Fisioter
Bras 2021;22(1);86-101
doi: 10.33233/fb.v22i1.4481
REVISÃO
Eficácia
da terapia de fotobiomodulação em episiotomias
Photobiomodulation therapy efficacy in episiotomies
Larissa
Ariene Lacerda Monteiro*, Yasmin Podlasinski
da Silva**, Magda Patrícia Furlanetto***
*Graduanda
do Curso Fisioterapia, Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, **Graduanda Curso de Medicina, Universidade
Luterana do Brasil – ULBRA, ***Docente da Disciplina de Fisioterapia
Urogenital, Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter
Recebido
em 8 de dezembro de 2020; aceito em 12 de fevereiro de 2021.
Correspondência: Yasmin Podlasinski
da Silva, Rua Fernandes Vieira, 437/4, 90035-091 Porto Alegre RS
Larissa Ariene Lacerda Monteiro:
larilacerdamonteiro@gmail.com
Yasmin Podlasinski da Silva:
yasminpodlasinski97@gmail.com
Magda Patrícia Furlanetto:
magdafurlanetto@hotmail.com
Resumo
Introdução: Com a finalidade de evitar e reduzir
lesões dos tecidos do canal do parto, a episiotomia pode ser realizada.
Contudo, complicações cicatriciais podem ocorrer e resultar em desconfortos e
dificuldades nas atividades diárias das parturientes. O uso de fotobiomodulação (FBM) em episiotomia é considerada uma
alternativa de método não farmacológico para auxiliar no tratamento e cuidado
destas puérperas. Objetivo: Revisar os estudos publicados nos últimos 20
anos sobre o efeito da FBM em episiotomia. Métodos: Revisão sistemática
da literatura realizada através de busca digital em artigos publicados em
revistas eletrônicas, ensaios clínicos e ensaios clínicos randomizados, entre
os anos de 2000 e 2020, nas bases de dados eletrônicas PEDro,
PubMed, Science Direct e Bireme. Resultados:
Foram verificados estudos com aplicação da FBM para reparo tecidual e analgesia
em episiotomia. A partir da análise de estudos metodologicamente mais robustos,
a FBM não pareceu apresentar benefícios na aceleração do processo cicatricial,
mas alguns resultados positivos para o controle da dor. Conclusão: De
acordo com os achados, são necessários mais estudos com adequação de parâmetros
e qualidade metodológica para elucidar quais os efeitos do uso da FBM no
tratamento de episiotomia.
Palavras-chave: episiotomia; terapia com luz de baixa
intensidade; lasers; Fisioterapia
Abstract
Introduction: To avoid and
reduce lesions of tissues in the birth canal, an episiotomy can be performed.
However, scar complications can occur and result in discomfort and difficulties
in daily activities of parturient women. The use of photobiomodulation
therapy (PBMT) in episiotomy is considered an alternative non-pharmacological
method to assist in treatment and care of these puerperal women. Objective:
To review the studies published in the last 20 years on the effect of PBMT on
episiotomy. Methods: A systematic review was conducted through the
search of articles published in electronic journals, clinical trials, and
randomized clinical trials between 2000 and 2020, in the electronic databases PEDro, PubMed, Bireme, Science Direct. Results:
Studies with the application of PBMT for tissue repair and analgesia in
episiotomy were verified. From the analysis of methodologically robust studies,
the PBMT did not represent benefits in accelerating the healing process, but
some positive results for pain control. Conclusion: According to the
findings, further studies are needed with adequate parameters and
methodological quality to elucidate the effects of using PBMT in the treatment
of episiotomy.
Keywords: episiotomy; low-level light
therapy; laser; rehabilitation
A episiotomia (EP) é um procedimento comumente realizado na
prática obstétrica, com objetivo de evitar e diminuir lesões dos tecidos do
canal do parto durante a liberação do concepto [1,2]. A prevalência deste tipo
de intervenção vem diminuindo no Brasil, de 70% em 2006 para 53,5% em 2012.
Contudo, em comparação aos países desenvolvidos, como Suécia e Dinamarca (10%),
o Brasil apresenta taxas ainda maiores [3,4,5]. Países como Portugal e Polônia,
apresentam prevalência de episiotomia semelhante às encontradas no Brasil [5].
A EP pode apresentar locais de incisão distintos, sendo
classificada em lateral, médio-lateral e mediana - perineotomia.
A incisão lateral está em desuso pelo risco de lesão dos feixes internos do
músculo elevador do ânus. Já a médio-lateral é a mais utilizada, com incisão de
pele, mucosa vaginal, aponeurose superficial do períneo, fibras dos músculos bulboesponjoso e do transverso superficial do períneo e,
algumas vezes, fibras internas do elevador do ânus. A incisão mediana, por sua
vez, apresenta menor perda sanguínea, fácil reparo, maior respeito à integridade
anatômica dos músculos do assoalho pélvico, menor desconforto doloroso e rara
incidência de dispaneuria [6,7].
A presença de edema, equimose, hiperemia e dor podem
ocorrer desde as primeiras horas após o parto e persistir além do período de
hospitalização. Hemorragia, infecção e deiscência são consideradas algumas
complicações associadas à episiotomia [8,9]. A busca por alternativas que
proporcionem conforto e que contribuam para alívio da dor, principalmente
métodos não farmacológicos, é um dos desafios dos profissionais que prestam
atendimento a essas pacientes [10,11]. Vários métodos foram propostos para o
tratamento da dor perineal e melhora do processo de cicatrização pós-parto com
episiotomia. Os métodos farmacológicos incluem administração oral de
acetaminofeno, analgesia retal e anestesia topicamente aplicada [12,13]. Além
disso, incluem higienização local, banho de assento, aplicações de compressas
de gelo, uso do ultrassom terapêutico e, como proposto, aplicações de laser de
baixa potência (LBP) [14,15].
A terapia com LBP, atualmente conhecida como fotobiomodulação (FBM), surgiu como uma tecnologia
promissora para o tratamento da dor e estímulo cicatricial. A irradiação com
LBP propõe a emissão de energia luminosa, que é absorvida e dispersa por todo o
tecido. Com isso pode haver estímulo ou inibição das atividades enzimáticas e
reações químicas, as quais resultam em processos fisiológicos e terapêuticos
capazes de gerar ações analgésicas, anti-inflamatórias e teciduais, conhecidas
como efeitos biomodulatórios [16,17] ainda
controversos. Alguns estudos apontam que pacientes que receberam a FBM sobre a
episiotomia, em comparação ao grupo controle, não apresentam diferença
significativa na redução da dor entre os grupos [16,17]. Além disso, a eficácia
do uso da FBM no tratamento da episiotomia e os parâmetros dessa técnica ainda
não estão padronizados. Neste contexto, estudos que avaliem os resultados do
uso da FBM em episiotomia podem ser de grande valia para auxiliar no tratamento
e cuidado de puérperas. Desta forma, esta revisão sistemática tem por objetivo
evidenciar os efeitos da utilização FBM na episiotomia.
Esta revisão sistemática foi realizada de acordo com as
recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) de 12 de março a 15 de abril de 2020
através de busca bibliográfica digital em artigos científicos publicados em
revistas eletrônicas, ensaios clínicos e ensaios clínicos randomizados, no
período compreendido entre os anos de 2000 a 2020, nas bases de dados
eletrônicas PEDro, PubMed,
Science Direct e Bireme. Foram selecionados estudos com idioma de publicação em
inglês, espanhol e português em diferentes estratégias para assegurar uma busca
abrangente. Os critérios de inclusão foram ensaios clínicos, randomizados ou
não, dos últimos 20 anos que envolvessem o uso da terapia de FBM na episiotomia
independente da fase do processo inflamatório, associado ou não ao uso de
outras terapias. Os estudos que não apresentaram os efeitos da utilização FBM
na episiotomia foram excluídos. Protocolos de projetos, resumos de conferências
e trabalhos fora do período estabelecido na elegibilidade também foram
excluídos. Também foram realizadas pesquisas manuais com base nas referências
dos estudos incluídos. A questão norteadora deste estudo abordou quais os
efeitos da utilização FBM na cicatrização e na dor da episiotomia. Esta pergunta
foi capaz de gerar descritores, representados no Quadro 1, referentes à
população, tipo de intervenção e desfechos.
Quadro
1 - Descritores e
operadores booleanos utilizados na busca em bases de dados.
PEDro = Physiotherapy Evidence Database, PubMed, Science Direct
e Bireme = Biblioteca Virtual em Saúde.
As buscas dos estudos foram feitas por três avaliadores que
independentemente selecionaram os estudos com o potencial mais relevante, sendo
a partir dos títulos e resumos dos resultados coletados nas bases de dados.
Ainda que essas seções não fornecessem informações suficientes para serem
incluídas, o texto completo foi examinado. Em seguida, os revisores analisaram
de forma independente os estudos completos e realizaram a seleção de acordo com
os parâmetros de elegibilidade, ou seja, o uso de uma metodologia que tenha
envolvido na pesquisa a utilização da FBM para tratamento de cicatriz em
episiotomia em pelo menos um grupo pesquisado. Os casos discordantes foram
resolvidos por consenso. Autores, ano de publicação, participantes, tipo de
intervenção e resultados das variáveis de interesse foram adquiridos de forma
independente pelos três revisores, utilizando um formulário padronizado. A
análise das informações foi executada de forma descritiva, procedendo-se a
categorização das informações coletadas em grupos temáticos a partir das
variáveis de interesse.
A análise da qualidade das informações foi aferida através
da escala Downs & Black [18] com intuito de
legitimar a qualidade e a força dos ensaios clínicos selecionados. Esta escala
inclui 5 subitens relacionados com: I) a forma de reportar os resultados (se a
informação apresentada no estudo permite ao leitor interpretar os dados e
resultados sem enviesamento), II) a validade externa, III) os vieses, IV) os
fatores de confusão, e a V) potência do estudo. Cada subitem apresenta
critérios que, caso elencados, recebem um ponto no valor da escala, com exceção
da questão 5 que acrescenta 2 pontos. Já na ausência desses critérios não
acrescenta nenhuma pontuação. Nestes critérios incluem-se aspectos como
especificação de hipóteses e objetivos, mensuração das variáveis, indivíduos
perdidos em follow-up, aleatoriedade da amostra, anonimato dos sujeitos e
procedimentos estatísticos, entre outros.
A escala Downs & Black [18] é
considerada “metodologicamente forte”, pois permite avaliar a credibilidade de
uma quantidade maior de tipos de estudo. Apresenta como vantagem a
possibilidade de destacar as forças e fraquezas dos estudos em avaliação [18].
Os trabalhos com escore igual ou superior a 80% da pontuação máxima foram
considerados metodologicamente fortes, escores entre 60 e 80%, como moderados e
aqueles inferiores a 60% foram considerados metodologicamente insatisfatórios.
Na busca realizada, 109 referências foram localizadas.
Destas, setenta e oito artigos foram oriundos na base de dados da Science
Direct sendo que um artigo foi selecionado para leitura analítica (setenta e
cinco artigos não se aplicavam ao objetivo de análise e dois artigos estavam em
duplicata com outras bases). Na base de dados PEDro,
foram encontrados quatorze artigos, sendo um selecionado para leitura (três
estavam duplicados em outras bases e dez não se aplicavam ao objetivo). Dos
onze artigos da base de dados Pubmed, dois não se
aplicavam ao objetivo de análise e seis artigos estavam em duplicata, portanto,
foram selecionados três estudos. Na base de dados Bireme foram localizados seis
artigos, sendo quatro selecionados para leitura analítica (um artigo não se
aplicava ao objetivo e um artigo estava em duplicata). Após a leitura
analítica, cinco estudos foram selecionados como objetos de análise, por
apresentarem aspectos relacionados aos efeitos da utilização FBM na
episiotomia. A Figura 1 representa o fluxograma de pesquisa e apresenta cinco
estudos selecionados: sendo um ensaio clínico [19] e os demais ensaios clínicos
randomizados [20,21,22,23].
PRISMA, 2009 [24].
Figura
1 - Fluxograma de
pesquisa
Características
dos estudos incluídos
Houve variabilidade em relação às intervenções utilizadas e
aos desfechos analisados na verificação de estudos sobre a utilização da FBM em
episiotomia. As características dos artigos selecionados quanto ao
delineamento, intervenção, parâmetros e aplicações estão descritas no Quadro 2.
Em um dos estudos, a FBM foi analisada em três intervenções distintas
associadas a outras emissões de luz [19]. Dois artigos analisaram
especificamente os impactos da laserterapia na dor
perineal após episiotomia e, em um destes, o uso do laser foi comparado ao uso
do ultrassom para esta finalidade [21,22]. Outros dois artigos verificaram os
efeitos da utilização de LBP na dor e na cicatrização perineal após episiotomia
[20,23].
Quadro
2 - Artigos
incluídos e parâmetros da fotobiomodulação
N/I = não informado; l = comprimento de onda; J =
joules.
Características
dos pacientes estudados
O número de participantes variou entre 52 e 2.436
pacientes, todas avaliadas no primeiro dia após o parto vaginal com
episiotomia. As características quanto ao delineamento, amostra, parâmetros
avaliados e tratamentos pesquisados estão agrupadas no Quadro 3.
Quadro
3 - Características
dos estudos incluídos.
LBP = laser de baixa potência.
Avaliação
do risco de viés dos estudos
No que se refere às pontuações obtidas por meio da Escala
Metodológica Downs and
Black [18], os cinco estudos obtiveram média de 21,8 ± 7,6 considerando a
pontuação máxima de 28 pontos (100%). Dentre os critérios metodológicos que
mais apresentaram falhas, alude-se aos aspectos relativos aos dados de fatores
de confusão, bem como a falta de relatos quanto a efeitos adversos que o estudo
poderia apresentar para os indivíduos da amostra. No que se refere à validade
externa, foi a representatividade dos participantes quanto a população e o
déficit no detalhamento das principais características das amostras.
Na categoria de viés metodológico, foram observadas maiores
falhas no cegamento das equipes (tanto as que aplicaram o tratamento quanto dos
avaliadores), o tipo de intervenção recebida e o processo de randomização dos
pacientes. Dos cinco trabalhos analisados, três obtiveram uma pontuação acima
de 80% - Alvarenga et al., Santos et al. (a) e Santos et al. (b)
[20,21,23] apresentaram pontuação de 100%, 96%, 93%, respectivamente –
portanto, foram considerados metodologicamente fortes de acordo com os
critérios descritos anteriormente. O estudo de Chougala
et al. [22] foi o único trabalho classificado como moderado com
pontuação de 64%. O estudo de Kymplová et al. [19]
foi considerado metologicamente insatisfatório com
escore inferior à 60%, com 37% de pontuação na escala Downs
and Black.
Análise
dos desfechos
Os resultados obtidos em relação aos métodos de avaliação,
grupos de intervenção, frequência, intensidade e duração do programa de
reabilitação e as principais conclusões estão dispostos na Tabela I.
Tabela
I - Resultados
obtidos em relação aos métodos de
avaliação, grupo de intervenção,
frequência,
intensidade, duração e principais conclusões (ver
PDF em anexo)
Foram selecionados para análise nesta revisão sistemática
cinco estudos caracterizados como ensaios clínicos, destes, apenas um não
randomizado. Houve variabilidade com relação aos tipos de intervenções,
parâmetros utilizados e desfechos analisados. Dos cinco estudos analisados,
três estudos afirmaram que o uso do FBM não foi eficaz no tratamento de
episiotomia. Um estudo afirmou que o FBM foi eficaz, porém em comparação com o
ultrassom para manejo da dor e analgesia em episiotomia apresentou menor efetividade.
Além disso, apenas um estudo afirmou que o FBM foi eficaz no tratamento de
episiotomia.
A avaliação da qualidade metodológica dos artigos
selecionados através do Check list Downs and
Black [18] demonstrou que três dos cinco artigos incluídos na síntese foram
considerados metodologicamente fortes [20,21,23], um artigo apresentou escore
moderado [22] e apenas um artigo foi considerado insatisfatório [19]. Dentre os
indicadores de qualidade ausentes, destacaram-se o cegamento da equipe e dos
participantes durante as intervenções, o déficit de informações a respeito dos
métodos de avaliação e detalhamento sobre critérios de seleção da amostra.
Estes critérios ressaltaram a importância da randomização e cegamento para um
trabalho científico com maior confiabilidade e menor risco de vieses. Em
relação aos itens a serem destacados devido a pontuação positiva, destacaram-se
a clareza dos estudos, descrição dos instrumentos utilizados para avaliação,
randomização da amostra, cegamento da equipe e análise estatística dos
resultados. Nestes itens, os artigos metodologicamente fortes pontuaram,
favorecendo o escore final de avaliação dos estudos e, ratificando a
importância destes aspectos na diminuição de riscos de vieses e a influência
sobre os resultados [25].
Dois
estudos incluídos nesta revisão apresentaram efeitos
positivos na utilização da FBM [19,22] em episiotomia. No
entanto, alguns
aspectos metodológicos destas pesquisas foram
questionáveis, apesar de haver
uma amostra representativa e presença de grupo controle,
demonstraram falta de
randomização, ausência de critérios de
avaliação, de método de aplicação,
das
limitações dos estudos, e sobre os possíveis
conflitos de interesse dos
autores. O estudo conduzido por Chougala et al.
[22] analisou a eficácia do ultrassom terapêutico e da FBM na dor perineal após
o parto vaginal nos três primeiros dias de pós-parto e demonstrou melhora
estatisticamente significativa pós-intervenção na cicatrização e alívio de dor
em ambos os grupos (p < 0,05), com melhores resultados no grupo ultrassom. O
mesmo resultado positivo com o uso de ultrassom em episiotomia foi percebido em
outro ensaio clínico randomizado [26], o qual evidenciou que o efeito de
aquecimento do ultrassom diminui a sensação de dor em lesões agudas.
Outros três estudos analisados nesta revisão [20,21,23]
apresentaram escores metodológicos robustos e afirmaram que o uso da FBM não
oferecia benefícios ao tratamento de episiotomia. Houve redução de dor nos
intragrupos, com maior diminuição nos grupos experimentais, no entanto, não
houve diferença estatisticamente significativa ao comparar os escores médios de
dor entre os grupos, bem como não houve diferenças no processo cicatricial.
Neste contexto, Bayat et al. [27], ao
utilizarem a FBM para estimular a cicatrização de queimaduras em ratos em fase
aguda, não observaram alterações significativas no comportamento das células
envolvidas no processo cicatricial e na velocidade de fechamento das lesões.
Sobre a frequência ideal para aplicação do tratamento, houve
grande variação de relatos na literatura, com experimentos de aplicações
diárias, alternadas ou únicas [28]. Mester et al.
[29] afirmaram que, mesmo pequenas doses, quando aplicadas de forma repetitiva,
resultam em efeito cumulativo e induzem à inibição. Da mesma forma, Hawkins e
Abraham demonstraram que cultura de fibroblastos humanos expostas a doses
cumulativas de 2,5 ou 5 J/cm² durante três dias determinou aumento da
proliferação e migração tecidual, e as culturas expostas por três dias à fluência
de 16 J/cm² foram inibidas, demonstrando um papel importante na
dosimetria [30].
Estudos apontaram que a FBM pode gerar aumento da atividade
mitocondrial, com consequente aumento de ATP, vasodilatação, síntese proteica,
decréscimo nos níveis de prostaglandinas, presença de mitose celular, migração
e proliferação de queratinócitos e ocorrência do fenômeno de neoangiogênese. Além disso, observou-se os efeitos
analgésicos, troficoregenerativos e
anti-inflamatórios [31,32]. Andrade et al. [33] relataram que doses compreendidas
entre 3-6 J/cm² foram mais eficazes, bem como, comprimentos de onda entre 632,8
e 1.000nm foram mais indicados para obter resultados satisfatórios com uso da
FBM no processo cicatricial. Baxter et al. [34] afirmaram que doses
entre 1 e 5 J/cm² promoveram a reparação tecidual e doses acima provocariam
efeitos inibitórios ou não satisfatórios. Hopkins et al. [35] avaliaram
alterações em feridas de espessura parcial de humanos com laser de 820 nm utilizando 8 J/cm² em duas abrasões de pele
no mesmo membro, houve sucesso da ferida estimulada e, igualmente, daquela não
irradiada. Outros estudos afirmaram que as células do processo cicatricial
respondem a FBM e atuam na faixa espectral vermelho, principalmente no estímulo
angiogênico [36,37,38,39,40].
A literatura apresenta uma gama ampla de estudos acerca da
aplicabilidade da FBM para reparo tecidual e analgesia. No entanto, a
diversidade nos achados, bem como, a falta de padronização de parâmetros de
aplicação e escassez de detalhamentos metodológicos dos estudos prejudicou
possíveis análises e constituem importantes limitações encontradas na presente
revisão. As recomendações de doses terapêuticas foram publicadas pela primeira
vez em 2005 pela WALT e são baseadas nas evidências obtidas em estudos pré-clínicos,
resultados de estudos clínicos, bem como na combinação entre esses indícios.
Fatores como erros no procedimento de irradiação, erros de cálculo ou mesmo
falha dos dispositivos de emissão ainda contribuem para a necessidade de um
constante aprimoramento dessas diretrizes [41]. Outras limitações encontradas
se referem a ausência de detalhamento sobre os equipamentos e calibrações, e
variabilidade dos parâmetros de aplicação na intervenção por FBM, como
dosimetria, frequência de aplicação, número de sessões e intervalo entre elas.
Constatou-se nos achados da presente revisão que todos os
estudos avaliaram a dor como desfecho nas pacientes submetidas à intervenção
por FBM nas episiotomias, apresentando redução significativa em todos os grupos
avaliados. Todavia somente 3 estudos avaliaram complicações na cicatrização da
episiotomia após a intervenção, sugerindo que os efeitos da FB, na forma e
parâmetros aplicados, apresentam poucos benefícios na aceleração do processo
cicatricial. Desta forma, é aconselhável a produção de mais estudos com
delineamentos metodológicos mais homogêneos a fim de elucidar qual a real
contribuição da utilização da terapia de FBM nos desfechos dor e cicatrização.