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, **Docente da
Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, ***Centro de Ciências Biológicas e
da Saúde, Universidade da Amazônia, Belém, PA, ****Professora do curso de
Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, *****Portal
Perineo.net, Florianópolis, SC
Recebido em 16 de outubro de
2021; Aceito em 16 de março de 2022.
Correspondência: Erica Feio Carneiro Nunes, Tv. Perebebuí, 2623, Marco, 66087-662 Belém PA
Camila
Alcântara Fernandes: camisfernandes10@gmail.com
Isabela
Lima Cavalcante: isabelacavalcante04@gmail.com
Ana Clara
Nunes Soares: ana.soares@aluno.uepa.br
George
Alberto da Silva Dias: george@uepa.br
Nazete dos Santos Araújo:
nazetearaujo@hotmail.com
Erica Feio
Carneiro Nunes: ericacarneiro@uepa.br
Gustavo
Fernando Sutter Latorre:
Gustavo@perineo.net
Resumo
Introdução:
Para aliviar ou prevenir as disfunções
dos músculos do assoalho pélvico é
necessário sejam treinados seus parâmetros
funcionais: coordenação, força, potência,
resistência e pré-contração, bem como
tenham capacidade de alongamento suficiente durante a passagem do
bebê, a fim
de evitar lacerações e outras lesões. Objetivo: Avaliar a percepção de
puérperas acerca do uso do balão vaginal, em termos cognitivo-comportamental,
na preparação para o parto vaginal. Métodos: Estudo descritivo do tipo
transversal e qualitativo, realizado com puérperas primíparas de parto vaginal
que fizeram ou não o uso do balão vaginal durante a gestação, avaliadas por
meio de uma ficha de avaliação sociodemográfica e obstétrica e da aplicação dos
questionários sobre os eventos do trabalho de parto e de percepção do uso Epi-No. Resultados: Participaram do estudo 20
puérperas. Não houve diferença entre as puérperas quanto a presença de
lacerações vaginais e o tempo de trabalho de parto. Todas as mulheres do grupo
que utilizaram o balão vaginal perceberam influência positiva no trabalho de parto.
Conclusão: O treinamento dos músculos do assoalho pélvico para o parto
com balão vaginal exerceu efeito positivo na preparação
cognitivo-comportamental da amostra estudada, o que facilitou o trabalho de
parto.
Palavras-chave: diafragma da pelve; gestantes; parto.
Abstract
Introduction: To relieve or prevent dysfunctions of the pelvic
floor muscles, it is necessary to train their functional parameters:
coordination, strength, power, resistance and pre-contraction, as well as have
sufficient stretching capacity during the passage of the baby, in order to
avoid lacerations and other injuries. Objective: To evaluate the
perception of puerperal women regarding the use of the vaginal balloon, in
cognitive-behavioral terms, in preparation for vaginal delivery. Methods:
Descriptive cross-sectional and qualitative study, carried out with primiparous
puerperal women of vaginal delivery who did or did not use the vaginal balloon
during pregnancy, assessed through a sociodemographic and obstetric evaluation
form and the application of questionnaires on the events of the labor and
perception of use Epi-No. Results: Twenty postpartum women participated
in the study. There was no difference between the mothers in terms of the
presence of vaginal lacerations and the time of labor. All women in the group
who used the vaginal balloon perceived a positive influence on labor. Conclusion:
The training of the pelvic floor muscles for vaginal balloon delivery had a
positive effect on the cognitive-behavioral preparation of the studied sample,
which facilitated labor.
Keywords: pelvic floor; pregnant women; parturition.
O
assoalho pélvico representa um conjunto de estruturas constituídas por
músculos, fáscias e ligamentos, que tem a função de suportar os órgãos
pélvicos, manter a continência fecal e urinária e a função sexual [1].
Entretanto, há situações que levam à disfunções dos
músculos do assoalho pélvico (MAP), dentre elas a gestação e o parto vaginal,
em virtude de o ganho de massa corporal materno e o peso do útero durante a
gravidez, somados à forte distensão da cabeça fetal durante o trabalho de
parto, aumentam a pressão sobre o conjunto dos MAP e do sistema conectivo
associado [2].
Para
aliviar ou prevenir as disfunções, é necessário que os MAP sejam treinados em
seus parâmetros funcionais de coordenação, força, potência e resistência [3],
bem como tenham capacidade de alongamento suficiente durante a passagem do
bebê, a fim de evitar lacerações e outras lesões [4]. Com o intuito de reduzir
as taxas de trauma perineal, alguns métodos e técnicas vêm sendo utilizados,
como massagem perineal, banheira de hidromassagem, lubrificação perineal e o
uso de balões vaginais, como o Epi-No, embora menos
comentado [5].
O modelo Epi-No é um dispositivo em forma de balão inflável ligado a
uma bomba manual de pressão, que teria a finalidade de alongar gradualmente a
vagina e o períneo para reduzir o risco de laceração perineal durante o parto
vaginal, além de diminuir o segundo estágio do trabalho de parto, e a
necessidade da utilização de analgésicos para alívio de dor [6]. Estão
disponíveis no mercado várias marcas de balões, inclusive de fabricação
nacional, seguindo precisamente os mesmos princípios, de modo que parece mais
elegante o abandono da marca do fabricante em artigos científicos, e a
substituição pelo termo genérico do dispositivo em si, balão vaginal, conforme
usado doravante no presente estudo.
A
influência do balão vaginal na prevenção de traumas intraparto tem sido
estudada e algumas pesquisas apresentaram resultados promissores [7]. Por outro
lado, um grupo australiano, que utilizou de um ensaio randomizado controlado
com mais de duas mil mulheres, demonstrou que o balão vaginal não serviu para reduzir
a incidência de lesões durante o parto [8]. Deste modo, o tema segue
controverso e inconclusivo na literatura.
Contudo,
não seria apenas na redução do risco de lesões que residiria uma possível
relevância do treinamento com balão vaginal na preparação para o parto. Como
terapia cognitivo comportamental, o treinamento com balão poderia fornecer,
também, suporte emocional significativo. De fato, o medo de possíveis lesões ou
traumas, durante o parto, deixa as gestantes em uma condição de vulnerabilidade
e dependência, na qual a dor e a insegurança estão presentes, visto que
precisam lidar com uma gama de sentimentos e perspectivas alicerçados também em
experiências próprias anteriores e/ou compartilhadas com outras mulheres. Logo,
é um processo delicado, instável e dotado de grande fragilidade emocional, em
que uma série de condicionantes extrínsecos ou intrínsecos à mulher podem
tornar o trabalho de parto uma experiência positiva ou negativa [9].
Embora já
tenha sido sugerido que o treinamento com balão vaginal aumente a confiança,
satisfação e a habilidade de expulsar o bebê, essa relação é pouco clara na
literatura e necessita de melhor compreensão como já sugerido em estudo prévio
[10].
Sendo
assim, apesar da relevância de se medir e avaliar a extensibilidade perineal da
parturiente submetida ao balão vaginal, dados qualitativos também são
importantes no que diz respeito à percepção da própria mãe acerca do uso desse
dispositivo durante a gravidez. Diante do exposto, o presente estudo teve por
objetivo avaliar a percepção de puérperas acerca do uso do balão vaginal, em
termos cognitivo-comportamental, na preparação para o parto vaginal, além de
explorar os efeitos do uso deste dispositivo sobre o risco de laceração
perineal e no tempo do trabalho de parto.
Estudo
descritivo do tipo transversal e qualitativo, aprovado no Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade do Estado do Pará (CAAE: 09087419.8.0000.5174, Parecer nº
3.333.014.), realizado na clínica de fisioterapia CAFISIO Mulher e no Centro de
Saúde Escola do Marco (CSE-Marco), ambos em Belém do Pará.
A coleta
de dados ocorreu de setembro de 2019 a janeiro de 2020, tendo como público alvo
puérperas primíparas de parto vaginal que fizeram ou não o uso do balão vaginal
durante a gestação.
Foram
formados dois grupos: o GE (Grupo balão vaginal) e o GC (Grupo Controle), sendo
que o GE se constituiu de puérperas que usaram o balão vaginal durante a
gravidez provenientes da Clínica Cafisio e o GC se
constituiu de puérperas primíparas que não fizeram uso do balão vaginal durante
a gestação provenientes do CSE-Marco.
Foram
incluídas no GE puérperas primíparas de 18 a 40 anos, que fizeram uso do balão
vaginal durante a gestação para o parto normal e no GC puérperas primíparas de
18 a 40 anos, que não fizeram uso do balão vaginal durante a gestação para o
parto normal. Foram excluídas, em ambos os grupos, puérperas que tiveram
gravidez de risco, gestação múltipla, multíparas e/ou que realizaram qualquer
outro tipo de parto.
A
amostragem foi por conveniência, de forma que para o GE foi consultada uma
lista de mulheres da CAFISIO-Mulher que fizeram a preparação para parto vaginal
com o balão vaginal e foram selecionadas as que se encaixavam nos critérios de
inclusão da pesquisa. Após, houve o contato telefônico para convidá-las a
participarem e quem aceitasse deveria se dirigir à clínica para a avaliação.
Para o GC, as puérperas eram abordadas na fila para consulta no CSE-Marco, e
convidadas a participarem do estudo, e as que aceitavam eram encaminhadas para
uma sala reservada para avaliação. Após a explicação dos objetivos da pesquisa
e das etapas que seriam realizadas houve a assinatura do termo de consentimento
livre e esclarecido.
Ambos os
grupos responderam a uma ficha de avaliação, criada pelos pesquisadores,
contendo dados sociodemográficos, perguntas acerca dos eventos e tempo do
trabalho de parto e sobre a presença ou não de laceração ou lesão perineal
aparente por conta do parto. Para o GE foi acrescentado o questionário de
percepção do uso do balão vaginal.
O balão
vaginal utilizado no período gestacional foi o Epi-No,
da seguinte forma: início do uso com 32 semana até o parto, uma vez por semana,
de 5 a 10 minutos, em consultório com a fisioterapeuta. Gradualmente se inflava
o balão em média de 0,5 a 1cm de diâmetro a cada sessão. As gestantes treinavam
com o balão em decúbito dorsal até a 35ª semana e em bipedestação
até o dia do parto (protocolo da Cafisio Mulher).
As
variáveis numéricas foram apresentadas por meio de medidas de tendência central
(média) e dispersão (desvio padrão). Verificou-se a normalidade dos dados
empregando o teste D’Agostino, em que estes se revelaram com distribuição não
normal. Assim, na análise estatística inferencial utilizou-se o teste
Mann-Whitney comparando variáveis numéricas entre dois grupos. Adotou-se o
nível de significância de p ≤ 0,05, utilizando o software BioEstat 5.0. E o gráfico foi realizado no GraphPad Prism 5.0.
Participaram
do estudo 20 puérperas, sendo sete no grupo GE e 14 no grupo GC. A tabela I
apresenta o perfil sociodemográfico das puérperas, evidenciando uma média de
idade GE = 32,6 ± 4,5 anos, e GC = 27 ± 6,5 anos. Em ambos os grupos a maioria
era casada, possuía algum tipo de ocupação e oito ou mais anos de estudo.
Tabela I - Perfil sociodemográfico da amostra
(-) Dados numéricos igual a zero
A Tabela
II apresenta os dados obstétricos das voluntárias, na qual pode-se perceber que
a maioria não sofreu nenhum aborto, com apenas uma gestação. Todas realizaram o
pré-natal, com média de 11,2 consultas, porém houve grande disparidade entre os
dois grupos quanto à preparação com fisioterapeuta, pois apenas uma puérpera do
grupo GC realizou algum tipo de preparação fisioterapêutica, enquanto que 100%
do GE realizaram.
Tabela II - História obstétrica da amostra
(-) Dados numéricos igual a zero
Na tabela
III são evidenciados os eventos do trabalho de parto das participantes. A média
de semanas de gravidez foi de 40,75. Quanto à realização de episiotomia no
momento do parto, observou-se diferença entre os dois grupos: a maioria do GE
não foi submetida a episiotomia e 40% do GC sim. Outro dado discrepante foi a
posição adotada no trabalho de parto, pois a maioria do GC (57,1%) teve o bebê
na posição convencional decúbito dorsal com as pernas flexionadas, porém 80% do
GE adotou uma postura vertical, e que é considerada menos habitual
(sentada/reclinada).
No que
diz respeito à sensação de demora na fase de expulsão, 92,3% das puérperas que
usaram o balão vaginal reportou que não houve demora, enquanto que apenas 44,4%
das que não usaram tiveram a mesma percepção. Algo semelhante foi relatado na
pergunta sobre a segurança sentida durante o parto. Todas as mães do GE
sentiram-se seguras, no entanto, apenas 40% das mães do GC sentiram o mesmo.
Mas é importante ressaltar que as respostas quanto ao parto ter sido o que elas
esperavam foram bastante homogêneas quando comparados os dois grupos.
Tabela III - Eventos do trabalho de parto da
amostra
(-) Dados numéricos igual a zero
A tabela
IV contém os dados referentes apenas às puérperas que utilizaram o balão
vaginal como preparação para o parto vaginal, já que ela foi derivada do
questionário específico para avaliar a percepção delas em relação ao
instrumento. Como resultado obteve-se que 100% da amostra se sentiu segura por
tê-lo usado, usaria ele novamente e recomendaria para uma amiga. Além disso, a
totalidade da amostra também afirmou acreditar que o dispositivo tinha exercido
alguma influência positiva, como observado nas falas reproduzidas por elas:
“Pra ter a noção
aproximada do que iria acontecer no parto.” Participante nº 1
“Por ser meu primeiro
parto, pude ter uma base de como seria minha fase expulsiva e foi bem
semelhante na hora do parto” Participante nº 2
“Fiquei menos tensa na
passagem da cabeça do bebê, foi igualzinho quando fiz os exercícios.”
Participante nº 7
Tabela IV - Percepção do balão vaginal
(-) Dados
numéricos igual a zero
O gráfico
1 demonstra, através do teste, a comparação do tempo de trabalho de parto entre
ambos os grupos. Como resultado obteve-se um p-valor de 0,411 demonstrando que
o balão vaginal não exerceu influência no tempo de demora para a expulsão do
bebê na amostra avaliada. Entretanto, houve uma tendência de que o trabalho de
parto do grupo GE apresentar trabalho de parto mais rápido, embora sem alcançar
significância estatística.
*Teste
Mann-Whitney
Gráfico 1 - Comparação entre o tempo de
trabalho do GC e do GE
A
comparação entre a presença de lesões ou lacerações vaginais entre os dois
grupos mostra a tendência de que as mulheres do grupo estudo (balão vaginal)
apresentaram menos laceração, porém novamente sem alcançar significância
estatística (p = 0,126).
O
presente estudo objetivou, de modo preliminar, verificar uma possível
influência cognitivo-comportamental do treinamento com balão vaginal na
preparação para o parto, observando resultado positivo sobre o domínio
emocional das mulheres que realizaram o treinamento, em comparação ao grupo
controle. De maneira geral, as mulheres que utilizaram o balão vaginal se
sentiram mais seguras e mais familiarizadas com os eventos do período de
expulsão do trabalho de parto.
Esta
observação está de acordo com as descritas por Oliveira et al. [11], que
verificaram que as puérperas estudadas também relataram maior segurança para
lidar com o momento de expulsão do bebê após o treinamento com balão vaginal.
Durante este tipo de treinamento é solicitado que haja a tentativa de expulsão
do balão, na estratégia de simular o momento do parto, supostamente
incrementando a ideia de controle do corpo durante o parto. Assim, pode ser que
o balão vaginal seja uma ferramenta relevante de terapia
cognitivo-comportamental para a parturiente, servindo como uma espécie de
experimentação e familiarização da mulher com a situação de extensibilidade
acima do usual de todas as estruturas que formam o assoalho pélvico, deixando-a
mais tranquila durante o período de expulsão.
Quanto à tranquilidade supracitada, vale
frisar que, durante o trabalho de parto, prevalece o trabalho da porção
parassimpática do sistema nervoso autônomo, mediado por acetilcolina, que exige
calma e sensação de segurança para que funcione de maneira livre e rápida.
Momento, portanto, de tensão, insegurança e intranquilidade que, por definição
ativam a porção simpática do mesmo sistema, a partir de descargas de
noradrenalina, inibem a ação parassimpática e, portanto, inibem, freiam,
dificultam a evolução do trabalho de parto como um todo, que seria mais
demorado e complicado. Ao preparar o cognitivo de uma paciente para a percepção
proprioceptiva das sensações de estiramento progressivo do assoalho pélvico,
ainda que clinicamente, de maneira controlada, o treinamento com balões
vaginais pode ser um diferencial. Conforme demonstramos no presente estudo,
mulheres que passaram por este treinamento, apresentaram maior segurança e
tranquilidade durante o parto, apresentando tendência a menor lesão.
De fato,
houve tendência de menor tempo e risco de quantidade ou grau de lesões ou
lacerações obstétricas do assoalho pélvico durante o trabalho de parto no grupo
que usou o dispositivo como preparação para o parto do que as mulheres que não
realizaram este treinamento.
Corroboram
estas observações o estudo publicado por Hillebrenner
et al. [12], que objetivaram verificar a eficiência do Epi-no® em 50 gestantes que se encontravam no início da 38ª
semana de parto, comparando os resultados com 37 mulheres de um grupo controle,
que não sofreram intervenção, descrevendo ao final significativa diminuição na
duração do segundo estágio do parto, de média 29 minutos no grupo intervenção
contra média 54 minutos para o grupo controle.
Porém,
com relação a este tema das lesões e ainda quanto ao tempo de trabalho de
parto, parece relevante comentar que nos dias de hoje a preparação para o parto
com fisioterapia pélvica não é resumida unicamente ao treinamento com balões
vaginais, como é o caso do Epi-No e outros. Uma preparação
completa do assoalho pélvico deveria ser composta de dois grandes eixos:
preparação da pelve óssea materna, com suficiente mobilidade para agilizar o
período de dilatação ou fase latente do trabalho de parto, e outro sobre o
assoalho pélvico, otimizando sua elasticidade e resistência mecânica para o
segundo estágio do trabalho de parto ou período expulsivo, minimizando as
possibilidades de lesão.
Tal
preparação se baseia no fato de que boa parte do trabalho de parto,
especialmente o período de dilatação ou latente, se trata de um desencaixe da
cabeça do bebê, que é óssea, da pelve da mãe, também óssea, portanto, parece
lógico que uma preparação completa para o trabalho de parto inclua também a
parte óssea. Manobras para facilitar este desencaixe ósseo já são realidade nos
dias atuais [13].
E o treinamento dos MAP durante a
gestação é efetiva na redução da
prevalência das disfunções do assoalho
pélvico
no pós-parto, além de diminuir as chances de traumas
perineais durante a fase
expulsiva do parto, como demonstrado por Van Geelen et
al. [14].
Assim, o
uso de balões vaginais, como o Epi-No, faria parte do
eixo do assoalho pélvico. Entretanto, a preparação para o assoalho pélvico não
é realizada apenas com balões, mas a chamada massagem perineal [15] e toda uma
série de procedimentos miofasciais que variam bastante, ainda pouco descritos
na literatura. Deste modo, muitos estudos sobre o uso de balões vaginais acabam
abordando pacientes que realizaram o balão e massagem perineal ou outras técnicas
miofasciais adjuvantes, o que dificulta avaliar se a redução do risco de lesões
perineais obstétricas é mérito do treinamento com o balão, ou de outras
técnicas miofasciais [15].
Thomas et
al. [16] e Cardozo e Cunha [17] demonstraram diferença significativa quanto
às lesões do assoalho pélvico em mulheres que receberam massagem perineal em
comparação a controles e menor dor e melhor dilatação vaginal após um programa
de exercícios respiratórios, liberação miofascial, alongamentos, exercícios
cinético-funcionais e massagem terapêutica.
Recentemente,
Mendes et al. [18], em um estudo de revisão, concluíram que não existe
ainda evidência suficiente de que o uso de balões vaginais durante a gestação
possa ser benéfico para parturientes. Todavia, parte desta observação é
refutada pelo presente estudo e pela revisão de Menozzo
et al. [19], uma vez que ao considerar a preparação do assoalho pélvico
para o parto não unicamente com balões, mas também com técnicas miofasciais de
preparação do assoalho pélvico, as evidências disponíveis alcançam grau B,
segundo mais elevado na escala de evidência científica e recomendação clínica
[20].
Este
estudo apresenta algumas limitações como um número amostral pequeno e
limitações quanto a validade interna e externa.
Novos
estudos que qualifiquem a relevância de cada uma das técnicas utilizadas para a
preparação para o parto isoladamente, para otimização das estratégias da
fisioterapia pélvica no eixo obstétrico-funcional se fazem necessário. A
sugestão para futuros estudos é, portanto, comparar diretamente grupos de
preparação do assoalho pélvico, um de treinamento apenas com o balão, outro de
massagem e outros miofasciais e um terceiro combinando balão e miofasciais,
observando a eficácia destas modalidades – ou a associação delas – na redução
do tempo de trabalho de parto e na redução do risco de lesões obstétricas.
O
treinamento dos músculos do assoalho pélvico para o parto com balão vaginal
exerceu efeito positivo na preparação cognitivo-comportamental da amostra
estudada, o que facilitou o trabalho de parto. A fisioterapia pélvica na
preparação para a maternidade apresenta hoje grau B, segundo mais alto de
evidência científica e recomendação clínica, devendo ser largamente utilizado.
As bases biológicas-racionais por trás do trabalho de parto como um todo exigem
preparação tanto da parte óssea quanto dos tecidos moles (assoalho pélvico),
mas são necessários maiores estudos especialmente quanto à preparação da parte
óssea, importantes especialmente para o período latente do trabalho de parto. A
preparação dos tecidos moles ou estruturas do assoalho pélvico, fundamentais
especialmente para o período ativo ou expulsivo do trabalho de parto,
compreende técnicas miofasciais, dentre as quais diversos tipos da chamada
massagem perineal, e o treinamento com balões vaginais, como o Epi-No.
Agradecimentos
À
Universidade do Estado do Pará.
Conflitos
de interesse
Não há
conflito de interesses
Fontes
de financiamento
Universidade
do Estado do Pará
Contribuição
dos autores:
Concepção
e desenho da pesquisa: Nunes EFC; Coleta de dados: Fernandes CA, Cavalcante IL,
Soares ACN; Análise e interpretação dos dados: Araújo NS; Análise
estatística: Dias GAS; Redação do manuscrito: Fernan
CA; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual
importante: Nunes EFC, Latorre GFS