REVISÃO
A vibração focal na
espasticidade de pacientes com patologias neurológicas: revisão
Focal vibration on the spasticity of patients with neurological
injuries: review
Tassiane Maria Alves Pereira1,
Nicolle dos Santos Moraes Nunes2, Jacqueline Stephanie Fernandes do
Nascimento2, Janie Kelly Fernandes do
Nascimento2, Marcos Antônio Alves Azizi2, Adalgiza Mafra
Moreno2, Marco Orsini2, Janaína de Moraes Silva3,4
1Centro Universitário UNINASSAU,
Teresina/PI; Pós-graduanda em Fisioterapia Hospitalar pela Inspirar,
Teresina/PI; Mestranda em Biotecnologia – UFPI/UFDPAR, Parnaíba/PI, Brasil
2Universidade Iguaçu -
UNIG-RJ, Nova Iguaçu/RJ, Brasil
3Universidade Estadual
do Piauí (UESPI), Teresina – PI, Brasil
4Doutora em Engenharia
Biomédica pela UNIVAP, Pós-doutorado em Ciências Biomédicas – UFPI,
Parnaíba-PI, Brasil
Tassiane Maria Alves Pereira:
tassiane.alves07@gmail.com
Nicolle dos Santos
Moraes Nunes: nicolle.nunes_@hotmail.com
Jacqueline Stephanie
Fernandes do Nascimento: jac.fn@hotmail.com
Janie Kelly Fernandes do
Nascimento: janiekelly@hotmail.com
Marcos Antônio Alves Azizi: marcoazizimed@gmail.com
Adalgiza Mafra Moreno:
adalgizamoreno@hotmail.com
Marco Orsini: orsinimarco@hotmail.com
Janaína de Moraes
Silva: fisiojanainams@gmail.com
Resumo
Introdução: As injúrias
neurológicas apresentam distúrbios de movimentos que prejudicam a funcionalidade
e independência desses pacientes. A espasticidade é um dos distúrbios mais
frequentes e acarreta complicações secundárias com interferência negativa nas
funções físicas e motoras desempenhadas na vida cotidiana. O objetivo do
presente estudo foi revisar na literatura evidências que expõem o efeito da
vibração focal na espasticidade de pacientes com injúrias neurológicas. Metodologia:
Realizou-se uma busca nas bases e banco de dados Pubmed,
PEDro, Scopus e Web of
Science utilizando os descritores “focal vibration”
AND “spasticity” estipulando critérios de inclusão e
de qualidades metodológicas. No total cinco artigos foram incluídos e
compuseram a revisão. Resultados: Os resultados evidenciaram melhoras
significativas na redução da espasticidade e em parâmetros funcionais que
influenciam na qualidade de vida destes pacientes. Conclusão:
Conclui-se
então que a vibração focal é uma
intervenção eficaz na redução da
espasticidade
de pacientes com injúrias neurológicas.
Palavras-chave: vibração focal,
espasticidade, funcionalidade, fisioterapia.
Introduction: Neurological injuries present movement disorders that impair the
independence of these patients. Spasticity is one of the most frequent
disorders and results in secondary complications with negative interference in
physical and motor functions performed in daily life. The purpose of this study
was to review evidence in the literature that exposes the effect of focal
vibration on spasticity in patients with neurological injuries. Methodology:
A search was performed in the databases Pubmed, PEDro, Scopus and Web of Science using the descriptors
"focal vibration" AND "spasticity" stipulating inclusion
criteria and methodological qualities. 5 articles were included and made up the
review analysis. Results: The results showed significant improvements in
the reduction of spasticity and in functional parameters that influence the
quality of life of these patients. Conclusion: We concluded that the
focal vibration is an effective intervention in reducing spasticity in patients
with neurological injuries.
Keywords: focal vibration, spasticity, functionality, physiotherapy.
As injúrias
neurológicas são uma das principais causas de incapacidade funcional no mundo,
isso devido as alterações decorrentes de danos cerebrais que afetam
principalmente a área motora, ocasionando déficits importantes que prejudicam a
independência e funcionalidade destes pacientes. Distúrbios de movimentos
espasticidade, fraqueza, déficits de equilíbrio, marcha e sensibilidade são
comuns nestas lesões [1-3].
Dentre estes, a
espasticidade destaca-se como um distúrbio motor originado da síndrome do
neurônio motor superior decorrente de lesões proximais dos neurônios motores
alfa, que causa aumento dependente da velocidade no tônus muscular e os
reflexos de alongamento. Esta condição dificulta a qualidade de vida destes
pacientes por restringir e/ou reduzir os movimentos e agregar complicações
futuras [4-7].
Nesta perspectiva, a
vibração focal (VF) surge como uma intervenção terapêutica usada ultimamente no
tratamento da espasticidade como o intuito de promover uma reorganização e
aprendizagem sensório-motora. É uma técnica que aplica estímulos vibratórios a
um determinado músculo ou tendão, estimulando as terminações neurológicas
Ia e, consequentemente, ativando os fusos musculares que levam a
alterações das vias corticoespinhais. Estas
alterações podem propiciar a excitabilidade do córtex motor primário o que pode
promover melhoras em parâmetros funcionais contribuindo para a reabilitação
[2,8,9].
Considerando as
dificuldades apresentadas decorrentes da espasticidade faz-se investigar a
eficácia de formas de tratamento que visem reduzir esses distúrbios. Assim, o
objetivo deste estudo foi revisar na literatura evidências que que expõem o
efeito da vibração focal na espasticidade de pacientes com lesões neurológicas.
Este estudo foi uma
revisão de literatura pesquisando os bancos de dados PubMed,
PEDro, Scopus e Web of
Science baseado na estratégia PICO (P- population:
adultos com espasticidades decorrentes de comprometimentos neurológicos; I-Intervention: vibração focal; C-Comparation:
não se aplica a este estudo; O: Outcomes: Redução da
espasticidade) para formulação da pergunta norteada da pesquisa “A vibração
focal reduz a espasticidade de pacientes com comprometimentos neurológicos?” e
elaboração dos descritores “focal vibration” AND “spasticity”.
Foram selecionados
artigos com estudos primários, publicados nos últimos 5 anos no idioma inglês,
que utilizaram a vibração focal em pacientes com comprometimentos neurológicos.
Foram excluídos artigos duplicados, que fugiam ao tema, que apresentavam ano de
publicação e desenhos de pesquisa inapropriados e que utilizaram outro tipo de
vibração (vibração de corpo inteiro), ou que associaram a vibração focal com
outra terapia.
A busca e seleção foram
realizadas por dois revisores independentes inicialmente através da leitura do
título e posteriormente a leitura dos resumos para identificação do tipo de
estudo e critérios de inclusão utilizados. As discordâncias entre os revisores
durante a análise foram decididas por consenso.
Para a avaliação da
qualidade metodológica dos artigos selecionados foi utilizada a escala PEDro que qualifica os ensaios clínicos controlados
randomizados seguindo 11 critérios com pontuação de 1 a 10, sendo o primeiro
critério não pontuado.
Foram encontrados 86
artigos por meio das bases de dados pesquisadas, 76 foram excluídos por fugirem
ao tema, apresentarem desenhos e ano de publicação inapropriados ou serem
duplicados. Assim 13 estudos foram incluídos para uma avaliação criteriosa,
destes 5 contemplavam os critérios de inclusão adequados (Figura 1).
Figura 1 - Fluxograma de
seleção dos estudos
Foram analisados 90
pacientes de 18 a 65 anos com diagnóstico clínico de Esclerose Múltipla e
Acidente Vascular Encefálico avaliando tônus muscular (Escala de Ashworth modificada), marcha, equilíbrio na caminhada
(Índice de Marcha Dinâmica), desempenho do equilíbrio (TUGtest),
velocidade e resistência na marcha (caminhada cronometrada de 25 pés- T25FW),
qualidade de vida, cinemática dos membros inferiores (ROM) e fadiga (Escala de
Impacto de fadiga Modificada – MFIS) (Quadro 1).
Quadro 1 - Resumo dos
estudos incluídos apresentando o tamanho da amostra, a forma de aplicação da
intervenção, os desfechos e resultados obtidos na população estudada.
FRS = primeiro passo
direito); ASL = comprimento médio da passada; DSRT = suporte duplo direito;
DSLT = suporte duplo esquerdo); BBS = Escala de equilíbrio de Berg; FSS =
Fatigue Severity Scale; SAI
= spatial asymmetry index;
TAI = temporal asymmetry index; MAS TUG test = teste Timed Up Go.
Este estudo expôs
evidências sobre o efeito do FV na espasticidade de pacientes com lesões
neurológicas. Estudos têm demonstrado melhoras significativas no tônus muscular
[1,3,12], o que leva à redução da espasticidade desses pacientes. Essa redução
pode estar relacionada à diminuição do volume do mapa cortical do músculo
tratado, juntamente com o aumento do volume do mapa cortical do músculo
antagonista, o que pode garantir que o tratamento dos músculos espásticos tenha
mais resultados na aplicação a vibração aos músculos antagonistas, que gera uma
inibição recíproca, sendo essas respostas induzidas pela excitabilidade do
córtex motor primário por meio do reflexo vibratório tônico [1,3,13,14].
Estudos reportam que o
mecanismo que promove melhoras na recuperação motora através da VF pode estar
relacionado a ação direta no córtex motor ipsilesional,
sendo o córtex motor atingindo diretamente via entrada aferente de fibras Ia que se associa ao mecanismo intrínseco ligado a
plasticidade e leva a melhorias da capacidade funcional. levando a melhorias da
capacidade funcional do membro afetado [9,15].
O equilíbrio dinâmico,
parâmetros espaço-temporais, marcha e aspectos cinemáticos das articulações dos
membros envolvidas apresentaram-se com melhoras estatisticamente positivas ao
uso da vibração [1,3,10-12] que se associam aos efeitos advindos desta
intervenção no qual permite alterações no desempenho motor, isso porque
estimula o sistema proprioceptivo e motor a obter um controle motor eficiente
[13].
As patologias
neurológicas modificam a qualidade de vida desses pacientes por limitar suas
atividades de vida diária e reduzir o convívio social, tendo em vista as
dificuldades de locomoção. Estudos verificaram que o uso da vibração focal
melhorou a pontuação dos scores de escala de qualidade de vida [3,11] o que
pode indicar que os benefícios provenientes da redução da espasticidade e da
melhora do desempenho motor garante um bem estar global desses pacientes [3,11,15].
As limitações deste
estudo estão relacionadas a heterogeneidade dos protocolos e a quantidade de
estudos relacionados exclusivamente a vibração focal em reabilitação de
pacientes com patologias neurológicas sem associação de outras técnicas.
Diante das evidências
expostas, foi possível observar a vibração focal é capaz de reduzir a
espasticidade de pacientes com patologias neurológicas, melhorando
consequentemente o desempenho funcional destes pacientes.