Fisioter Bras
2021;2292);233-48
REVISÃO
Disfunções
do assoalho pélvico em praticantes de Crossfit
Pelvic floor dysfunctions in Crossfit practitioners
Andreza
Tomasi da Silva*, Yasmin Podlasinski da Silva**,
Magda Patrícia Furlanetto***
*Graduanda
do Curso Fisioterapia, Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, ***Graduanda do Curso de Medicina, Universidade
Luterana do Brasil – ULBRA, ***Docente da Disciplina de Fisioterapia
Urogenital, Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter
Recebido
em: 27 de novembro de 2020; aceito em 12 de abril de 2021.
Correspondência: Yasmin Podlasinski
da Silva, Rua Fernandes Vieira, 437/4, Bairro Bom Fim, 90035091 Porto Alegre
RS, E-mail: yasminpodlasinski97@gmail.com
Andreza Tomasi da Silva:
andrezafisioterapiaepilates@gmail.com
Yasmin Podlasinski da Silva:
yasminpodlasinski97@gmail.com
Magda Patrícia Furlanetto,
magdafurlanetto@hotmail.com
Resumo
Introdução: A incontinência urinária é uma
disfunção do assoalho pélvico e acomete mulheres das mais variadas idades. A
atividade física tem diversos benefícios, no entanto o assoalho pélvico pode
ser a única área do corpo em que seu efeito positivo pode ser questionado. O CrossFit® é um programa de treinamento de alto impacto que
envolve exercícios aeróbicos e anaeróbicos. Esta atividade possui um caráter
motivacional e desafiador e vem ganhando milhões de adeptos no mundo todo.
Objetivo: Revisar os estudos publicados nos últimos 5 anos a respeito das
disfunções do assoalho pélvico em atletas praticantes de CrossFit®.
Métodos: Revisão integrativa de literatura realizada através de pesquisa
nas bases de dados Pubmed, Bireme (Lilacs, Medline, Scielo), Science
Direct e PeDro, entre os anos de 2015 a 2020. Resultados: Foram incluídos 6 artigos
aplicáveis aos critérios de elegibilidade. A população estudada são mulheres de
16 a 75 anos, praticantes de CrossFit®. Na avaliação
metodológica, os estudos foram considerados fracos a moderados e apenas um
forte. Conclusão: Como principais achados deste estudo, observou-se uma
prevalência significativa de IU em praticantes de CrossFit®;
essa disfunção parece estar relacionada a um atraso na ativação da musculatura
pélvica quando exigida durante os exercícios.
Palavras-chave: exercício físico; diafragma da pelve;
distúrbios do assoalho pélvico.
Abstract
Introduction: Urinary
Incontinence is a pelvic floor dysfunction and affects women of all ages.
Physical activity has several benefits; however, the pelvic floor may be the
only area of the body in which its positive effect can be questioned. CrossFit®
is a training program of high impact that involves aerobic and anaerobic
exercises. This activity has a motivational and challenging character and has
been gaining millions of followers worldwide. Objective: To review the
studies published in the last 5 years regarding pelvic floor dysfunctions in
athletes practicing CrossFit®. Methods: Integrative literature review
carried out by searching the Pubmed, Bireme (Lilacs,
Medline, Scielo), Science Direct and PeDro databases, between the years 2015 to 2020. Results:
6 articles applicable to the eligibility criteria were included. The studied
population are women aged 16 to 75 years practicing CrossFit®. In the
methodological evaluation, the studies were considered weak to moderate and
only one strong. Conclusion: This study observed a significant
prevalence of urinary incontinence in CrossFit® practitioners; this dysfunction
seems to be related to a delay in the activation of the pelvic muscles when
required during exercises.
Keywords: exercise; pelvic floor; pelvic
floor disorders.
Mulheres das mais variadas idades podem ser acometidas por
disfunções do assoalho pélvico (DAP). Entretanto, há relatos na literatura de
jovens nulíparas que apresentam tal sintomatologia, como a incontinência
urinária e desenvolvimento de prolapsos durante a prática de esportes,
especialmente os de alto impacto [1]. A incontinência urinária (IU) é uma
disfunção de causa multifatorial e pode ser classificada em três principais
tipos: esforço, urgência e mista. A IU de esforço (IUE) é a DAP mais comumente
associada à prática desportiva e é provocada por aumentos de pressão
intra-abdominal. A perda urinária, por sua vez, é atribuída à fraqueza muscular
ou insuficiência ou falha do sistema de suporte uretral [2,3,4]. Apesar da grande
prevalência da IU entre mulheres, que pode chegar a 60% no climatério, poucos
estudos sobre prevalência e fatores de risco de IU em atletas de elite
femininas foram publicados [5].
Segundo o Relatório do Comitê Consultivo das Diretrizes de
Atividade Física de 2018, a atividade física regular tem um efeito benéfico em
vários aspectos da saúde que incluem risco reduzido de ganho excessivo de peso,
função cognitiva aprimorada, risco reduzido de demência e de câncer. Além
disso, minimiza o impacto de progressão de algumas condições crônicas, como
osteoartrite, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus tipo 2. O
assoalho pélvico (AP) nas mulheres pode ser a única área do corpo em que o seu
efeito positivo é questionado por apresentar um risco de 3 vezes mais chances
de incontinência em mulheres atletas podendo representar uma ameaça à saúde,
autoestima, bem-estar e pode culminar no afastamento do esporte [3,6,7,8].
Os exercícios de alto impacto e a fisiopatologia da IUE
estão possivelmente relacionados a um desequilíbrio entre o apoio fornecido
pela musculatura do AP (MAP) e a pressão intra-abdominal repentina gerada
durante os exercícios. Estudos mostram que em comparação a grupos de mulheres
sedentárias, as atletas que jogam vôlei e basquete demonstram uma pressão
vaginal maior, sugerindo que a disfunção não se deve a fraqueza muscular e sim
a um atraso na resposta das fibras musculares. Embora o basquete e o voleibol
sejam modalidades diferentes do CrossFit®, esses exercícios compartilham
movimentos de saltos e agachamentos semelhantes [9,10].
CrossFit® é um programa de treinamento criado em 1990 por
Greg Glasmann, que consiste em uma mistura de exercícios aeróbicos e anaeróbicos
com o objetivo de melhorar o condicionamento físico. Este tipo de treinamento
busca levar o atleta ao seu limite e utiliza exercícios do levantamento
olímpico como agachamentos, arremessos e desenvolvimentos, exercícios aeróbicos
de remos, corrida e bicicleta e movimentos ginásticos como paradas de mão,
paralelas, argolas e barras [2,11,12]. As aulas duram em média uma hora, que
incluem o aquecimento, desenvolvimento da técnica e WOD, sigla em inglês de Workout
of the Day, ou "missão do dia". Obrigatoriamente, os treinos
seguem os três pilares da modalidade que consistem em realizar movimentos
funcionais em alta intensidade e constantemente variados. Esta atividade, por
seu caráter motivacional e desafiador, vem ganhando milhões de adeptos no mundo
todo [11].
O tratamento da IU pode ser cirúrgico ou
conservador. Nos últimos anos, o tratamento clínico vem ganhando maior
projeção, pelos bons resultados, baixo índice de efeitos colaterais e pela
diminuição de custos. A avaliação física e funcional do AP é fundamental na
prevenção e no tratamento desta condição. Embora as evidências apontem os
exercícios perineais como melhor opção para o tratamento da IUE, a fisioterapia
dispõe de diversos recursos para a reabilitação como o treinamento para os músculos
do AP com biofeedback, eletroestimulação, cones vaginais, entre outros
[2,13,14].
Entretanto, a literatura tem se mostrado escassa acerca de
informações sobre a relação da IU com o exercício físico de alto impacto,
especificamente o CrossFit®. Desta forma, estudos que avaliem os sintomas de
disfunções nesta população podem ser de grande valia para que seja possível
identificar as causas e, desta forma, prosseguir com o tratamento e prevenção.
Diante disto, este estudo tem por objetivo revisar os estudos publicados nos
últimos 5 anos a respeito das disfunções do AP em atletas praticantes de
CrossFit®.
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada
através de busca bibliográfica digital em artigos científicos publicados em
revistas impressas e eletrônicas, no período compreendido entre os anos de 2015
e 2020, nas bases de dados eletrônicas Pubmed, BVS, PEDro, Scielo, Science
Direct e Google Acadêmico. Foram selecionados estudos com idioma de publicação
em português, espanhol e inglês em diferentes estratégias para assegurar uma
busca abrangente, conforme disposto na Tabela I. Também foram realizadas
pesquisas manuais com base nas referências dos estudos incluídos. A questão
norteadora deste estudo foi verificar a presença de disfunções pélvicas em
atletas de todos os níveis do CrossFit®. Esta pergunta foi capaz de gerar
descritores referentes à população, intervenção de interesse e o contexto
(PICo).
Tabela
I - Descritores e
operadores booleanos utilizados na busca em bases de dados
As buscas foram realizadas por dois avaliadores
independentes que selecionaram os estudos potencialmente relevantes a partir
dos títulos e resumos dos resultados obtidos nas bases de dados. Quando essas
seções não forneceram informações suficientes para serem incluídas, o texto
completo foi verificado. Posteriormente, os mesmos revisores avaliaram
independentemente os estudos completos e realizaram a seleção de acordo com os
critérios de elegibilidade, ou seja, o uso de uma publicação que tenha
envolvido na pesquisa disfunções urinárias em atletas praticantes de
CrossFit®.Os casos discordantes foram resolvidos por consenso. Autores, ano de
publicação, participantes, tipo de intervenção e resultados das variáveis de
interesse foram obtidos de forma independente pelos dois revisores, utilizando
um formulário padronizado. A análise dos dados foi realizada de forma
descritiva, procedendo-se a categorização dos dados extraídos em grupos
temáticos a partir das variáveis de interesse.
A avaliação da qualidade dos estudos foi realizada através
da escala Downs & Black [15]
que foi desenvolvida com intuito de preencher
lacunas na avaliação de estudos que não sejam
ensaios clínicos randomizados.
Esta escala inclui 5 subitens relacionados com: 1) a forma de reportar
os
resultados (se a informação apresentada no estudo permite
ao leitor interpretar
os dados e resultados sem enviesamento), 2) a validade externa, 3) os
vieses,
4) os fatores de confusão, e a 5) potência do estudo. Para
corresponder a estes
subitens estão listados 27 critérios que, caso o
avaliador os identifique,
serão pontuados com “um” valor. A ausência de
critério corresponde à avaliação
de “zero”. Nestes critérios incluem-se aspetos como:
se as hipóteses e
objetivos são descritos, se as variáveis a serem medidas
estão descritas na
secção de introdução e métodos, se
os indivíduos perdidos em follow-up foram ou
não reportados, se está garantida a aleatoriedade da
amostra, o anonimato dos
sujeitos, se há referência aos procedimentos
estatísticos, entre outros.
Esta escala é reconhecida como “metodologicamente forte” e
é mais flexível que outras, já que permite avaliar de forma credível, um maior
leque de tipos de estudo. Tem também a vantagem de ser possível avaliar e destacar
potenciais forças e fraquezas dos estudos em avaliação. Foram considerados
metodologicamente fortes trabalhos que apresentaram escore igual ou superior a
80% da pontuação máxima, escores entre 60 e 80% como moderados e aqueles
inferiores a 60% foram considerados metodologicamente insatisfatórios (fracos).
Os estudos poderiam obter a pontuação máxima de 28 pontos, visto que a pergunta
5 permite pontuação de 0 a 2. Para os estudos que não eram ensaios clínicos, as
questões específicas para tal não foram utilizadas, sendo considerados 19 itens
da escala original, fornecendo uma pontuação máxima de 20 pontos.
Na busca inicial, foram encontradas 158 referências no
total. Foram 148 artigos na base de dados Google Acadêmico e desses, 6 foram
escolhidos para avaliação. No Pubmed foram encontrados 2 artigos, sendo 1
incluído no estudo e o outro excluído por ser em outro idioma. Na base de dados
BVS foram encontrados 2 artigos que foram incluídos e, por fim, no Science
Direct foram encontrados 6 artigos, sendo 2 incluídos. Nas bases Scielo e PEDro
nenhum estudo foi localizado. Um artigo foi localizado por busca manual nos
estudos incluídos. Sendo assim, 8 artigos foram selecionados inicialmente e,
após a leitura na íntegra, 2 foram excluídos. Por fim, 6 estudos foram
selecionados após a leitura analítica por apresentarem o objeto de análise e
aspectos que respondiam à questão norteadora. A Figura 1 representa o
fluxograma de pesquisa relatado e os 6 artigos selecionados trata-se de estudos
de delineamento transversal [9,17,18,19,20,21].
Prisma, 2009 [16]
Figura
1 - Fluxograma de
seleção dos estudos
Características
dos estudos incluídos
As características dos artigos selecionados, desfechos e
resultados são apresentados na Tabela II. Foram encontrados dois estudos que
investigaram a prevalência de DAP em praticantes de CrossFit® através de
questionários eletrônicos [17,18]. Dois estudos compararam os sintomas urinários
entre atletas de CrossFit® e praticantes de atividades de baixo impacto [9,19].
Outros dois artigos utilizaram testes para força e suporte da MAP [20,21] e
todos os estudos incluídos foram de delineamento transversal. A população
incluiu apenas mulheres, com idade que variou de 16 a 75 anos, sendo que apenas
um estudo incluiu mulheres com idade abaixo de 18 anos. O número amostral
variou de 70 a 551 participantes.
Tabela
II - Fontes
bibliográficas identificadas, tipo de estudo, características de amostra
(número de pacientes, público-alvo e idade média)
Avaliação
do risco de viés dos estudos
No que se refere às pontuações obtidas por meio da Escala
Metodológica Downs and Black, os estudos incluídos obtiveram média de 12,6 ±
2,4 considerando a pontuação máxima de 20 pontos para os delineamentos
transversais. Dentre os critérios metodológicos que mais apresentaram falhas,
alude-se ao déficit de representatividade da população de interesse, a ausência
de grupo controle nas amostras e o fato do local de realização do estudo não
ser representativo de tratamento para o paciente. Nos aspectos relacionados à
validade externa e interna (viés) dos estudos, dos 6 trabalhos analisados, 3
artigos obtiveram uma pontuação abaixo de 60%, sendo considerados como metodologicamente
insatisfatórios (fracos), os outros 3 artigos obtiveram escores superior a 60%,
portanto foram considerados moderados, e apenas um estudo acima de 80%,
conforme demonstrado no Gráfico 1.
Gráfico
1 - Percentual
obtido por meio da escala Downs and Black para os
trabalhos selecionados
Análise
dos desfechos
Os resultados obtidos em relação aos
métodos de avaliação, análise dos desfechos e principais conclusões dos estudos
selecionados estão dispostos na Tabela III.
Tabela
III - Resultados
obtidos em relação aos métodos de avaliação, análise dos desfechos, resultados
e principais conclusões (ver PDF anexo)
Os estudos selecionados para esta revisão demonstraram uma
prevalência maior de DAP em mulheres praticantes de CrossFit®, em relação a
mulheres que realizavam exercícios de baixo impacto como ginástica e exercício
aeróbico. A maioria dos estudos utilizou questionários para identificar a
prevalência de IU e apenas dois [20,21] utilizaram ferramentas de avaliação
funcional do AP, como o perineômetro e o POP-Q. Dos estudos selecionados dois
utilizaram apenas um grupo de estudo, os outros dividiram a amostra em grupos
de atividades extenuantes e atividades não extenuantes, no entanto não houve
comparação com um grupo controle de mulheres sedentárias.
Em termos metodológicos, de acordo com a escala Downs &
Black, dos artigos avaliados, três apresentaram escores fracos [9,17,18], dois
apresentaram escores moderados [16,21] e apenas um apresentou escore forte
obtendo 80% da pontuação [20]. Dentre os indicadores de qualidade ausentes,
destacam-se a ausência de grupos controles, a não representatividade da
população de interesse e o método de avaliação não ser representativo. Estes
fatores podem colocar em risco os achados de alguns estudos e, por isso, devem
ser analisados com cuidado.
Foram encontradas diferenças nos escores em relação a
idade, menopausa, IMC, paridade, e estavam todos significativamente associados
a maior pontuação na gravidade da IU. Fatores bem estabelecidos, como o aumento
do peso corporal, número de partos, cirurgias pélvicas, tabagismo, Diabetes
mellitus tipo 2 e o hipoestrogenismo podem aumentar ou provocar deficiência na
função da MAP. Estudos apontam ainda que fatores que aumentam a pressão
intra-abdominal, como tosse crônica, constipação intestinal com esforço crônico
para defecar e a atividade física extenuante, também podem levar a condições
como a IU [3,22,23,24]. Um estudo conduzido por Gepharte et al. [25]
procurou determinar se a experiência de paridade, idade ou a prática do
CrossFit afetam a PIA durante os exercícios, já que este aumento está entre os
fatores de risco para as disfunções urinárias. Os participantes geraram PIA
média >200 cmH2O e foi encontrada uma diferença significativa entre o pico
médio da PIA das mulheres multigestas e as nulíparas (p = 0,009). A
experiência com o CrossFit não afetou o pico médio da PIA alcançado com o
exercício. Outros estudos apontam também que exercícios de alto rendimento com
elevados níveis de estresse podem ocasionar a diminuição do estrogênio, assim
como no período pós-menopausa, o que resulta no enfraquecimento da MAP e nos
sintomas urinários associados [26,27].
Na presente revisão, os achados demonstram que mulheres
praticantes de CrossFit® apresentaram uma prevalência significativamente maior
de IU quando comparadas a praticantes de esportes de baixo rendimento. Em
contrapartida, Middlekauffe et al. [20] avaliaram praticantes de CrossFit® e em
um grupo de mulheres praticantes de atividades não extenuantes não foram
encontradas diferenças entre a FM do AP no repouso e logo após a realização de
um protocolo de exercícios. Ratificando estes resultados, o estudo conduzido
por Machado [2] demonstra que mulheres ativas e sedentárias apresentaram
resultados semelhantes na avaliação com palpação vaginal, com gradação
ligeiramente maior no grupo controle. A autora descreve que isto pode ocorrer
pelo fato de que o exercício físico não influencia no fortalecimento do AP,
visto que nenhuma prática esportiva envolve contração voluntária desta
musculatura. Pela repetição de situações de aumento na PIA causada pela prática
de movimentos de alto impacto, muitas mulheres não demonstram uma contração
simultânea efetiva ou pré-contração [3]. Desta forma, sugere-se que estas
atividades levam a alterações biomecânicas do AP, como aumento na
distensibilidade e atraso na contração, sendo o aumento da espessura uma forma
de adaptação a estas mudanças [28,29].
DeLancey et al. [30] relatam que inervação dos
músculos profundos e superficiais do assoalho pélvico são diferentes, e
concluem que a contração de mulheres continentes e incontinentes são distintas.
No caso das mulheres continentes a contração inicia-se com os músculos
superficiais e em seguida os profundos e, as incontinentes, apresentam um
mecanismo contrário a este. Andrade et al. [31] em um estudo realizado
com 50 mulheres, com idade entre 25 e 50 anos, praticantes de pelo menos uma
modalidade de atividade física em academia, demonstraram que cerca de 34% das
mulheres analisadas apresentam sintomas de IUE, das quais 24% da amostra
estudada realizava atividade física entre 5 e 10 anos. Este resultado
demonstrou que a sobrecarga constante sobre a MAP, devido ao aumento da PIA por
períodos prolongados, proporciona fraqueza do períneo e aumento da
probabilidade de desenvolver IUE. Sendo assim, sustentam a importância da
contração da MAP durante a prática de qualquer modalidade de exercícios
físicos, com o intuito de prevenir as disfunções do assoalho pélvico [32].
Apesar da grande prevalência de incontinência urinária nas
amostras descritas nos estudos, houve limitações em relação as avaliações
realizadas. Cabe ressaltar que nos trabalhos em que a opção foi utilizar
questionários online, poderia haver o não entendimento completo e gerar
distorções dos resultados. Embora estudos que buscam entender a relação das DAP
com o exercício físico, bem como o CrossFit®, venham sendo realizados, ainda há
uma carência de ensaios clínicos para esta área específica. A fisioterapia tem
um papel importante sobre as DAP, podendo atuar na prevenção, fortalecimento e
principalmente na percepção do períneo, reforçando o mecanismo de continência e
coordenação da MAP, especialmente durante o esforço [33].
Como principais achados deste estudo, observou-se uma prevalência significativa de incontinência urinária em praticantes de CrossFit® e essa disfunção parece estar relacionada a um atraso na ativação da musculatura pélvica quando exigida durante os exercícios. O CrossFit® é uma modalidade esportiva que vem crescendo notoriamente em número de adeptos e por ser considerado um exercício de alto impacto para o assoalho pélvico é importante que haja informação sobre prevenção e tratamento. No entanto, como limitação desta revisão, é importante ressaltar a baixa qualidade metodológica encontrada na maioria dos estudos incluídos.